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EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA

Conteúdo multimídia e avaliação www.saberefe.com Versão da matéria: 2.0 Para verificar se existe uma nova versão para esta disciplina e saber quais foram as alterações realizadas, acesse o link abaixo. www.saberefe.com/area-do-aluno/versoes

Sumário 03 u Introdução 03 Os vários sentidos da palavra teologia 05 u Capítulo 1 q A inescrutabilidade de Deus 06 A teologia natural e a teologia bíblica 07 A auto-revelação de Deus 08 u Capítulo 2 q Concepções sobre Deus 11 u Capítulo 3 q A concepção correta sobre Deus 12 Argumentos para a crença no monoteísmo primitivo 15 A influência do evolucionismo 16 A melhor explicação 17 u Capítulo 4 q A existência de Deus 19 O impacto do pensamento científico 21 O efeito Charles Darwin 22 A espada de Karl Marx 22 Bases históricas dos ateus 23 Deus realmente existe 25 u Capítulo 5 q Os atributos de Deus 26 Natureza espiritual de Deus 26 Natureza invisível de Deus 26 Natureza imutável de Deus 27 Natureza trina de Deus 29 Atributos não-comunicáveis 33 Atributos comunicáveis 1

37 u Capítulo 6 q Os nomes de Deus 37 YHWH (o tetragrama) 38 Compostos de Jeová ou Javé 39 Compostos de El 40 Adonay 41 u Capítulo 7 q A Trindade divina 42 Aspectos bíblicos da Santíssima Trindade 44 Aspectos analógicos da Santíssima Trindade 45 Aspectos históricos da Santíssima Trindade 56 u Conclusão 57 u Referências bibliográficas 2

q Introdução Os vários sentidos da palavra teologia eologia é uma palavra com origem na língua grega. Vem de theos, que Tsignifica Deus, e logia, que significa estudo ou discurso. Seria mais adequadamente um discurso sobre Deus, pois afirmar que Deus é objeto de estudo do homem é um posicionamento, de certo modo, presunçoso. Existem dois sentidos em que a palavra teologia é empregada. Genericamente, é usada para se referir ao estudo geral das coisas relacionadas a Deus. Esse estudo inclui a Bíblia, o pecado, o homem, os anjos, as profecias, Jesus Cristo, o Espírito Santo, enfim, tudo o que remete a Deus e sua relação com o Universo e a humanidade. Tudo o que se relaciona a Deus e ao seu plano de salvação pode ser incluído no âmbito da teologia. Em outro sentido, é usada em referência à pessoa do próprio Deus, ao ser de Deus. Qual é a natureza de Deus? O que é a Trindade? Como posso saber que Deus existe? São perguntas estudadas no segundo sentido da palavra teologia. E esse será o viés do nosso estudo nesta primeira matéria. 01 É mister advertir que o conhecimento teológico a respeito de Deus jamais significará um conhecimento pleno. Na verdade, o conhecimento sistemático que pretendemos absorver é mais um conhecimento de Deus do que um conhecimento do próprio Deus, isto é, da pessoa de Deus. Essa distinção é equivalente àquela que ocorre quando uma pessoa recebe o currículo de outra. Por meio desse tipo de documento, a primeira pessoa tem informações a respeito da outra, às vezes, contendo uma fotografia. É possível saber muitas coisas a respeito da outra pessoa, mas ainda que o currículo apresente todos os detalhes possíveis e imagináveis, o conhecimento maior somente se dá com o encontro das pessoas, quando ambas estão frente a frente se comunicando, interagindo. Nesse ponto, já se pode afirmar que há um conhecimento pessoal, mas, a bem da verdade, mesmo esse encontro não encerra as possibilidades de conhecimento, que só aumentarão à medida que as pessoas passarem a conviver uma com a outra. 3

Guardadas as devidas proporções, podemos afirmar que o estudo teológico é um despretensioso currículo de Deus. Por meio de nossas limitações, ficamos conhecendo a respeito de suas características. Ficamos sabendo como Deus é e como ele não é. A partir daí, iniciamos um conhecimento pessoal embasado, livre de equívocos, que nos permite uma completa interação com ele. Nesse conhecimento, cresceremos à medida que aprofundarmos o nosso relacionamento. Graças a infinitude do ser de Deus, podemos crescer cada vez mais nessa compreensão sem nunca esgotá-la. Podemos sempre avançar um pouco mais. 02 Nossa fonte para tal conhecimento são as Escrituras Sagradas, por serem a expressão inspirada da revelação que o próprio Deus fez de si mesmo. Qualquer conhecimento à parte da Bíblia é pura reflexão lógica que precisa de base nas Escrituras em algum ponto. Nesse ínterim, é oportuno colocar que a noção sobre Deus se tornou algo muito vago em nossos dias. Devemos nos lembrar que o conceito de divindade sempre existiu em todos os povos. Todavia, a nossa referência é ao Deus de Israel e ao povo que se originou de Abraão e estabeleceu uma aliança com Deus. Enquanto os demais povos se afastaram do conhecimento do verdadeiro Deus, os israelitas guardaram a fé e a compreensão de um Deus criador e sustentador de todas as coisas. Por isso se constituíram como canal por meio do qual o conhecimento do Deus verdadeiro se espalhou pela terra. 03 Os homens sempre tiveram ideias erradas sobre a pessoa de Deus. Tanto homens simples quanto homens de grande conhecimento e cultura pensaram e disseram coisas a respeito de Deus que não eram verdadeiras. Até hoje, apesar da existência da Bíblia e de profundos estudos teológicos, pensamentos enganosos continuam surgindo. E essas ideias precisam ser respondidas pelo conhecimento verdadeiro. 04 A teologia, conforme apresentaremos em nosso curso, é uma importante ferramenta para o conhecimento de Deus. Dizemos ferramenta apropriadamente, pois conhecer o próprio Deus está dentro de uma esfera muito além do que a mente humana pode alcançar. Falaremos de Deus destacando pontos importantes e verdades absolutas dentro desse contexto, mas sem ignorarmos que o conhecimento real de Deus exige um relacionamento, já que Deus é um ser pessoal. 05 06 07 08 09 4

