A COMUNICAÇÃO NA BÍBLIA

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Transcrição:

A COMUNICAÇÃO NA BÍBLIA A Bíblia é a comunicação de Deus aos homens. Toda Bíblia é comunicação... Toda a Sagrada Escritura é um complexo, porém completo processo de comunicação de Deus para com seu povo. A Bíblia ao nos revelar o Pai, se configura no mais perfeito processo de comunicação dele e com Ele. Podemos até questionar esta afirmação lembrando que houve uma época em que a Bíblia não existia; entretanto nesta época havia a tradere tradição oral que era a comunicação das maravilhas de Deus no meio do povo, feita de geração em geração. E foi através desta tradere que a Sagrada Escritura foi sendo constituída. Neste estudo de hoje vamos conhecer duas realidades: a Bíblia enquanto Processo de Comunicação durante a sua formação; e a Bíblia enquanto Canal de Comunicação desde o limiar até a expansão da Igreja até nós. A Bíblia enquanto processo de comunicação O olhar de Deus perpassa toda a Sua ação na história da salvação, em um processo contínuo de comunicação. DCIB, 37 Podemos então afirmar que a história da salvação narra a história da comunicação de Deus com seu povo, com a humanidade. Para que possamos assimilar melhor como acontece a comunicação nas páginas da Bíblia, é preciso lembrar que todo processo de comunicação necessita de meios. Quais foram os meios de comunicação utilizados ao longo dos séculos até os dias de hoje? Foram as cartas, as artes plásticas (esculturas e pinturas), a arquitetura, os livros, o rádio, o cinema, a TV, os jornais, e hoje a internet. Também Deus seu utilizou de vários medias para se comunicar com seu povo, antes que a Bíblia fosse completamente canonizada. O homem é feito à imagem de Deus (Gn 1,26). O Deus de Israel é um deus que se comunica com seu povo, que fala com a sua criatura, que dialoga, que se revela à humanidade ao longo da história. O Deus de Abraão, Isaac, Jacó... e nosso, é um deus relacional e comunicativo. E o primeiro grande gesto comunicativo de Deus é a própria criação. E de uma maneira sublime, Deus comunica quem Ele é na sua maior obra: o homem.

Assim como toda obra tem um pouco (ou muito) do seu autor, o homem tem muito de Deus, pois tem a Sua imagem e a Sua semelhança. Ao nos criar à Sua imagem, Deus nos comunicou quem Ele realmente é. E quem é Deus?...Deus é amor! (1Jo 4, 8). Dessa forma somos imagens do amor e precisamos comunicar através de nós enquanto criaturas de Deus o amor de Deus. E isso se dá não só pelos nossos discursos, mas principalmente pelo nosso comportamento, postura e gestos. Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano se comunica não por uma exigência, mas por um dom natural; não por uma ordem, mas por uma vocação. No ato da criação Deus o constitui comunicador, dotando-o de imaginação, talento, inteligência e criatividade artística, tornando-o, assim, comunicador por excelência. (DCIB, 36) Sintetizando: Na criação o Deus-Amor comunica a si mesmo. O diálogo de Deus com a humanidade que tem início na criação, se prolonga ao longo da história da salvação. E esse prolongar-se tem momentos de crise e de constante retomada sustentada sempre pelo incansável amor comunicativo de Deus. Deus se comunicava com Adão e Eva (Gn 3, 8-9). Em Gn 2, 8-15, Deus cria um jardim onde coloca o homem para que o cultivasse e o conservasse. Nesse ambiente, lugar da revelação e da relação entre Deus e o ser humano, nasce o diálogo, a autoconsciência, a percepção de ser livre, a consciência da transgressão, do limite e da relação do homem com Alguém que não é ele mesmo, mas Deus. (DCIB, 35) Ao ter consciência da transgressão cometida, o homem busca se esconder. Mas Deus sabe ir ao encontro e falar ao coração. Ao se comunicar com Adão e Eva, com palavras, revelando que conhece tudo de todos, o criador possibilita ao homem o diálogo com Ele. Tudo o que acontece depois é consequência da escolha do homem. A perda da liberdade e as agruras para conquistar o pão de cada dia não podem ser considerados castigo, mas sim como oportunidade de crescimento e conversão, de novamente reencontrar Deus nos desafios da vida e retomar com ele a comunicação interrompida pelo pecado.

