Economia e Políticas da Comunicação

Documentos relacionados
Economia Política da Comunicação e dos Media: Novos Cruzamentos e Triangulações. Helena Sousa Professora Associada.

COMENTÁRIO DA CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DE MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL À PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO EM MATÉRIA DE «MUST CARRY» I ENQUADRAMENTO GERAL

A Educação para os Media em Portugal

Proporcionar acesso apropriado aos serviços básicos de comunicações electrónicas a preços razoáveis.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO PLANO DE ACTIVIDADES

O m e d i e v a l i s m o p o r t u g u ê s d a d é c a d a d e 5 0 d o s é c u l o X X a o s n o s s o s días F i l i p a M e d e i r o s

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDL) Ano lectivo PROGRAMA DIREITO DA ECONOMIA. 3.º Ano. Agosto 2014 REGENTE/COORDENADOR

Recensão à obra A Indústria Portuguesa e os seus Dirigentes. RECENSÕES

Qualidade de Vida Urbana

Caracterização. Serve de base à preparação dos planos, das intervenções e do complemento de programação, nos quais está integrada.

PROJECTO DE RELATÓRIO

PAINEL: Modelos de inovação nas TIC. UKB Joaquim Sequeira

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDL) Ano lectivo PROGRAMA DIREITO DA ECONOMIA 3.º Ano Turno diurno

Apoio à Decisão em Programação Linear Multiobjectivo. Um Modelo para o Planeamento Estratégico de Redes de Telecomunicações

SEMINÁRIO PREVENÇÃO DE RISCOS PROFISSIONAIS: PRESERVAR O PASSADO, PROTEGER O FUTURO A PREVENÇÃO DE RISCOS PROFISSIONAIS 27 ABRIL 2011

CIDADES SUSTENTÁVEIS Diploma de Estudos Pós-Graduados

Cidadania europeia: fundamentos da candidatura

ANACOM. Resposta Consulta Publica TDT Interactividade Portugal Resposta Consulta Publica TDT. Lisboa,

1 - Alvará para o exercício da actividade de radiotelevisão e direito de i~tilizacão de

COMPETITIVIDADE TERRITORIAL COESÃO ECONÓMICA E SOCIAL

PROJECTO DE LEI N.º 389/XI/1.ª UTILIZAÇÃO DE FORMATOS ELECTRÓNICOS LIVRES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CIRCUITOS ALUGADOS E MERCADOS DE FORNECIMENTO GROSSISTA DOS SEGMENTOS TERMINAIS E DE TRÂNSITO DE CIRCUITOS ALUGADOS

Senhora Comissária responsável pelos Assuntos do Mar e Pescas,

Projecto de. Cadastro de Infra-Estruturas.

Qualidade da Formação em Jornalismo: abordagem crítica dos modelos vigentes no ensino superior linhas de um projecto de investigação *

Anacom, Dividendo Digital 2 e TDT. Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto

1-Crescimento e desenvolvimento.

A ALER E O SEU PAPEL NO APOIO À REGULAÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS

Cooperação Portugal Cabo Verde,

Resolução do Conselho de Ministros n.º 33/2006

Decisão de Limitação de Frequências») constituindo assim a resposta conjunta das empresas:

OS ADVOGADOS A ORDEM E OS CIDADÃOS

A Sociedade de Informação e os Media em Portugal

PROJECTOS DE EMPREENDEDORISMO QUALIFICADO

Legislativas Proposta ao Governo e aos Partidos Políticos. Para uma nova Política da Indústria da Comunicação Social

Evolução tecnológica e novos serviços

O Poder do Cidadão na SI

A reinvenção do Estado e das profissões na modernização dos sistemas de saúde

TDT Televisão Digital Terrestre

O PAPEL DAS COMUNICAÇÕES NO CRESCIMENTO ECONÓMICO. Políticas das Comunicações e Regulação Octávio Castelo Paulo

Projecto de Apoio à Literacia. Introdução. Pesquisa e tratamento de informação

JORNADA INTERNACIONAL DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Estudo comparado nas administrações públicas de quatro países europeus: estatísticas de sinistralidade laboral

Impacto das tecnologias informáticas na sociedade

VUELA, VUELA, PELICANO. Problemáticas e instrumentos de financiamento para o terceiro sector. Introdução

CONSELHO GERAL INDEPENDENTE. Relatório de Avaliação Intercalar do cumprimento do Projeto Estratégico para a RTP