Capítulo 1 q A inescrutabilidade de Deus Mesmo sendo Deus um ser que se auto-revelou ao homem, isso não significa que ele (Deus) seja tão conhecível quanto qualquer outro ser. Essa revelação será sempre parcial. Podemos até declarar que o conhecimento do ser e dos caminhos de Deus será eternamente e completamente parcial para qualquer ser. Ninguém no Universo pode conhecer Deus completamente, a não ser ele próprio. Jesus disse que ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.27). Claro que Cristo se referia a um grau maior de conhecimento e não a qualquer dose de cognição. E Paulo escreveu aos coríntios em sua primeira epístola: Porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus (1Co 2.10,11). Assim, só o Deus Trino conhece plenamente a si mesmo. Nós, seres humanos, temos apenas um vislumbre da divindade. Jó diria isso de uma forma simples: Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder? (Jó 26.14). Isaías diria de Deus que verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas [ Deus misterioso, na versão Almeida Revista e Atualizada], o Deus de Israel, o Salvador (Is 45.15). Para o apóstolo Paulo, Deus é aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno (1Tm 6.16). 10 Essa consciência da inescrutabilidade de Deus é muito importante ao teólogo, para que não pense que pode ou deve conhecer tudo a respeito de Deus. Os grandes reformadores como Lutero e Calvino sempre admitiram o mistério como parte da teologia. Mas isso não significa usar desse artifício para justificar pontos difíceis de serem entendidos, antes, é uma forma de reverenciar a Deus e se aproximar do estudo desse tema com temor e respeito. 5

Dizer que não podemos conhecer tudo sobre Deus não é o mesmo que dizer que não podemos conhecê-lo ou que esse conhecimento é incerto, inseguro e, portanto, inválido. Não podemos conhecer a Deus plenamente, mas podemos conhecê-lo o suficiente para alcançar a salvação e agradá-lo. O belo hino do apóstolo Paulo, no final da epístola aos romanos, dá-nos uma ideia dessa realidade grandiosa: Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém (Rm 11.33-36). 11 A teologia natural e a teologia bíblica Ao longo dos séculos, a questão do conhecimento de Deus geralmente foi abordada por dois aspectos. Um deles ressaltou a possibilidade de conhecer Deus à parte da revelação escriturística. Isto é, apenas pela natureza. Para esse tipo de conhecimento, bastaria ao homem o exercício da razão. Todavia, outros rejeitaram completamente essa via do conhecimento de Deus, afirmando que o único meio seguro seria pela revelação. Ou seja, pelo lado espiritual. As duas posições contaram com o apoio de homens eruditos e piedosos para defendê-las. Não nos compete determinar quem estava correto em sua abordagem, mas, sim, a maneira como abordaram a questão. 12 A teologia natural defende que é possível ao homem ter conhecimento de Deus apenas por meios racionais. Claro que mesmo os defensores dessa corrente reconhecem que somente pela revelação há um conhecimento mais exato. Todavia, lançando mão de recursos lógicos, julgam que é possível determinar a existência de Deus e, também, algumas características do seu ser. A razão se torna instrumento do conhecimento divino. Teólogos como Tomás de Aquino e Duns Scotus assumiram essa posição. Outros afirmaram que Deus é um ser espiritual e, portanto, só poderia ser conhecido por meios espirituais, à parte da razão. Homens como Tertuliano e Guilherme de Occam pensaram assim. Para eles, somente pela revelação divina haveria possibilidade de se conhecer o Deus Todo-Poderoso. 13 De nossa parte, construiremos o nosso discurso a partir das duas formas. Apresentaremos alguns pontos que se harmonizam com uma visão teísta do Universo, ao mesmo tempo em que nos aprofundaremos na revelação das Escrituras. 14 15 6

A auto-revelação de Deus 16 importante aprendermos que Deus é um ser que se auto-revelou, mostrou- É -se a si mesmo ao homem. Essa revelação ocorreu dentro da história. Isso significa que o contato com o homem não se deu somente na dimensão interior, no coração ou no espírito humano. Deus se fez presente em eventos ocorridos no tempo e no espaço geográfico. Quando ele apareceu a Abraão, a Moisés, ao povo de Israel no Sinai, estava, na verdade, revelando-se a essas pessoas. Quando se fez homem em Jesus Cristo, e quando apareceu em forma de línguas de fogo, no Dia de Pentecostes, estava se auto-revelando. 17 Deus é Deus dentro da história humana. Em tempos e locais específicos. A religião bíblica é uma religião histórica. Deus apareceu a certos homens, em certos lugares, em tempos mensuráveis e se fez conhecer. Isso é revelação. 18 Além disso, parte dessas manifestações de Deus, dessa auto-revelação, foi registrada de forma escrita. Esses registros, por sua vez, contaram com a supervisão e a providência divinas, de modo que ficaram isentos de erros humanos, da interferência e da sabedoria e vontade do homem. Esses registros inspirados são as Sagradas Escrituras, por meio das quais tomamos conhecimento do caráter e da ação divina em nosso favor. 19 As manifestações de Deus na natureza, na história, no registro literário inspirado, somados a um encontro pessoal com a divindade, constituem-se no caminho a ser trilhado para o conhecimento sobre Deus. Esses três elementos colaboram com a interação entre Deus e o homem, levando o homem a uma transformação contínua de si mesmo pela compreensão e conhecimento divinos. Esse conhecimento se estende não apenas ao ser de Deus, mas a outras áreas desse conhecimento, abrangendo os planos e os propósitos divinos para o homem. 20 Ainda que esse conhecimento tenha a tendência de crescer continuamente, ele não será completo no atual estado. A eternidade é descrita na Bíblia como um estado de muito maior conhecimento de Deus, um conhecimento muito superior ao que se pode experimentar na presente situação. É algo incomparável e até mesmo incompreensível agora. 21 Assim, como podemos observar, a teologia é um universo do conhecimento da deidade que nos abre inúmeras reflexões e pensamentos, conduzindo-nos à plena satisfação em Deus. Portanto, como proclamou o profeta Oseias, conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor (Os 6.3). 22 7

