Perícia Contábil
Professor conteudista: Derneval Gondim Freire
Sumário Perícia Contábil Unidade I 1 CONCEITO DE PERÍCIA CONTÁBIL...1 1.1 Objetivo da perícia contábil...6 1.2 Classificação...6 2 PERFIL PROFISSIONAL DO PERITO...8 Unidade II 3 ASPECTOS TÉCNICOS, DOUTRINÁRIOS, PROCESSUAL E OPERACIONAL...13 3.1 Perícia judicial...13 3.2 Perícia extrajudicial...14 3.3 Planejamento, execução e procedimentos...1 3.4 Prova pericial...22 3. Honorários periciais...22 3.6 Indicação de assistentes...32
PERÍCIA CONTÁBIL Unidade I 1 CONCEITO DE PERÍCIA CONTÁBIL De acordo com Sá (1997, p. 14), conceituamos perícia contábil como sendo: 1 A verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta. Para tal opinião realizam-se exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramento, em suma todo e qualquer procedimento necessário à opinião. Segundo Alberto (07, p. 3), perícia contábil pode ser conceituada como da seguinte forma: Perícia é um instrumento especial de constatação, prova ou demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações, coisas ou fatos. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinado a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente (NBC T- 13). Para Ornelas (apud Gonçalves, 07, p. 34), Perícia contábil é o exame hábil (...) com o objetivo de resolver questões contábeis, ordinariamente originárias de controvérsias, duvidas e de casos específicos determinados ou previstos em lei. 1
Unidade I A perícia contábil refere-se à prova técnica disponível para os magistrados na esfera judicial e juízes arbitrais e particulares na esfera extrajudicial, que visa corroborar na solução de indagações em áreas à parte ao direito. A contabilidade é uma área de conhecimento que requer perícia serviço prestado pelo contador na função de perito, com vistas a auxiliar os tomadores de decisões acima citados. No Brasil, pode-se dizer que a perícia contábil teve origem em 190, quando do reconhecimento da Academia de Comércio do Rio de Janeiro e da Escola de Comércio Armando Álvares Penteado. A esse respeito, Silva (199), estabeleceu a seguinte cronologia: Datas históricas 1 09/01/190: torna-se de utilidade pública a Academia de Comércio do Rio e a Escola Prática de Comércio Álvares Penteado. 27/0/1911: é promulgada em Portugal a lei sobre peritos contabilistas, que criou duas câmaras de peritos contabilistas. 2 /09/1916: criação do Instituto Brasileiro de Contadores. 04/12/1918: reconhecimento, através do Decreto nº 3.88, do Instituto Brasileiro de Contadores como utilidade pública. Em 1927 ensaiou-se o ensino de perícia contábil, sendo criada uma cadeira na Escola Técnica Profissional, entregue ao professor Joaquim Telles. 09/12/1929: edição da Lei de Falências através do Decreto nº.746. 04/07/1930: é organizada a câmara de Peritos Contadores do Instituto Brasileiro de Contadores. 2
PERÍCIA CONTÁBIL 30/06/1931: Decreto nº.18, que regulamentou a profissão do contador e organizou o ensino comercial. 08/02/1932: Decreto nº 21.033, que estabeleceu novas condições para o registro de contadores e guarda-livros. 23/08/1939: Decreto-lei nº 1.3, que alterou a denominação do curso de perito-contador. 14/01/1943: o Decreto nº 24.337 dispõe sobre perícias contábeis no interesse da Fazenda Nacional. 1 /11/194: o Decreto-lei nº 8.191 dispõe sobre o curso Comercial Básico e seus atuais alunos de terceiras e quartas séries. 27/0/1946: o Decreto-lei nº 9.29 cria os Conselhos Federal e Regional, definindo as atribuições do contador e do técnico em contabilidade no que se refere a perícias judiciais e extrajudiciais na alínea c do Artigo 2. 03/09/1946: o Decreto-lei nº 9.7 dá nova redação ao DL nº 9.29. Em 190, o V Congresso Brasileiro de Contabilidade, realizado em Belo Horizonte, aprova o primeiro Código de Ética Profissional do Contabilista. 