Conteúdos sobre segurança e saúde no trabalho Organismos e instituições

PROJECTOS DE EMPREENDEDORISMO FEMININO QUALIFICADO

O professor da (na) Sociedade da Informação

Discurso de Tomada de Posse do Administrador do Banco de Cabo Verde, Dr. Osvaldo Évora Lima, Praia, 5 de Setembro de 2008

Telecomunicações: Vital Moreira. Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) Centro de Estudos de Direito Público e Regulação (CEDIPRE)

Programa Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego (PNACE) Estratégia de Lisboa- Portugal de novo CONTRIBUTOS DA UGT

ii. Metodologia de trabalho e Estrutura da Dissertação

PLANO DE ACÇÃO REGIONAL ALENTEJO 2020

Foi também deliberado submeter o SPD ao parecer do Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS).

Referencial Estratégico para Monitorização do Desenvolvimento Social de Lisboa

ELEMENTOS DA PROPOSTA DE ESTRATÉGIA NACIONAL DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA PORTUGAL: UM FUTURO PARA AS PESSOAS

Introdução. Objectivos do CEDEFOP

Publicação e Comunicação em Ciências da Saúde na Era da Literacia Científica. Pedro Morgado Lisboa, Março 2012

Protecção de menores e dignidade humana - luta contra o conteúdo ilegal e lesivo na Internet

i. Objectivos e problemática

AS PME s COMO FACTOR DE DESENVOLVIMENTO. A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO NAS PME s

Avaliação Externa das Escolas

Reunião com os membros dos órgãos de administração responsáveis pelo planeamento e implementação global do Solvência II. 20 de Abril de 2010

Projecto de Plano de Actividades do CNE para Em 2008, a actividade do CNE centrar-se-á em quatro grandes áreas de intervenção:

Plano Nacional de Saúde Contributo da Ordem dos Farmacêuticos

Depósito documentos/ano

Senhor Ministro da Saúde, Professor Adalberto Campos Fernandes, Senhor Presidente da Divisão Farmacêutica da GROQUIFAR, Dr.

(mercado retalhista de acesso em banda larga nas áreas NC)

O novo Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas e riscos psicossociais emergentes

DECRETO-LEI N.º 147/2008, DE 29 DE JULHO Regime Responsabilidade Ambiental POSIÇÃO APETRO

QUADRO REGULATÓRIO ACTUAL E DESAFIOS FUTUROS & ESPECTRO DE FREQUÊNCIAS RADIOELÉCTRICAS. Eng. Hilário Tamele Director de Radiocomunicações & Tecnologia

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular COOPERAÇÃO POLÍCIAL Ano Lectivo 2015/2016

Declaração Política. Fundos Comunitários Objectivos Estratégicos para os Açores

TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO E MULTIMÉDIA

Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde. Ementas 2016

Digitalização da TV: organização social e comunicacional

Projecto de Lei n.º 578/XIII/2.ª. Exposição de motivos

A harmonização regulatória do MIBEL e o novo enquadramento europeu (3º Pacote)

Metropolitano de Lisboa Plano de ação para a igualdade entre mulheres e homens

Política Regional da União Europeia

ESTUDO DE BENCHMARKING DE REGULAÇÃO MODELOS DE GOVERNAÇÃO I PARTE

Consulta pública sobre os cenários de evolução da rede de Televisão Digital Terrestre. Comentários da OPTIMUS Comunicações, S.A.

ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA: QUE

Doutoramento em História Económica e Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/CONT-TV/2009

Projecto Jornalismo e Sociedade. Princípios e desafios do jornalismo na época dos media digitais em rede

O TRANSPORTE FERROVIÁRIO EM ANGOLA - SITUAÇÃO ACTUAL E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO

PROGRAMA NACIONAL DE REFORMAS 20 20

Escola ES/3 Dos Carvalhos Março 2007 Geografia A - 10

Avaliação Online. Carla Manuela Navio Dias Universidade do Minho Lia Raquel Moreira Oliveira

FORMAS DE GOVERNO NO ENSINO SUPERIOR

PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO ENTRE AS ADMINISTRAÇÕES ESPANHOLA E PORTUGUESA PARA A CRIAÇÃO DO MERCADO IBÉRICO DE ELECTRICIDADE

