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Transcrição:

122 MM JULHO/2004 Nitretação por plasma para endurecimento superficial de aços ferramenta Os moldes utilizados em processo de injeção passaram a sofrer um desgaste maior do que o previsto com o aumento do uso de plásticos de engenharia. Isso exigiu novas soluções para aumento da resistência, como a proposta neste artigo que sugere a nitretação por plasma pulsado para endurecer superficialmente o molde, com vantagens adicionais de controle microestrutural, estabilidade dimensional, acabamento superficial, reprodutibilidade, tratamento térmico simultâneo e ausência de efeitos poluentes. C. E. Pinedo Aengenharia de superfície aumenta no mundo inteiro como um método alternativo para elevar a resistência ao desgaste de materiais convencionais, em busca de uma melhoria no desempenho de ferramentas. O processo de nitretação é muito empregado na modificação da superfície de ferramentas e o uso da nitretação por plasma surge como um método alternativo [6,15,18,21,23). A nitretação é um tratamento termoquímico que eleva a dureza da superfície e as resistências à fadiga, ao desgaste e à corrosão dos aços. As modificações ocorridas na superfície nitretada dependem do teor de nitrogênio incorporado e é uma função da temperatura, do tempo e das condições de processo. A superfície nitretada revestida é vista no microscópio óptico como uma camada de compostos (comumente chamada de camada branca) na região mais externa da superfície, seguida pela zona de difusão [10,22]. Os processos de nitretação tradicionalmente utilizados na indústria, classificados de acordo com o meio nitretante, são a nitretação gasosa com amônia e a nitretação em banho de sais. Entretanto, estes métodos são limitados com relação ao controle sobre a microestrutura da superfície nitretada, na manutenção da integridade superficial, e possuem restrições dos pontos de vista ambiental e da saúde humana. Na nitretação por plasma pulsado é imposta uma diferença de potencial elétrico entre a parede do forno (anodo) e a peça Tabela 1 Composição química dos aços estudados (porcentagem em massa) Aço C Si Mn Cr Mo V Ni Al Cu Ti Co AISI H13 0,40 1,00 ---- 5,00 1,20 1,00 ---- ---- ---- ---- ---- AISI P20 AISI 420 0,40 0,80 ---- 13,5 ---- 0,25 ---- ---- ---- ---- ---- VP40 0,17 0,40 1,54 0,29 0,26 ---- 2,92 0,98 1,00 ---- ---- Maraging 0,01 0,06 ---- 0,02 5,00 ---- 18,0 0,06 ---- 0,70 8,90 Carlos Eduardo Pinedo é diretor técnico da empresa Heat Tech Tratamentos Térmicos e Engenharia de Superfície da cidade de Suzano (SP) e pesquisador da Universidade de Mogi das Cruzes (SP). Reprodução autorizada.

124 MM JULHO/2004 Fig. 1 Reator de nitretação por plasma pulsado (catodo) que, em condições controladas de temperatura, pressão e mistura gasosa (N 2 :H 2 ), origina uma descarga luminescente, conhecida como plasma, que cobre completamente a superfície das peças. A elevada energia cinética com que os íons colidem com a superfície do aço é transformada em calor suficiente para promover a difusão do nitrogênio para o interior do aço [15]. A maior vantagem da nitretação por plasma é a possibilidade de controlar a metalurgia da camada nitretada [5]. Para um mesmo aço, este processo permite variar o tipo de nitreto formado na camada branca e até mesmo impedir a formação dessa camada. Para isto, deve-se controlar precisamente a composição da mistura gasosa, a temperatura e o tempo de nitretação [1]. O grau da profundidade de nitretação é determinado pelo controle da temperatura e do tempo de processo. É muito importante ter em mente que a composição química do substrato desempenha um papel importante sobre a metalurgia da superfície nitretada [8]. Além das vantagens metalúrgicas e de processo oferecidas pela nitretação por plasma, é importante salientar que esta tecnologia encontra-se plenamente adequada às novas exigências ambientais requisitadas pela norma ISO 14000 [21]. Aços para moldes Ao longo dos anos, diferentes tipos de aço ferramenta têm sido utilizados na fabricação de moldes para injeção de plásticos. A seleção destes materiais deve levar em consideração propriedades como usinabilidade, polibilidade, capacidade de texturização, soldabilidade, resistência à corrosão e resistência ao desgaste. A melhor combinação dessas propriedades é atingida por um rígido controle no processo de fabricação da matéria-prima e pelo uso