Capítulo 2 q Concepções sobre Deus 23 Teísmo Monoteísmo Politeísmo Crença que pressupõe a existência de um ou de vários deuses como fundamento para a concepção de todas as outras crenças, não importando as formas de manifestação desta ou destas divindades. 24 É a crença em um só Deus. A divindade, nas religiões monoteístas, é onipotente, onisciente e onipresente. O monoteísmo é a crença em um só Deus, que, além de ser considerado Todo-Poderoso, é um ícone moral para seus adeptos, requerendo dos fiéis observância de normas de conduta puras. 25 Consiste na crença em mais de uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma delas é considerada uma entidade individual e independente, com personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades, áreas, objetos, instituições, elementos naturais e mesmo relações humanas. Ainda em relação às suas esferas de influência, nota-se que nem sempre se encontram claramente diferenciadas, podendo haver uma sobreposição de funções de várias divindades. 26 8

Henoteísmo Animismo Fetichismo Panteísmo Panenteísmo É a crença religiosa que postula a existência de várias divindades, mas que atribui a criação de todas a uma divindade suprema, que seria objeto de culto maior. Outra modalidade do culto henoteísta, mais próxima do politeísmo, defende a existência de diversos deuses, cabendo a cada grupo ou a cada tribo a eleição da sua divindade protetora, para quem prestam reverência e adoração. 27 É a manifestação religiosa na qual se atribui a todos os elementos do cosmos, a todos os elementos da natureza, a todos os seres vivos e a todos os fenômenos naturais um princípio vital e pessoal chamado anima (alma). Conseqüentemente, todos esses elementos são passíveis de possuir sentimentos, emoções, vontades ou desejos, e até mesmo inteligência. Resumidamente, os cultos animistas alegam que todas as coisas são vivas, todas as coisas são conscientes, ou todas as coisas têm anima. 28 Crença (mantida particularmente nas religiões da África ocidental) de que os espíritos são capazes de possuir objetos. Existe também a crença de que certos objetos ou talismãs podem afastar os espíritos maus. 29 Sustenta a idéia da crença em um Deus que está em tudo, ou à noção de muitos deuses representados pelos múltiplos elementos divinizados da natureza e do Universo. Sua principal convicção é que Deus, ou força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do mundo. No panteísmo, tudo é deus e deus é tudo. 30 Crença de que o Universo está contido em Deus (ou nos deuses), mas Deus (ou os deuses) é maior do que o Universo. É diferente do panteísmo, que diz que Deus e o Universo coincidem perfeitamente (ou seja, são o mesmo). No panenteísmo, todas as coisas estão na divindade, são abarcadas por ela, identificam-se (ponto em comum com o panteísmo), mas a divindade é, além disso, algo além de todas as coisas, transcendente a elas, sem necessariamente perder sua unidade (ou seja, a mesma divindade é todas as coisas e algo a mais). 31 9

Deísmo Pandeísmo Ateísmo Gnosticismo Agnosticismo Crença que pretende enfrentar a questão da existência de Deus pela razão em lugar dos elementos comuns das religiões teístas, tais como: revelação divina, dogmas e tradição. Os deístas, geralmente, questionam as religiões denominacionais e seu Deus dito revelado, argumentando que Deus é o criador do mundo, mas que não intervém, diretamente, nos afazeres do mesmo. Para os deístas, Deus se revela por meio da ciência e das leis da natureza. 32 É uma corrente filosófica que surgiu da mistura do panteísmo com o deísmo, ou seja, afirma concomitante que Deus precede o Universo, sendo o seu criador e, ao mesmo tempo, sua totalidade. 33 Refere-se à descrença em qualquer deus, deuses ou entidades divinas. Designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos 2º e 3º, cujas bases filosóficas eram da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento ). Este movimento reivindicava a posse de conhecimentos secretos que, segundo seus adeptos, tornava-os diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento. Essa crença combinava alguns elementos da astrologia e mistérios das religiões gregas com as doutrinas do cristianismo. 35 O agnosticismo se opõe à possibilidade de a razão humana conhecer uma entidade concebida como deus. Para os agnósticos, assim como não é possível provar racionalmente a existência de Deus, é igualmente impossível provar a sua inexistência. Logo, é um labirinto sem-saída para a questão da existência de Deus, por isso não se deve colocá-la sequer como problema, já que nenhuma necessidade prática nos impele a nos embrenharmos em tal tarefa estéril. Isto porque o que determina a crença é a fé, e a fé não é baseada em racionalizações. 36 34 10

Capítulo 3 q A concepção correta sobre Deus Por Norman Geisler Tradução do professor Elvis Brassaroto Aleixo 37 Bíblia ensina que o monoteísmo foi a concepção mais antiga acerca de A Deus. O primeiro versículo do livro de Gênesis é monoteísta: No princípio criou Deus os céus e a terra (Gn 1.1). Todos os patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, apresentaram uma fé monoteísta. (Gn 12 50). Isto revela um Deus que criou o mundo e que, portanto, é diferente do mundo. Esses são os conceitos essenciais do teísmo ou monoteísmo. Igualmente, bem antes de Moisés, José acreditou declaradamente em um monoteísmo moral. Sua recusa em cometer adultério é justificada pelo seu conhecimento de que seria um pecado contra Deus. Enquanto estava resistindo à tentação da esposa de Potifar, ele declarou: Como, pois, posso cometer este tão grande mal, e pecar contra Deus? (Gn 39.9). 38 Jó, outro livro bíblico contextualizado em um período antigo da antiguidade, revela claramente uma visão monoteísta de Deus. Existem grandes evidências de que o livro de Jó se desenvolveu em tempos patriarcais pré-mosaicos. O livro vislumbra um Deus Todo-Poderoso (Jó 5.17; 6.14; 8.3), um Deus pessoal (Jó 1.7-8), que criou o mundo (Jó 38.4) e é soberano sobre sua criação (Jó 42.1,2). 39 Encontramos na epístola de Paulo aos Romanos, no seu primeiro capítulo, a afirmação de que o monoteísmo precedeu o animismo e o politeísmo. O texto declara: Porquanto o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaramse loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém (Rm 1.19-25). 40 11