Direito da Economia. Programa

Colaboração Instituto Nacional de Estatística. Rede de Bibliotecas Escolares

A Nova Recomendação sobre Mercados Relevantes Os mercados que saem e os que ficam na nova lista de mercados susceptíveis de regulação ex ante

Capital Social (do qual se encontra realizado o montante de )

Fórum de Pesquisas CIES Olhares Sociológicos sobre o Emprego: Relações Laborais, Empresas e Profissões. Profissões. Noémia Mendes Lopes

Relatório de Avaliação Intercalar do Cumprimento do Projeto Estratégico para a RTP 1º semestre de 2018

Transcrição:

Economia e Políticas da Comunicação Pedro Jorge Braumann 1 e Helena Sousa 2 1 Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa/Rádio e Televisão de Portugal (RTP) 2 Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho Resumo Este texto introdutório à Sessão Paralela de Economia e Políticas da Comunicação pretende dar conta da importância desta área científica. Será feita uma breve apresentação sobre o seu estado actual, em Portugal, incluindo o papel que entendemos ser de relevo da SOPCOM no seu desenvolvimento. Por fim, serão esboçadas as principais ideias das comunicações que serão apresentadas e discutidas no IV Congresso da associação. Introdução No momento em que a economia se torna mundial, em que se desenvolve uma cultura e uma sociedade de informação global, tudo parece apontar para o crescimento de uma verdadeira rede interactiva e digital à escala mundial que estimula fortemente uma convergência de três sectores tecnológicos (informática, telecomunicações e audiovisual) que convergem e se fundem no multimédia e na Internet. A sociedade actual conhece profundas mudanças tecnológicas e económicas, nomeadamente ligadas à informação e à comunicação que hoje interagem na chamada revolução infomedia, sendo fundamental uma reflexão sobre as políticas e economia da comunicação. Estas profundas transformações exigem também uma reflexão sobre a economia da comunicação e da cultura, assim como das estratégias de comunicação em políticas públicas para os media e para a sociedade da informação e do conhecimento. Por outro lado, a dinâmica das tecnologias da informação e da comunicação parece estar na origem de um novo modelo de crescimento económico que não é fácil de explicar na 809

perspectiva dos mecanismos económicos tradicionais e que parece conduzir nos a necessidade de uma análise mais aprofundada de alguns dos novos paradigmas emergentes, nomeadamente no quadro da nova economia. Políticas da comunicação em Portugal e comparação com outros países Ainda que a Economia e a Política(s) da Comunicação e/ou dos Media sejam disciplinas bem estabelecidas nas principais escolas e universidades que se dedicam às Ciências da Comunicação, fundamentalmente nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Austrália (em alguns casos, desde o pós guerra), em Portugal existe ainda um longo caminho a percorrer, apesar dos esforços dos últimos anos. A curta vida desta área do conhecimento, a que também não é estranho o atraso no próprio desenvolvimento das ciências da comunicação no nosso país, não deve, no entanto, ser confundida com a falta de pertinência deste saber para a compreensão das actuais estruturas mediáticas e comunicacionais, particularmente à medida que as questões de natureza económica e de regulamentação dos meios de comunicação social estão cada vez mais na ordem do dia. O estudo da comunicação e dos media não é, de facto, mais pensável sem a tentativa de compreensão das estruturas de mercado e das suas articulações com a esfera política, sem a interrogação da propriedade das empresas e dos actores que dominam os mercados nas chamadas sociedades livres, sem a análise cuidada das tendências e das contra tendências, das forças e das tensões que sistematicamente reorganizam o poder comunicacional de que as esferas públicas estão dependentes. Os meios de comunicação social desenvolvem se hoje num meio concorrencial global em que as dimensões económicas, técnicas, culturais e sociais conhecem mutações múltiplas mais ou menos concomitantes e de amplitude desconhecida no passado. 810

