TECNOLOGIAS DE MODIFICAÇÃO CORPORAL DO SEXO E NORMAS DE GÊNERO: SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO CUIDADO A PESSOAS TRANS NO BRASIL 1

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TECNOLOGIAS DE MODIFICAÇÃO CORPORAL DO SEXO E NORMAS DE GÊNERO: SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO CUIDADO A PESSOAS TRANS NO BRASIL 1 RESUMO Daniela Murta 2 Marilena Corrêa 3 Considerando a necessidade de discutir as consequências éticas da incorporação de tecnologias de modificação corporal do sexo para pessoas trans e o imperativo de delimitar as condições de acesso às mesmas, torna-se fundamental debater as referências utilizadas para a regulamentação destes procedimentos. A partir do pressuposto de que a disponibilização de determinados dispositivos tecnocientíficos está atrelada a uma concepção normativa dos sistemas sexo-gênero a fim de reproduzir o natural ou restaurar a normalidade e que tais normas de gênero servem como referência para a definição das condições de acesso a estas tecnologias, pretende-se analisar os parâmetros para regulamentação dos processos de cuidado a pessoas trans no Brasil. Palavras chave: pessoas trans tecnologia regulamentação 1. APRESENTAÇÃO Diante do significativo progresso científico observado no século XX, a utilização de novas tecnologias médicas se tornou tema de debates éticos. O surgimento de inovações que possibilitaram não apenas a intervenção sobre o corpo, mas sobre a vida de uma forma geral, interferindo, inclusive, em questões socioculturais, trouxe a necessidade de discutir as consequências de sua incorporação e, consequentemente, o imperativo de delimitar formalmente as condições de acesso às mesmas. Ainda que as discussões críticas sobre os avanços da ciência e, por conseguinte, sobre a disponibilização de novas tecnologias médicas sejam voltados aos interesses de seus possíveis beneficiários, nota-se que de modo geral, especialmente em questões controversas, são utilizados referenciais que reforçam a naturalização de determinadas 1 Esta é uma versão modificada do capítulo Transexualidade e normas de gênero: contribuições para o debate bioético sobre as práticas de modificação corporal do sexo publicado no livro Transexualidades: um olhar multidisciplinar (2014) organizado por Maria Thereza em Coelho e Liliana Sampaio. 2 Bolsista PNPD/CAPES do Programa de Pós Graduação em Bioética, Ética Aplica e Saúde Coletiva (PPGBIOS) - UFRJ, UERJ, UFF, FIOCRUZ. Email: dmurta@oi.com.br 3 Professora Adjunta Instituto de Medicina Social - UERJ e Programa de Pós Graduação em Bioética, Ética Aplica e Saúde Coletiva (PPGBIOS) - UFRJ, UERJ, UFF, FIOCRUZ. Email: correamarilena@gmail.com

condições e categorias sociais (Loyola, 2005). Se por um lado o domínio de determinadas tecnologias permitem uma abertura para a produção de algo novo e desconstrução de papéis historicamente definidos, por outro é possível perceber que argumentos científicos podem ser utilizados para balizar escolhas políticas de forma a limitar o acesso a inovações tecnológicas interferindo na autonomia dos sujeitos e criando condições de vulnerabilidade. Quando atravessadas pelas possibilidades da inovação tecnológica, questões relacionadas às noções de sexo, gênero e sexualidade demonstram o quanto a ciência e sua aplicação tendem a estar a serviço da manutenção da ordem social. A pressuposição de que existe um alinhamento natural entre esses aspectos e que este alinhamento reflete uma normalidade, atribui a tecnologias o papel de conservação desta ou, em casos extremos, a tarefa de recupera-la. Nessa referência, a lógica que se instaura é a de que para a manutenção das normas sociais dispositivos tecnocientíficos devem ser disponibilizados a fim de reproduzir a natureza e, portanto, devem ser criados parâmetros que assegurem o cumprimento desta tarefa. Este é o caso da regulamentação da assistência a pessoas trans no Brasil, que baseada em um modelo psiquiatrizado e corretivo da atenção, tem um caráter normalizador e restritivo que limita a autonomia e o acesso ao cuidado de pessoas que se definem como trans. Notadamente baseada na noção de que variações de gênero são anormalidades e que a intervenção médica sobre os corpos deve objetivar a adequação, a regulamentação dos procedimentos de modificação corporal do sexo denota estar atrelada a concepções normativas do sistema sexo-gênero e, nesse sentido, torna-se necessário problematizar os critérios que condicionam o acesso às tecnologias de modificação corporal bem como seus referenciais. Assim, considerando o paradoxo de que, ao mesmo tempo em que a assistência a pessoas trans se constituiu como um benefício a esta população, o seu modelo patologizado e corretivo restringe o direito à atenção médica e o exercício da autonomia, pretende-se aqui discutir o que está em jogo na disponibilização das tecnologias de modificação corporal do sexo para travestis e transexuais. A partir da hipótese de que as normas de gênero servem como referência para a definição das condições de acesso aos procedimentos de modificação corporal do sexo para este segmento pretende-se analisar os parâmetros para regulamentação dos processos de cuidado a pessoas trans no Brasil bem como o problematizar o modelo atual de