A tese de um monoteísmo recente foi divulgada por W. Schmidt na sua obra High Gods in North America. Mas é a obra de James Frazer, The Golden Bough, que tem alcançado proeminência sobre o assunto. Sua tese não se baseia em uma confiável procura histórica e cronológica para as origens do monoteísmo, antes, advoga que as religiões evoluíram do animismo para o politeísmo, e deste para o henoteísmo, e, finalmente, chegando ao monoteísmo. Apesar de seu uso seletivo e anedótico de fontes antiquadas, as ideias do livro ainda são acreditadas amplamente. A resistência da tese de Frazer, de que a concepção monoteísta de Deus evoluiu recentemente, não tem fundamento por muitas razões. 41 Argumentos para a crença no monoteísmo primitivo Há muitos argumentos a favor do monoteísmo primitivo. E muitos desses argumentos vêm dos registros e tradições que temos das civilizações antigas, que incluem os livros de Gênesis e Jó e o estudo das tribos pré-alfabetizadas. 42 A historicidade de Gênesis Não há nenhuma dúvida de que Gênesis apresenta uma concepção monoteísta de Deus. De igual modo, é claro, esse livro é o instrumento mais confiável que dispomos de um registro histórico da raça humana, desde os primeiros seres humanos. Consequentemente, os argumentos que atestem a historicidade dos primeiros capítulos de Gênesis favorecerão o monoteísmo primitivo. O notável arqueólogo William F. Albright demonstrou que o registro patriarcal de Gênesis (Gn 12 50) é histórico. Ele declara: Graças à pesquisa moderna, reconhecemos agora sua significativa historicidade [da Bíblia]. As narrativas dos patriarcas, Moisés e o Êxodo, a conquista de Canaã, os juízes, a monarquia, o exílio e a restauração de Israel, tudo têm sido confirmado e evidenciado em uma extensão que eu julgava impossível há quarenta anos. E acrescenta: Não há um único historiador bíblico que não tenha se impressionado pela acumulação rápida de dados que apóiam a historicidade significativa da tradição patriarcal. 43 Entretanto, o livro de Gênesis é uma unidade literária e genealógica, tendo constituído listas de descendentes familiares (Gn 5.10) acompanhadas da relevante frase literária esta é a história de ou estas são as origens dos (Gn 2.4). A frase é usada largamente em outros trechos do livro de Gênesis (2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10,27; 25.12,19; 36.1,9; 37.2). 44 Além disso, a importante narrativa sobre a torre de Babel (cap. 11) é referida por Jesus e pelos escritores do Novo Testamento como histórica. Também são citados por Cristo e pelos escritores do Novo Testamento: Adão e Eva (Mt 19.4,5); a tentação que sofreram (1Tm 2.14); sua posterior queda (Rm 5.12); o sacrifício de 12

Caim e Abel (Hb 11.4); o assassinato de Abel por Caim (1Jo 3.12); o nascimento de Sete (Lc 3.38); a trasladação de Enoque (Hb 11.5); a menção do matrimônio antes dos tempos do dilúvio (Lc 17.27); a inundação e a destruição do homem (Mt 24.39); a preservação de Noé e sua família (2Pe 2.5); a genealogia de Sem (Lc 3.35,36); e o nascimento de Abraão (Lc 3.34). Assim, a pessoa que questionar a historicidade de Gênesis, consequentemente, terá de questionar também a autoridade das palavras de Cristo e de muitos outros escritores bíblicos que recorreram ao livro de Gênesis. 45 Em particular, existem fortes evidências para a historicidade dos registros bíblicos sobre Adão e Eva. Esses registros revelam que os pais da raça humana foram monoteístas desde o princípio (Cf. Gn 1.1,27; 2.16,17; 4.26; 5.1,2). 46 1) Gênesis capítulos 1 e 2 apresenta Adão e Eva como pessoas literais e narra os eventos importantes de suas vidas (entenda-se: de suas histórias, registros); 2) Eles geraram crianças reais e não fictícias (Gn 4.1,25; 5.1); 3) A mesma frase, estas são as gerações de, empregada para registrar histórias posteriores (Gn 6.9; 9.12; 10.1,32; 11.10,27; 17.7,9), é usada também no relato da criação (Gn 2.4) e na formação de Adão e Eva e seus descendentes (Gn 5.1); 4) As cronologias posteriores do Antigo Testamento posicionam Adão no topo da lista genealógica (1Cr 1.1); 5) O Novo Testamento cita Adão como o primeiro antepassado literal de Jesus (Lc 3.38); 6) Jesus recorreu à historicidade de Adão e Eva, o primeiro casal macho e fêmea, constituindo, como base para a união física, o primeiro matrimônio (Mt 19.4); 7) O livro de Romanos declara que a morte literal foi trazida ao mundo por um Adão literal (Rm 5.14); 8) A comparação de Adão ( o primeiro Adão ) com Cristo ( o último Adão ), em 1Coríntios 15.45, atrela a historicidade de Adão com a de Jesus, e autentica explicitamente a compreensão histórica de Adão como uma pessoa literal; 9) A declaração do apóstolo Paulo, de que primeiro foi formado Adão, depois Eva (1Tm 2.13,14), revela que ele fala de uma pessoa real; 13

10) Logicamente, houve entre eles o primeiro relacionamento conjugal: macho e fêmea. Do contrário, a raça humana não teria continuidade. A Bíblia chama este casal de Adão e Eva e não há quaisquer razões para duvidar da existência real dessas duas pessoas. E aqueles que argumentam a favor de sua historicidade consequentemente apóiam a posição bíblica de um monoteísmo primitivo. 47 A evidência do livro de Jó Semelhante a Gênesis, Jó é possivelmente um dos livros mais antigos do Antigo Testamento. Ao menos há um consenso entre os estudiosos de que sua história se originou em tempos patriarcais, sendo, portanto, pré-mosaica. De igual modo, o livro de Jó confirma o monoteísmo e a pessoalidade de Deus. Revela um Deus pessoal (1.6,21), moral (1.1; 8.3,4), soberano (42.1,2), Todo-Poderoso (5.17; 6.14; 8.3; 13.3) e criador (4.17; 9.8,9; 26.7; 38.6,7). O posicionamento da história de Jó como sendo primitiva possui vários fundamentos. 48 1) Sua organização familiar em clãs, adotada no período pré-mosaico e abolida posteriormente entre os hebreus; 2) A ausência total de qualquer referência à lei de Moisés; 3) O emprego patriarcal peculiar para o nome de Deus: Todo-Poderoso (5.17; 6.4; 8.3 cf. Gn 17.1; 28.3); 4) A comparativa raridade com que é empregado o nome SENHOR (Yahweh) (cf. Êx 6.3); 5) O oferecimento de sacrifícios pelo chefe da família em oposição ao sacerdócio levítico; 6) A menção da cunhagem primitiva de moedas, implícita na expressão peças de dinheiro (42.11; cf. Gn 33.19); 7) O uso da expressão os filhos de Deus (1.6; 2.1; 38.7), encontrada apenas em Gênesis 6.2-4; 8) A longevidade de Jó, que viveu 140 anos depois que sua família foi restabelecida (42.16), ajusta-se ao período patriarcal. 14