Se o papel e o lugar das tecnologias da informação e da comunicação no conjunto da paisagem mediática já não precisam mais de ser demonstrados, os fluxos económicos que tem originado estão longe de ter estabilizado e merecem hoje uma reflexão alargada na sociedade. Desenvolvimento da área no âmbito da SOPCOM Desde a primeira hora, a SOPCOM tentou dar o devido destaque à área de Economia e Políticas da Comunicação, criando uma sessão temática em cada um dos seus quatro congressos até hoje realizados e alargando esse espaço de reflexão a diferentes congressos lusófonos e ibéricos (no caso do Brasil, o nosso colega César Bolaño da Universidade Federal de Sergipe no Brasil representou um papel chave e, no caso espanhol, o mesmo se poderá dizer em relação aos colegas Enrique Bustamente da Universidad Complutense de Madrid e Marcial Murciano da Universidad Autónoma de Barcelona), dando lhe assim uma dimensão internacional de que muito puderam beneficiar os investigadores portugueses. Em Novembro de 2002 foi criado no seio da SOPCOM o GT de Economia e Políticas da Comunicação, que é um grupo de trabalho que congrega 18 investigadores provenientes de diferentes áreas científicas com um interesse comum: a investigação no âmbito da EPC. Como exemplos de questões aplicadas a serem objecto de preocupação do GT de EPC podemos referir: as relações entre a economia e a comunicação, macro e micro economia da comunicação, as empresas de comunicação, estruturas competitivas de mercado, estratégias empresariais, economia da publicidade, economia do audiovisual, produção audiovisual, indústria dos media e dos novos media (Internet., e commerce, digitalização e interactividade), políticas do audiovisual, serviço público de televisão e rádio, convergência e reformas regulamentares, etc. 811

A missão preferencial deste grupo de trabalho é a investigação em comunicação aplicada numa perspectiva multidisciplinar. Visa se a construção de um campo comum de saberes que permita a construção de uma identidade nos estudos da EPC, assim como a produção de conhecimentos de referência. A sua divulgação e internacionalização serão aspectos a desenvolver. Entre os principais objectivos deste GT de EPC podemos destacar: Desenvolvimento de projectos de investigação de âmbito transversal a diferentes instituições de ensino: Promoção de actividades de incentivo ao intercâmbio entre o espaço profissional e o espaço de ensino/aprendizagem; Assessoria a empresas e instituições de comunicação; Discussão conceptual do enquadramento teórico prático da EPC; Favorecer a circulação da informação entre os membros; Divulgação pública e organizada dos resultados da investigação desenvolvida pelos membros do GT; Estimular a participação dos seus membros nos congressos e outras actividades desenvolvidas pela SOPCOM; Organização de seminários, conferências e workshops temáticos visando a comunidade académica e/ou profissional; Publicação de artigos em revistas especializadas nacionais e internacionais: Publicação de livros; Criar bases de dados sobre a pesquisa e o ensino de EPC; Intercâmbio com investigadores e instituições de cariz nacional e supra nacional com o propósito de incentivar o desenvolvimento de novos investigadores em EPC. O GT de EPC criou ainda as seguintes linhas de investigação: Economia da Comunicação e da Informação: O sector económico da comunicação em Portugal numa era digital; Políticas da comunicação em Portugal e comparação com outros países. 812

Comunicações apresentadas na Sessão Paralela de Economia e Políticas da Comunicação no IV Congresso da SOPCOM A Sessão Paralela de Economia e Políticas da Comunicação pretende, neste IV Congresso da Associação Portuguesa das Ciências da Comunicação, dar mais um passo na consolidação de uma comunidade científica verdadeiramente capaz de enfrentar os novos desafios relativamente à compreensão da Comunicação e dos Media, tanto no contexto nacional como internacional, apresentando um leque variado e rico de intervenções. Na comunicação intitulada Política de comunicação e mudança: a TV digital no governo de Lula, César Siqueira Bolaño e Valério Cruz Brittos trazem nos o caso da implementação da televisão digital terrestre (TVD), no Brasil (TDT em Portugal). Os autores da Universidades Federal de Sergipe e UNISINUS, respectivamente, consideram este caso paradigmático para o estudo das políticas da comunicação naquele país. Tendo em vista as condições históricas do mercado mediático brasileiro, marcado pela concentração, privilégios político partidários, falta de controle público e ausência de um sistema não comercial paralelo com força junto ao público, o Partido dos Trabalhadores, liderado por Lula da Silva, teria neste preciso momento de transição tecnológica uma oportunidade única para intervir. Como um conjunto de tópicos essenciais ao funcionamento televisivo, envolvendo concessões, equipamento e conteúdos, terão que ser re regulamentados, na passagem para do analógico para o digital, há um motivo que claramente poderia provocar um novo debate sobre a televisão brasileira. No entanto, tal não aconteceu, nem há perspectiva, na opinião destes académicos, de que venha a ocorrer, apesar do Brasil ser governado por um partido historicamente identificado com o espectro de esquerda, o Partido dos Trabalhadores. Ainda no âmbito da problematização da Sociedade da Informação e da Comunicação, Sónia Campos, Lídia Oliveira Silva e Manuel de Oliveira Duarte, apresentam nos AtlantisBPnet: um projecto em busca das boas práticas da Sociedade da Informação e da Comunicação nos países do espaço Atlântico. Os autores desta 813

