Repensando a práxis da missão da igreja à luz dos desafios do século 21

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Transcrição:

Resenhas Repensando a práxis da missão da igreja à luz dos desafios do século 21 Rethinking the practice of the Church s mission in the light of the challenges of the 21 st century Repensar la práctica de la misión de la iglesia a luz da de los desafíos del siglo 21 Pedro Jiménez Celorrio Resumo Resenha de SILVA, Geoval Jacinto da. Abrindo espaços para a práxis da missão de Deus. São Bernardo do Campo: Igrejas Sem Fronteiras, 2009. Abstract: Book review of Resenha de SILVA, Geoval Jacinto da. Abrindo espaços para a práxis da missão de Deus. São Bernardo do Campo: Igrejas Sem Fronteiras, 2009. Resumen: Reseña del libro Resenha de SILVA, Geoval Jacinto da. Abrindo espaços para a práxis da missão de Deus. São Bernardo do Campo: Igrejas Sem Fronteiras, 2009. A obra Abrindo espaços para a práxis da missão de Deus oferece bases bíblicas, históricas e pastorais para que a Igreja possa usar de forma sistemática e criativa os lugares e espaços de que dispõe. O teor do livro emerge de preocupações relativas à vida do autor como pastor, bispo, professor, pesquisador e conferencista. Estas nuances são bem perceptíveis no corpo do texto: às vezes a reflexão tem um tom pastoral, e em outras a análise caminha para aspectos alusivos à lógica de trabalho Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 223-227, jul./dez. 2010 223

da instituição; em ocasiões o texto assume um matiz didático, e em outras se volta para questões acadêmicas. Neste sentido, o livro constitui um instrumento de apoio, tanto às pessoas leigas quanto ao corpo pastoral, para o melhor desenvolvimento da tarefa missionária da Igreja. O conteúdo do livro agrupa-se em seis capítulos: O primeiro, intitulado Abrindo espaços para a missão de Deus: Visão bíblico-teológica e pastoral erige-se sobre três grandes eixos: 1) definição de conceitos, 2) visão bíblica dos espaços de missão, 3) o caráter privado e público da práxis da missão. Entre outros vocábulos, o autor destaca os seguintes: missão, prática, práxis e espaço. Neste sentido, missão interpreta-se como ação salvífica, na acepção ampla do termo, que se manifesta por meio dos diversos serviços que a Igreja presta às pessoas envolvidas na sociedade; prática alude às ações repetitivas desenvolvidas a partir de algo apreendido; práxis, em compensação, é uma ação criadora, reflexiva, libertadora e radical; já a palavra espaço remete à dimensão em que a vida acontece e se desenvolve, onde ela é vivenciada com todas as suas complexidades. Na perspectiva do autor, todos estes vocábulos estão estreitamente ligados: se a missão da Igreja é a mudança positiva dos seres humanos e da sociedade, tal empenho ancorar-se-á tanto em ações práticas concretas, quanto numa práxis transformadora que traga a luz os interstícios, isto é, os espaços, para a materialização dessa missão. Como referencial para o aproveitamento de tais espaços, aspecto constitutivo do segundo eixo do primeiro capítulo (sob o título Uma visão bíblica dos espaços de missão), Silva (2009), usa três modelos bíblicos: a) o paradigma de Abraão, b) o projeto da Nova Jerusalém e c) a dimensão profética. No primeiro caso, a partir do chamado de Abraão, o autor adentra-se na pastoral urbana: Abraão teve que abandonar sua cidade para instalar-se em outra, espaço em que recebe um chamado que implica a possibilidade de restauração da humanidade, dispersa e difusa. No segundo caso, destaca-se a pluralidade presente na Nova Jerusalém e a necessidade de reconhecer e aceitar o pluralismo humano inerente ao contexto urbano. No terceiro caso, se alude à pregação profética como uma mensagem que, embora estivesse marcada tanto por um tom de conscientização como de juízo, era determinada pela esperança. Depois de abordar aspectos conceituais e bíblico-teológicos, Silva salienta o caráter privado e público da práxis da missão, partindo do critério de que a aderência ao Evangelho provoca nas pessoas o desejo de se tornarem seres humanos públicos, a deixarem de ter uma fé privada, para se tornarem seres de uma fé pública. O segundo capítulo, intitulado Abrindo espaços para a missão de Deus: Uma visão da práxis wesleyana, desenvolve-se a partir de três pontos: 1) o solo da herança cristã na Inglaterra, 2) as origens do movimento metodista e as motivações de sua práxis e 3) a práxis do movimento na 224 Pedro Jiménez CELORRIO: Repensando a práxis da missão da igreja à luz dos desafios do século 21