Nós podemos então dizer que Deus sai do seu mistério inefável e vem ao encontro do ser humano, estabelecendo com ele um diálogo de amor. Ela acontece na história e a história é lugar privilegiado da manifestação de Deus. A partir daí, durante todo o percurso de crescimento do Seu povo, Deus, de várias maneiras vai falando, dialogando, se comunicando com seus filhos. E essa comunicação de Deus com o seu povo tem algumas características importantes que é bom lembrarmos. Em primeiro lugar não é uma comunicação de ideias, mas de vida. Essa comunicação é feita de palavras e de acontecimentos. Em segundo lugar é uma comunicação histórica. É uma comunicação progressiva, dialógica e pessoal. Mas também é ambivalente, ou seja, ao mesmo tempo em que revela Deus, ela esconde Deus nas teias da história humana, e é preciso então buscar a Deus constantemente na história humana. Essa comunicação é ainda eficaz e cumpre sempre os seus objetivos, porque Deus sempre tem um objetivo ao comunicar-se. Deus se comunica para salvar, para dar uma lei, para estabelecer uma aliança e fazer promessas, para revelar seu plano de amor. Sobretudo Deus se comunica por meio de seu filho Jesus, revelando o rosto terno e misericordioso de Deus. Vejamos alguns exemplos de comunicação no Antigo Testamento: A Torre de Babel. (Gn 11, 1.4-5.8-9) Quando o homem chega ao cúmulo da pretensão à auto suficiência, Deus manifesta seu poder dificultando a comunicação entre os homens. O Espírito Santo comunicado no Pentecostes será a solução para esta limitação, pois em Cristo todos falarão a mesma língua, mesmo com idiomas diferentes, mas falarão a linguagem do Amor; o Amor a cuja imagem fomos criados. Importante perceber que o pecado sempre interrompe a comunicação com Deus. O ser humano recusa-se a ser interlocutor de Deus, renega sua capacidade comunicativa, fecha-se ao amor e ao diálogo, nega o seu protagonismo. Mas Deus não se cansa, Deus restabelece a comunicação. Então Deus inicia uma história de salvação com o ser humano. Chama Abraão para ser pai de um povo. Escolhe Israel para ser protagonista de seus desígnios de salvação. Estabelece com o povo uma comunicação baseada na propriedade exclusiva e na dependência. Deus diz: vocês serão o meu povo e eu serei vosso Deus. E novamente a comunicação é interrompida através da escravidão. Mas Deus liberta o seu povo. No êxodo Deus escolhe Moisés como mediador da comunicação interrompida com seu povo.

Na Sarça Ardente (Ex 3, 1-10) Deus fala diretamente a Moisés e declara ter ouvido o clamor do seu povo. A missão de Moisés é comunicar ao opressor e ao oprimido os planos de libertação de Deus. As pragas do Egito. (Ex 7, 19 13, 16) Por não responder de acordo com a vontade de Deus, o opressor sente o peso da Sua mão através de vários sinais da natureza, inclusive a morte do primogênito, prova definitiva do poder do Deus de Israel. As Tábuas da Lei. (Ex 30, 18) Deus imprime com suas próprias mãos a aliança que o povo deveria seguir. A aliança de Deus com seu povo é um compromisso de comunicação. Deus que é fiel se compromete e exige uma resposta comprometida por parte do ser humano. Nós podemos dizer que também o decálogo é expressão das exigências da comunicação. Davi. (1Sm 16, 1-13) Em Davi Deus demonstra mais uma vez sua predileção e sua confiança nos pequenos, para a realização de grandes obras. Em Davi se realiza o cumprimento das promessas do Êxodo. Salomão (1Re 3, 6-14) O novo rei dá preferência ao importante elemento na comunicação que é o saber ouvir. Como autoridade que é, é fundamental a escuta às necessidades e anseios do povo. Livros Sapienciais - Os livros sapienciais são a expressão de quem se comunica com Deus. Os salmos evidenciam a busca constante por parte do ser humano da comunicação dialógica com Deus. Deus se comunica com seu povo como o eterno, porém não indiferente ao sofrimento do mesmo. Deus se comunica com seu povo como Altíssimo e Onipotente, mas não como distante. Como Todo Poderoso, mas cheio de ternura e de compaixão. Exílio da Babilônia (2Re 25, 1-26) O reino dividido não resiste às investidas de outras nações. Nos anos que passou na Babilônia o povo de Israel vai perdendo a identidade. A aliança vai sendo esquecida e através de sacerdotes e profetas Deus pede que o povo mantenha a fidelidade. Deus suscita os profetas com a missão de denunciar o pecado, que gera a ruptura da comunicação e da comunhão com Deus. Profetas Pela sua coragem de questionar a situação presente e vislumbrar um futuro diferente para o seu povo, os profetas sempre exerceram atração fascinante. As atividades dos profetas variam de acordo com seus ouvintes e com o momento histórico em que ele vive. Embora cada um tenha seu próprio estilo, duas verdade são preservadas na comunicação dos profetas: a exigência da conversão e o anúncio da esperança. Jesus Cristo, o Comunicador Perfeito A comunicação é parte integrante e essencial da revelação cristã. Se formos à bíblia sagrada vamos perceber que ela pode ser lida à partir da história da comunicação, da história que Deus estabelece com os seres humanos, que entram em