Jó fala de um Deus que criou o mundo (Jó 38.4), que é soberano sobre todas as coisas (42.2), inclusive sobre Satanás (Jó 1.1,6,21). Todas essas coisas são características de uma concepção monoteísta de Deus. Assim, os tempos primitivos de Jó revelam que o monoteísmo não teve um desenvolvimento recente. 49 As religiões primitivas são monoteístas Ao contrário da convicção popular, as religiões primitivas da África revelam, por unanimidade, um explícito monoteísmo. Uma das maiores autoridades em religiões africanas, John S. Mbiti, que em sua carreira já pesquisou mais de trezentas religiões tradicionais, declarou: Em todas estas sociedades, sem uma única exceção, as pessoas têm uma noção de Deus como o ser supremo. Isto é uma verdade compartilhada por outras religiões primitivas, muitas das quais crêem em um Deus altíssimo ou em um Deus celestial, assinando mais uma vez o monoteísmo primitivo. 50 A influência do evolucionismo ideia de que o monoteísmo evoluiu recentemente ganhou popularidade após a teoria da evolução biológica de Charles Darwin, em sua obra A A origem das espécies, de 1859. Em outra de suas obras, Darwin escreveu: Não há nenhuma evidência de que o homem tenha originalmente adotado a crença na existência de um Deus onipotente. Pelo contrário, Darwin acreditava que as faculdades mentais humanas [...] conduziram o homem à crença em entidades espirituais e, desta, para o fetichismo, o politeísmo e, por fim, ao monoteísmo.... 51 A tese evolutiva de Frazer sobre a religião está baseada em várias suposições sem nenhuma prova. Primeiro: seu apoio à evolução biológica mostra, na realidade, sua ausência de fundamentos sérios. A teoria da evolução já foi satisfatoriamente contestada por autoridades científicas. Segundo: ainda que considerássemos a evolução biológica como uma verdade científica, não há nenhuma razão para acreditar que tal evolução tenha sido considerada no âmbito religioso. É um engano de categoria metodológica classificar que o que é verdade em uma disciplina seja também verdade em outra. 52 O darwinismo social é outro caso em questão. Poucos darwinistas concordariam com Hitler em sua obra Mein Kampf, que diz que deveríamos destruir as raças inferiores, já que a evolução tem feito isto durante séculos! Ele escreveu: Se a natureza não deseja que os indivíduos mais fracos devam se unir (misturar) com os mais fortes, ela deseja menos ainda que uma raça superior venha se misturar com uma inferior; até mesmo porque, em tal caso, todos os seus esforços, ao longo de centenas de milhares de anos, para estabelecer uma fase evolutiva mais alta, pode resultar em futilidade. 15

Assim, se muitos darwinistas concordam que a evolução não deve ser aplicada ao desenvolvimento social humano, então não há nenhuma razão para aplicá-la à religião. Dessa forma, nem a suposta prova científica de Darwin serve como base para a evolução do monoteísmo recente. 53 A melhor explicação As origens do politeísmo podem ser explicadas como uma degeneração do monoteísmo original, como vimos na declaração anterior de Romanos 1.19. Quer dizer, o paganismo se originou do monoteísmo primitivo e não o contrário. Isso é evidenciado no fato de que a maioria das religiões pré-alfabetizadas possuía uma visão monoteísta de Deus. William F. Albright reconhece, igualmente, que os respectivos deuses dessas religiões eram considerados todo-poderosos e cridos como criadores do mundo; eram, geralmente, deidades cósmicas e seus adeptos, frequentemente, acreditavam que tais deuses residiam no céu. Essa concepção é claramente contrária às concepções politeístas e animistas de deidade. Não há nenhuma razão concreta para negar o monoteísmo primitivo apresentado pela Bíblia. Pelo contrário, há toda evidência para acreditar que o monoteísmo foi a primeira concepção religiosa que algumas religiões deturparam. De fato, essa é a posição que melhor se ajusta à forte evidência de que o monoteísmo revelado na Bíblia foi distorcido pelas tendências humanas. Em resumo, a concepção correta de Deus, o monoteísmo primitivo, foi resgatada e não evoluída durante séculos. Deus fez o homem conforme a sua imagem, mas os homens corromperam esta verdade (Rm 1.23). 54 16

Capítulo 4 q A existência de Deus Quem é Deus? E o que Ele fez ou faz? Hoje, um número cada vez maior de pessoas diz não acreditar na existência de Deus. São os ateus, que afirmam que se Deus não pode ser visto, ouvido ou tocado, então não há como provar que ele existe. Se os ateus não acreditam na existência de Deus, logo, não acreditam também na Bíblia. E muito menos em Jesus Cristo. 56 De fato, a Bíblia não procura discutir a existência de Deus. Ela já começa narrando a criação de todas as coisas como se a existência de Deus fosse um fato que não pode ser colocado em dúvida. Assim lemos no livro de Gênesis: No princípio criou Deus os céus e a terra. (1.1). A Bíblia chama aquele que nega a existência de Deus de tolo: Disse o néscio no seu coração: Não há Deus (Sl 14.1). Ainda que muitas pessoas, hoje, não acreditem na existência de Deus, o número de pessoas que acredita é muito maior. Até pessoas que não frequentam nenhuma igreja nem praticam qualquer religião acreditam que Deus existe. E por quê? Porque certas coisas apontam para um ser superior. 55 17