cidade de Londres e sua dimensão pastoral urbana. No primeiro tópico, o autor descreve o cenário nacional em que surge o movimento metodista, principalmente o período de Henrique VIII e seus sucessores; o cenário europeu, que se deparava com o surgimento do capitalismo e a revolução industrial; e o cenário religioso da Inglaterra do século 18. No segundo tópico, oferecem-se informações sobre elementos que proporcionaram à família Wesley o desenvolvimento de uma vida cristã bem regrada; e sobre a práxis cristã de John Wesley em Oxford, na Geórgia e em Londres. No terceiro tópico, Silva presta especial atenção à visitação pastoral num contexto urbano, à formação de leigos/as e à dimensão da práxis educacional. O terceiro capítulo, intitulado Abrindo espaços para a reflexão e a práxis da missão de Deus hoje, versa sobre três questões: 1) a busca de um referencial teórico para compreender a filosofia da práxis, 2) a práxis necessária para o contexto e o espaço e o lugar onde se deseja realizar a missão e 3) a práxis e a teologia da Missão: uma transformação na raiz da sociedade. Na primeira parte, Silva apresenta a evolução do conceito práxis, partindo de Aristóteles e Platão, passando pela concepção marxista da práxis para se deter no estudo do conceito de práxis cristã em Casiano Floristan. À luz da abordagem deste último autor, entre outros aspectos, destacam-se quatro traços característicos da práxis cristã: ação criadora, ação reflexiva, ação libertadora e ação radical. Na segunda parte, que tem como tela de fundo o contexto latino-americano, enfatiza-se a pertinência de uma práxis que supere as práticas assistencialistas, bem como a necessidade de revisar a lógica de trabalho do Terceiro Setor (isto é, das diversas organizações não-governamentais, cooperativas e associações, que buscam servir como intermediárias entre o Estado e a sociedade). Já a terceira parte tem uma perspectiva teológico-missiológica, estabelecendo-se uma diferença entre a missão de Deus e a missão da Igreja. Neste sentido, a missão de Deus é maior que a missão da Igreja. Aquela tem como finalidade a plenitude da promessa do Reino de Deus: a vida, a justiça e o amor; esta tem a ver com as diferentes ações desenvolvidas pelas igrejas em prol da materialização desse Reino. O texto destaca ainda o passo da noção de missão orientada para a vinda de Jesus para a ideia de missão como um agir em prol da justiça, e constata que tem havido mais atividades assistencialistas e legitimadoras de práticas neoliberais do que uma práxis cristã que possibilite espaços para a missão de Deus. Neste item Silva também discorre sobre a importância de prestar especial atenção à teologia wesleyana, cujos traços estavam diretamente desenhados em função de uma práxis cristã positivamente transformadora. O quarto capítulo, sob o título Abrindo espaços para a práxis da mordomia cristã hoje, traz à luz três momentos da mordomia: 1) origem Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 223-227, jul./dez. 2010 225

