O segundo grupo é constituído pelo conjunto de processos abaixo mencionados, que tiveram lugar como se segue.

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Transcrição:

OS FACTOS O requerente, o Sr. Cesário Manuel Tomé Mota, é de nacionalidade portuguesa, nascido em 1952. Actualmente está detido na Prisão do Linhó, em Portugal. É defendido em Tribunal pelo Dr. J. L. Lopes dos Reis, da Ordem de Advogados de Lisboa. Resumem-se, em seguida, os factos do processo, como apresentados pelas partes. A. As circunstâncias do processo A 31 de Agosto de 1991, o requerente foi detido. Era suspeito de ter usado vários cheques roubados após os ter assinado com assinaturas correspondentes às dos seus legítimos titulares, fazendo dele culpado de manusear bens roubados, fraude e falsificação. Estes factos conduziram a vários grupos de processos criminais instaurados contra o requerente, dos quais os seguintes constituem o primeiro grupo: (a) Processo nº. 827/90, sentença proferida pelo Tribunal de Setúbal, a 18 de Dezembro de 1991; (b) Processo nº. 4000/92, sentença proferida pelo Tribunal de Sintra, a 13 de Julho de 1992 (a detenção preventiva do requerente foi ordenada neste conjunto de processos); (c) Processo nº. 570/92, sentença proferida pelo Tribunal de Sintra, a 12 de Fevereiro de 1993; (d) Processo nº. 1239/92, sentença proferida pelo Tribunal de Oeiras, a 12 de Maio de 1993; e (e) Processo nº. 381/93, sentença proferida pelo Tribunal de Vila Franca de Xira, a 24 de Fevereiro de 1994. O segundo grupo é constituído pelo conjunto de processos abaixo mencionados, que tiveram lugar como se segue. Processo nº. 313/94 da Décima Vara do Tribunal Criminal de Lisboa Após várias queixas apresentadas a partir de Março de 1988, o requerente foi interrogado a 26 de Novembro de 1991. A 15 de Dezembro de 1993, o Ministério Público entregou a acusação contra o A 24 de Maio de 1994, o requerente requereu uma ordem para aceleração processual, em conformidade com os artigos 108 e 109 do Código de Processo Penal. Por decisão de 17 de Novembro de 1994, o Vice-Procurador-Geral indeferiu o requerimento com fundamento no facto de os autos já terem sido enviados ao Tribunal Criminal de Lisboa. A 8 de Novembro de 1994, o requerente pediu, pela segunda vez, uma ordem para aceleração processual. Em carta datada de 22 de Novembro de 1994, o Conselho Superior de Magistratura devolveu-lhe o requerimento, convidando-o a apresentá-lo ao abrigo do artigo 109 do Código de Processo Penal. O requerente não o fez. A 29 de Setembro de 1994, os autos transitaram para o Tribunal Criminal de Lisboa. A 12 de Outubro de 1994, o juiz em exercício na Décima Vara Criminal fixou a data da audiência para 4 de Abril de 1995. Decidiu também que a detenção preventiva do requerente deveria continuar, mesmo no caso de ser liberto em relação aos outros processos. A audiência realizou-se a 4 de Abril de 1995. A 28 de Abril de 1995, o Tribunal Criminal de Lisboa considerou o requerente culpado, e condenou-o a quinze anos de prisão a serem cumpridos concomitantemente com as sentenças dos outros processos. A 11 de Maio de 1995, o requerente interpôs recurso contra esta decisão no Supremo Tribunal de Justiça, mas este tribunal indeferiu o recurso numa decisão de 16 de Novembro de 1995.

