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Transcrição:

C a s o C l í n i c o B B O Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes* Ivan Tadeu Pinheiro da Silva** Resumo A má oclusão Classe I de Angle é caracterizada por uma relação anteroposterior normal nos molares, que pode ou não estar acompanhada por alterações esqueléticas nos planos vertical ou transverso ou dentárias. A biprotrusão, revelada pela inclinação acentuada dos incisivos superiores e inferiores para vestibular, somada ao trespasse horizontal excessivo, faz com que o paciente fique mais exposto a traumas dentários, além de causar comprometimento estético. A escolha dos dentes a serem extraídos para a correção, geralmente, recai sobre os primeiros ou segundos pré-molares, devido à sua posição na arcada. Contudo, a extração do primeiro molar permanente, em função de algum comprometimento, por cárie ou restauração extensa, pode ser uma alternativa, proporcionando a manutenção de um dente hígido em detrimento de outro já manipulado. O presente caso, tratado de maneira incomum, pela extração dos quatro primeiros molares permanentes, foi apresentado à Diretoria do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO), representando a categoria 2, como parte dos requisitos para a obtenção do título de diplomado pelo BBO. Palavras-chave: Má oclusão de Classe I de Angle. Extração dentária. Ortodontia corretiva. HISTÓRIA E ETIOLOGIA O paciente, leucoderma, do sexo masculino, com 13 anos e quatro meses de idade, apresentou-se para exame inicial com a queixa principal de protrusão dos incisivos superiores. Tinha bom estado geral de saúde e relatou história médica de bronquite e alergia. Não apresentava hábitos de sucção ou postural e possuía deglutição e fonação normais. Em relação à saúde bucal, apresentava os primeiros molares inferiores com grande destruição coronária, segundos molares inferiores e primeiros molares superiores com lesão cariosa na superfície oclusal, presença de cálculos e gengivite. DIAGNÓSTICO Apresentava estética facial alterada, com perfil convexo, protrusão labial, falta de selamento labial passivo e eversão do lábio inferior. Padrão mesofacial, relação molar de chave de oclusão, relação dos caninos levemente alterada, com tendência à Classe II, sobressaliência de 6mm, sobremordida de 4mm, acentuada vestibuloversão dos incisivos superiores, discrepância de Bolton de 1,4mm de excesso nos dentes anteroinferiores e terceiros molares em formação (Fig. 1, 2, 3). Na avaliação cefalométrica, observou-se um padrão esquelético de classe I (ANB=4º) com * Relato de caso clínico, categoria 2, aprovado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. ** Especialista em Odontopediatria pela Escola de Aperfeiçoamento Profissional da ABO de Ponta Grossa/PR. Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Escola de Aperfeiçoamento da ABO de Curitiba/PR. Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. Dental Press J Orthod 133 2010 July-Aug;15(4):133-43

Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes FIGURA 1 - Fotografias faciais e intrabucais iniciais. FIGURA 2 - Modelos iniciais. Dental Press J Orthod 134 2010 July-Aug;15(4):133-43

Silva ITP leve protrusão maxilar (SNA=84º) e mandíbula bem posicionada em relação à base do crânio (SNB=80º). Possuía um padrão de crescimento divergente (SN-GoGn=38,5º) e grande convexidade facial (Ang. conv.=9,5º). Suas características esqueléticas e cefalométricas podem ser avaliadas na figura 4 e na tabela 1. OBJETIVOS DO TRATAMENTO Os objetivos do tratamento incluíram a melhora na estética facial, a obtenção de equilíbrio na musculatura labial e de oclusão estável do ponto de vista funcional, a manutenção da relação entre os molares e a melhora na relação entre os caninos, a correção da protrusão dos incisivos superiores, a redução dos trespasses horizontal e vertical, mantendo-se os dentes hígidos e eliminando-se os dentes com destruição coronária. PLANO DE TRATAMENTO O plano de tratamento foi elaborado com a previsão de exodontia dos primeiros molares inferiores, por apresentarem destruição coronária e necessitarem de endodontia e prótese para reabilitação, o que seria interessante evitar em um paciente jovem. A fim de manter a simetria da mecânica e não depender de muita colaboração do paciente, foi prevista, também, a exodontia dos primeiros molares superiores. A contenção planejada consistiu de uma placa superior removível e, na arcada inferior, uma barra intercaninos fixa. FIGURA 3 - Radiografia panorâmica inicial. PROGRESSO DO TRATAMENTO Inicialmente, o paciente foi encaminhado para tratamento periodontal e realização de restaurações A B FIGURA 4 - Radiografia cefalométrica de perfil (A) e traçado cefalométrico (B) iniciais. Dental Press J Orthod 135 2010 July-Aug;15(4):133-43

Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes nos segundos molares superiores e inferiores, e exodontia dos quatro primeiros molares permanentes. Em seguida, foi instalado aparelho fixo nas duas arcadas, com slot 0,022, sistema Roth. Foi realizado alinhamento e nivelamento com arcos de níquel-titânio 0,012 a 0,016, seguidos de arcos de aço inoxidável 0,018 e 0,020, e arco retangular, também de aço inoxidável, 0,019 x 0,025, para fechamento dos espaços pela técnica de deslizamento. Foram usados elásticos intermaxilares com direção de classe II, para controle de ancoragem. Ao longo do tratamento, o paciente foi avaliado e monitorado pela técnica bimanual, para obtenção de coincidência entre as posições de relação cêntrica (RC) e máxima intercuspidação habitual (MIH). Ao final do tratamento, foi realizada desprogramação neuromuscular com uso da corrente TENS (Transcutaneous Electrical Neural Stimulation), confirmando-se a coincidência entre RC e MIH 10. Após a finalização ortodôntica e verificação da obtenção dos objetivos planejados, a aparelhagem fixa foi removida. Como contenção, foi utilizada uma placa removível superior, recomendando-se uso diurno e noturno no primeiro ano, somente noturno no segundo ano, e uso noturno três vezes por semana após esse período, sem previsão de suspensão. Na arcada inferior, uma barra fixa de aço inoxidável 0,036 foi colada nos caninos. FIGURA 5 - Fotografias faciais e intrabucais finais. Dental Press J Orthod 136 2010 July-Aug;15(4):133-43

Silva ITP Considerando-se que o tratamento ortodôntico realizado com extrações de primeiros molares permanentes aumenta o espaço remanescente para a erupção dos terceiros molares superiores e inferiores, diminuindo a probabilidade de impacção 3, o paciente foi orientado a retornar, periodicamente, para acompanhamento do desenvolvimento e erupção dos mesmos. RESULTADOS OBTIDOS Avaliando-se os exames finais do paciente, verificou-se que os objetivos planejados para o tratamento foram atingidos. Esteticamente, o perfil facial ficou harmonioso, com adequado selamento labial, redução da convexidade facial e linha do sorriso agradável (Fig. 5 a 10). Houve, portanto, considerável alteração favorável no perfil, em oposição ao relatado por Stalpers et al. 6, que consideram que o tratamento ortodôntico envolvendo extrações de primeiros molares superiores permanentes tem apenas um pequeno efeito sobre o tecido mole do perfil. A maxila e a mandíbula mantiveram sua relação anteroposterior, com manutenção do ângulo ANB em 4º. Ocorreu melhora na dentição superior, com a eliminação da protrusão dos incisivos FIGURA 6 - Modelos finais. FIGURA 7 - Radiografia panorâmica final. FIGURA 8 - Radiografias periapicais finais dos incisivos superiores e inferiores. Dental Press J Orthod 137 2010 July-Aug;15(4):133-43

Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes A B FIGURA 9 - Radiografia cefalométrica de perfil (A) e traçado cefalométrico (B) finais. A B FIGURA 10 - Sobreposições total (A) e parciais (B) dos traçados cefalométricos inicial (preto) e final (vermelho). e redução do trespasse horizontal. Como pode ser visualizado na tabela 1, o valor angular de 1-NA passou de 32º para 23º, e seu valor linear passou de 9mm para 4mm. Nos incisivos inferiores, houve leve redução da inclinação, visualizada nas medidas angulares IMPA e 1-NB, e nas medidas lineares 1-NB e 1-APo. Também, redução do ângulo interincisal e a consequente diminuição da distância dos lábios superior e inferior para a linha S, melhorando o perfil facial. Os incisivos foram retraídos e verticalizados. Houve redução no trespasse vertical, em função da extrusão dos molares inferiores. No entanto, graças ao crescimento vertical favorável, houve leve rotação mandibular no Dental Press J Orthod 138 2010 July-Aug;15(4):133-43

