A PAISAGEM EM QUE VIVEMOS

Documentos relacionados
Política, Planeamento e Gestão da Paisagem Políticas de Paisagem Ana Seixas, DGT

A ARQUEOLOGIA NÁUTICA E SUBAQUÁTICA na Direcção Geral do Património Cultural. Pedro Barros e João Coelho

Faculdade de Ciências e Tecnologias

REVISÃO DO P L A N O D E U R B A N I Z A Ç Ã O D E M O N T E M O R - O - N O V O

Parceria para a formação financeira na Região Norte

DQA e DQEM - Sobreposição ou complementaridade?

JUSTIFICAÇÃO PARA A NÃO SUJEIÇÃO DO PLANO DE PORMENOR DE SALVAGUARDA DO CENTRO HISTÓRICO DE SINES A AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

O Sistema Nacional de Indicadores de Ordenamento do Território e a sua articulação com outros sistemas de indicadores

Conferência comemorativa Avaliação Ambiental Estratégica Uma década depois: desafios e oportunidades. Linda Irene Pereira CCDR LVT

O NOVO MODELO DE ORDENAMENTO DO ESPAÇO MARÍTIMO

O Planeamento do. Gestão e ordenamento do território

Direito do Ordenamento e do Urbanismo

Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL DE SINTRA-CASCAIS 5. PLANO OPERACIONAL DE GESTÃO

Estrutura Regional de Protecção e Valorização Ambiental

TERRITÓRIO, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E REABILITAÇÃO URBANA Rui Loza, Arq.

O PAPEL ESTRATÉGICO DA AGRICULTURA BIOLÓGICA Jaime Ferreira Lisboa, 19 Abril 2013

CONTEÚDOS GEOGRAFIA - 4º ANO COLEÇÃO INTERAGIR E CRESCER

de 15 de jan. a 03 de Fev Nome do Curso: Licenciatura Arqueologia 1º Semestre 2017/2018 1º ano sala atribuída horário atribuído 15/jan Pré-História

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE URBANO

Assunto: 1ª Alteração do Plano de Pormenor da Cidade Desportiva Justificação para não sujeição a avaliação ambiental estratégica

Apresentação Grupo Ação Local Pesca Ericeira-Cascais Novembro, 2017

Nome do Curso: Licenciatura Arqueologia 1º Semestre 2017/ º ano. 2º ano. 3º ano. sala atribuída (GAE) horário atribuído (GAE)

PAISAGEM E O.T. - DO VOLUNTARISMO À AÇÃO ORIENTADA

CARTA DE PRINCÍPIOS Indústria Brasileira de Árvores (Ibá)

Ordenamento do Território Nível Municipal Ano lectivo 2013/2014

PLANO ANUAL DE ACTIVIDADES INVESTIMENTO E DESENVOLVIMENTO PARA Fundo do Baixo Sabor

Mestrado em Engenharia do Ambiente 1º Ano / 1º Semestre ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Ordenamento do Espaço Rural

O Mar e os Recursos Marinhos Conservação dos recursos e ordenamento do espaço marítimo

O exemplo da cidade de Tomar: Açude de Pedra, Rio Nabão

Lei de bases da política de ordenamento e de gestão do espaço marítimo

A Agricultura e o Desenvolvimento Territorial Integrado Sistemas de Agricultura e Atractividade dos Territórios Rurais

Seminário A infância em debate. Uma leitura a partir de Portugal: resposta educativa para as crianças dos 3 aos 6 anos. Salamanca 27 a 30 Abril 2015

Uma Agemda para o Interior. Teresa Pinto Correia ICAAM / University of Évora - PORTUGAL

GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ORLA COSTEIRA

Gestão de Recursos Naturais e Competitividade: do conhecimento à geração do compromisso

Seminário Biodiscoveries RESPONSABILIDADE SOCIAL E VOLUNTARIADO EMPRESARIAL. Paula Miranda Membro da Direção do GRACE em representação da Resiquímica