Processo nº. 15/96 da Segunda Vara do Tribunal Criminal de Lisboa Após uma queixa apresentada a 20 de Abril de 1990, o requerente foi interrogado a 2 de Dezembro de 1991. O relatório policial relacionado com a investigação realizada foi apresentado a 22 de Dezembro de 1994. A 3 de Julho de 1995, o Ministério Público apresentou a acusação contra o Os autos transitaram para o Tribunal Criminal de Lisboa em data não especificada. A 26 de Fevereiro de 1996, o juiz em exercício na Segunda Vara fixou a data da audiência para 9 de Maio de 1996. Numa decisão de 17 de Maio de 1996, o tribunal considerou o requerente culpado e condenou-o a um ano e seis meses de prisão. Processo nº. 4/96 do Tribunal do Seixal Após uma queixa apresentada a 26 de Janeiro de 1990, o Ministério Público decidiu interrogar o requerente a 25 de Janeiro de 1993. Isto teve lugar em 5 de Junho de 1995. A 27 de Junho de 1995, o Ministério Público apresentou a acusação contra o A audiência foi realizada a 20 de Maio de 1996, e a 4 de Junho de 1996 o tribunal considerou o requerente culpado e condenou-o a uma pena de prisão de um ano. Processo nº. 26/96 da Quinta Vara do Tribunal Criminal de Lisboa Após uma queixa apresentada a 6 de Novembro de 1990, o requerente foi interrogado a 2 de Dezembro de 1991. A 10 de Janeiro de 1996, o Ministério Público apresentou a acusação contra o A 14 de Março de 1996, os autos transitaram para o Tribunal Criminal de Lisboa. A 9 de Abril de 1996, o juiz em exercício na Quinta Vara fixou a data da audiência para 6 de Novembro de 1996. A audiência não se realizou naquela data, devido à não comparência de uma das testemunhas. Após ter sido adiada para 26 de Fevereiro de 1997, a audiência realizou-se na data marcada. Numa decisão de 19 de Março de 1997, o tribunal considerou o requerente culpado e condenou-o a dezanove anos e quatro meses de prisão, a serem cumpridos concomitantemente com outras sentenças impostas por outros processos. É esta sentença que o requerente está actualmente a cumprir. Processo nº. 83/96 da Décima Vara do Tribunal Criminal de Lisboa Após uma queixa apresentada a 3 Abril de 1991, o requerente foi interrogado a 12 de Dezembro de 1991. A 28 de Maio de 1992, o Ministério Público decidiu mandar elaborar um parecer grafológico. O parecer foi apresentado a 5 de Abril de 1994. A 18 de Março de 1996, o Ministério Público apresentou a acusação contra o requerente e outra pessoa ao juiz de instrução. A 21 de Outubro de 1996, os autos transitaram para o Tribunal Criminal de Lisboa. A primeira audiência, marcada para 24 de Fevereiro de 1997, foi adiada sine die porque o co-arguido não compareceu. A segunda audiência, marcada para 19 de Maio de 1997, foi adiada sine die pela mesma razão. Numa decisão de 11 de Junho de 1997, entregue ao requerente a 18 Novembro de 1998, the tribunal encerrou o processo devido à expiração do prazo limite. B. Direito e prática nacionais relevantes Os artigos 108 e 109 do Novo Código de Processo Penal Português, que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1988, prevêem processos interlocutórios para a aceleração de processos criminais. O preâmbulo do Código prevê, em particular, que o requisito de um

julgamento criminal célere é actualmente, graças à influência da Convenção Europeia de Direitos Humanos, um verdadeiro direito fundamental. Os artigos em questão prevêem: Artigo 108 Artigo 109 1. Quando tiverem sido excedidos os prazos previstos na lei para a duração de cada fase do processo, podem o Ministério Público, o arguido, o assistente ou as partes civis requerer a aceleração processual. 2. O pedido é decidido: (a) Pelo Procurador-Geral da República, se o processo estiver sob a direcção do Ministério Público; (b) Pelo Conselho Superior da Magistratura, se o processo decorrer perante o tribunal ou o juiz. 3. Encontram-se impedidos de intervir na deliberação os juízes que, por qualquer forma, tiverem participado no processo. 1. O pedido de aceleração processual é dirigido ao presidente do Conselho Superior da Magistratura, ou ao Procurador-Geral da República, conforme os casos, e entregue no tribunal ou entidade a que o processo estiver afecto. 2. O juiz ou o Ministério Público instruem o pedido com os elementos disponíveis e relevantes para a decisão e remetem o processo assim organizado, em três dias, ao Conselho Superior da Magistratura ou à Procuradoria-Geral da República. 3. Procurador-Geral da República profere despacho no prazo de cinco dias. 4. Se a decisão competir ao Conselho Superior da Magistratura, uma vez distribuído, o processo vai à primeira sessão ordinária ou a sessão extraordinária se nisso houver conveniência, e nela o relator faz uma breve exposição, em que conclui por proposta de deliberação... 5. A decisão é tomada, sem outras formalidades especiais, no sentido de: (a) Indeferir o pedido por falta de fundamento bastante ou por os atrasos verificados se encontrarem justificados; (b) Requisitar informações complementares...; (c) Mandar proceder a inquérito, em prazo que não pode exceder 15 dias, sobre os atrasos...; (d) Propor ou determinar as medidas disciplinares, de gestão, de organização ou de racionalização de métodos que a situação justificar. 6. A decisão é notificada ao requerente e imediatamente comunicada ao tribunal ou à entidade que tiver o processo a seu cargo. É-o igualmente às entidades com jurisdição disciplinar sobre os responsáveis por atrasos que se tenham verificado. Os prazos a que o artigo 108 1 se refere são, de modo geral, seis meses para inquéritos realizados no caso do arguido estar detido e oito meses para os casos em que o arguido se encontra em liberdade (artigo 276 do Código de Processo Penal). A instrução judicial não deve ser superior a dois meses no caso do arguido estar detido e quatro meses caso não o esteja (artigo 306). Em último lugar, o processo deve ser julgado dentro de dois meses a contar da data em que os autos são recebidos pelo tribunal competente (artigo 312).

