AUTOR: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL RÉUS: HÉLIO RAMOS LIMA, MÔNICA ALVES DE SOUZA LIMA, LAÉRCIO SOARES, ANSELMO CORREIA LIMA, NIVALDO DE SOUZA LIMA, EVANDRO ALVES MARINHO, ADAUTO SOUZA PINHEIRO, CONSTRUTORA SONHO REAL LTDA. ME, JOAQUIM ARMANDO AGUIAR, CONSTRUTORA JOAMAR LTDA. EPP, JÚLIO JUVÊNCIO DA SILVA, GERLANE VEGAS LUNA DA SILVA, BAHIALOCAR LOCADORA DE VEÍCULOS E MÁQUINAS LTDA., JOÃO ROCHA DIAS, JOÃO ROCHA E GERLANE PIMENTEL CONSTRUÇÕES E EDIFICAÇÕES LTDA. ME, JERISVALDO SANTOS PEREIRA, JERISVALDO SANTOS PEREIRA EPP, DERNIVALDO JOSÉ DE OLIVEIRA, DERNIVALDO JOSÉ DE OLIVEIRA ME, ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DA BAHIA AMIRIS, SUELLAN DA SILVA CAMPOS OLIVEIRA, SUELLAN DA SILVA CAMPOS OLIVEIRA ME, JOCILEY XAVIER RIBEIRO, MÔNICA ALVES DE SOUZA LIMA ME, MARIA JOSÉ ALVES DE DOUZA DE MIRANTE ME. DECISÃO Trata-se de pedido de liminar em ACP para o fim de decretar a indisponibilidade e sequestro de bens dos Réus, com fundamento no art. 16 da Lei 8.429/92, e bloqueio de suas contas bancárias até o montante que assegure o integral ressarcimento dos danos, bem como, com escopo de implementar medidas restritivas, sejam oficiadas a Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, a fim de que sejam cientificados os Cartórios de Registro de Imóveis do Estado da Bahia para averbação da indisponibilidade de bens em nome dos Demandados, e as instituições financeiras oficiais para que proceda a identificação de bens, contas correntes, contas poupanças e investimentos em nome dos demandados. Narra que a demanda trata de atos de improbidade administrativa praticados no período de 2009 a 2015 no Município de Mirante/BA, quando o então prefeito HÉLIO RAMOS LIMA, em associação com os demais demandados, praticou uma série de desvios, apropriação e lavagem de recursos públicos federais. O MPF individualiza as condutas dos Réus da seguinte forma: 1 e 2) HÉLIO RAMOS LIMA e MÔNICA ALVES DE SOUZA LIMA, prefeito e primeira-dama, respectivamente, eram os mentores do esquema fraudulento, violando os princípios da impessoalidade, legalidade e publicidade, prática que os fez se enriquecerem Pág. 1/5
ilicitamente e acarretou dano ao erário, incorrendo, por diversas vezes, nos atos de improbidade administrativa tipificados no art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I, VIII e XII e art. 11, caput e inciso V, da Lei nº 8.429/92; 3) LAÉRCIO SOARES funcionava como laranja do prefeito HÉLIO LIMA em licitações de locação de equipamentos pesados destinados à ampliação e restauração das vias vicinais de Mirante/BA, nas quais sagrou-se vencedora sempre a empresa CONSTRUTORA SONHO REAL LTDA., além de ter recebido inúmeros depósito de outras empresas que possuíam contrato com a Prefeitura Municipal de Mirante/BA, incorrendo na prática, por várias vezes, dos atos administrativos previstos no art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I e XII, e art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92; 4-6) ANSELMO CORREIA LIMA, NIVALDO DE SOUZA LIMA E EVANDRO ALVES MARINHO, funcionários da Prefeitura Municipal de Mirante/BA, foram os responsáveis por fiscalizar as licitações simuladas e autorizar ou efetuar os pagamentos ilícitos às empresas envolvidas no esquema fraudulento, praticando, por diversas vezes, os atos de improbidade administrativa descritos no art. 9º caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I, VIII e XII, e art. 11, caput e inciso V, da Lei nº 8.429/92; 7-12) JOÃO ROCHA DIAS, JOÃO ROCHA E GERLANE PIMENTEL CONSTRUÇÕES E EDIFICAÇÕES