comunicação em si mesmos mas também com Deus, num esforço ininterrupto de compreender os caminhos de Deus e de superar os obstáculos para a realização de seu projeto de amor. O cristianismo é comunicativo por natureza, porque tem algo a anunciar: a boa nova da salvação da humanidade realizada em Cristo por sua paixão, morte e ressurreição. E a Igreja Católica recebeu do próprio Cristo a missão de informar a todos os povos em todos os tempos: a dignidade da pessoa humana, a existência de um Deus que é Pai e a esperança da vida eterna. A própria salvação trazida por Jesus deve ser entendida como um ato comunicativo. Quando falamos em Evangelho e Boa Nova, não estamos falando de ideias, mas de uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é o maior diálogo, o ápice da comunicação entre Deus e suas criaturas, a partir de Jesus chamados filhos. Durante a sua permanência na terra, Cristo manifestou-se como o comunicador perfeito. Pela encarnação fez-se semelhante aqueles que haviam de receber a sua mensagem. Mensagem que comunicava com a palavra e com a vida. Não falava como quem fala de fora, mas de dentro, a partir de seu povo, anunciava-lhe toda a palavra de Deus com coragem e sem compromissos e no entanto adaptava-se a sua linguagem e mentalidade, encarnado como estava na situação a partir da qual falava. CP, 11 Cristo revela-se como autocomunicação do amor de Deus pelos seres humanos, recapitulando tudo em si para o Pai, rompendo a cadeia da incomunicabilidade humana, orientando-a em direção a um futuro de plena comunhão. O homem Jesus é a comunicação por excelência de Deus com todo ser humano. Como Filho do Pai, Jesus é o ícone humano de Deus e da Sua Palavra. DCIB, 41 Deus realiza assim um salto comunicativo de qualidade: com seu filho, Jesus, não dialoga mais por meio de um anúncio invisível sob a tenda dos sábios ou no templo da antiga aliança, mas com a presença pessoal do seu Verbo eterno, o Filho amado, que precisa ser escutado e seguido. DCIB, 42 A afirmação de que Jesus é comunicador perfeito tem consequências para nós. Temos que buscar na pessoa de Jesus, na sua prática, o referencial para o nosso modelo de comunicação.

Nossa comunicação deverá ser pautada no seguimento dos passos de Jesus. O processo de comunicação de Jesus começa no seio de Maria (Faça-se!) e termina na cruz, quando Ele diz: tudo está consumado. Por isso é preciso saber: Jesus, supremo comunicador do Pai, optou por um processo inculturado e dialógico de comunicação, que se apresenta como um modelo básico para os projetos de comunicação de sua Igreja 35ª AG CNBB 1997 Jesus é o comunicador perfeito porque sua vida, morte e ressurreição encerram o mais perfeito e eficaz modelo de comunicação de todos os tempos; Jesus é o sacramento do encontro entre Deus e a humanidade é o Deus Conosco; Jesus não revelou um conjunto de verdades abstratas. Sua comunicação foi interpessoal, plena e ao mesmo tempo informativa e provocativa; Jesus não é aquele que fala palavras sublimes ou mensagens bonitas sobre Deus, Ele é a própria mensagem encarnada; Em Jesus o pensamento divino é decodificado ao nível do entendimento humano. Na prática comunicativa de Jesus é importante destacar alguns lugares importantes dos quais ele se utilizou para comunicar-se. A manjedoura onde ele pela primeira vez se apresenta como alimento; O templo desde a adolescência é o lugar onde Jesus procura comunicar o verdadeiro sentido da religião; Montes na bíblia é o lugar da presença de Deus. Onde Jesus é glorificado; Casa dos pecadores onde ele revela o rosto misericordioso do Pai; Barco (afastado das margens) onde Jesus ensinava as multidões. Margens dos lagos É o lugar do trabalho, da busca pelo alimento, do chamado, do compromisso. Partindo então Jesus para junto de Deus, comunicou à sua Igreja o Espírito Santo, para que fosse o defensor e o consolador; o Espírito da Verdade que se tornaria o vínculo da comunicação entre Deus e a Igreja. O Espírito prometido e comunicado no Pentecostes, faz nascer a comunidade cristã e a impulsiona para o testemunho aberto e corajoso do nome de Jesus, isto é, para comunicar a palavra e a ação libertadora de Jesus. Nas páginas dos Atos dos Apóstolos, a Igreja aparece como dinamismo polarizado no testemunho e na missão. Tanto pela vida comunitária como pelo empenho apostólico, a Igreja apresentada nos Atos é o modelo ideal; o ser Igreja