2 13/12/198: o CFC define as atribuições do contador, em que cita, entre outras, a auditoria de balanços, a Auditoria Pública do Estado e a Auditoria de Contabilidade, de Peças Contábeis e Auditoria Analítica, através da Resolução do CFC nº 7. 17/03/1964: mais uma vez, Lei Federal trata de auditoria. O artigo 70, parágrafo 4º, diz que o julgamento da regularidade das contas dos administradores e demais responsáveis será baseado em levantamentos contábeis, certificados de auditoria (...). 3
Unidade I 14/07/196: pela primeira vez, a legislação faz referência ao auditor independente, estabelecendo a necessidade de sua intervenção nas demonstrações contábeis das empresas que operassem no mercado de capitais, por meio da Lei nº 4.728. 07/09/196: o BACEN estabelece a obrigatoriedade de auditoria, principalmente em Sociedades Anônimas, a ser efetuada apenas por auditor registrado naquele banco, através da Resolução 07 (revogada pela Resolução 2). 1 2/02/1967: nesta data, foi determinado que o controle das atividades da Administração Federal deverá ser exercido em todos os órgãos, compreendendo particularmente (...) o controle da aplicação dos dinheiros públicos e da guarda dos bens da União pelos órgãos próprios dos sistemas de Contabilidade e auditoria. 30/01/1968: reconhecimento da auditoria através da Resolução nº 88 do BACEN, criando o registro de empresas de auditoria e de auditores independentes. 2 30 04/09/1970: aprovação do Código de Ética Profissional do Contabilista, por meio da Resolução nº 290 do Conselho Federal de Contabilidade. 11/0/1972: Descrição das normas relativas aos registros dos auditores do BACEN nº 178 e determinação das Normas Gerais de Auditoria e de Princípios e Normas de Contabilidade, de compulsória observação pelos auditores independentes para atender ao previsto na resolução BACEN nº 2, por meio da Circular BACEN nº 179. 14/01/1972: criação do Cadastro Especial de Auditores Independentes (CEAI), junto aos CRCs. Os requisitos para inscrição contrariavam as prerrogativas já conquistadas no Decreto-lei nº 9.29, o que levou o CFC a revogá-la, pela Resolução nº 317. 4
PERÍCIA CONTÁBIL 14/04/1972: aprovação das Normas e Procedimentos de auditoria (revogadas pelas atuais Resoluções CFC nº 700 e nº 701, de 01/06/1991), por meio da resolução nº 321 do Conselho Federal de Contabilidade. 11.01.1973: Lei nº.869 aprova o novo Código de Processo Civil (CPC) que traz, finalmente, uma ampla ordenação para a Perícia Judicial. Em janeiro de 1974, aprovação pelo IAB dos Procedimentos de Auditoria para as sociedades seguradoras, através da Resolução nº 01. 1/12/1976: edição da Lei das Sociedades por Ações, na qual ficou consolidada a obrigação de auditoria independente nas sociedades de capital aberto. 26/01/1982: a resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 29 dispõe sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade. 1 2/07/1991: a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 711 substituindo a Resolução nº 29. 22//1992: edição das Normas Brasileiras de Perícia Contábeis pelo Conselho Federal de Contabilidade, Resolução nº 731, nº 733 e da Avaliação Patrimonial Resolução nº 734. 2 21//1999: edição das normas técnicas sobre perícia, Resolução CFC nº 87/99 21//99: reformulando a NBC-P2 (Resolução 733) e Resolução CFC nº 88/99 21//99 reformulando a NBC-T13 (Resolução 731). Pelo cronograma acima, é possível verificar a evolução da contabilidade no Brasil, principalmente no que diz respeito às técnicas de auditoria e perícia contábil, ao longo do tempo, e o quanto é recente a normatização da prática pericial, podendo esta ser considerada em fase de construção no Brasil.