comunicação interrogam o que são boas práticas na Sociedade da Informação e da Comunicação e Conhecimento; que tipo de projecto pode ser classificado como boa prática e, não menos significativo, qual a metodologia mais adequada para esta classificação. Tentando contribuir para uma reflexão sobre o conceito de boas práticas na Sociedade da Informação e da Comunicação e sobre a metodologia de triagem e classificação de boas práticas, o projecto AtlantisBPnet do Programa INTERREG III (Espaço Atlântico) está a desenvolver como nos dão conta os autores da Universidade de Aveiro uma metodologia de identificação e análise de boas práticas da Sociedade da Informação. Novamente no quadro da questão do desenvolvimento da Televisão Digital Terrestre, neste caso no âmbito europeu e português, Nuno Conde apresenta nos Obrigações de transporte por operadores de redes de comunicações electrónicas implicações para a Televisão Digital Terrestre, em que partindo do quadro normativo comunitário para o sector das comunicações electrónicas sobre as obrigações de transporte (abreviadamente designadas por «must carry») de serviços de programas de televisão e de rádio se analisa a legislação portuguesa que incide sobre as empresas que disponibilizam no mercado redes de comunicações electrónicas utilizadas para a distribuição dos serviços de rádio e televisão. A problemática é particularmente importante para a política pública e o desenvolvimento da economia do audiovisual em Portugal, na medida em que o autor considera, no quadro nacional, e atendendo ao princípio de não discriminação entre as empresas que oferecem redes de comunicações electrónicas, dever se á assegurar que o futuro modelo de desenvolvimento para a televisão digital terrestre (TDT) não imponha um regime de must carry penalizante para a rede TDT se comparado com as obrigações impostas e exigidas à rede de distribuição de serviços de televisão por cabo e satélite. Apesar do (também) incipiente estudo da imprensa regional e local em Portugal, Paulo Ferreira argumenta, na sua intervenção O lugar da imprensa regional e local nas políticas da comunicação, que é já possível afirmar que as actuais características do sector são inversamente proporcionais à relevância que este tipo de publicações pode e deve assumir nas comunidades locais e regionais. Os escassos trabalhos científicos 814

mostram, de resto, uma apetência crescente dos leitores por este género de jornais. A clivagem que separa o actual estado do sector da sua importância tem uma consequência ponderosa: sem bons jornais, as comunidades locais e regionais ficam tendencialmente amputadas de boa informação de proximidade, uma das mais distintivas características da imprensa local e regional. Independentemente de outros factores que podem contribuir para o entendimento desta situação, este artigo centra a sua atenção na dimensão política do problema. Analisando aquelas que têm sido, desde 1975, as grandes linhas de orientação das políticas de comunicação em Portugal, o autor procura descortinar o lugar que nelas tem ocupado a imprensa local e regional. A hipótese de trabalho nuclear desta comunicação é a seguinte: nos momentos chave das tomadas de decisão sobre as políticas de comunicação, a imprensa local e regional foi (quase) sempre relegada para segundo plano. Orlando Gomes, numa comunicação intitulada Comunicação e autoridade nas empresas coloca algumas questões chaves ao nível empresarial: Quem detém, na prática, o poder numa empresa? Em que sentido uma comunicação eficiente entre níveis hierárquicos é importante para o exercício da autoridade? De que modo comunicação e delegação de poderes podem ser encarados como substitutos na gestão da actividade produtiva? A estas três questões genéricas procura responder de dois modos: primeiro, através de uma revisão da literatura recente associada à teoria da empresa, onde se revela o desencontro que poderá existir entre propriedade e exercício da autoridade, e onde também se destaca a relação entre grau de eficiência na comunicação entre níveis hierárquicos e a extensão da delegação de autoridade; segundo, através da construção de uma estrutura analítica simples onde o resultado óptimo no que concerne aos objectivos da empresa está dependente do conjunto de factores que determinam decisões sobre maior ou menor delegação de poderes. Refere ainda o autor que na empresa, o superior hierárquico procura garantir o melhor resultado produtivo possível e para tal terá que equacionar a extensão na qual delega autoridade e a extensão na qual concentra poder e recorre à comunicação para concretizar tarefas. A formalização desenvolvida permite identificar as forças que constituem estímulo à delegação ou à comunicação. 815