Muitas pessoas não crêem na Bíblia, mas crêem na existência de Deus, porque muitos fatos e elementos seriam impossíveis de serem explicados sem a referência divina. Geralmente, os ateus são pessoas muito cultas e inteligentes. Isso se dá porque é necessário criar teorias bem engendradas para negar a existência de Deus. É como estar andando em um caminho e topar com um computador no meio do deserto e arrumar uma explicação lógica para aquele fato, mas sem envolver a ação humana. É preciso muita criatividade e capacidade intelectual. Deus realmente existe! Com certeza, o conhecimento de Deus, conforme a Bíblia, é algo diferente do conhecimento científico baseado nos sentidos. A seguir apresentaremos os argumentos em favor da existência de Deus em oposição ao ateísmo. Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizada em 2000, dá conta de que aumentou o número dos ateus, pessoas que afirmam abertamente não crer na existência de algum Deus ou de um mundo sobrenatural. A maioria desse contingente é ateia na prática, ou seja, não apresenta nenhum tipo de fé religiosa e não perde tempo refletindo sobre a existência de Deus. São pessoas que, de fato, assumiram um modus vivendi em que não há espaço para a religião. Mas, apesar de suas convicções, não apresentam argumentos sólidos para o seu ateísmo. Um número mais reduzido desse grupo, tanto no Brasil quanto no exterior, pode ser classificado como ateus filosóficos, isto é, pessoas racionalmente preparadas para justificar sua descrença, pois se ocupam em formular argumentos lógicos que justifiquem a sua posição. Poderíamos, ainda, chamar os ateus filosóficos de incrédulos conscientes. Também, vale destacar um outro tipo de ateu, mais agressivo, detectado pela pesquisa em pauta: o militante. Esses ateus não somente não crêem na existência de Deus como também são contra aos que crêem. Tanto é que procuram persuadir os outros para a sua fé sem deus. Então, criaram o site Sociedade da Terra Redonda, cujo objetivo é reunir todos os ateus em sua militância. Salientamos que os ateus militantes parecem dirigir toda a sua animosidade principalmente aos cristãos. Seus sites estão repletos de refutações à Bíblia e, entre eles, existem pessoas que se ocupam em desmentir os milagres de cura que ocorrem nas igrejas evangélicas e também em apontar as falhas da Igreja Cristã através da História, entre outras coisas. Além de negarem a existência de Deus de forma geral (pois ateu significa sem Deus ), acabam se tornando, na maioria das vezes, antideus, isto é, contra Deus, ou, mais precisamente, anticristãos. 57 18

O ateísmo, como vem sendo propagado atualmente, não se contenta apenas em não crer na existência de Deus. Prega que a religião não é só inútil, mas também é má. E, ao lado de sua crítica à religião, divulga uma crença que dá possibilidade ao homem de resolver seus próprios problemas sem necessitar de uma força exterior. Em verdade, é um humanismo, não um humanismo que valoriza o ser humano, mas um humanismo que opõe Deus e homem, colocando este último como senhor e salvador de si mesmo. 58 O Credo Americano Ateísta corrente declara: Um ateísta ama a si mesmo e ao seu próximo ao invés de amar um deus. Um ateísta aceita que céu é uma coisa pela qual nós devemos trabalhar agora, aqui na terra, para que todos os homens possam desfrutar juntos. Um ateísta admite que ele não pode conseguir ajuda pela oração, mas que devemos encontrar em nós mesmos a convicção interior e a força para achar a vida, para resolver seus problemas, para subjugá-la e para desfrutá-la. Um ateísta aceita que somente no conhecimento de si mesmo e de seu próximo os homens podem encontrar o entendimento que o ajudará em uma vida de plenitude. 59 Um aspecto importante que precisa ser mencionado: os ateus não negam apenas a existência de Deus, mas de qualquer realidade que não seja material, isto é, que não possa ser percebida pelos cinco sentidos. Para eles, não existe uma dimensão espiritual habitada por anjos ou demônios. A única coisa que existe é o mundo físico, tangível, e nada mais além disso. 60 O impacto do pensamento científico fundação indestrutível do edifício inteiro do ateísmo é a sua filosofia: o A materialismo, ou naturalismo, como também é conhecido. Essa filosofia considera o mundo como ele é na verdade, visto à luz dos dados providos pela ciência progressiva e experiência social. O materialismo ateísta é o resultado lógico de um conhecimento científico alcançado durante séculos. A colocação acima pertence ao artigo Materialismo versus Idealismo, de Madalyn Murray O Hair, fundadora da organização American atheists ( Ateístas americanos ), que serve de inspiração para os ateus brasileiros. Com essa afirmação, a autora lança uma das pedras de toque do pensamento ateísta: o conhecimento científico. 61 Embora não signifique que todos os envolvidos com o pensamento científico sejam ateus, o contrário geralmente é verdade. Os ateus atribuem sua incredulidade às coisas divinas e espirituais alegando que as mesmas não podem ser comprovadas cientificamente. Basta lembrar que Yuri Gagarin, o primeiro russo a andar no espaço, fez questão de dizer Não vi nenhum Deus. 19