126 MM JULHO/2004 correto do processo de tratamento térmico. A correta seleção do aço em função do tipo de plástico a ser injetado é fundamental para garantir um desempenho otimizado. A seguir, serão apresentados os principais aços utilizados na fabricação de moldes e suas características mais importantes. AISI P20 É o aço mais tradicional utilizado no segmento de injeção. Este material é fornecido pelos distribuidores no estado temperado e revenido, beneficiado e com dureza Rockwell C entre 27 e 32, a partir da qual são produzidos os moldes sem a necessidade de tratamentos térmicos posteriores. AISI H13 Solução para a injeção de plásticos que exigem maior resistência ao desgaste dos moldes. Nestes casos, a utilização do aço ferramenta tipo AISI H13 possibilita o endurecimento após tratamento térmico para durezas Rockwell C de 45 a 52, o que fornece à ferramenta uma resistência ao desgaste superior à dos moldes convencionais de AISI P20. Processos otimizados de fabricação garantem elevada polibilidade ao aço H13 [16]. AISI 420 Em certos casos, entretanto, a natureza do polímero exige o uso de aços resistentes à corrosão e ao desgaste. Nesta situação, o aço mais utilizado é o inoxidável martensítico AISI 420. Este material é fornecido no estado recozido e, após a confecção do molde, é realizado o tratamento térmico de beneficiamento para uma dureza Rockwell C entre 50 e 52. Aqui, a correta especificação do tratamento térmico é fundamental para garantir uma ótima resistência à corrosão deste metal [2]. Aços como o AISI 440 também podem ser utilizados quando a abrasividade do polímero é muito elevada (por exemplo, na injeção de baquelite). Maraging e VP50 Os aços endurecíveis por precipitação por tratamento térmico de envelhecimento têm

127 MM JULHO/2004 Tabela 2 Tratamentos térmicos utilizados nos materiais e dureza de partida Tratamento térmico Dureza Rockwell C AISI P20 Têmpera e revenimento 27,5 AISI H13 Têmpera e revenimento 47,5 AISI 420 Têmpera e revenimento 49,0 Maraging Envelhecimento 55,0 VP40 Envelhecimento 40,3 sido uma solução utilizada de forma crescente quando a combinação entre elevada dureza e estabilidade dimensional é fundamental. O Maraging 18%Ni é o mais antigo desta família, atingindo dureza Rockwell C 59 após envelhecimento. Entretanto, este aço apresenta um elevado custo de matériaprima, o que impede a sua ampla difusão neste segmento. Em 1995 [17], o mercado nacional apresentou uma nova solução para a indústria de moldes, com o desenvolvimento do aço VP40, atual VP50 (marca registrada da Villares Metals). Este material, fornecido no estado solubilizado com dureza Rockwell C 30 e excelente usinabilidade, é envelhecido posteriormente para ficar entre 40 e 42 HRC, na mesma escala, sem os problemas de variação de forma e dimensão presentes nos aços endurecíveis por beneficiamento. Os processos convencionais de nitretação em sal e gasosa não se aplicam para os aços Maraging e VP50, já que a temperatura destes processos é superior à temperatura de envelhecimento, causando uma queda de dureza do substrato. Neste caso, o processo por plasma é o único método disponível para a nitretação confiável em tempos suficientemente curtos. Materiais e métodos experimentais Para este estudo, foram selecionados os aços ferramenta mais utilizados no Brasil na confecção de moldes para a injeção dos mais variados plásticos. Os materiais estudados foram AISI H13, AISI P20, AISI 420, VP40 e Maraging 250. A composição química destes materiais está na tabela 1 (pág. 122). O reator de nitretação por plasma utilizado neste trabalho (figura 1, pág. 124) possui