Silva ITP sentido anti-horário, com o SN-GoGn passando de 38,5º para 36º (Tab. 1, Fig. 11 e 12). Os segundos molares superiores, ocupando a posição dos primeiros molares, não ficaram totalmente verticalizados, mas essa inclinação proporcionou maior assentamento na crista marginal mesial do terceiro molar inferior, ocupando a posição do segundo, como descrito por Andrews 1 e, dessa forma, proporcionando estabilidade. Os terceiros molares superiores, na posição dos segundos molares, não foram posicionados em oclusão com seus antagonistas, para evitar prolongar mais o tratamento. Deve-se considerar que os dentes utilizados nos traçados cefalométricos inicial, final e de dois anos após o tratamento foram os segundos molares permanentes (Fig. 4, 9, 10, 15, 16). Assim, na maxila, houve movimento mesial de corpo dos molares e retração dos incisivos. Na mandíbula, foi obtido movimento mesial de corpo dos segundos molares, até ocuparem o espaço dos primeiros molares, como relatado por Hom e Turley 7, ao analisarem os efeitos, em adultos, do fechamento de espaços na área de primeiros molares inferiores. A relação entre as arcadas foi mantida, com a chave de oclusão molar, com os segundos molares na posição dos primeiros, e o estabelecimento da chave de oclusão nos caninos, com a expectativa de que haja adequada estabilidade pela FIGURA 11 - Fotografias faciais e intrabucais dois anos após o término do tratamento. Dental Press J Orthod 139 2010 July-Aug;15(4):133-43

Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes FIGURA 12 - Modelos dois anos após o término do tratamento. FIGURA 13 - Radiografia panorâmica dois anos após o término do tratamento. FIGURA 14 - Radiografias periapicais dois anos após o término do tratamento. A B FIGURA 15 - Radiografia cefalométrica de perfil (A) e traçado cefalométrico (B) dois anos após o término do tratamento. Dental Press J Orthod 140 2010 July-Aug;15(4):133-43

Silva ITP A B FIGURA 16 - Sobreposições total (A) e parciais (B) dos traçados cefalométricos inicial (preto), final (vermelho) e dois anos pós-tratamento (verde). Tabela 1 - Resumo das medidas cefalométricas. MEDIDAS Normal A B DIFERENÇA A-B C SNA (Steiner) 82 84 85 0 85 SNB (Steiner) 80 80 81 1 82 ANB (Steiner) 2 4 4 0 3 Padrão Esquelético Ângulo de Convexidade (Downs) 0 9,5 8 1,5 6 Eixo Y (Downs) 59 61 60 1 58,5 Ângulo Facial (Downs) 87 86,5 89 2,5 90 SN-GoGn (Steiner) 32 38,5 36 2,5 36 FMA (Tweed) 25 32 30 2 28,5 IMPA (Tweed) 90 97 94 3 93 1 - NA (graus) (Steiner) 22 32 23 9 21,5 Padrão Dentário 1 - NA (mm) (Steiner) 4mm 9mm 4mm 6 6mm 1 - NB (graus) (Steiner) 25 37 33 4 31 1 - NB (mm) (Steiner) 4mm 9mm 6,5mm 2,5 7mm 1 1 - Ângulo Interincisal (Downs) 130 108 121 13 123,5 1 - APo (mm) (Ricketts) 1mm 6mm 3mm 3 2,5mm Perfil Lábio Superior-Linha S (Steiner) 0mm 3mm 0,5mm 2,5 1mm Lábio Inferior-Linha S (Steiner) 0mm 7mm 2mm 5 3mm Dental Press J Orthod 141 2010 July-Aug;15(4):133-43

Má oclusão Classe I de Angle tratada com extrações de primeiros molares permanentes Tabela 2 - Distância intercaninos e intermolares superiores e inferiores. MEDIDAS (cm) A B A-B C Distância intercaninos superiores Distância intercaninos inferiores Distância intermolares superiores Distância intermolares inferiores 39 38 1 38 27,5 27 0,5 27 50 52 2 52 45 44 1 44 intercuspidação obtida. Na tabela 2, pode-se observar que as distâncias intermolares e intercaninos foram mantidas. As figuras 11 a 16 mostram que os resultados facial, esquelético e dentário, obtidos com o tratamento corretivo, se mantiveram estáveis dois anos após a finalização. CONSIDERAÇÕES FINAIS A má oclusão de Classe I de Angle 2 é caracterizada por alterações esqueléticas nos planos vertical ou transverso ou dentárias. A biprotrusão, somada ao trespasse horizontal excessivo, faz com que o paciente fique mais exposto a traumas dentários, além de causar comprometimento estético. Quando há indicação de extrações, a escolha geralmente recai sobre os prémolares, devido à sua posição estratégica na zona de transição entre os segmentos anterior e posterior. No entanto, outras abordagens devem ser consideradas, principalmente quando o paciente apresenta cárie, restaurações extensas, lesões periapicais ou próteses 4. Apesar do avanço da prevenção, a ocorrência de perda dos primeiros molares ainda é alta, atingindo cerca de 35% das crianças em dentição mista 9. As características da má oclusão nesse paciente, com a grande destruição coronária dos primeiros molares inferiores, assemelham-se às encontradas por Normando 5, que verificou aumento na frequência de relação de caninos em Classe II em pacientes com perda desses dentes. Hom e Turley 7 acreditam que o fechamento do espaço na região dos primeiros molares permanentes inferiores perdidos deva ser considerado como uma abordagem terapêutica. Em 1899, Angle 2 escolheu o primeiro molar permanente para definir a chave de oclusão, por considerá-lo o mais importante para a estabilidade da dentição, possivelmente por ser o primeiro dente permanente do segmento posterior e por servir de orientação para a erupção dos demais. Para Jensen 8, em 1973, a extração dos quatro primeiros pré-molares, seguida pela extração dos quatro terceiros molares, equivale à perda de 25% do material dentário, sendo essa última desnecessária, pois grande parte do espaço do terceiro molar não é aproveitada para acomodar os dentes restantes. Por outro lado, a extração dos quatro primeiros molares equivale a 12,5% do material dentário, e praticamente todo o espaço é aproveitado. Assim, pode-se concluir que, nesse caso, obteve-se bom resultado, com a satisfação do paciente e dos responsáveis. Os objetivos iniciais foram atingidos, com o estabelecimento da chave de oclusão nos caninos e nos segundos molares, na posição dos primeiros molares, a protrusão dos incisivos superiores foi eliminada e os trespasses horizontal e vertical foram reduzidos, melhorando a estética facial. Foram eliminados dentes com coroas destruídas, que necessitariam de Endodontia e Prótese, mantendo-se dentes hígidos. Equilíbrio muscular e oclusão estável, do ponto de vista funcional, foram obtidos. Dental Press J Orthod 142 2010 July-Aug;15(4):133-43