Desde o período do Iluminismo, o conhecimento científico foi adquirindo mais e mais prestígio. Os benefícios trazidos pela tecnologia criaram um sentimento geral de que o homem poderia, sozinho, resolver seus próprios problemas, bastando, para isso, ter o conhecimento necessário. De repente, o Universo não era mais um objeto misterioso movido pelas mãos do Altíssimo, mas uma máquina perfeita regida por leis que podiam ser medidas e utilizadas em proveito próprio. O século 18 viu surgir a filosofia materialista de David Hume, na qual não havia lugar para quaisquer coisas que não fossem tangíveis, palpáveis. A física de Isaac Newton e a química eram ciências suficientes para explicar todos os fenômenos. 62 É óbvio que a descoberta das leis da física e da química não é um fundamento aceitável para negar a existência de Deus. Toda lei tem seu legislador e a coisa mais fácil de concluir é um Universo regido por leis estabelecidas pelo criador. Mas muitos, no afã de menosprezar a fé, lançaram mão desse instrumento e abraçaram as afirmações ateístas. Há um site americano que divulga uma lista de celebridades ateístas que inclui filósofos (Thomas J. Altizer, Paul e Patrícia Churchland, Paul Edwards, Antony Flew, Michael Martin e Kai Nielsen), cientistas (Francis Crick, Richard Leakey e Stephen J. Gould), políticos (Fidel Castro e Tom Metzger), famosos (Woody Allen, Ingmar Berman, Bill Blass, Marlon Brando, Warren Buffett, George Carlin, Dick Cavett, George Clooney, Patrick Duffy, Katherine Hapburn, Arthur Miller, Jack Nicholson e Penn and Teller) e homens de negócio (Bill Gates, entre outros também conhecidos). Todavia, ser cientista não obriga ninguém a ser ateu. Se isso fosse verdade, todos os cientistas seriam ateus, o que não é um fato. Inclusive, um dos maiores pensadores do século 20, autor do best-seller Uma breve história do tempo, não vê qualquer dificuldade em crer na existência de Deus. Muito pelo contrário: O pai da cosmologia moderna, o inglês Stephen Hawking, acha fascinante a chamada hipótese teológica, a ideia de que entender Deus seria o alvo supremo da física, mas alega que o caminho para chegar lá é a ciência e não a metafísica ou o misticismo. Quando lhe perguntaram se Deus teve um papel no Universo antes do big-bang, a suposta explosão primordial que teria criado o cosmo, Hawking admitiu que sim: acho que só ele pode responder porque o Universo existe. 63 64 Sobre este assunto, compartilhamos uma citação do teólogo Charles Hodge, que deveria ser observada por aqueles que defendem o pensamento científico: Desde os primórdios da ciência moderna, vêm emergindo constantemente aparentes discrepâncias entre a natureza e a revelação, o que, por algum tempo, tem ocasionado grande escândalo a crentes zelosos; em cada exemplo, porém, sem a menor exceção, tem sido descoberto que o erro se encontra ou na generalização apressada da ciência, devido ao conhecimento imperfeito dos fatos, ou na interpretação tendenciosa das Escrituras. 65 20

O efeito Charles Darwin pós ter lido A origem das espécies, de Charles Darwin, Karl Marx escre- uma carta ao seu amigo Lassalle, na qual exulta porque Deus (pelo Aveu menos nas ciências naturais) recebeu o golpe de misericórdia. Não que essa fosse a intenção do naturalista Charles Darwin, mas suas ideias foram e ainda são utilizadas pelos ateus do mundo inteiro como argumento para provar que o simples fato de o mundo existir não demanda a existência de um Criador. Segundo a teoria da Evolução das espécies, o mundo é o resultado de bilhões de anos de evolução, pela qual as formas de vida mais simples evoluíram para as formas de vidas mais complexas, até chegarem ao homem. Essa questão ferveu na Inglaterra do século 19 e, depois, no mundo inteiro. Conceber o Universo em termos evolutivos foi o padrão que, desde então, serviu para considerar a evolução como algo inerente à natureza de todas as coisas. Assim, não havia a necessidade de um agente externo, ou seja, Deus. Com sua teoria, Darwin proporcionou aos incrédulos aquilo que ainda lhes faltava: uma base científica para a negação de Deus. Isso, no entanto, não significa que Darwin estava negando a existência de Deus. Em verdade, ele estava atribuindo o fato biológico ao Criador. Mas aqueles que buscavam ensejo para anular o argumento da criação como prova da existência de Deus, usaram sua teoria como base. Logo, ser ateu por causa da evolução era uma opção de crença e não uma consequência da teoria de Darwin. Até porque havia muitos teístas (pessoas que admitem a existência de um Deus pessoal como causa do mundo) entre aqueles que acreditaram na evolução. 66 Nosso propósito, aqui, não é discutir sobre a teoria da Evolução das espécies. Mas é importante saber que, mais de cem anos depois, muitas dúvidas ainda pairam sobre essa teoria, insuficiente para explicar a origem do homem. Embora admita a evolução, o historiador sueco Karl Grimberg, no princípio de sua História universal, comenta o seguinte: Se [conjunção condicional] a estrutura anatômica do homem é o culminar de uma longa evolução, foi, no entanto, repentino o nascimento da sua inteligência. Tudo faz supor que o limiar por onde se ascendeu diretamente o pensamento foi transposto de uma só vez. Grimberg fez essa declaração em 1941. Mas é impressionante uma observação da revista Veja sobre o comentário de um dos maiores neodarwinistas da atualidade:... o biólogo Ernst Mayr, da Universidade de Harvard, também concorda que apenas o desenrolar das leis naturais talvez explique o surgimento da vida na terra mas isso certamente não pode ser invocado para explicar o aparecimento de seres inteligentes. Lendário pelo ceticismo, Mayr não fala em milagre. Nem pode. 21

Ele é considerado o maior neodarwinista vivo. Mas seu cálculo sobre a possibilidade de a natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos sobrenaturais. 67 68 A espada de Karl Marx 69 De todos os movimentos que se rebelaram contra a crença em Deus, o marxismo foi o mais relevante. Toda a ideologia marxista e as demais que dele se originaram (comunismo, socialismo, leninismo e maoísmo) apresentavam uma aversão profunda contra toda e qualquer religião, principalmente o cristianismo. O ateísmo foi ensinado nas escolas e inculcado nos cidadãos que viviam sob essa orientação ideológica desde a mais tenra idade e em todo o lugar. Muitos dos argumentos que os ateus atuais lançam contra Deus eram comumente utilizados pelos países comunistas e socialistas. O ateísmo de Marx, certamente, era de uma espécie extremamente militante. Ruge escreveu a um amigo, Bruno Bauer, Karl Marx, Christiansen e Feuerbach estão formando uma nova Montagne e fazendo do ateísmo o seu lema. Deus, religião e imortalidade são derrubados de seu trono e o homem proclamado Deus. E George Jung, um jovem próspero, advogado de Colônia e partidário do movimento radical, escreveu a Ruge: Se Marx, Bruno Bauer e Feuerbach, juntos, fundarem uma revista teológico-filosófica, Deus faria bem em se cercar de todos os seus anjos e se entregar à autopiedade, pois estes certamente o tirarão de seu céu [...] Para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que existe. 70 Como podemos ver, nem sempre o ateísmo existiu como uma crença passiva, como uma indiferença à religião. Dentro do conceito marxista, o ateísmo deveria substituir a crença em Deus, nem que para isso fosse necessário usar de violência. Não precisamos registrar aqui os milhares de mártires resultantes da implantação da ideologia comunista. Como escreveu Richard Wurmbrand, fundador da missão A voz dos mártires: Posso entender que os comunistas prendam padres e pastores como contra-revolucionários. Mas por que os padres foram forçados a dizer a missa sobre excrementos e urina, na prisão romena de Piteshti? Por que cristãos foram torturados para que tomassem a comunhão com esses mesmos elementos? Por que a obscena zombaria da religião? 71 Bases históricas dos ateus Alguns sites, como o www.oateufeliz.com.br, por exemplo, fazem menção das mortes efetuadas pela Inquisição católica e pela colonização protestante na América para combater a crença em Deus. Todavia, querer provar que Deus não existe 22