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

PLANEJAMENTO TERRITORIAL: PRINCÍPIOS E TENDÊNCIAS

José António Tenedório. Direcção e Coordenação

Política Nacional de Arquitetura e Paisagem

mar 2020: Fazer acontecer o MAR

METODOLOGIAS DE PLANEJAMENTO E ORDENAMENTO TERRITORIAL. Prof. Marcos Aurelio Tarlombani da Silveira

Desafios, Estratégias e. Instrumentos de Sustentabilidade. para o Ambiente Urbano. Carla Silva. Serpa, 20/11/2010

Um futuro mais sustentável apoiado pelo Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas

8º Encontro Ibero-Americano de Cultura. Museu Nacional de Etnologia. 13 de Outubro Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Presidente do Ibermuseus,

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Política Nacional de Arquitetura e Paisagem

Universidade dos Açores

Horizonte 2020 Desafio Societal 6: Europa num mundo em mudança: sociedades inclusivas, inovadoras e reflexivas

INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA DE REDES ELÉCTRICAS

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA. RELATÓRIO DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO. Formulário Consulta ERAE

nome da UC comum "mãe" ou "filha" nome da UC comum "mãe" ou "filha" nome da UC comum "mãe" ou "filha" Lic. História 2º ano Lic Soc 1º ano

REFERENCIAL DE ANÁLISE DE MÉRITO DO PROJETO AVISO N.º CENTRO

DOCUMENTO DE NARA SOBRE A AUTENTICIDADE Pág. 1 de5. DOCUMENTO DE NARA sobre a AUTENTICIDADE (1994)

POLÍTICA NACIONAL DE ARQUITETURA E PAISAGEM

Turismo Sustentável. Intervenção da HEP na BTL

PRINCÍPIOS PARA O REGISTO DE MONUMENTOS, GRUPOS DE EDIFÍCIOS E SÍTIOS (1996)

GEOGRAFIA E PLANEAMENTO REGIONAL

Estratégia para a Aplicação de Planos de Intervenção em Espaço Rural em Espaço Periurbano. O caso de Setúbal.

GESTÃO DE ÁREAS METROPOLITANAS E NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS AO ESTUDO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Eixo IV _ Coesão Territorial e Governação. Tipologia de Investimento. IV.2.1. Reabilitação Urbana e Rural

REFERENCIAL DE ANÁLISE DE MÉRITO DO PROJETO AVISO PARA APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS

Vital Rosário Licenciado em Urbanismo Adjunto da Coordenação do PROT OVT

A ARH do Tejo, I.P., enquanto Promotora. de Instrumentos de Gestão Territorial

Policentrismo, padrões de mobilidade quotidiana e modelos de ordenamento em Portugal evolução e perspectivas

1.Introdução. 2.Enquadramento Geral

Carta de Compromissos de Gestão Ambiental Partilhada

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

Ernesto José Rodrigues Cardoso de Deus. Curriculum Vitae

PLANIFICAÇÃO ANUAL - GEOGRAFIA A - 11º ano

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS Ano letivo 2017/2018

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

nome da UC comum "mãe" ou "filha" nome da UC comum "mãe" ou "filha" nome da UC comum "mãe" ou "filha"

Criar Valor com o Território

AGRUPAMENTO DE CLARA DE RESENDE COD COD

Potenciar o Turismo no núcleo urbano antigo do Seixal

CONSERVAÇÃO E REABILITAÇÃO URBANA: O PROJETO LAGOINHA

2013 RELATÓRIO DE ACTIVIDADES E CONTAS 2014 PROGRAMA DE ACTIVIDADES E ORÇAMENTO

PLANIFICAÇÃO ANUAL - GEOGRAFIA A - 11º ano

Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAS E HUMANAS- ÁREA DISCIPLINAR DE GEOGRAFIA CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA O ENSINO BÁSICO ANO LETIVO