De acordo com a informação fornecida pelo Governo e incontestada pelo requerente, o Procurador-Geral recebeu 574 requerimentos com ordens de aceleração processual em 1995, dos quais 357 (isto é, 62,2%) foram outorgados. Em 1996, existiram 808 requerimentos, dos quais 513 (63,49%) foram outorgados. Em 1997, existiram 1.017 requerimentos, dos quais 547 (53,79%) foram outorgados. In 1998, existiram 590 requerimentos, dos quais 375 (63,56%) foram outorgados. Por último, de 1 Janeiro a 15 de Setembro de 1999, foram apresentados 227 requerimentos, dos quais 153 (67,4%) foram outorgados. Quanto ao Conselho Superior de Magistratura, entre 1 Janeiro e 15 Setembro de 1999, este recebeu 22 requerimentos com ordens de aceleração processual, dos quais 8 (36,36%) foram outorgados. É o Vice-Procurador-Geral que, usando poderes delegados, decide sobre os requerimentos enviados ao Procurador-Geral e são as reuniões plenárias do Conselho Superior de Magistratura, convocadas mensalmente, que decidem acerca dos requerimentos apresentados junto deste órgão. O Governo já deu exemplos de decisões sobre requerimentos com ordens de aceleração processual. Os seguintes são as disposições operativas de alguns deles. Procurador-Geral Decisão de 4 de Abril de 1995 ordena o encerramento da instrução dentro de um máximo de quarenta dias, que apenas pode ser prorrogado numa base excepcional de requerimento prévio feito pelo procurador de instrução, com notificação ao seu superior hierárquico. Decisão de 2 de Abril de 1998 ordena o encerramento da instrução dentro de um máximo de quinze dias, que apenas pode ser prorrogado numa base excepcional de requerimento prévio feito pelo procurador de instrução, com notificação ao seu superior hierárquico. Decisão de 7 de Julho de 1998 ordena, tendo em conta a sua complexidade, o encerramento da instrução dentro de um máximo de noventa dias, um prazo-limite que apenas pode ser prorrogado numa base excepcional de requerimento prévio feito pelo procurador de instrução, com notificação ao seu superior hierárquico. Conselho Superior de Magistratura Decisão de 23 de Fevereiro de 1999 decide outorgar o requerimento com ordem de aceleração processual por... em relação aos processos... pendentes perante a Terceira Vara do... Tribunal e ordena ao juíz a fixação uma data para a audiência do julgamento imediatamente. Decisão de 25 de Março de 1999 decide outorgar o requerimento com ordem de aceleração processual e ordena que sejam dados os passos necessários para adequada acção judicial e célere conclusão da instrução em causa.