por esse motivo é um tanto quanto sem fundamento. Os ateus não podem esquecer que Stálin, Lênin e Mao Tse-tung mataram milhões de pessoas inspirados no socialismo ateu, conforme divulgado por Karl Marx. Da mesma forma, o Nazismo dizimou a raça judaica e milhares de outras minorias por conta de suas teorias racistas, baseadas no darwinismo e nas ideias do filósofo ateu Friederich Nietzsche. Mas não podemos negar a existência de Marx, Darwin e Nietzsche pelo fato de seus escritos terem sido utilizados de forma perversa. Na verdade, as guerras e os massacres ocorrem motivados pelo desejo de poder e pela ambição por riquezas. A religião apenas serve de justificativa para tais atos, assim como o ateísmo serviu de motivo para que milhares de cristãos fossem massacrados em países comunistas. Assim, se a religião, por motivos históricos, pode ser classificada como nociva, o ateísmo também pode. Se, porém, separarmos os frutos bons dos ruins, veremos que a fé em Deus produziu os melhores. Se os homens erraram na história do cristianismo, isso apenas indica que eles estavam fora dos padrões de Deus e não que isso seja um fundamento que sirva para provar que Deus não existe. Uma coisa é dizer que Deus não existe. Outra bem diferente é mostrar que o homem não tem obedecido a Deus como deveria. 72 Deus realmente existe As Escrituras não procuram, em nenhum ponto, provar a existência de Deus. Apenas a admite. Os santos do Antigo e do Novo Testamentos que falaram inspirados por Deus não diziam que acreditavam em sua existência, mas que o conheciam o que depreende bem mais. Com certeza, o conhecimento de Deus, conforme a Bíblia, é algo diferente do conhecimento científico baseado nos sentidos. Mas, então, para que tentar provar a realidade de Deus? Em primeiro lugar, porque muitos são sinceros em suas dúvidas. É verdade que alguns não querem crer e, por isso, procuram desculpas para sua atitude. Outros querem acreditar, mas, infelizmente, encontram diversos motivos para não fazê-lo. É aí que entramos com a evidência. Em segundo lugar, porque tudo aquilo que fortalece a nossa fé é útil. É por isso que muitos buscam provas, não para crerem, mas porque já crêem. E, em terceiro lugar, porque esta é uma maneira de estarmos conhecendo um pouco mais da natureza de Deus e, com certeza, isso é algo bom e recomendável. 73 23

Sendo assim, a seguir compartilhamos uma tabela que traz alguns argumentos em favor da existência de Deus: Argumento da causa e do efeito Argumento da causa da ordem e do propósito no Universo Argumento da causa da ideia de Deus Argumento da causa da moral Todo efeito tem uma causa apropriada. Esse argumento remonta a Aristóteles e foi amplamente explorado por Tomás de Aquino em sua Suma teológica. Geralmente, dentro dessa linha de argumentação, Deus é descrito como a Causa não causada, o Motor não movido. Esse é o argumento teleológico. O Universo é um grande projeto, tendo complexidade (muito cheio de elementos) e especificidade (características nítidas e constantes). A ordem e o propósito num sistema implicam inteligência e propósito em sua causa; o Universo tem um designer transcendente, um originador e mantenedor das suas leis. Esse é o argumento ontológico e defende que Deus é um ser absolutamente perfeito. Todo homem, mesmo que sufocada e vagamente, tem a ideia de um Deus infinito e perfeito. Esta noção, por ser infinitamente superior ao homem e ao Universo, não pode ter se originado no homem nem no Universo, logo, tem sua origem em Deus, que existe e é infinito e perfeito. Esse é o argumento antropológico. Somos seres morais. A ideia de certo e errado permeia toda a nossa vida. Uma voz insilenciável fala incessantemente à nossa consciência, exigindo obediência e apontando para um juiz que punirá cada desobediência. Essa voz que fala à consciência não é imposta pelo indivíduo nem pela sociedade (freqüentemente lhes é contrária!); portanto, existe alguém que fala à nossa consciência, que é bom, justo juiz, Senhor, autor e mantenedor de uma lei moral permanente, absoluta e mandante: Deus. Leis morais implicam em um legislador moral. 74 75 76 77 78 24

Capítulo 5 q Os atributos de Deus Uma pergunta que muitas crianças fazem é: Como é Deus?. De seu jeito simples, elas estão perguntando a respeito da natureza de Deus, e não se trata de uma pergunta sem nenhuma importância. Não basta apenas falarmos o nome de alguém. Precisamos conhecer suas características, ou seja, aquilo que o distingue dos demais seres. Se, por exemplo, dissermos que o elefante é um animal de pernas e pescoço compridos, de cor de laranja, cheio de manchas pretas, embora usemos a palavra elefante, não estamos nos referindo ao mesmo animal, corpulento, com grandes orelhas e uma grande tromba. A descrição de sua natureza o identifica e não apenas o nome. 79 A primeira coisa que precisamos saber a respeito do Deus da Bíblia é que Ele é um Deus pessoal. Alguns falam que Deus é uma energia, uma força cósmica ou algo assim. No seriado Guerra nas estrelas, os personagens sempre repetiam uma frase muito conhecida: Que a força esteja com você. Era uma referência a Deus como sendo apenas uma força. Falavam ainda do lado negro dessa força. Essas opiniões sobre Deus não são verdadeiras, porque a Bíblia ensina que Deus é uma pessoa, não uma força. 80 25