O papel das verminoses na criação de ovinos e caprinos

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Transcrição:

O papel das verminoses na criação de ovinos e caprinos Alessandro F. T. Amarante Departamento de Parasitologia IB UNESP, Campus de Botucatu - SP Introdução A verminose é causada por várias espécies de helmintos que parasitam o trato gastrintestinal de ovinos e caprinos. Vários aspectos influenciam a epidemiologia desta enfermidade, tais como: a capacidade do hospedeiro de desenvolver imunidade contra as infecções parasitárias, as condições climáticas e o manejo dos animais. Praticamente 100% dos animais criados a campo albergam uma ou mais espécies de helmintos. O parasitismo, entretanto, não é sinônimo de doença, pois, geralmente, os animais de um rebanho encontram-se em boas condições de saúde, ou pelo menos, a maioria deles. Isto decorre do fato dos hospedeiros terem mecanismos imunológicos que possibilitam, na maioria das vezes, manter a população de endoparasitas sob controle. Quando isto ocorre, pode-se afirmar que a relação parasita hospedeiro está em equilíbrio (Amarante, 2001). Entretanto, esta situação de equilíbrio pode ser alterada por diversos fatores como o manejo, a condição nutricional, a idade e o estado fisiológico dos animais, etc. O rompimento deste equilíbrio é, muitas vezes, produzido inadvertidamente pela ação do próprio homem. Exemplos de atuação desfavorável são fartos, dentre os quais pode-se destacar a superlotação da pastagem, que resulta em elevada contaminação ambiental com os estágios de vida livre dos parasitas. Este é o caso de pastagens formadas com forrageiras que apresentam elevada produtividade e que permitem a manutenção de número elevado de animais por hectare. Situação ainda pior ocorre quando os animais são mantidos em grande número em áreas que não comportam alta lotação. Neste caso, além da elevada contaminação, os animais sofrerão com a subnutrição, o que comprometerá o seu desempenho produtivo e a resposta imunológica contra os parasitas. Os animais expostos a altas cargas de parasitas podem sucumbir, especialmente, os mais jovens que são os mais susceptíveis. Outro problema freqüente está relacionado à introdução de animais de raças provenientes de regiões de clima temperado, que apresentam capacidade reduzida de desenvolver resistência contra algumas espécies de parasitas abundantes em regiões tropicais (Amarante et al., 2004). Estes animais, por serem considerados de alta produtividade, acabam, muitas vezes, substituindo raças adaptadas às condições de criação dos trópicos. A resposta imunológica ocorre contra as formas imaturas e adultas dos parasitas. A imunidade contra os estágios imaturos provoca falha no estabelecimento das larvas infectantes nos tecidos do hospedeiro com a conseqüente eliminação do parasita, sendo esta a principal manifestação da imunidade em ruminantes (Balic et al., 2000). A imunidade também pode provocar a inibição do desenvolvimento das larvas de quarto estágio na mucosa do trato gastrintestinal (hipobiose). Já contra os parasitas adultos a imunidade promove (1) expulsão da população; (2) alterações na morfologia dos parasitas e (3) redução na fecundidade das fêmeas (Balic et al., 2000). A eficiência da resposta imunológica varia em função de vários fatores, tais como, a idade, a susceptibilidade individual e/ou racial, o estado nutricional e a fase reprodutiva das fêmeas. Criação de ovinos resistentes A criação de ovinos resistentes pode ser utilizada como uma ferramenta na profilaxia da verminose ovina, já que estes animais eliminam menor número de ovos de nematódeos nas fezes, o que resulta em redução na contaminação da pastagem por larvas infectantes e, conseqüentemente, em menor exposição do rebanho aos parasitas.