QUEIXAS Invocando o artigo 6 1 da Convenção, o requerente queixou-se da morosidade dos processos contra ele. PROCEDIMENTO O requerimento foi apresentado à Comissão Europeia de Direitos Humanos ( a Comissão ) a 19 de Junho de 1995 e registado a 1 de Julho de 1996. A 9 de Abril de 1997, a Comissão decidiu notificar o Governo do requerimento, e convidou-o a elaborar observações escritas acerca da sua admissibilidade e dos seus méritos. O Governo apresentou as observações a 28 de Julho de 1997, após uma prorrogação do prazo concedido, e o requerente respondeu a 15 de Setembro de 1997. A 28 de Outubro de 1997, a Comissão convidou as partes a apresentarem observações adicionais sobre a admissibilidade e os méritos do requerimento. O Governo apresentou as suas observações adicionais a 25 de Novembro de 1997. A 30 de Janeiro de 1998, elaborou, a pedido da Comissão, os autos relacionados com o Processo nº. 83/96 da Décima Vara do Tribunal Criminal de Lisboa. A 8 de Julho de 1998, a Comissão decidiu conceder apoio jurídico ao requerente. A 9 de Julho de 1998, a Ordem dos Advogados de Lisboa foi convidada a nomear um advogado disposto a representar o requerente. Desde a entrada em vigor do Protocolo Nº. 11 da Convenção, a 1 de Novembro de 1998, o requerimento foi examinado pelo Tribunal, em conformidade com o artigo 5 2 desse Protocolo. A 1 de Fevereiro de 1999, o Conselho da Ordem de Advogados nomeou um advogado para representar o requerente. A 15 de Fevereiro de 1999, o advogado do requerente foi convidado a apresentar observações em resposta às observações do Governo. A 3 de Maio de 1999, o advogado do requerente apresentou as suas observações, após uma prorrogação do prazo concedido. A 22 de Junho de 1999, o Juízo decidiu realizar uma audiência sobre a admissibilidade e os méritos do processo. A audiência teve lugar no Edifício de Direitos Humanos, em Estrasburgo, a 26 de Outubro de 1999. Compareceram perante o Tribunal: pelo Governo o Dr. A. HENRIQUES GASPAR, Procurador-Geral Adjunto, Agente, o Dr. O. PINA, Procurador do Ministério Público Adjunto, destacado para o gabinete privado do Procurador-Geral, Conselheiro; pelo requerente o Dr. J. L. LOPES DOS REIS, da Ordem dos Advogados de Lisboa, Advogado. Em carta recebida pela Secretaria a 21 de Outubro de 1999, o Governo apresentou determinados documentos. O requerente apresentou os seus comentários sobre desses documentos, a 12 de Novembro de 1999. A LEI 1. O requerente queixou-se da morosidade do primeiro grupo de processos, constituído pelos Processos nºs. 827/90 (Tribunal de Setúbal), 4000/92 (Tribunal de Sintra), 570/92 (Tribunal de Sintra), 1239/92 (Tribunal de Oeiras) e 381/93 (Tribunal de Vila Franca de Xira).

No que diz respeito a esse grupo, o Governo, antes de mais, levantou a objecção preliminar do incumprimento do prazo-limite de seis meses previsto pelo artigo 35 1 da Convenção. Como os processos em causa tinham sido concluídos mais de seis meses antes da data em que o requerimento foi apresentado, o requerimento estava fora do prazo. O Tribunal assinala que ao abrigo do antigo artigo 26 da Convenção, a Comissão apenas poderá encarregar-se do assunto após todas as soluções nacionais... [terem] sido esgotadas, de acordo com as regras da lei internacional geralmente reconhecidas e dentro de um período de seis meses a contar da data em que a decisão final foi tomada. As decisões finais relacionadas com os grupos de processos acima mencionados foram proferidas a 18 de Dezembro de 1991, 13 de Julho de 1992, 12 de Fevereiro de 1993, 12 de Maio de 1993 e 24 de Fevereiro de 1994 respectivamente, porém, o requerimento apenas foi apresentado à Comissão a 19 de Junho de 1995, isto é, mais de seis meses após as datas acima mencionadas. As queixas do requerente relacionadas como estes processos estão, por conseguinte, fora do prazo. Essa parte do requerimento deve, portanto, ser indeferido de acordo com o artigo 35 1 e 4 da Convenção. 