atenção discutindo os dilemas bioéticos que se colocam a partir da medicalização e normatização destas experiências. 2. SOBRE O PARADIGMA NORMATIVO DAS EXPERIÊNCIAS TRANS COMO PATOLOGIA E A FORMULAÇÃO DO MODELO CORRECIONAL DA ATENÇÃO Ao revisitar a história da assistência médica formal a pessoas trans, é possível perceber que a mesma está absolutamente atrelada a trajetória de medicalização da transexualidade no século XX. O surgimento de uma nova combinação entre sexo, gênero e sexualidade associado ao avanço tecnológico desse período que tornou viável a realização de modificações corporais do sexo não apenas permitiu o reconhecimento da experiência transexual resultando em novas concepções sobre o sexo e da determinação de uma identidade de gênero para cada indivíduo, como também que imprimiu um novo discurso sobre o sexo no campo médico e social. Através do trabalho de Meyerowitz (2002), é possível verificar que a noção de sexo começou a mudar na primeira metade do século passado, a partir do debate público e científico sobre seus limites e características. Se antes o sexo era apenas uma forma de categorizar mulheres e homens, nesse momento passou a incluir em sua definição outros aspectos como traços, atitudes, comportamentos e práticas. Novas categorias, como sexo biológico, gênero e sexualidade, se constituíram e uma distinção entre sexo físico e sexo psicológico passou a justificar a diversidade de comportamentos e identificações de gênero cruzadas, e, posteriormente, a partir da noção de que o sexo psicológico seria imutável, tornou aceitável a demanda por alteração do sexo. Nesse sentido, como demonstra essa autora, a definição da transexualidade como categoria específica foi resultado de uma nova compreensão dos conceitos de sexo e gênero a partir de perspectivas inovadoras sobre a determinação e diferença entre os sexos e de crescentes discussões sobre as bases biológicas e sociais do gênero e da sexualidade. Tomando como ponto de partida a viabilidade técnica para alteração das características sexuais, Bernice Hausman (1995) afirma que o desenvolvimento das tecnologias médicas teve um papel fundamental para que a mudança de sexo se tornasse uma medida terapêutica para transexuais. Em suas análises, destaca a compreensão de que o reconhecimento da transexualidade e, consequemente, da demanda por redesignação sexual se desenvolveu na dialética entre a viabilidade

