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Uma foto de 1967 e sua história: Dom Helder Pessoa Câmara como paraninfo na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista A photo from 1967 and its history: Dom Helder Pessoa Câmara as patron in the Faculty of Theology of the Methodist Church in Brazil Una foto de 1967 y su historia: Dom Helder Pessoa Câmara como patrono en la Facultad de Teología de la Iglesia Metodista de Brasil Helmut Renders No mesmo mês em que a Comissão da Verdade entrega seu relatório à presidente da República, Dilma Vana Rousseff (1947-), a revista Caminhando recorda um evento catalisador na história da Igreja Metodista no Brasil: a presença de Dom Helder Pessoa Câmara (1909-1999) (RODRIGUES, 2013, 249-269) no fim do ano de 1967 na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista como paraninfo da turma de 1967. Para a sua fala Dom Helder escolheu o tema: A alegria de ser cristão. Revista Caminhando v. 19, n. 2, p. 125-127, jul./dez. 2014 125
A foto mostra Dom Helder Câmara conversando depois da formatura de 1967 na casa do diretor da Faculdade de Teologia, em momento mais particular. Em pé, da esquerda à direita, encontram-se os formandos metodistas: Neidi Gonçalves de Aguiar, Ronaldo Sathler-Rosa, Paulo Ayres Mattos, João Maria Santos, e Edson Guedes de Oliveira; entre os dois últimos, a Srta. Marineide Salvador, filha do Prof. José Gonçalves Salvador, futura esposa do estudante João Maria. Os dois senhores sentados são, segundo Ronaldo Sathler-Rosa, representantes da cidade de São Bernardo do Campo. Os estudantes e visitantes professores masculinos estão vestidos no estilo da época, de terno preto com camisa branca e gravata escura estreita; a estudante, com um vestido longo e fechado, como era o costume em eventos da igreja e na formatura. Dom Helder Câmara, centro das atenções, parece estar à vontade, sendo ele, no momento que a fotografia foi tirada, também o dono da palavra. Conhecido por frases como: Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chama-me de comunista, 1 Dom Helder aceitou o convite desses estudantes. Na época, este convite representava um pronunciamento público claro tanto dessa nova geração de futuros e jovens pastores da Igreja Metodista, como da instituição de formação teológica. 2 Entretanto, como uma última consequência, este convite resultou no fechamento dessa instituição de formação teológica em 1968 pela própria Igreja Metodista, na demissão das classes em formação, sem direito de readmissão posterior por ocasião da sua reabertura, com exceção de dois estudantes, como também na demissão de seu corpo docente (MESQUITA, 1997). A foto desse evento, entre outros, inscreve a história da Igreja Metodista e da sua Faculdade de Teologia num momento crucial da história do País e lembra a necessidade das próprias igrejas de contar esta história com todas as suas ambiguidades. 1 A relação entre Dom Helder Cãmara e o marxismo era em 1968 assunto de jornais. Confere `Os prelados da nova Igreja tem como mestre o comunista francês Roger Garaudy, cujos sofismas são religiosamente endossados e divulgados por Dom Helder Câmara e que concentra sobre si toda a admiração de Dom Jorge Marcos (JORNAL DA TARDE, 1968, p. 4) apud Rosa (2013, p. 35). 2 Estes estudantes e professores não se manifestaram isolados da Igreja Metodista. Assim, João Parahyba Daronch da Silva publicou, no ano seguinte, em 1968, em sua função eclesiástica como secretário executivo da Junta Geral de Ação Social da Igreja Metodista, o texto Doutrina Social da Igreja Metodista. Este documento, um comentário do Credo Social da Igreja Metodista de 1965, representava também uma leitura profética da própria tradição metodista expressando o compromisso dessa igreja com o desenvolvimento do País. 126 Helmut Renders: O papel da práxis da fé na teologia calvinista e na teologia wesleyana
Fazem parte das reviravoltas dessa memória os seguintes acontecimentos: 1985: Dom Helder Câmara recebe pela Universidade Metodista de Piracicaba, São Paulo, instituição de ensino dessa mesma Igreja Metodista, o título de Doctor honoris causa. 1998: A Faculdade de Teologia, com a presença de um representante do Colégio Episcopal da Igreja Metodista, sedia uma reunião dos(as) estudantes expulsos(as) em 1968. 2013: Em novembro, o concílio da Terceira Região Eclesiástica da Igreja Metodista decide pela implementação de uma comissão com a tarefa de lembrar as vítimas da ditadura e membros da Igreja Metodista da terceira região. 2014: Em fevereiro 2014, a Terceira Região Eclesiástica da Igreja Metodista convida para um Ato litúrgico de resgate da memória de metodistas vítimas do golpe militar de 1964. Sob a liderança do bispo José Carlos Peres, contando com a assessoria metodista de Direitos Humanos dessa mesma região eclesiástica, foram lembrados e ouvidos os testemunhos(as) da época. Bispo José Carlos Peres pede perdão em nome da Terceira Região Eclesiástica da Igreja Metodista. Referências bibliográficas MESQUITA, Zuleica de Castro Coimbra. A Crise da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista em 1968 à luz do Pensamento de Edgard Morin. 1997. 246p. Tese de Doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba RODRIGUES, Rogério Pamponet. Cristianismo profético: esperança e utopia em Helder Camara, Henri Desroche e na JMJ do Papa Francisco no Brasil. In: Estudos de Religião, São Bernardo do Campo, vol. 27, n. 2, pp 249-269 (jul.-dez. 2013). SILVA, João Parahyba Daronch da. Doutrina Social da Igreja Metodista do Brasil. São Paulo, SP: Imprensa Metodista, fevereiro de 1968. ROSA, Renato Torres Anacleto. Dom Helder Câmara e o marxismo: um diálogo possível. In: O Jesus histórico e sua recepção, Rio de Janeiro, vol. 6, n. 10, pp. 33-42 (2013). Revista Caminhando v. 19, n. 2, p. 125-127, jul./dez. 2014 127