128 MM JULHO/2004 Tabela 3 Propriedades após a nitretação por plasma P20 H13 CB H13 420 Maraging VP40 HRCSA 27,5 47,5 47,5 49,0 55,0 40,3 HRCNT 26,5 47,1 46,5 46,5 56,5 40,1 HVMÁX 824 1.097 1.018 1.350 858 836 HCRMÁX 65 70 69 72 65 65 CCE ---- 8,0 ---- ---- 3,5 6,5 NHT 0,23 0,26 0,13 0,10 0,12 0,16 HRCSA = Dureza do substrato antes da nitretação (Rockwell C) HRCNT = Dureza do substrato após a nitretação (Rockwell C) HVMÁX = Dureza máxima a 0.02 mm de profundidade (Vickers 0,1) HCRMÁX = Valor convertido (Rockwell C) CCE = Espessura da camada de compostos (mícrons) NHT = Profundidade da camada nitretada (mm) dimensões internas de 450 mm de diâmetro por 850 mm de altura e pode tratar peças com peso de até 500 kg. O processo é conduzido a vácuo e utiliza como gases o nitrogênio (99,999%), hidrogênio (99,999%), metano e argônio (99,995% para ambos). As principais características desse reator são uma fonte de tensão pulsada (como solução para problemas de abertura de arco e redução do efeito de catodo oco [7] ) e uma câmara aquecida com três zonas de aquecimento. O uso da parede quente é uma opção importante para reduzir a intensidade de plasma necessária ao processo e assegurar o melhor perfil térmico no interior do forno [4]. Os parâmetros utilizados nos diferentes tratamentos de nitretação levaram em consideração a composição química de cada aço estudado e a microestrutura da superfície nitretada. Em termos gerais, a nitretação conduzida com um elevado potencial de nitrogênio e uma elevada temperatura permite a formação da camada branca. Por outro lado, a combinação de um baixo potencial de nitrogênio (menor do que 10% do volume) e uma baixa temperatura de nitretação (menor do que 550 C) permite inibir a formação da camada branca. Todos os materiais foram tratados termicamente antes da nitretação para a dureza de trabalho. Os tratamentos térmicos realizados foram têmpera seguida de revenimento e envelhecimento. Após os tratamentos superficiais de nitretação, as amostras foram preparadas metalograficamente na seção perpendicular à superfície nitretada. A microestrutura foi avaliada por microscopia óptica. O perfil de dureza da superfície nitretada foi determinado por medidas de microdureza Vickers, utilizando carga de 100 g. Após a avaliação dos perfis, foi determinada a profundidade de endurecimento utilizando o critério NHT (que avalia a profundidade da camada nitretada), especificado

129 MM JULHO/2004 pela norma DIN 50190 [3]. A dureza do substrato antes e após a nitretação foi avaliada pela escala Rockwell C. Resultados e discussão O tratamento térmico a vácuo utilizado e a dureza de cada aço antes do tratamento termoquímico de nitretação são apresentados na tabela 2 (pág. 127). Estes tratamentos foram selecionados de acordo com as características de endurecimento de cada liga e utilizaram os ciclos especificados. As microestruturas das superfícies nitretadas em cada aço são apresentadas na figura 2 (pág. 130). Para o aço AISI H13, observa-se que existe a possibilidade de programar parâmetros de nitretação que controlam a microestrutura na superfície, de modo a formar ou não a camada branca. A camada branca se forma quando a nitretação é realizada com uma mistura gasosa rica em nitrogênio a uma temperatura elevada. Ao contrário, quando o potencial de nitrogênio utilizado é substancialmente menor e há também diminuição da temperatura, suprime-se a formação da camada branca [9,19]. O uso de uma temperatura mais alta no tratamento leva a uma maior profundidade de nitretação do que a observada no ciclo em que a temperatura de nitretação é inferior [9]. Os aços AISI P20 e AISI 420 foram nitretados em condições que limitam a formação da camada branca e apresentam apenas a zona de difusão. Para os aços Maraging e VP40 também se observa a formação da camada branca. No caso do Maraging, o elevado teor de elementos de liga impede a eliminação da camada branca; no VP40, a nitretação objetivou a formação da camada branca. O uso ou não de uma superfície nitretada com camada branca depende de uma análise criteriosa dos parâmetros de injeção que de-