Algumas raças de ovinos demonstram resistência genética às infecções por nematódeos gastrintestinais. Estudos realizados no Rio Grande do Sul demonstraram que a resistência à infecção por H. contortus é muito superior nos animais da raça Crioula Lanada do que em animais da raça Corriedale (Bricarello et al., 2004). No Estado de São Paulo, cordeiros Santa Inês demonstraram maior resistência às infecções por nematódeos gastrintestinais do que cordeiros Suffolk e Ile de France (Amarante et al., 2004). No período do periparto ovelhas Santa Inês também se mostraram mais resistentes que ovelhas Ile de France (Rocha et al., 2004). Um dos problemas é que as raças acima citadas (resistentes) apresentam algumas características relacionadas à produção consideradas inferiores. Animais da raça Santa Inês, por exemplo, produzem carcaça de qualidade inferior a de animais Suffolk ou Ile de France. No caso da produção de cordeiros destinados ao abate, uma alternativa seria o cruzamento de matrizes da raça mais resistente com reprodutores de uma raça mais produtiva. Mesmo as raças que apresentam alta produtividade e que são consideras susceptíveis, apresentam variabilidade genética em relação à resposta imunológica contra os parasitas. Portanto, é possível incluir a resistência à verminose como um dos critérios de seleção dos animais. Este tipo de trabalho de seleção está mais avançado na Austrália e na Nova Zelândia. Estado nutricional Animais que recebem alimentação de boa qualidade podem apresentar aumento na capacidade para enfrentar as conseqüências adversas do parasitismo. Em segundo lugar, podem apresentar aumento na resistência limitando o estabelecimento de larvas infectantes, o desenvolvimento e a fecundidade dos nematódeos ou, até mesmo, causando a eliminação dos parasitas já estabelecidos no trato gastrintestinal (Coop & Kyriazakis, 2001). As dietas com teor elevado de proteína propiciam melhora na resposta imunológica especialmente daquelas raças que já são naturalmente mais resistentes a hemoncose como foi observado em um experimento realizado com cordeiros Santa Inês e Ile de France, submetidos a dietas isoenergéticas, com teor alto ou médio de proteína metabolizável (129 g/kg e 75 g/kg de matéria seca, respectivamente) (Bricarello et al., 2005). Neste experimento, cordeiros Santa Inês que receberam dieta com alto teor de proteína apresentaram maior resistência às infecções artificiais por H. contortus em comparação com os animais dos outros grupos. Da mesma forma, Louvandini et al. (2006) observaram que a suplementação protéica propiciou redução no grau de infecção por helmintos em ovinos Santa Inês. Fenômeno do periparto e a nutrição No período do periparto as fêmeas se tornam mais susceptíveis às infecções por nematódeos gastrintestinais o que provoca aumento no número de ovos eliminado nas fezes e conseqüentemente, aumento da contaminação da pastagem. Após a desmama dos cordeiros, a resposta imunológica se restabelece o que provoca redução acentuada nas contagens de OPG (Amarante et al., 1992). É interessante salientar que o fenômeno do periparto apresenta intensidade variável conforme a raça ovina. Nas raças ovinas que apresentam resistência aos nematódeos, o fenômeno do periparto, quando ocorre, é mais discreto do que o observado em raças ovinas susceptíveis (Amarante et al., 1999; Rocha et al., 2004). As ovelhas apresentam um requerimento relativamente elevado de proteína metabolizável no final da gestação e durante a lactação. As proteínas podem ser consideradas um nutriente escasso e o seu consumo geralmente é insuficiente para atender a demanda do animal neste período (Coop & Kyriazakis, 2001). Houdijk et al. (2005) observaram que o fornecimento de suplementação protéica propiciou diminuição significativa do número de OPG de ovelhas no final da gestação e durante a lactação. Embora a suplementação protéica tenha um custo relativamente elevado, possibilita que as fêmeas suplementadas aumentem a produção de leite o que resulta em maior ganho de peso dos cordeiros. Devido à redução

