LOURENÇO LOURINHO PRACIANO 1



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Transcrição:

LOURENÇO LOURINHO PRACIANO 1 TESOUREIRO 41 ANOS DE TRABALHO Empresa Horizonte Nascido em Itapipoca, Ceará Idade: 76 anos Esposa: Maria Pinto de Oliveira Praciano Filhos: Lucineide Eu entrei na Empresa Horizonte porque fui convidado. Antes, eu morava em Umirim com minha esposa. Nós tínhamos um comércio por lá. Era uma bomba de gasolina e um barzinho. Isso em 1956, por aí. Minha esposa é irmã da esposa do Seu Chiquinho Leite, dono da Horizonte. Foi ele quem me convidou para trabalhar aqui, depois que nós vendemos o comércio em Umirim e viemos morar lá para os lados da Barra do Ceará, aqui em Fortaleza. Isso era mais ou menos 1962. Chamaram e eu vim. O Seu Chiquinho precisava de alguém para ajudá-lo, para ser seu braço direito. Então, quando eu cheguei comecei a tomar conta da garagem, fazer serviço de bancos, trabalhar lá dentro. Eu fazia de tudo um pouco. Um tempo depois, o Seu Chiquinho resolveu abrir uma empresa de transporte urbano e pediu para que eu tomasse conta. Não me lembro o nome dessa empresa. Só sei que fazia as linhas para os lados de Amadeu Furtado. Eu fazia de tudo, porque só tinha eu na parte administrativa. 1 Depoimento à Patrícia Menezes na tarde do dia 07 de janeiro de 2004, na sede da empresa Horizonte. Transcrito em de janeiro de 2004, por Patrícia Menezes.

Resolvia tanto a parte de tesouraria como a de pessoal. A prestação de contas acabava tarde da noite! Eu ia dormir às onze horas da noite e já estava em pé as quatro da manhã, para não atrasar a saída dos ônibus. Passei somente uns seis meses cuidando da empresa, porque adoeci. Aí a coisa complicou e o Seu Chiquinho não quis ficar sozinho. Então, em menos de um ano, ele vendeu a empresa. Depois que eu me recuperei, voltei a trabalhar por aqui na Horizonte mesmo. Fiquei na garagem um montão de tempo... Uns dois anos, talvez.. Eu fiscalizava os carros, porque naquela época não tinha gerente. Depois foi melhorando. Colocaram gerente, mecânico e eu deixei a garagem. De 1980 para cá só fiquei tomando conta do dinheiro. Só fazia arrecadar, controlar e entregar o líquido. Fiquei um tempo trabalhando lá no Antonio Bezerra também. O serviço era prestando conta, fazendo os caixas, conferindo as cadernetas dos motoristas... As cadernetas serviam para conferir tudo que acontecia nos ônibus. Tinha anotado a viagem, a contagem das passagens uma por uma, as peças dos carros. Tinha também os papeis de caixa, onde anotava tudo de novo e mais o dinheiro apurado. Eu fazia também o controle de entrada e saída das cadernetas e dava baixa nos serviços. Depois eu arquivava todos os documentos. Punha em ordem cada caderneta, cada demonstrativo de caixa, os papéis que vinham do Interior... As cadernetas eu guardava de acordo com o motorista e colecionava. Com o tempo, eu já fazia isso tudo décor. Com o tempo, colocaram um rapaz para me ajudar. Ele ficou organizando as caixas de documentos, cuidando dos quadros que vinham de cada agencia do interior e de Fortaleza, numerando as cadernetas intermediárias... Tinha também uns papeizinhos com as contas do interior, organizados dia a dia dentro de um livro. Tudo isso tinha que guardar.

