Maior centro de exposição de arte contemporânea do Brasil, instituto em Minas Gerais tem nova ambição: se tornar referência em educação

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Transcrição:

A ESCOLA INHOTIM 17/03/2012 Maior centro de exposição de arte contemporânea do Brasil, instituto em Minas Gerais tem nova ambição: se tornar referência em educação NARCISSUS GARDEN, de Yayoi Kusama, em Inhotim, que vai sediar curso internacional de curadoria para 15 eleitos OS CURADORES do instituto: Schwartzman, Moura e Volz KATE FOWLE, do Independent Curators International Audrey Furlaneto segundocaderno@oglobo.com.br eis anos depois de ser inaugurado distante do principal eixo cultural do país (a 545 km de São Paulo e a 400 km do Rio), o Instituto Inhotim já se consagrou como o principal centro de exposição de arte contemporânea do país. Os visitantes saltaram de pouco mais de sete mil, no ano de inauguração, para 247 mil em 2011. A forma como estão distribuídas as cerca de 500 obras de arte pelo parque com nada menos que dois milhões de metros quadrados chama a atenção de espectadores e especialistas em todo o mundo. Unanimidade na área, Inhotim tem nova ambição: tornar-se referência em educação. Em abril, a megainstituição, cujo empreendimento é avaliado em algo como US$200 milhões, dará um importante passo para isso. Vai sediar o primeiro curso intensivo de curadoria a arte de montar exposições de um dos mais importantes institutos voltados para a profissão, o

Independent Curators International (ICI), de Nova York. A presidente da escola, Kate Fowle, visitou Inhotim pela primeira vez em 2010 e sentiu estar num lugar incrivelmente único para pensar curadoria. Se tivesse que ilustrar o trabalho de um curador, desenharia um iceberg. A exposição seria a parte que se vê acima da água, e toda a pesquisa e o engajamento que se produz seriam o que está escondido debaixo da superfície diz Kate. O tempo que curadores gastam vendo arte, falando com artistas e entendendo contextos de produção artística supera de longe a duração de uma exposição. Maioria dos inscritos não é do Brasil Na próxima semana, ela e o corpo de curadores de Inhotim anunciam os 15 escolhidos entre os 48 candidatos que apresentaram projetos para conseguir uma vaga no intensivo. São apenas seis dias, de 22 a 28 de abril, ao custo de R$4 mil por aluno, para ter encontros com a presidente do ICI, os curadores independentes Victoria Noorthoorn e Adriano Pedrosa, o codiretor da galeria Artangel, de Londres, James Lingwood, e o corpo curatorial do instituto, formado por Allan Schwartzman, Rodrigo Moura e Jochen Volz. A maioria dos inscritos não é do Brasil: curadores europeus, latinoamericanos, turcos e até da Oceania tentam uma vaga no intensivo do ICI no país. Todos têm pelo menos cinco anos de experiência ou, como define o curador de Inhotim Jochen Volz, um bom repertório de fiascos e sucessos. Inhotim é diferente de qualquer outra instituição que conheci no mundo, pela evolução única de um incrível programa de arte. Além do lugar magnífico e das atitudes inovadoras, que são simplesmente incríveis de se vivenciar, a equipe curatorial tem pensado e abordado questões como a adaptação de obras site-specific e a recriação de projetos perdidos ou não realizados. Fowle se refere a trabalhos como a Galeria Cosmococa, que reúne num único ambiente e em caráter permanente as cinco cosmococas de Hélio

Oiticica e Neville d Almeida. As obras, de 1973, ganham espaço raro no instituto e, antes, só haviam sido vistas juntas em uma exposição temporária. Há ainda a recriação da obra Narcissus Garden, que a japonesa Yayoi Kusama fez para a Bienal de Veneza de 1966. Em Inhotim, as esferas brilhantes de aço inoxidável da obra de Kusama flutuam em espelhos d'água imaginados especialmente para abrigálas. Para o curador Rodrigo Moura, que entre 2004 e 2006 esteve à frente do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, o curso com o ICI é o reconhecimento de Inhotim como ponto de discussão. O que temos constatado é que há um número crescente de estrangeiros que têm Inhotim como destino principal da viagem. O instituto parece ter entrado para a proposta do turismo de peregrinação, de procurar lugares remotos para conhecer, espécie de tendência do mundo contemporâneo avalia Moura. Há, por exemplo, um grupo de colecionadores da Coreia com visita agendada para o segundo semestre. Assim como os grupos leigos ou seja, não especializados em artes plásticas, que, segundo Moura, costumam ter respostas muito generosas, colecionadores e estudiosos mostram-se surpresos, parecem estar diante de algo muito novo : Os museus normalmente fragmentam a presença do artista. Nós fazemos o oposto: buscamos o aprofundamento e a intensificação de uma trajetória, da individualidade de um artista. Formação para o lidar com o mercado Para Jochen Volz, a curadoria de Inhotim ainda se beneficia de um elemento: a jornada. O instituto não é exatamente próximo do eixo turístico do país e, para conhecê-lo, os espectadores (exceto os da vizinha Brumadinho) farão uma viagem.

O espectador já se deslocou de seu lugar, está num parque, caminha e, de repente, está numa obra de Cildo Meirelles. Temos a ideia de ele ser guiado, sem ser conduzido explica Volz. Ele foi, entre outras mostras, curador da Aichi Trienal de Nagoya, no Japão, em 2010, da 53ª Bienal de Veneza, na Itália, em 2009, e curador convidado da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006. Curadoria se aprende fazendo e vendo. Eu mesmo nunca fiz um curso diz, rindo. Mas pude ver muitas exposições. Ainda assim, Volz defende a necessidade de formação de curadores com pensamento mais elaborado e sofisticado para lidar com um mercado de arte também cada vez mais sofisticado e complexo. Inhotim, ele completa, reforça essa complexidade: É desafiador criar um conjunto que será permanente e que ganhe, com os anos, mais relevância. Vejo o curador também como um produtor que facilita e provoca o trabalho do artista. O curador é um pouco sócio no crime. A proposta dos intensivos do ICI é colocar frente a frente profissionais de diferentes origens e expectativas, a fim de criar debates e, claro, soluções expositivas. O ICI, segundo Fowle, reconhece a invisibilidade da profissão e foi criado em 1975 para apoiar mostras de curadores independentes que já buscavam levar a arte a públicos maiores. A primeira exposição, aliás, ocorreu no Brasil, na Bienal de São Paulo de 1975. O ICI viabilizou o projeto dos Estados Unidos, trazendo ao país obras de 32 artistas que estavam começando a ter notoriedade. Entre os nomes, por exemplo, estava Nam June Paik.

É desafiador criar um conjunto de obras que será permanente e que ganhe, com os anos, mais relevância. Vejo o curador também como um produtor que facilita e provoca o trabalho do artista. O curador é um pouco sócio no crime Jochen Volz, curador de Inhotim Se tivesse que ilustrar o trabalho de um curador, desenharia um iceberg. A exposição seria a parte que se vê acima da água, e toda a pesquisa e o engajamento que se produz seria o que está escondido debaixo da superfície Kate Fowle, presidente do ICI Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Segundo Caderno Tamanho: 1164 palavras Edição: 1 Página: 1 Coluna: Seção: Caderno: Segundo Caderno 2001 Todos os direitos reservados à Agência O Globo