Partindo de diversas perspectivas teóricas sobre o conceito de Sociedade da Informação, desde Bells a Castells, Lurdes Macedo identifica na sua comunicação Políticas para a sociedade da informação em Portugal: da concepção à implementação os desafios que o eventual novo modelo de organização informacional da sociedade coloca a um país como Portugal, frequentemente categorizado como semi periférico. Após a identificação destes desafios (combate à info exclusão, alfabetização informacional e profissionalização para a sociedade da informação), a autora propõe a análise da evolução das políticas governamentais para o desenvolvimento da Sociedade da Informação, nomeadamente do instrumento financeiro que as concentra e que viabiliza a sua execução: o Programa Operacional Sociedade da Informação (POSI). Esta análise passa não só pela concepção (objectivos e medidas) do POSI e da sua coerência com o entendimento actual sobre o que é a «Sociedade da Informação», como também pela sua implementação e resposta efectiva aos desafios colocados pelo modelo informacional de desenvolvimento social. Sabendo que Portugal regista uma forte penetração das tecnologias da informação e da comunicação mas que, ao mesmo tempo, apresenta ainda alguns indicadores de subdesenvolvimento social, esta intervenção procura explorar a possibilidade de as políticas para a Sociedade da Informação até agora concebidas e implementadas não estarem a corresponder inteiramente ao objectivo primordial inicialmente delineado: a promoção de uma sociedade verdadeiramente «informacionalizada». Numa intervenção intitulada Projecto Mediascópio: questões metodológicas sobre o estudo dos media e das políticas da comunicação, Manuel Pinto e Helena Sousa discutem um projecto, em curso na Universidade do Minho, denominado Mediascópio. Este projecto do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade visa globalmente o estudo da reconfiguração do campo da comunicação e dos media em Portugal. Um programa com esta abrangência suscita naturalmente um conjunto de questões de natureza metodológica que constituem o motivo de análise desta comunicação. O Mediascópio visa recolher, sistematizar e analisar criticamente o discurso dos media sobre os próprios media. Assenta, por isso, na construção de uma base de dados em actualização permanente e da fixação de uma cronologia de eventos relativos a este campo específico, operando a dois níveis: a análise de grandes tendências e problemas 816

em períodos e ritmos quinquenais assim contribuindo para o estabelecimento de uma memória viva do campo dos media; e o estudo focalizado de casos especialmente significativos assim permitindo a produção e partilha de conhecimento, a partir da actualidade. António Machuco Rosa em Dinâmicas políticas e económicas do open source aborda as dinâmicas específicas do programa em regime de licenciamento open source, por oposição às licenças fechadas. Salienta o princípio geral de externalidades em rede na produção de software e adopção de standards. Com base na teoria dos sistemas realça a emergência de fases de ordem e retorno à desordem na evolução dos standards, sendo a essa luz apreciada a oposição entre standards abertos e standards proprietários. Finalmente, analisa a incidência das leis de copyright na programação open source. Manuel José Lopes da Silva, na sua comunicação A nova regulação dos media coloca nos perante uma reflexão alargada, hoje crucial para alguns dos novos paradigmas hoje emergentes no seio das ciências da comunicação, em que salienta a importância do desenvolvimento de novas formas de regulação. Refere, em particular, que a actual globalização económica e política que os Novos Media permitiram não assegura sempre, paradoxalmente, uma maior aproximação entre os cidadãos de todas as nações e a sua convocação para projectos culturais comuns. Assim a evolução recente dos sistemas de Comunicação, dominada por interesses técnicos e económicos, tende a ignorar a dimensão social e cultural, favorecendo a componente funcional com prejuízo da normativa, que propõe valores. Neste perspectiva, os Media são considerados responsáveis desta deriva e, por isso, se sente a necessidade de uma Nova Regulação que leve à sua contenção face aos danos que provocam na Sociedade e ao surgimento de um conjunto de novas políticas da comunicação, em que a Governança dos Media poderá vir a assumir um papel fundamental. 817