Anabela Fernandes / Professor de Geografia / Coord. do Projeto Nós Propomos na EBSMG

GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS ESTRUTURA ECOLÓGICA DO MUNICIPIO DE SETÚBAL

QUE MEIOS FINANCEIROS?

a 2015/16 Nesta A quem se dirige? público, privado municípios onde locais; em Geografia; Quem

OS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DO PLANEAMENTO URBANO. Maria José VALE; Bruno Miguel MENESES; Raquel SARAIVA; Rui REIS

Senhora Comissária responsável pelos Assuntos do Mar e Pescas,

Plano de Estudos. 1 o ano - 1 o semestre Código Nome Área Cientifica ECTS Duração Horas 10 Semestral 156

PROGRAMA OPERACIONAL SUSTENTABILIDADE E EFICIÊNCIA NO USO DE RECURSOS RESUMO PARA OS CIDADÃOS

Carta Educativa. Visão do Decreto-Lei nº 7/2003, de 15 de Janeiro

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR

Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais. Seminário Valorizar e Promover a Floresta - Vila Real, UTAD, 28 de Maio de 2018

ANO EUROPEU Porquê? Como? Exemplos

ALTERAÇÃO AO PLANO DE PORMENOR DA ZONA DE EXPANSÃO SUL-NASCENTE DA CIDADE DE SINES JUSTIFICAÇÃO PARA NÃO SUJEIÇÃO A AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

Transcrição:

Seminário Território A memória do futuro, Lisboa, 28 de Setembro de 2012 A PAISAGEM EM QUE VIVEMOS Maria José Festas Assessora Principal, Direcção-Geral do Território

PAISAGEM Imagem? Identidade? Memória? Elemento-chave do bem-estar estar individual e social? Património? Recurso?

Convenção Europeia da Paisagem A Convenção Europeia da Paisagem (CEP), ou Convenção de Florença, foi inicialmente assinada em Outubro de 2000 e entrou em vigor em Março de 2004 A CEP promove a protecção, gestão e planeamento das paisagens europeias e organiza a cooperação europeia no domínio da paisagem É o primeiro tratado internacional exclusicamente dedicado à paisagem e que se preocupa com todas as dimensões da paisagem europeia Até à data foi ratificada por 38 (Estados membros do Conselho da Europa) Portugal ratificou a CEP em Fevereiro de 2005

Pontos principais p O conceito Paisagem i designa uma parte do território, i tal como é apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da ação e da interação de fatores naturais e ou humanos (al. 1, Artigo 1) O âmbito aplica-se a todo o território das Partes e incide sobre as áreas naturais, rurais, urbanas e periurbanas. Abrange as áreas terrestres, as águas interiores e as águas marítimas. Aplicase tanto a paisagens que possam ser consideradas excecionais como a paisagens da vida quotidiana e a paisagens degradadas (Artigo 2)

As definições Política da paisagem : formulação pelas autoridades públicas competentes de princípios gerais, estratégias e linhas orientadoras que permitam a adoção de medidas específicas tendo em vista a proteção, a gestão e o ordenamento da paisagem Proteção ã da paisagem : ações de conservação ou manutenção dos traços significativos ou característicos de uma paisagem, justificadas pelo seu valor patrimonial resultante da sua configuração natural eoudaintervenção humana Gestão da paisagem : ação visando assegurar a manutenção de uma paisagem, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, no sentido de orientar e harmonizar as alterações resultantes dos processos sociais, económicos e ambientais Ordenamento da paisagem : ações com forte carácter prospetivo visando a valorização, a recuperação ou a criação de paisagens

Ai introdução do Objectivo de qualidade d da paisagem, como a formulação pelas autoridades públicas competentes, para uma paisagem específica, das aspirações das populações relativamente às características da paisagem do seu quadro de vida A cooperação europeia no domínio da paisagem Sensibilização Formação e educação A criação o Prémio da paisagem