Unidade I 1.1 Objetivo da perícia contábil De acordo com Ornelas (07, p. 3), o objetivo da perícia contábil é centrado em fatos ou questões relacionadas com o aspecto do patrimônio, as quais devem ser verificadas e, por isso, são submetidas à apreciação técnica do perito, que deve considerar, nessa apreciação, certos limites ou características essenciais. Podemos caracterizar essencialmente os procedimentos adotados na perícia contábil: limitação da matéria; pronunciamento adstrito à questão ou a questões propostas; meticuloso e eficiente exame do campo prefixado; escrupulosa referencia à matéria periciada; imparcialidade absoluta de pronunciamento. 1.2 Classificação 1 2 A perícia contábil pode ser classificada, segundo Alberto (07), como: perícia judicial: é aquela realizada dentro dos procedimentos processuais do Poder Judiciário, por determinação, requerimento ou necessidade de seus agentes ativos, e se processa segundo regras legais específicas; perícia semijudicial: é aquela realizada dentro do aparato institucional do Estado, porém fora do Poder Judiciário, tendo como finalidade principal ser meio de prova nos ordenamentos institucionais usuários. Esta espécie de perícia subdivide-se, segundo o aparato estatal atuante, 6
PERÍCIA CONTÁBIL 1 2 em policial (nos inquéritos), parlamentar (nas comissões parlamentares de inquérito ou especiais) administrativotributária (na esfera da administração pública tributária ou nos conselhos de contribuintes). Classificamo-las em semijudiciais porque as autoridades policiais, parlamentares ou administrativas têm algum poder judicial, ainda que reativo e não com a expressão e extensão do poder jurisdicional classicamente enquadrável como pertencente ao Poder Judiciário, e, ainda, por estarem sujeitas a regras legais e regimentais que se assemelham às judiciais; perícia extrajudicial: classifica-se como a realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos e jurídicos particulares, privados. Subdivide-se em: demonstrativas: têm a finalidade de demonstrar a veracidade ou não do fato ou caso previamente especificado na consulta; discriminativas: têm a finalidade de colocar nos justos termos os interesses de cada um dos envolvidos na matéria potencialmente duvidosa; comprobatórias: visam à comprovação das manifestações patológicas da matéria periciada (fraudes, desvios, simulações), entre outras; perícia arbitral: aquela realizada no juízo arbitral, não sendo enquadrável em nenhuma das anteriores por suas características específicas de atuar parcialmente como se fosse judicial e extrajudicial. 30 Finalidade Sua finalidade é contribuir com outras provas, como a testemunhal e a documental, que irão substanciar elementos que irão trazer a certeza jurídica positiva ou negativa, sobre um determinado litígio, que poderá esclarecer certas questões. 7
Unidade I ASPECTOS PROFISSIONAIS 2 PERFIL PROFISSIONAL DO PERITO Perito é o contador regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiência, da matéria periciada. O perito é a pessoa nomeada pelo juiz ou pelas partes (em caso de perícia extrajudicial). De acordo com a Resolução CFC n 1.06/0, aprova a NBC P 2.1 Competência Profissional, como segue: 1 2 O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, Considerando que as Normas Brasileiras de Contabilidade e as suas Interpretações Técnicas constituem corpo de doutrina contábil que estabelece regras de procedimentos técnicos a serem observadas quando da realização de trabalhos; Considerando que a constante evolução e a crescente importância da perícia exigem atualização e aprimoramento das normas endereçadas à sua regência para manter permanente justaposição e ajustamento entre o trabalho a ser realizado e o modo ou o processo dessa realização; Considerando que a forma adotada para fazer uso de trabalhos de instituições com as quais o Conselho Federal de Contabilidade mantém relações regulares e oficiais está de acordo com as diretrizes constantes dessas relações; 8
PERÍCIA CONTÁBIL 1 Considerando que o Grupo de Estudo sobre Perícia Contábil, atendendo ao disposto no art. 3º da Resolução CFC nº 71, de 29 de dezembro de 1993, que recebeu nova redação pela Resolução CFC nº 980, de 24 de outubro de 03, elaborou a NBC P 2.1 Competência Profissional; Considerando que por se tratar de atribuição que, para o adequado desempenho, deve ser empreendida pelo Conselho Federal de Contabilidade em regime de franca, real e aberta cooperação com o Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), o Ministério da Educação, a Secretaria Federal de Controle, a Secretaria da Receita Federal, a Secretaria do Tesouro Nacional e a Superintendência de Seguros Privados Resolve: Art. 1º Aprovar a NBC P 2.1 Competência Profissional. 2 Art. 2º Esta Resolução entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 06, revogando as disposições em contrário, em especial o item 2.2 Competência Técnico-Profissional, da NBC P 2 Normas Profissionais do Perito, aprovada pela Resolução CFC nº 87/99, publicada no DOU em 21 de outubro de 1999, Seção 1, páginas 46 e 47. Brasília, 2 de novembro de 0. Contador José Martonio Alves Coelho Presidente Ata CFC nº 880 9