tecnológica e a padronização de um discurso que fixa uma identidade de gênero para cada sexo, o que tornou essa condição estável e uma questão médica. Portanto, atrela a emergência da categoria transexual à associação entre o desenvolvimento da tecnologia médica e a interpretação da incoerência entre sexo biológico e identidade de gênero como uma desordem. Embora os avanços científicos e mudanças culturais tenham sido fundamentais para o reconhecimento da vivência transexual e sua apropriação médica, a psiquiatrização desta condição e a consolidação do modelo corretivo de seu tratamento estão relacionadas também à normatividade sexual constituída na Modernidade. Ainda que o reconhecimento formal da transexualidade coincida com a separação entre sexo físico e psicológico e com as condições técnicas para a alteração da anatomia, sua formalização como uma patologia e a recomendação de redesignação do sexo, nesses casos, notadamente estão atreladas às práticas discursivas, fundamentadas em um dimorfismo sexual no qual o sexo seria natural e o gênero construído socialmente, que fixaram modelos de identidade nos quais se pressupõe uma coerência entre estes dois aspectos. Retomando historicamente as noções de sexo, gênero e identidade, com referência em Foucault (1988), é possível afirmar que o sexo não é um fenômeno natural, nem um atributo do corpo, mas sim um dispositivo resultado de regulações sociais e culturais, que tem como conseqüências o estabelecimento de parâmetros de normalidade e a instituição de categorias para definir as identidades sexuais. As significativas mudanças na concepção da diferença sexual que aconteceram na Modernidade permitem perceber que o modelo essencialista da diferença sexual diz respeito a uma construção cuja conseqüência foi a instauração de uma matriz binária heterossexual e reprodutiva, que impõe, de forma correlata, o alinhamento entre a anatomia e a identidade de gênero. Na atualidade, essa compreensão naturalizada de uma continuidade imediata entre sexo e gênero vem sendo largamente problematizada por alguns autores, como a filósofa estadunidense Judith Butler, a partir de uma crítica a esse modelo binário heterossexual e à concepção de uma identidade estável. Nesse panorama, o que está em pauta é uma discussão a respeito da distinção fundamental entre sexo-biológico e gênero-cultural e, consequentemente, da normatividade própria às matrizes de gênero.

De acordo com Butler (1993, 2003), embora a morfologia dos sexos remeta a uma binaridade, o gênero não deve ser reconhecido dessa mesma maneira ou como um simples reflexo do sexo anatômico, pois isto o torna tão fixo e pré-determinado quanto os aspectos biológicos. Fundamentada no pensamento de Foucault, critica a idéia de sexo como um predicado natural, considerando a importância de se questionar a atribuição de um caráter imutável ao mesmo. Para a autora não se trata de algo pré-discursivo que é interpretado culturalmente e sobre o qual se constrói artificialmente o gênero, mas como algo produzido e tão construído quanto este último, resultado de uma norma cultural reiterada continuamente, que serve para estabilizá-lo 4. Nessa perspectiva, sexo e gênero seriam efeitos de práticas reguladoras que, ao materializar os sistemas de sexo-gênero, constituem e mantêm identidades inteligíveis, isto é, identidades que conservam relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo a partir de determinadas normas de gênero. Portanto, para a autora, são as práticas humanas que tornam possíveis espectros de descontinuidade e incoerência em relação às normas existentes, viabilizando um território de exclusão e a noção de que há um verdadeiro sexo 5. A partir deste raciocínio, onde a sujeição a regulações sociais e a coerência entre sexo e gênero constituem subjetividades e governam a inteligibilidade social, é possível pensar que a descrição de uma experiência de não pertencimento ao sexo biológico, tal como as vivências trans, está excluída do território de inteligibilidade. Por não se enquadrar em nenhum dos dois modelos vigentes de identidade sexual, esta vivência seria o que Butler (1993) definiu como abjeto e, nesse sentido, sua definição como uma patologia se constituiu como a possibilidade de deslocá-la do campo do impensável e incluí-la na inteligibilidade cultural, de modo que a mesma 4 Outro aspecto que Butler introduz é a noção de performatividade de gênero, pensando as normas reguladoras do sexo trabalhando de um modo performativo para constituir a materialidade dos corpos e, mais especificamente, para materializar o sexo destes, para materializar a diferença sexual a serviço da consolidação do imperativo heterossexual. 5 Segundo Foucault (2004), as teorias biológicas da sexualidade, as condições jurídicas do indivíduo e as formas de controle administrativo dos Estados modernos do século XVIII promoveram uma gradual recusa da idéia de mistura dos dois sexos em um só corpo e restringiram a livre escolha pela identidade sexual daqueles indivíduos que apresentavam algum tipo de ambiguidade, por entender que as fantasmagorias da natureza podem servir aos abusos da libertinagem (p.3). Nesse sentido, passou a existir uma exigência de definição sexual com base na natureza, na qual a Medicina tinha a função moral de diagnosticar o único e verdadeiro sexo dos indivíduos, principalmente quando o mesmo estava encoberto pelas formas do sexo oposto ou sob aparência confusa, tal como a hermafrodita Herculine Barbin.