Identificação e avaliação das paisagens (com participação ativa dos interessados): identificação das paisagens no conjunto do território análise das suas caraterísticas bem como das dinâmicas e das pressões que as modificam acompanhamento das suas transformações avaliação das paisagens identificadas, tomando em consideração os valores específicos que lhes são atribuídos pelos intervenientes e pela população interessada

Ficha de caraterização da unidade de paisagem Informação sobre Localização geográfica Centros urbanos Municípios i Área Descrição do caráter da unidade Elementos específicos (vistas, elementos singulares, outra informação importante) Análise dos instrumentos de gestão territorial, Potencialidades e ameaças e proposta de medidas de gestão (inclui uma avaliação da qualidade da paisagem, de acordo com critérios prédefinidos (identidade, coerência ou sustentabilidade de usos, riqueza biológica, raridade e impressões sensoriais, mas não uma classificação da unidade) Cartografia específica Fotografias representativas do padrão e caráter da paisagem na unidade

Identificação e caraterização das paisagens no PROT Oeste e Vale do Tejo

Objetivos Sensibilização das autoridades locais, peritos e técnicos para o seu papel e responsabilidade na gestão e ordenamento da paisagem na promoção da quaçidade de vida edo desenvolvimento sustentável dos seus territórios Disponibilizar orientações conceptuais,metodológicas e técnicas para uma abordagem inegrada às questões da paisagem em relação com o ordenamento do seu território

Conclusões Aceleração e intensificação do processo de transformação da paisagem As intervenções fazem-se sem considerar a complexidade, d o valor e as dinâmicas i próprias de cada paisagem As paisagens têm sido alteradas e são alteradas sem que haja consciência que se interfere simultaneamente com as suas dimensões ecológica, cultural, socio-económica e sensorial, com consequências imedaitas e de longo prazo também para a qualidade de vida das populações

Atualmente, na generalidade, somos mais atores da degradação da paisagem do que construtores de paisagemnsde qualidade porque não compreendemos a paisagem e somos principalmente consumidores não a respeitamos Muitas vezes uma paisagem só se trona importante só depois de degradada ou destruída uma paisagem

Porquê? Porque se alterou o modo de vida, os jovens (principalmente) perderam a memória eoconhecimento das gerações anteriores, e especialmente nas cidades e áreas metropolitanas, se perdeuno sentimento de pertença a um lugar/território Temos que aceitar que já não é possível proteger todas as paisagens tradicionais, gerindo-as como um jardim ou um museu é impossível não só economicamente, mas também social e culturalmente impossível (as pessoas mudaram, mas também as técnicas e máquinas), além de que existe uma cultura de fast-food que não compreende que a paisagem precisa de tempo para crescer

Não podemos continuar a pensar em termos e proteção versus desenvolvimento A maioria das intervenções na paisagem têm de combinar, de modo equilibrado, a proteção, a gestão, o planeamento e quando necessário, a reabilitação O tipo de intervenção dominante deve resultar do caráter da paisagem, dos objetivos da política, dos conhecimentos e das disponibildades técnicas

Temos de pensar em: definir objetivos de qualidade para cada paisagem definir icritérios i para caracterizar paisagens excecionais, classificá-las e protegê-las gerir, de modo dinâmico e sustentável, todas as paisagens do dia a dia, para que possam responder aos desejos e às necessidades económicas, sociais e culturais das populações p reabilitar as paisagens degradadas ou simplificadas para lhes dar qualidade, complexidade e caráter Tendo em consideração os desejos da população e Tendo em consideração os desejos da população e com a sua colaboração

Mas temos de pensar também, e muito a sério, na necessidade de planear e criar novas paisagens, adpatadas ao século XXI Novas paisagens planeadas e criadas para responder aos desafios de desenvolvimento que enfrentamos, e que, ao mesmo tempo que refletem as mudanças que se verificam e as realidades deste século, possam, pela sua qualidade e caráter, ser paisagens que se tornem memória e património para as gerações futuras