da práxis da mordomia, que tem a sua gênese no Antigo Testamento, 2) a práxis do dízimo como motivação de gratidão e 3) o dízimo como práxis de prioridade no projeto do cotidiano. Entre outros objetivos, o autor apresenta uma visão abrangente da mordomia que não esteja restrita somente à questão do dízimo. Nesta perspectiva, a práxis da mordomia cristã é um exercício que exige pleno reconhecimento de que os bens administrados constituem recursos oferecidos por Deus, que Ele é o possuidor de tudo, o doador de tudo e o redentor da humanidade. Porém, a mordomia é definida como o ato de colocar tudo a serviço de Deus e o dízimo é assumido como um resultado advindo de uma vida dedicada ao Senhor. No intuito de que se compreenda bem o papel do dízimo, Silva dialoga com textos bíblicos que lhe oferecem alicerces para se referir ao dízimo como uma experiência que evoca a companhia do Deus de paz e prosperidade; como ações de gratidão pela possibilidade de participarmos da obra de Deus como gestores; como auxílio às pessoas necessitadas. Percebe-se, no texto, que missão e mordomia têm uma estreita relação, e que o dízimo, como um dos aspectos da mordomia, se interpretado adequadamente, ajuda na prática missionária da Igreja. O quinto capítulo, Abrindo espaços para a práxis da pregação e suas implicações hoje, na era da mídia. O uso da Bíblia na pregação assume a pregação como uma arte, como um exercício que requer paciência, dedicação e estudo. Nessa linha, abordam-se quatro pontos: 1) o ministério de Jesus e suas implicações para a pregação hoje, 2) a visão bíblico-teológica e pastoral da pregação, 3) as implicações da pregação na Reforma Protestante e 4) orientações wesleyanas para a prática da pregação. No primeiro ponto, entre outros aspectos, Silva enfatiza a dimensão de esperança messiânica e a necessidade de quem prega de se envolver no cotidiano para conhecer as angústias humanas, os sistemas opressores e os anseios das pessoas a quem será destinado o sermão. No segundo ponto, destacam-se vários traços da pregação, tais como: seu caráter teológico, evangélico, persuasivo e litúrgico; a sua dimensão antropológica e escatológica; bem como o seu sentido eclesial. Enfatizase também a criatividade da pregação e seu vínculo com o cotidiano. Na perspectiva do autor, o cotidiano tem a ver com o que no dia-a-dia se passa quando nada parece passar. No terceiro ponto, sublinha-se a necessidade de saber lidar bem com o texto bíblico, isto porque a Bíblia constitui o critério para tudo que se disser em nome de Deus e de Jesus Cristo na comunidade cristã; se destacam as vantagens e os riscos da pregação a partir de textos bíblicos; e se oferecem orientações para a pregação a partir da perspectiva de Lutero. No quarto e último ponto, o autor constrói seu raciocínio, no que se refere à prática da pregação, tomando como referência os quatro anseios de Wesley ao pregar (convidar, convencer, oferecer a Cristo, construir); a sua metodologia ao preparar um 226 Pedro Jiménez CELORRIO: Repensando a práxis da missão da igreja à luz dos desafios do século 21

sermão; e o fruto esperado a partir da pregação (amar a Deus de todo o coração, ter coração e vida devotados a Deus; recuperar a imagem integral de Deus; ter a mente de Cristo; andar como Cristo andou). O sexto capítulo, Abrindo espaços para o exercício de elaboração de sermões, apresenta de forma sucinta modelos de esboço de sermões úteis para a pessoa que lida com a pregação ou para quem pretenda ensinar a Bíblia. O texto divide-se em duas partes: uma mais voltada para a metodologia e para a escolha do texto bíblico; outra mais interessada em trazer à luz exemplos concretos de elaboração de sermões. No que se refere à metodologia, destacam-se sete aspectos: informação sobre a realidade na qual a pregação será realizada; necessidade de quem prega de reservar um tempo de oração; estudo do texto bíblico; análise tridimensional da mensagem do texto: passado, presente e futuro; análise gramatical do texto; admissão da Bíblia como o livro que relata a história da salvação e a inutilidade de procurar outros sentidos e outras verdades na Palavra. No que diz respeito à elaboração de sermões, Silva apresenta três esboços: O rei que foi aprovado por Deus, tomando como referência o texto de 2 Reis 18.1-7; Uma decisão missionária, a partir de João 4.1-31; A viagem que não terminou. Os caminhantes de Emaús, que aparecem em Lucas 24.13-35. O autor reforça que o uso da Bíblia como instrumento de ensino da Palavra constitui um dever para toda pessoa que tenha a responsabilidade de pastorear e ensinar; manifesta o seu desejo de que os exemplos propostos possam ajudar no desenvolvimento da pregação nas diversas comunidades. A partir do conteúdo explicitado intui-se que a obra é relevante para toda pessoa interessada em áreas tais como Missão, Teologia Prática, Administração Eclesiástica, Ministério e Liturgia. O conteúdo do livro também é útil para quem lida com política, religião, história, sociologia, antropologia e filosofia, toda vez que a sua proposta leva em consideração tanto aspectos relativos ao ambiente histórico-político-econômico da Inglaterra, o solo em que o metodismo surgiu, como questões alusivas ao contexto sociocultural latino-americano. A obra apresenta uma linguagem direta numa abordagem clara e objetiva. O teor nela exposto serve, ao mesmo tempo, como fonte de conhecimento e de pesquisa, fornecendo referenciais teóricos e pistas para futuros estudos na área de práxis religiosa e sociedade. Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 223-227, jul./dez. 2010 227