provocada na eliminação de ovos de nematódeos pelas ovelhas, ocorre redução da contaminação ambiental por larvas infectantes o que também é benéfico para os cordeiros. Dessa forma, a suplementação protéica de ovelhas no periparto pode ser utilizada como uma medida para reduzir a dependência do uso de anti-helmínticos para o controle da verminose. Em conclusão, a criação de ovinos resistentes aos parasitas associada com a suplementação de alimento de qualidade (com nível elevado de proteína), especialmente para os cordeiros e as ovelhas no periparto, poderá contribuir significativamente para reduzir a dependência atual da utilização de anti-helmínticos para o controle da verminose. Manejo: a integração de ovinos e bovinos e o controle da verminose A utilização de técnicas de manejo que visem reduzir a contaminação da pastagem com larvas infectantes de nematódeos também se constitui em importante ferramenta para o controle da verminose. A preparação de pastagens livres ou com baixa contaminação pelos estágios de vida livre dos nematódeos gastrintestinais pode beneficiar especialmente aquelas categorias mais susceptíveis à verminose, como as ovelhas no periparto e os cordeiros. Piquetes recém implantados com forrageiras podem ser considerados livres de contaminação (Echevarria et al., 1993). No entanto, essas áreas nem sempre estão disponíveis em uma propriedade, pois as pastagens geralmente são utilizadas pelos animais de forma ininterrupta por longos períodos de tempo. Uma alternativa que pode ser adotada com o objetivo de reduzir a contaminação da pastagem é o consórcio de animais de diferentes espécies. A eficiência deste método depende, dentre outros, da especificidade dos parasitas. As larvas de parasitas com alta especificidade parasitária são destruídas ao serem ingeridas por um animal de outra espécie. Além disso, a integração de diferentes espécies de animais promove diluição no número de formas infectantes de uma determinada espécie de parasita na pastagem. Neste caso, em uma pastagem que comporta 100 ovelhas, por exemplo, se forem colocados bovinos em uma lotação proporcional a de ovinos, tem-se que reduzir o número de ovinos para 50 animais. Portanto, a contaminação da pastagem com fezes de ovinos cairá pela metade e conseqüentemente, a contaminação com larvas infectantes de parasitas deste hospedeiro. Além disso, existe a possibilidade de larvas de espécies que parasitam os ovinos serem destruídas quando ingeridas pelo hospedeiro inadequado, no caso, o bovino. Estudos realizados no Estado de São Paulo demonstraram que as principais espécies que parasitam ovinos e bovinos (Tabela 1) apresentam grau elevado de especificidade parasitária e oferecem riscos reduzidos de infecções cruzadas (Amarante et al., 1997; Rocha et al., 2008). O pastejo envolvendo diferentes espécies de herbívoros pode ser misto ou alternado. No pastejo misto bons resultados são obtidos quando animais susceptíveis compartilham a pastagem com animais resistentes da mesma ou de outras espécies (Barger, 1997). Já no caso do pastejo alternado, além do efeito de diluição, há a possibilidade de promover a limpeza de uma pastagem contaminada. Neste caso, uma pastagem utilizada por ovinos irá apresentar contaminação com nematódeos deste hospedeiro. Esta contaminação poderá ser reduzida e eventualmente eliminada após a retirada dos ovinos e a colocação nesta área de animais de outra espécie. Vários fatores têm influência no sucesso de sistemas integrados de controle, os quais incluem não apenas a especificidade parasitária das diferentes espécies de nematódeos, mas também a longevidade dos estágios de vida livre no ambiente. Portanto, faz-se necessário estimar o período de tempo necessário para que uma pastagem contaminada por ovinos possa ser considerada limpa após ser pastejada por bovinos e vice-versa.

Tabela 1. Principais espécies de nematódeos gastrintestinais identificadas em ovinos e bovinos que compartilharam pastagens em Botucatu SP e em Tupi Paulista SP. Botucatu SP (Amarante et al., 1997) Tupi Paulista (Rocha et al., 2008) Ovinos Bovinos Ovinos Bovinos Haemonchus Haemonchus placei Haemonchus Haemonchus similis contortus Trichostrongylus colubriformis contortus Trichostrongylus axei Trichostrongylus colubriformis Cooperia punctata Cooperia punctata Cooperia pectinata Oesophagostomum radiatum Os benefícios da integração de diferentes espécies de herbívoros pode resultar não apenas na redução da contaminação do ambiente pelas formas infectantes dos parasitas, mas também na melhora quantitativa e qualitativa das forrageiras. Na Nova Zelândia, Moss et al. (1998) observaram redução na contaminação de piquetes pastajados alternadamente por ovinos e bovinos. Curiosamente, a carga parasitária dos cordeiros que pastejaram os piquetes descontaminados foi similar a dos cordeiros que não compartilharam pastagens com bovinos. Porém, os cordeiros que pastejaram alternadamente com bovinos apresentaram produtividade mais elevada, a qual foi atribuída a melhora quantitativa e qualitativa das forrageiras neste sistema de manejo (Moss et al., 1998). Da mesma forma no Caribe, cordeiros e novilhas mantidos em sistema de pastoreio misto apresentaram ganho de peso superior ao de animais mantidos em pastagens separadas. Neste caso, o aumento na produtividade foi associado não apenas com a redução na taxa de infecção por H. contortus nos ovinos, mas também com a melhora qualitativa da pastagem (Mahieu et al., 1997). Na Grã-Bretanha, o pastoreio de piquetes por bovinos, seguido do pastoreio por ovinos, propiciou redução na carga parasitária de cordeiros tratados periodicamente com antihelmíntico em comparação com cordeiros mantidos em pastoreio misto com bovinos ou em pastoreio exclusivo por ovinos (Marley et al., 2006). Em experimento realizado em Ilha Solteira - SP, Fernandes et al. (2004) verificaram que o pastejo rotacionado de ovinos, sem a utilização de bovinos, com período de 35 dias de descanso da pastagem, não foi eficiente para o controle da verminose de ovelhas (Fig. 1 e 2). Por outro lado, a alternância das pastagens de ovinos e de bovinos adultos a cada 40 dias, exerceu um efeito benéfico significativo no controle da verminose, reduzindo o nível de infecção dos animais e, por conseqüência, o número de tratamentos com anti-helmínticos. Neste sistema de manejo, as ovelhas receberam 2,03 vezes menos tratamentos com antihelmínticos do que as ovelhas que não compartilharam a pastagem com bovinos (Fig. 3).