LTDA. ME, JERISVALDO SANTOS PEREIRA, JERISVALDO SANTOS PEREIRA EPP, DERNIVALDO JOSÉ DE OLIVEIRA, DERNIVALDO JOSÉ DE OLIVEIRA ME também funcionavam como laranjas do esquema fraudulento, incorrendo, por várias vezes, nos atos de improbidade administrativa previstos no art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I e XII, e art. 11, caput e inciso V, da Lei nº 8.429/92; 13-20) CONSTRUTORA SONHO REAL LTDA. ME, CONSTRUTORA JOAMAR LTDA. EPP, JÚLIO JUVÊNCIO DA SILVA, GERLANE VEGAS LUNA DA SILVA, BAHIALOCAR LOCADORA DE VEÍCULOS E MÁQUINAS LTDA., ADAUTO SOUZA PINHEIRO, JOAQUIM ARMANDO AGUIAR, CONSTRUTORA JOAMAR LTDA. EPP, JÚLIO JUVÊNCIO DA SILVA, GERLANE VEGAS LUNA DA SILVA, além da ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DA BAHIA AMIRIS, foram beneficiárias com contratos cujas licitações foram simuladas, praticando, por diversas vezes, os atos de improbidade administrativa previstos no art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I e XII, e art. 11, caput e inciso V, da Lei nº 8.429/92; Pág. 2/5
21-25) SUELLAN DA SILVA CAMPOS OLIVEIRA, SUELLAN DA SILVA CAMPOS OLIVEIRA ME, JOCILEY XAVIER RIBEIRO, MÔNICA ALVES DE SOUZA LIMA ME, MARIA JOSÉ ALVES DE DOUZA DE MIRANTE ME participaram ativamente do desvio de verbas públicas do Caixa Escolar praticado através de empresas de papelaria fictícias, incorrendo, por várias vezes, nos atos de improbidade administrativa previstos no art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I e XII, e art. 11, caput e inciso V, da Lei nº 8.429/92. É o relatório. Decido. A fisionomia, pelo que aponta o MPF, e que tem reflexo nos documentos anexados à inicial, é fortemente indicativa da indisponibilidade pretendida da inicial, já que a incerteza temporal de quando se dará o desate definitivo da lide e seu consequente trânsito em julgado recomenda a medida, que tem cunho acautelatório. Na verdade, na apropriada angulação feita pelo STJ, no caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da LIA, não se vislumbra uma típica tutela de urgência, como descrito acima, mas sim uma tutela de evidência, uma vez que o periculum in mora não é oriundo da intenção do agente dilapidar seu patrimônio e, sim, da gravidade dos fatos e do montante do prejuízo causado ao erário, o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano, em vista da redação imperativa da Constituição Federal (art. 37, 4º) e da própria Lei de Improbidade (art. 7º) (REsp 1319515 / ES, rel. p/ acórdão, Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/08/2012). Nesse mesmo julgado, a Corte assentou que o periculum in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo requerente da medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo entendimento segundo o qual, em casos de indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92. Esse julgado se põe na linha de orientação embutida nos vários precedentes da Corte: REsp 1315092/RJ, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 05/06/2012, DJe 14/06/2012; AgRg no AREsp 133.243/MT, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 15/05/2012, DJe 24/05/2012; MC 9.675/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 28/06/2011, DJe 03/08/2011; EDcl no REsp 1211986/MT, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Pág. 3/5