comunicado nos Atos deve servir para que as comunidades de todos os tempos e lugares possam fazer uma revisão, a fim de redescobrir sua identidade. As cartas Paulo foi quem criou a comunicação escrita para o Novo Testamento, e foi aquele que mais escreveu. Suas cartas são anteriores aos textos dos Evangelhos. São cartas pastorais, onde o apóstolo, a partir das experiências reais de cada comunidade não teorias inventadas tenta comunicar o que significa ser cristão. A Sagrada Escritura completa-se então com o livro do Apocalipse (revelação). Seu autor não quer fazer previsões, mas comunicar uma mensagem reveladora: Deus vai continuar agindo na história do seu povo, combatendo e destruindo o mal, para implantar definitivamente Seu reino entre os homens. Por utilizar-se de inúmeras figuras simbólicas, a comunicação da mensagem do Apocalipse é por vezes mal interpretada e desviada da sua real intenção. Entretanto o autor, nas tramas deste texto, procura comunicar à Igreja de todos os tempos, a Esperança. A Bíblia enquanto canal de comunicação A bíblia, não sozinha, mas em conjunto com a tradição e o magistério, se constituem hoje em canal de comunicação entre Deus e a humanidade, pois sustentam e orientam a Igreja de Cristo. A Igreja, como comunidade comunicativa, no Espírito Santo, continua a obra de Cristo. Nascida no Pentecostes do ano 30, a Igreja não cessa jamais de comunicar a salvação inaugurada na páscoa de Jesus, e o próprio Deus, revelado nas páginas da sagrada escritura. Revelação e Salvação nos são apresentadas pela Igreja, ainda hoje e para sempre, através de tudo o que foi escrito a partir das experiências do povo do AT e pelo testemunho de Jesus Cristo, no NT. O anúncio do Evangelho (Verbo que se fez carne) cumpre este papel. Portanto... Cristo. Evangelizar é comunicar a Boa Nova, a realização do Reino de Deus em Jesus A comunicação na Igreja e da Igreja remete ao Deus uno e trino. O Verbo encarnado, em sua comunicação, manifesta a grandeza, a profundidade e a beleza do amor de Deus à humanidade. DCIB, 41 Todo aquele processo de comunicação construído entre Deus e seu povo nas páginas da bíblia, tem continuidade através de nós, hoje, que, como Igreja, somos instrumento de comunicação de Deus à humanidade.

E de alguma forma a Igreja sempre se utilizou do todos os meios de comunicação disponíveis, para evangelizar. Desde o testemunho e pregação dos apóstolos, suas cartas, passando pela arte das catacumbas origem da iconografia cristã os rituais litúrgicos, as obras dos escultores, pintores e arquitetos medievais, enfim, em tudo a Igreja viu um meio de comunicar o Evangelho. Por fim, em nosso tempo, outros meios de comunicação se fazem presentes e não devem ser menos aproveitados para comunicar a fé do que outros meios em outros tempos, como vimos. No dizer do Papa Paulo VI, A Igreja viria a sentir-se culpável diante do Senhor se ela não lançasse mãos destes meios potentes que a inteligência humana torna a cada dia mais aperfeiçoados. A Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para levar a salvação a todos os homens, [...], considera seu dever pregar a mensagem de salvação, servindo-se dos meios de comunicação social [...] À Igreja, pois, compete o direito nativo de usar e de possuir toda a espécie destes meios, enquanto são necessários ou úteis à educação cristã e a toda a sua obra de salvação das almas. IM, 3 O poder da imagem na comunicação Na primeira página da Bíblia aprendemos que Deus nos criou à Sua imagem. O Papa São Gregório Magno ( 604), doutor da Igreja, escreveu a Sereno, bispo de Marselha, que ordenou quebrar as imagens: Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler. Anselmo José Ramos Neto (org.)