MÓDULO 1 (1,67 ha) MÓDULO 2 (1,67 ha) MÓDULO 3 (1,67 ha) OVINOS BOVINOS OVINOS Figura 1. Esquema da área experimental com três módulos (Fernandes et al., 2004). No centro de cada módulo ficavam localizadas as áreas cobertas com os cochos de sal mineral e água e na volta, os oito piquetes. Ao final de 40 dias os ovinos eram transferidos do módulo 1 para o Módulo 2 e os Bovinos do 2 para o 1 e assim sucessivamente. O módulo 3 foi submetido a pastoreio rotacionado apenas por ovinos, durante todo o experimento. 8000 20 ovelhas com bovino 20 ovelhas sem bovino OPG médio 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 10/04 24/04 Início do 1º período de parições Início do 2º período de parições 08/05 22/05 05/06 19/06 03/07 17/07 31/07 Data de colheita 17/08 31/08 17/09 01/10 15/10 29/10 12/11 26/11 10/12 20/12 Figura 2. Médias de ovos por grama de fezes (OPG) de ovelhas mantidas sob dois métodos de pastejo rotacionado: com bovino e sem bovino (Fernandes et al., 2004).

Nº de ovelhas 8 7 6 5 4 3 2 1 0 20 ovelhas com bovino 20 ovelhas sem bovino 0 1 2 3 4 5 6 7 Nº de dosificações por ovelha Figura 3. Número de tratamentos anti-helmínticos administrados individualmente para as ovelhas mantidas em pastejo rotacionado alternado com bovinos e sem bovinos (Fernandes et al., 2004). Em estudo realizado em Tupi Paulista SP (Rocha et al., 2008), observou-se que os bovinos promoveram descontaminação considerável de pastagens utilizadas por ovinos, especialmente quando as pastejaram por períodos relativamente longos, três ou seis meses (Fig. 4). Porém, a colocação dos ovinos nos piquetes descontaminados, sem tratamento prévio com anti-helmíntico eficaz, resultou em rápida recontaminação da pastagem, o que prejudicou a profilaxia da verminose nos ovinos utilizados no experimento, que eram da raça Ile de France, considerada susceptível às infecções parasitárias. De qualquer forma, os resultados obtidos no Brasil relacionados ao manejo integrado de bovinos e ovinos com o objetivo de descontaminar pastagens têm se mostrado bastante promissores, especialmente quando envolvem bovinos adultos.

Módulo 3 600 500 L3/kg MS 400 300 200 100 0 600 500 Módulo 4 Após o pastejo de ovinos Após o pastejo de bovinos L3/kg MS 400 300 200 100 0 Após o pastejo de ovinos Após o pastejo de bovinos Haemonchus Trichostrongylus Cooperia Figura 4. Número médio de larvas infectantes de Haemonchus spp., Trichostrongylus spp. e Cooperia spp. por quilograma de matéria seca (L3/kg MS), de março de 2004 a fevereiro de 2005, em dois módulos de pastagem (3 e 4), com oito piquetes em cada, pastejados alternadamente por ovinos e bovinos a cada 192 dias. As setas de cor preta indicam os dados das colheitas realizadas após os módulos terem ficado em descanso, sem animais (Fonte: Rocha et al., 2008). Referências Bibliográficas AMARANTE, A. F. T. Controle de endoparasitoses dos ovinos. In: MATTOS, W. R. S. et al. A produção animal na visão dos brasileiros. Piracicaba: Fealq, 2001, p. 461-473. AMARANTE, A.F.T.; BARBOSA, M.A.; OLIVEIRA, M.R.; SIQUEIRA, E.R. Eliminação de ovos de nematódeos gastrintestinais por ovelhas de quatro raças durante diferentes fases reprodutivas. Pesq. Agropec. Bras., v. 27, p. 47-51, 1992. AMARANTE, A.F.T.; BAGNOLA JR., J.; AMARANTE, M.R.V.; BARBOSA, M.A. Host specificity of sheep and cattle nematodes in São Paulo State, Brazil. Vet. Parasitol., v.73, p.89-104, 1997. AMARANTE, A.F.T.; BRICARELLO, P.A.; ROCHA, R.A.; GENNARI, S.M. Resistance of Santa Ines, Suffolk and Ile de France lambs to naturally acquired gastrointestinal nematode infections. Vet. Parasitol., v.120, p.91-106, 2004.

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