Unidade I Normas Brasileiras de Contabilidade NBC P 2 Normas Profissionais do Perito NBC P 2.1 Competência Profissional 2.1.1. Considerações Iniciais 1 2 2.1.1.1. Esta norma estabelece os itens relativos à competência profissional do Contador na função de perito-contador e de perito-contador assistente. 2.1.1.2. Competência profissional pressupõe ao peritocontador e ao perito-contador-assistente demonstrar capacidade para pesquisar, examinar, analisar, sintetizar e fundamentar a prova no laudo pericial e no parecer pericial contábil. 2.1.1.3. Para tanto, devem manter adequado nível de competência profissional, pelo conhecimento atualizado da Contabilidade, das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, da legislação relativa à profissão contábil e das normas jurídicas, especialmente as aplicáveis à perícia, atualizando-se, permanentemente, mediante programas de capacitação, treinamento, educação continuada e especialização, e realizando seus trabalhos com a observância da eqüidade. 2.1.1.4. Realizar seus trabalhos com a observância da eqüidade significa que o perito-contador e o peritocontador assistente devem atuar com igualdade de direitos, adotando os preceitos legais e técnicos inerentes à profissão contábil. 2.1.1.. O espírito de solidariedade do perito-contador e do perito-contador assistente não induz nem justifica
PERÍCIA CONTÁBIL a participação ou a conivência com erros ou atos infringentes às normas profissionais e éticas que regem o exercício da profissão, devendo estar vinculado à busca da verdade fática a fim de esclarecer o objeto da perícia de forma técnica e imparcial. 2.2.2. Habilitação profissional 1 2 30 2.2.2.1. O perito-contador e o perito-contador assistente devem comprovar sua habilitação profissional mediante apresentação de certidão específica, emitida por Conselho Regional de Contabilidade, na forma a ser regulamentada pelo Conselho Federal de Contabilidade. 2.2.2.2. Enquanto não houver regulamentação do item precedente por parte do Conselho Federal de Contabilidade, o perito-contador e o perito-contador assistente devem requerer Certidão de Habilitação Profissional no Conselho Regional de Contabilidade com fins específicos de comprovar sua habilitação legal, registro profissional e regularidade. A certidão deverá ser juntada no processo no primeiro momento que o perito-contador ou o peritocontador assistente se manifestarem nos autos. 2.1.2.3. A nomeação, a contratação e a escolha do peritocontador, ou a indicação do perito-contador assistente para o exercício da função pericial contábil, em processo judicial, devem ser consideradas como distinção e reconhecimento da capacidade e honorabilidade do Contador, devendo este escusar ou renunciar os serviços sempre que reconhecer não ter competência ou não dispor de estrutura profissional para desenvolvê-los, contemplada a utilização do serviço de especialistas de outras áreas, quando parte do objeto da perícia assim o requerer. 2.1.2.4. A utilização de serviços de especialistas de outras áreas, quando parte do objeto da perícia assim o requerer, 11
Unidade I 1 não implica presunção de incapacidade do perito-contador e do perito-contador assistente, devendo tal fato ser, formalmente, relatado no Laudo Pericial Contábil ou no Parecer Pericial Contábil para conhecimento do julgador, das partes ou dos contratantes. 2.1.2.. A indicação ou a contratação para o exercício da atribuição de perito-contador assistente, em processo extrajudicial, devem ser consideradas como distinção e reconhecimento da capacidade e da honorabilidade do Contador, devendo este recusar os serviços sempre que reconhecer não estar capacitado a desenvolvê-los, contemplada a utilização de serviços de especialistas de outras áreas, quando parte do objeto do seu trabalho assim o requerer. 2.1.2.6. A indicação ou a contratação de peritocontador assistente ocorrem quando as partes ou contratantes necessitarem comprovar algo que depende de conhecimento técnico específico, razão pela qual o contador só deverá aceitar o encargo se reconhecer estar capacitado com conhecimento técnico suficiente, discernimento e irrestrita independência para a realização do trabalho. 12