Turma, julgado em 24/05/2011, DJe 09/06/2011. Está, portanto, assente que a decretação de indisponibilidade dos bens não está condicionada à comprovação de dilapidação efetiva ou iminente de patrimônio, porquanto visa, justamente, a evitar dilapidação patrimonial. Posição contrária tornaria difícil, e muitas vezes inócua, a efetivação da Medida Cautelar em foco. O periculum in mora é considerado implícito. Precedentes do STJ (Edcl no REsp 1.211.986/MT, Segunda Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 9.6.2011; REsp 1.205.119/MT, Segunda Turma, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, Dje 28.10.2010; REsp 1.203.133/MT, Segunda Turma, Rel. Ministro Castro Meira, DJe 28.10.2010; REsp 1.161.631/PR, Segunda Turma, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe 24.8.2010; REsp 1.177.290/MT, Segunda Turma, Relator Ministro Herman Benjamin, Dje 1.7.2010; REsp 1.177.128/MT, Segunda Turma, Relator Ministro Herman Benjamin, Dje 16.9.2010; REsp 1.134.638/MT, Segunda Turma, Relator Ministra Eliana Calmon, Dje 23.11.2009). Afinal, é desarrazoado aguardar a realização de atos concretos tendentes à dilapidação do patrimônio, sob pena de esvaziar o escopo da medida (REsp 1177290 / MT, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 01/07/2010). Vale advertir, com a Corte Superior, que a decretação da indisponibilidade (...) não se confunde com o sequestro (REsp 1177290 / MT, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 01/07/2010), e que também prescinde de individualização dos bens pelo Parquet (ib.). No âmbito do TRF-1ª Região, já se fixou acertadamente que o desvio ou venda é ato instantâneo, sem prévio aviso ou sinais exteriores, sendo que a comprovação do elemento subjetivo (animus de dilapidar) é prova impossível de ser produzida (AG 2008.01.00.012011-4/PA, rel. Juíza Federal Rosimayre Gonçalves de Carvalho (conv.)). No AG 2007.01.00.045388-0/TO, rel. Des. Fed. Hilton Queiroz, a Corte deixou assentado que quanto ao periculum in mora, advém do risco que corre a Administração Pública de nada encontrar no patrimônio do réu, com que se ressarcir futuramente, em vencendo a demanda, considerando-se a lentidão ritual do processo. Mesma linha de raciocínio se vê do AG 2007.01.00.038315-4/PA, rel. Juiz Federal Klaus Kuschel (conv.), que alude ao risco concreto, decorrente da lentidão do rito processual de tramitação das ações de improbidade, de que não se encontrem bens suficientes ao Pág. 4/5
ressarcimento do dano caso saia o autor vitorioso em sua pretensão. A ressalva, como se vê desses precedentes, corre à conta da impossibilidade de a constrição recair sobre os meios de subsistência dos Réus, o que será preservado, devendo-se dar atenção também à advertência do STJ de que a indisponibilidade de bens deve recair sobre o patrimônio dos réus em ação de improbidade administrativa de modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma (REsp 1319515 / ES, rel. p/ acórdão, Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/08/2012). À vista do exposto, ressalvados valores impenhoráveis, assim definidos em lei, decreto a indisponibilidade dos bens dos Demandados até o montante correspondente aos valores acrescidos ilicitamente ao seu patrimônio, nos termos do item 6 da petição inicial, inclusive ativos financeiros, via Bacenjud, veículos, via Renajud, e através de ofício à Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, a fim de que sejam cientificados os Cartórios de Registro de Imóveis do Estado da Bahia. Na sequência: 1. Notifiquem-se os Demandados para apresentação de defesa preliminar. 2. Cientifique-se o FNDE do teor deste feito para que, querendo, intervenha, especificando com que qualidade deseja processualmente fazê-lo. Intimem-se. Vitória da Conquista, 29 de março de 2016. JOÃO BATISTA DE CASTRO JÚNIOR JUIZ FEDERAL TITULAR Pág. 5/5