pudesse ser reconhecida, adquirir materialidade 6, ainda que sob o signo da doença (Murta, 2007). Considerando que a interpretação da transexualidade como uma desordem psiquiátrica resulta de práticas reguladoras e que o acolhimento da demanda por modificação corporal do sexo se constituiu como um dispositivo de adequação dos corpos à normatividade sexual, é possível concluir que a medicalização da experiência transexual é uma atualização das normas de gênero, que tem influência sobre o modelo atual de atenção. Inseridas em uma lógica normativa, na qual a identidade de gênero deve corresponder à anatomia, as práticas de saúde dirigidas a pessoas trans reiteram a significação da transexualidade como uma patologia e, nesse sentido, exigem para o acolhimento do sujeito que este se submeta a avaliações e tenha como demanda principal a correção de seu sexo. Caso o diagnóstico de transexualismo verdadeiro não se confirme e/ou o desejo de restauração da normalidade não esteja evidente, as modificações corporais do sexo, ou pelo menos sua disponibilização de forma segura, são negadas, restando àqueles que demandam por elas permanecer vulneráveis aos efeitos nocivos da exclusão da assistência formal. 3. PARADOXOS DA PATOLOGIZAÇÃO DA TRANSEXUALIDADE E O ACESSO ÀS PRÁTICAS DE MODIFICAÇÕES CORPORAIS DO SEXO Considerando a necessidade de implementação de uma política de atenção integral voltada especificamente para pessoas trans no Brasil e da definição de diretrizes de assistência a este segmento comprometidas com o que foi preconizado pelos fóruns de debate sobre o tema, em 2008, o Ministério da Saúde formalizou e regulamentou o Processo Transexualizador no SUS 7 através da Portaria 1.707/GM e pela Portaria 457 da Secretaria de Assistência de Saúde, respectivamente. Reconhecendo a orientação sexual e a identidade de gênero como determinantes sociais da situação de saúde, esta normativa propôs a constituição de serviços de referência habilitados a prestar atenção integral e humanizada a transexuais não se restringindo à cirurgia de transgenitalização 6 O termo original em inglês é matter, que pode ser traduzido para a língua portuguesa como os substantivos matéria e substância, ou como os verbos importar e significar. Butler utiliza esse termo como ferramenta no debate sobre a materialidade e importância daquilo que está excluído da inteligibilidade cultural. 7 Partindo do fato de que não havia nenhuma regulamentação do processo de redesignação sexual no SUS e já existiam programas de atendimento a transexuais em funcionamento em diversos estados brasileiros, foram colocados em pauta pontos relevantes para a elaboração de Protocolos de acompanhamento e avaliação de transexuais orientados pelo Ministério da Saúde. Para mais detalhes ver Murta (2007), Arán, Murta e Lionço (2008) e Lionço (2009).