130 MM JULHO/2004 Fig. 2 Microestruturas após a nitretação por plasma (Nital 4%) vem incluir, principalmente, o tipo de aço, a geometria e as dimensões do molde, o polímero a ser injetado, o grau de acabamento da peça injetada e a agressividade ambiental quanto à corrosão. As propriedades obtidas após os tratamentos termoquímicos de nitretação por plasma estão resumidas na tabela 3 (pág. 128) e os perfis de dureza através da superfície nitretada obtidos para cada material, em seu ciclo particular, são apresentados na figura 3 (pág. 132). Verifica-se um aumento sensível da dureza superficial após a nitretação (durezas máximas em escalas Vickers e Rockwell C). Particularmente para o aço inoxidável AISI 420, um dos fatores de processo mais importantes na nitretação por plasma é a possibilidade de remoção da camada passivada pelo uso de um bombardeamento iônico sob hidrogênio nas etapas que precedem a nitretação. No caso dos tratamentos convencionais, a remoção da camada passiva deve ser realizada de forma mecânica ou química antes da nitretação, o que se transforma em uma dificuldade nos aspectos técnico e de custo [19]. É importante salientar que a remoção incompleta da camada passiva leva a uma nitretação inadequada da peça. Verifica-se que, nas condições utilizadas, não ocorre a formação da camada de compostos e que a zona de difusão apresenta-se isenta de nitretos em contornos de grão. O elevado potencial de endurecimento deste aço é conseqüência do seu teor de cromo, um forte formador de nitreto que, com isto, eleva o potencial de endurecimento do aço [20]. Um aspecto importante na nitretação do aço Maraging é a possibilidade de nitretação sob baixa temperatura e com uma cinética aceitável, oferecida pelo processo de plasma. A temperatura selecionada (475 o C) é fundamental para garantir que não ocorra uma diminuição de dureza do substrato pelo efeito de reversão da austenita retida. A dureza Vickers máxima encontrada foi 860. A formação da camada branca é conseqüência do elevado tempo de nitretação e da composição química do aço. Matrizes nitretadas para a fundição sob pressão de alumínio neste ciclo obtiveram um aumento da vida útil superior a 10 vezes, quando comparadas ao mesmo material sem nitretação [14]. Neste caso, o aumento de vida é particularmente interessante em decorrência do elevado custo da matéria-prima. Em relação ao VP40, tem-se a mesma preocupação com o substrato que a observada no caso do Maraging. Verifica-se que a dureza do substrato é preservada contra efeitos de superenvelhecimento na nitretação a 500 C. A dureza máxima obtida possui um valor elevado devido à presença do alumínio. Neste aço, é possível ainda realizar um tratamento duplo de envelhecimento e nitretação em um único ciclo [11,12,13,14]. Considerações finais O tratamento de nitretação por plasma mostrou-se eficiente na modificação superficial, promovendo um endurecimento de todos os tipos de aço ferramenta testados neste trabalho (AISI H13, AISI P20, AISI 420, Maraging e VP40). Este endurecimento colabora de forma determinante para a melhoria do desempenho do molde por um aumento da resistência ao desgaste. Nos casos de presença da camada branca, tam-

132 MM JULHO/2004 Fig. 3 Perfis de microdureza Vickers 0,1 bém se espera uma melhoria das propriedades de corrosão. A modificação dos parâmetros de nitretação, principalmente da composição gasosa na nitretação por plasma, permite um controle sobre a metalurgia da superfície nitretada, particularmente mostrado para o aço AISI H13. Para um potencial elevado de nitrogênio ocorre a formação da camada branca e, para potenciais baixos de nitrogênio, a superfície apresenta apenas a zona de difusão. A possibilidade de bombardeamento iônico prévio à nitretação é eficiente para depassivar o aço inoxidável AISI 420, para permitir a sua nitretação de forma eficiente. Nos processos convencionais de nitretação, este tipo de aço deve sofrer uma depassivação química ou mecânica que deteriora a qualidade superficial do molde. O uso de temperaturas de nitretação abaixo das normalmente exigidas nos processos convencionais (que podem chegar a 350 C) permite a nitretação segura de aços endurecíveis por precipitação, como o Maraging e o VP40, endurecendo a superfície sem alteração de dureza do substrato. A nitretação por plasma pulsado é um processo de ampla aplicação na indústria de confecção de moldes para injeção de plásticos. Este processo tem como vantagem principal o controle preciso da microestrutura da superfície nitretada, que pode ser projetada, em particular, para cada situação de injeção. Vantagens adicionais, como a manutenção do acabamento superficial das cavidades e deformação mínima ou ausente, permitem a nitretação segura de moldes que já passaram por testes em escala de produção (try-out). A possibilidade de nitretação seletiva e, acima de tudo, reprodutibilidade de qualidade, fazem deste tratamento superficial uma op-