2. Em relação ao segundo grupo de processos, o Governo levantou uma objecção preliminar baseada em não terem sido esgotadas as soluções nacionais. Sustenta que os artigos 108 e 109 do 1987 Código de Processo Penal criaram uma solução para a reparação da excessiva morosidade dos processos criminais. Sublinha que o requerente ou não usou ou usou de forma inadequada essa solução, que estava ao seu dispor e cuja eficácia está fora de causa. Assim sendo, o requerente não cumpriu o requisito de esgotar todas as soluções nacionais estabelecidas no artigo 35 1 da Convenção. O requerente sustentou que a eficácia dessa solução era mais do que duvidosa. Era, de facto, apenas paliativa e totalmente inapropriada à reparação da excessiva morosidade dos processos criminais. O Tribunal reitera que o requerente deveria ter dado oportunidade ao Estado de corrigir as alegadas violações usando as soluções judiciais ao abrigo da legislação, desde que fossem eficazes e adequadas (ver a decisão Cardot c. França, de 19 de Março de 1991, Série A nº. 200, p. 19, 36). Estas soluções devem, em particular, ser suficientemente seguras, não apenas em teoria mas também na prática, sem o que comprometerão o requisito de acessibilidade e eficácia (ver o julgamento Vernillo c. França, de 20 de Fevereiro de 1991, Série A nº. 198, pp. 11-12, 27). Para além disso, mesmo no caso de existirem dúvidas quanto às hipóteses de sucesso das soluções nacionais, estas devem ser utilizadas (ver requerimento nº. 13669/88, D.S. e E.S. c. o Reino Unido, decisão de 7 Março de 1990, Decisions and Reports (DR) 65, p. 245). O artigo 35 prevê a distribuição do ónus da prova. O Governo, ao argumentar que as soluções não foram esgotadas, tem a responsabilidade de demonstrar ao Tribunal que a solução era eficaz e disponível em teoria e na prática, na altura relevante, isto é, que era acessível, que era capaz de proporcionar reparação em relação às queixas do requerente e que oferecia razoáveis hipóteses de sucesso. Contudo, uma vez satisfeito este ónus da prova, é da responsabilidade do requerente estabelecer que a solução avançada pelo Governo foi, de facto, esgotada ou, por algum motivo, era inadequada e ineficaz nas circunstâncias específicas do processo, ou que existiam circunstâncias especiais absolvendo o requerente de explorar esta solução (ver a decisão Akdivar e Outros c. Turquia, de 16 de Setembro de 1996, Reports of Judgements and Decisions, 1996-IV, p. 1211, 68). À luz da legislação nacional competente e da informação fornecida pelo Governo e incontestada pelo requerente, o Tribunal assinala que em Portugal um indivíduo alegando que os processos criminais contra ele foram excessivamente morosos, por exemplo, no caso dos prazos-limites legais de qualquer fase do processo serem excedidos, esse indivíduo pode requerer ao Procurador-Geral ou ao Conselho Superior de Magistratura uma ordem de aceleração processual, ao abrigo dos artigos 108 e 109 do Código de Processo Penal. Se este requerimento for aprovado, pode, entre outros efeitos, conduzir a uma decisão de notificar o promotor público responsável pela instrução para encerrar essa instrução ou, caso seja necessário, solicitar ao juiz que tome as providências necessárias, tais como fixar a data de audiência ou encerrar a instrução. Estas disposições são, por conseguinte, diferentes das dos artigos 192, 337 e 338 do antigo Código de Processo Penal português que estavam em causa no processo Moreira de Azevedo, e que a Comissão Europeia de Direitos Humanos considerou não terem outorgado uma solução de acordo com o sentido do antigo artigo 26 (actualmente o artigo 35 1) da

Convenção (ver requerimento nº. 11296/84, Moreira de Azevedo c. Portugal, decisão de 14 de Abril de 1998, DR 56, p. 115). Por conseguinte, o Tribunal assinala que nos artigos 108 e 109 do Novo Código de Processo Penal, como demonstrado pelas decisões avançadas pelo Governo, existe uma verdadeira solução legal, permitindo que um indivíduo se queixe da morosidade excessiva dos processos criminais em Portugal (Gonzalez Marin c. Espanha (dec.), nº. 39521/98, ECHR 1999-VII, e requerimento nº. 17553/90, Prieto Rodriguez c. Espanha, decisão de 6 de Julho de 1993, DR 75, p. 128). Recorde-se que esta solução foi criada em resposta ao requisito de rapidez processual garantido pela Convenção, como indicado no preâmbulo do Novo Código de Processo Penal, e é, sem dúvida, suficientemente acessível e eficaz. Em especial, a utilização desta solução não conduz a uma maior morosidade dos processos em causa, devido aos prazos-limite muito rigorosos impostos às instituições responsáveis pela decisão. Assim sendo, na ausência de circunstâncias especiais, que não foram alegadas, e que pudessem dispensar o requerente de tal obrigação, este deveria ter utilizado esta solução antes de apresentar queixa à Comissão da excessiva morosidade dos processos criminais em causa. Não o tendo feito, ou não o tendo feito de maneira adequada, e de acordo com o procedimento legal estabelecido pela lei nacional, em relação à Acusação nº. 313/94, o requerente não esgotou, verdadeiramente, todas as soluções nacionais de acordo com o sentido do artigo 35 da Convenção. Por conseguinte, a objecção levantada pelo Governo deve ser aceite. Por estas razões, o Tribunal unanimemente Declara o requerimento inadmissível.