e demais intervenções somáticas, mas também com foco no enfrentamento de processos discriminatórios e na afirmação da diversidade da experiência transexual. Indiscutivelmente, a criação desta política específica destinada à esta população no âmbito do Sistema Único de Saúde significou um avanço importante na legitimação de sua demanda por modificações corporais do sexo. O reconhecimento da vulnerabilidade de pessoas trans somado à constituição de serviços de referência habilitados a atender suas necessidades não apenas facilitou o acesso deste grupo à saúde, mas apontou a adoção de uma perspectiva mais ampla de atenção configurando um novo cenário para estas no Brasil (Murta, 2011). Embora essa regulamentação seja inovadora por resgatar os princípios do SUS e considerar como objeto da atenção questões físicas e psicossociais, a mesma revela limitações que, especialmente, por seu caráter excludente e estigmatizante, culminaram na revisão das mesmas e publicação de duas novas Portarias em 2013. Apesar da clara intenção de oferecer um modelo de atenção à saúde que focaliza não apenas procedimentos médicos, mas também o enfrentamento dos prejuízos decorrentes de processos discriminatórios e, em sua nova versão, ampliar o Processo Transexualizador no SUS, essa política permanece permeada por ambivalências e parcialidades observáveis em sua redação que reiteram seu caráter patologizante e normalizador. Um primeiro aspecto a ser analisado é a permanência de uma perspectiva patologizadora das experiências trans. Ainda que esta referência tenha possibilitado o reconhecimento das demandas destes segmentos e consolidado a atenção aos mesmos, sob o argumento da beneficência promovida pela adequação do sexo ao gênero, é possível observar que a patologização destas vivências e o imperativo de correção do corpo para aqueles que desejam realizar modificações corporais do sexo têm implicações sobre as condições de acesso à assistência. Referenciada na naturalização de que deve haver uma coerência entre sexo e gênero e disponibilizada com o propósito de restauração da normalidade, esta prática de cuidado está restrita àqueles que pretendem se alinhar à normatividade sexual. Tal fato fica bastante evidente quando se analisa as condições de acesso de travestis aos procedimentos ofertados no Processo Transexualizador no SUS. Se até 2013 este segmento estava absolutamente excluído desta política de saúde, com a nova Portaria muito pouco mudou. Embora a travestilidade tenha sido incorporada na última revisão da política, intervenções cirúrgicas como implante de próteses de silicone nas mamas e tireoplastia permanecem restritos a transexuais tal como recomendado na

Resolução 1955/2010 do CFM. Nesse sentido, é possível afirmar que apesar de contempladas na última normativa, pela perspectiva normalizadora e patologizada desta norma travestis têm acesso parcial aos procedimentos disponíveis, a saber, apenas a hormonização assistida. Chama ainda mais a atenção a permanência da exigência de avaliação psicológica prévia daqueles que desejam se submeter às tecnologias de modificação corporal do sexo, a fim de verificar a estabilidade de sua identificação com o sexo oposto e a existência do desejo de reestabelecer a coerência entre sua anatomia e sua identidade sexual. Ainda que para muitos que atuam na assistência direta, esta seja uma importante ferramenta para proteção dos pacientes que demandam intervenções sobre suas características sexuais e prevenção de agravos a sua saúde física e mental, decorrentes das transformações corporais, a necessidade de confirmação diagnóstica é uma questão problemática. Para além da problematização do seu potencial estigmatizante e discriminatório a imposição de um exame para acessar as tecnologias médicas notoriamente limita a autonomia do sujeito, interferindo em seus direitos de autodeterminação do gênero, de dispor sobre seu corpo. No que se refere à discussão específica sobre a definição da condição transexual como um transtorno, é possível observar que, segundo a Rede Internacional pela Despatologização Trans (2009) 8, a psiquiatrização da transexualidade reflete uma confusão entre identidades e corpos não normativos com uma condição patológica dos mesmos. Em sua argumentação, a classificação médica dessa vivência reproduz um paradigma binário dos sexos que pressupõe um sofrimento mental em função do desacordo entre sexo e gênero. Nessa perspectiva, o diagnóstico de transexualismo é uma definição absolutamente problemática, pois, ao mesmo tempo em que patologiza a identidade de gênero de pessoas trans, torna invisível a violência social a que estão submetidos aqueles que não estão adequados às normas de gênero e, consequentemente, vela a transfobia inerente a esse diagnóstico. No tocante ao caráter de controle e normalização dos procedimentos atuais de atenção aos sujeitos que se definem como trans, o debate está centrado na necessidade de uma avaliação psiquiátrica e no acompanhamento regular de candidatos à modificação corporal do sexo, que impõe uma adaptação a modelos 8 O manifesto da Rede Internacional de Despatologização Trans também contempla questões relacionadas à retificação do sexo em condições intersexuais.