133 MM JULHO/2004 ção moderna e viável para a indústria de transformação de plásticos. Bibliografia 1] Bell, T. et al: Advanced Metals & Materials. V. 152, nº 8, p. 40Y-40BB, 1996. 2] Candelária, A. F.; Pinedo, C. E.: Journal of Material Science Letters. 22 (16), p. 1151-1153, 2003. 3] DIN 50190: Häteteife Wärmebehandelter Teile Ermittung der Nitriehätetiefe. Teil 3, março, 1979. 4] Dressler, S.: Ion nitriding and ion carburizing. Ed. ASM International, Anais de congresso, p. 183-193, Cincinnati, Ohio, EUA, 18 a 20 de setembro, 1989. 5] Edenhofer, B.: Heat treatment of metals, v. 1, parte 1, p. 23-28, 1974. 6] Haberling, E.; Rasche, K.: New materials, processes, experiences for tooling. Interlaken, Suíça, Anais do congresso, p. 369-392, 7 a 9 de setembro, 1992. 7] Huchel, U.; Dressler, S.: Heat treatment conference. Anais do congresso, Ed. ASM International, Chicago-Illinois, abril,1994. 8] Jones, C. K. et al: Heat treatment 73. Anais de congresso, Ed. The Metals Society, p. 71-77, Londres, 12 e 13 de dezembro, 1973. 9] Lightfoot, J.; Jack, D. H.: Heat Treatment 73. Anais de congresso, Ed. The Metals Society, p. 59-65, Londres, 12 e 13 de dezembro, 1973. 10] Metals Handbook: Metallography, structures and phase diagrams. 8ª edição, v. 08, p. 303 e 360, 1969. 11] Oliveira, S. D.: Dissertação de Mestrado, p. 147, 1999. 12] Oliveira, S. D.; Pinedo, C. E.; Tschiptschin, A. P.; Pannoni, F. D.: Anais do 54º Congresso Anual da ABM. São Paulo, SP, 23 a 25 de julho, 1999. 13] Oliveira, S. D.; Pinedo, C. E.; Tschiptschin, A. P.: Metal-Mecânica. Ano 7, nº 42, p. 78-80, junho/julho, 2002. 14] Pinedo, C. E. et al: Anais do 2º Congresso Internacional de Tecnologia Metalúrgica e de Materiais. São Paulo, SP, 1997. 15] Pinedo, C. E.: Anais do I Seminário Internacional de Engenharia de Superfície. Ed. Núcleo de Pesquisas Tecnológicas da UMC, p. 13-26, 1995. 16] Pinedo, C. E.; Barbosa, C. A.: Anais do 49º Congresso Anual da ABM. v. 7, p. 517-530, São Paulo, SP, 1994. 17] Pinedo, C. E.; Barbosa, C. A.: Anais do 50º Congresso Anual da ABM. p. 29-38, São Pedro, SP, 1995. 18] Pinedo, C. E. et al: Anais do 51º Congresso Anual da ABM. Porto Alegre, RS, 1996. 19] Pinedo, C. E.; Huchel, U.: Anais do XV Seminário Nacional de Forjamento. Porto Alegre, RS, 1995. 20] Pinedo, C. E.; Monteiro, W. A.: Journal of Materials Science Letters. V. 20, nº 2, p. 147-149, 2001. 21] Strämke, S.; Dressler, S.: Industrial heating. P. 18-20, setembro, 1985. 22] Thelning, K. E.: Steel and its heat treatment. 2ª ed., Ed. Butterworth, 1985. 23] Wendel, F.: Thyssen Edelst. Techn. Ber., Edição Especial, p. 82-99, maio, 1990.