No começo, apesar da experiência com o comércio, eu não sabia quase nada do serviço daqui. Só tinha uma noção... Eu aprendi enquanto fazia mesmo! Sobre nota fiscal eu sabia tudo e, desde aquele tempo até hoje acho que só alterou o sistema. Eu cansei de contar Cruzeiro, Cruzado, Real na mão. Tinha calculadora também, mas muitas contas eu fazia de cabeça mesmo, com a prática. No começo eram umas calculadoras Epson, que faziam uma zoada danada. Depois apareceram umas outras, que a gente puxava a manivela. Eram elétricas. Depois diminuiu o tamanho e melhorou. Tenho uma dessas novas lá em casa, porque comprei. Para ser um bom tesoureiro, tem que ser prestativo, ser responsável e saber dosar as coisas. Tem que explicar as coisas com clareza, para todo o mundo entender os cálculos. Eu, por exemplo, não criei nenhuma inimizade aqui porque sempre expliquei tudo direitinho. Há uns dias atrás, o pessoal me chamou para ficar seis dias com eles, para brincar, tomar um uísque. Eu fui, só para olhar a diversão. E tem que ser bom de matemática. Hoje, a matemática é diferente, mas quando comecei, fazia o noves fora para conferir as contas. O serviço de caixa era para saber o quanto gastou, o quanto pagou das comissões, das agências. Registrava os vales de peças de carros, os vales de pagamento de adiantamento. Depois descontava tudinho. O vale de adiantamento dos funcionários, por exemplo, vinha dentro do livro caixa. Depois eu devolvia para os funcionários e lançava os valores. Eu fazia todos os cálculos. A prestação de contas era com os motoristas. Se aparecesse alguma diferença nas contas, eu fazia um vale em nome do motorista, para descontar depois. Se o motorista deu dinheiro a menos, é porque perdeu ou gastou demais... Então, eu conferia as contas à noite e no dia seguinte chamava o motorista: - Rapaz, estão faltando tantos cruzeiros. Onde estão? Eles só assumiam que tinham perdido

quando era dinheiro pequeno, centavos... mas eu fazia vale e ainda aconselhava: - Rapaz, vá com calma... Depois de tanto tempo na Tesouraria, eu já não saía para banco. Só controlava e mandava fazer os pagamentos e depósitos. Nunca cuidei de imposto. Isso, quem fazia era o contador. É certo que no começo, eu lançava o ICMS no caixa. Agora não é mais assim... Muita coisa mudou. Até a matemática está diferente. Mas a gente pegava as modificações logo. Mesmo as mudanças de moeda. Dava um pouco de trabalho no começo, quebrava a cabeça, mas era fácil de aprender. No tempo dos milhões de cruzeiro a gente só faltava encher de escrever, de tanto zero que tinha. Primeiro você tinha que colocar um monte de zeros e depois ficou bem pouquinho... nem lembro mais das contas... Só o negócio da URV que foi complicado, vixe Maria! Atrapalhou tudo!. Foi o Fernando Henrique que inventou a URV em 1994. Ele era Ministro da Fazenda... Depois ele passou da URV para o Real e ganhou a eleição. Deus me livre! Até o dinheirinho que eu tinha guardado acabou. Era uma confusão... Quem tinha dez mil, no final, ficou com mil. E na URV era vinte e sete mil e quinhentos que viraram mil! Aconteceu isso aí... Aqui na empresa a complicação era grande. Era difícil explicar as contas para os motoristas. A gente fazia umas tabelas e mostrava para eles. Batia as contas das cadernetas com os números das tabelas. Era um trabalho que só... Tinha gente que saía e depois voltava pedindo para refazer as contas. Mas não deu problema. Se tivesse dúvida, a gente chamava e dizia: - Olha, você tem que fazer tudo bem feitinho. Está aqui a tabela. Você tem que cobrar por ela, na numeração que tem aí. Mas tinha uns motoristas que só chegavam e pegavam o dinheiro. Não queriam saber de nada.

Eu me aposentei em 1995, mas fiquei trabalhando na empresa até agosto de 2003. Depois não vim mais. Acho que as coisas mudaram e eu não estou habituado com esse negócio do computador. Tenho vontade a aprender e mexer com isso, mas ainda não deu tempo. O computador é mais rápido. Se você tem tudo organizado, é só bater no teclado e já sai tudo pronto. Se eu soubesse de computador, acho que dava para continuar aqui sozinho, como foi em todos esses anos.