tradicionais de masculinidade e feminilidade. Isto, além de excluir a diversidade dessa experiência, revela uma obstrução ao direito à autodeterminação. Nesse sentido, o que está em pauta é o direito de acesso aos serviços de saúde e à modificação do nome e sexo no registro civil independente de qualquer avaliação médica ou alteração das características sexuais e a reformulação dos programas assistenciais destinados a essa população 9. Vale destacar que nessa discussão relativa ao direito à autodeterminação, além da forte influência do pensamento acadêmico, que faz uma crítica ao sistema binário e normativo, a crítica coincide com os argumentos utilizados no campo dos direitos humanos, que reafirma o direito à livre expressão das identidades de gênero e defende a despatologização da transexualidade. Como demonstra Suess (2010), em consonância com declarações, como os Princípios de Yogyakarta (2007) e o Informe Direitos Humanos e Identidade de Gênero, de Thomas Hammarberg (2009), entre outros, a definição da transexualidade como um transtorno mental é identificada como um obstáculo ao exercício dos direitos humanos, como o direito de acesso à saúde sem discriminação por identidade de gênero ou orientação sexual. Nessa referência, a identidade de gênero é concebida como um direito humano, de modo que avaliações psiquiátricas e a realização de procedimentos cirúrgicos para alteração do sexo como condições de acesso à saúde e para o reconhecimento legal da identidade de gênero são consideradas violações ao direito à integridade corporal e à dignidade pessoal. Nos Fóruns de Bioética (Diniz e Guilhem, 2002; Diniz e Corrêa, 2001), a questão da autonomia tem sido pensada a partir da necessidade constante de se considerar as possibilidades sociais, éticas e políticas de seu exercício. É possível concluir então, que, no debate sobre as condições de acesso de transexuais às práticas de modificações corporais do sexo, o que está em jogo é o reconhecimento da diversidade da experiência trans e o direito à livre expressão do gênero. O acolhimento da demanda de alteração das características sexuais a partir de um modelo estritamente biomédico, que desconsidera os aspectos normativos que estão envolvidos na obrigatoriedade de autorização profissional para a realização de procedimentos deste tipo, viola direitos fundamentais como o livre acesso à saúde e não reconhece homens e mulheres trans como responsáveis por seus corpos. 9 Outras demandas incluídas no manifesto são: a garantia de acesso ao trabalho e a execução de políticas específicas que combatam a marginalização e discriminação desse grupo, a concessão de asilo político a pessoas trans imigradas em função de situações de extrema violência em seus países de origem e o fim da transfobia.

Nessa perspectiva, parece que o desafio para uma assistência a pessoas trans é mais amplo que a retirada de um dos manuais diagnósticos psiquiátricos (Missé e Coll-Planás, 2010) ou sua inclusão das vivências trans em outra categoria nosólogica; trata-se de assegurar as condições necessárias para o exercício da autonomia destes sujeitos, de modo que os mesmos possam se posicionar ativamente em seu tratamento, ultrapassando, em muito, a perspectiva de que são objetos de avaliação e intervenção médica. Se em um primeiro momento o dilema para a regulamentação do acesso ou, em termos bioéticos, o conflito moral para a disponibilização das tecnologias de modificação corporal do sexo era definir quem estava apto ou não a se beneficiar deste dispositivo a partir de uma referência heteronormativa, na atualidade o que está em jogo é o cuidado. Em outras palavras, o respeito à dignidade, à livre expressão do gênero e o reconhecimento de que essa experiência é uma entre as múltiplas possibilidades legítimas que a vida humana apresenta. 4. REFERÊNCIAS ARÁN, M.; MURTA, D.; LIONÇO, T. Transexualidade e saúde pública no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva [online], Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/artigos/artigo_int.php? id_artigo=1419>. Acesso em 30 de dezembro de 2008. BUTLER, J. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.. Bodies that Matter. On the discursive limits of sex. New York: Routledge, 1993. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (Brasil). Resolução nº 1955 de 3 de setembro de 2010. Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo e revoga a Resolução CFM nº 1.652/2002. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 set. 2010. Seção 1, p. 109-110. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1955_2010.htm. [Acesso em 05.05.2010]. DINIZ, D.; CORRÊA, M. Declaração de Helsinki: relativismo e vulnerabilidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17, 3, p. 679-688, 2001.

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