Silva ITP Angle Class I malocclusion treated with extraction of first permanent molars Abstract Angle Class I malocclusion is characterized by normal anteroposterior molar relationship, which may or may not be accompanied by skeletal changes in the vertical or transverse planes or dental changes. Bimaxillary dental protrusion, characterized by pronounced labial inclination of maxillary and mandibular incisors combined with excessive overjet, expose patients to dental trauma and compromise aesthetics. In deciding which teeth to extract for Class I correction the first or second premolars are usually selected due to their location in the dental arch. However, the extraction of a first permanent molar compromised by caries or extensive restoration may be an alternative that ensures the preservation of a healthy tooth instead of one that has already been manipulated. This case, treated in an unusual manner by the extraction of four first permanent molars, was presented to the Brazilian Board of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics (BBO) as representative of category 2, as part of the requirements for obtaining the BBO diplomate title. Keywords: Angle Class I malocclusion. Tooth extraction. Corrective Orthodontics. Referências 1. Andrews LF. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod. 1972 Sep;62(3):296-309. 2. Angle EH. Classification of malocclusion. Dental Cosmos. 1899; 41(2):248-64. 3. Bayram M, Ozer M, Arici S. Effects of first molar extraction on third molar angulation and eruption space. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2009 Feb;107(2):e14-20. 4. Diaz MCA, Pinzan A, Freitas MR. Extração de primeiros molares permanentes apresentação de um caso. Ortodontia. 1992;25(1):47-53. 5. Normando DCA. Alterações oclusais espontâneas decorrentes da perda dos primeiros molares permanentes inferiores. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 2003 maio-jun;8(3):15-23. 6. Stalpers MJ, Booij JW, Bronkhorst EM, Kuijpers-Jagtman AM, Katsaros C. Extraction of maxillary first permanent molars in patients with Class II Division 1 malocclusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2007 Sep;132(3):316-23. 7. Hom BM, Turley PK. The effects of space closure of the mandibular first molar area in adults. Am J Orthod. 1984 Jun;85(6):457-69. 8. Jensen ID. Extraction of first molars in discrepancy cases. Am J Orthod. 1973;64(2):115-36. 9. Silva OG Filho, Freitas SF, Cavassan AO. Oclusão: prevalência de oclusão normal e má oclusão na dentadura mista em escolares da cidade de Bauru (São Paulo). Parte I: relação sagital. Rev Odontol Univ São Paulo. 1990 abr-jun;4(2):130-7. 10. Silva ITP, Telles FS, Moro A. Diagnóstico ortodôntico em relação cêntrica: comparação de medidas cefalométricas em relação cêntrica obtida pela TENS com medidas em máxima intercuspidação habitual. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 2001 maio-jun;6(3):7-24. Enviado em: maio de 2010 Revisado e aceito: junho de 2010 Endereço para correspondência Ivan Tadeu Pinheiro da Silva Rua Nove, nº 1519 Q E 12 L10 / Setor Marista CEP: 74.150-130 Goiânia / GO E-mail: ortodontia@ortoevidente.com Dental Press J Orthod 143 2010 July-Aug;15(4):133-43