1 XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014 CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE OBRAS RARAS: UM ESTUDO A PARTIR DO ACERVO DA BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Leonisses Manhã Sérgio Andre Vieira de Freitas Araujo
2 RESUMO O objetivo deste trabalho é estabelecer e discutir os critérios para a identificação de livros raros da Biblioteca do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ). A partir da pesquisa bibliográfica, buscamos conceitos sobre obras raras e o estabelecimento de critérios de raridade. Paralelamente, realizamos a análise dos critérios para identificação de obras raras adotados pela Biblioteca Nacional (BN) e por quatro universidades, a saber: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O estabelecimento de novos critérios para a identificação de obras raras e/ou especiais da BIQ poderá servir como proposta para instituições similares na análise e discussão da raridade em seus acervos. Partindo do conhecimento daquilo que é raro é possível tomar providencias necessárias à salvaguarda e difusão documental. O presente estudo pretende ser uma contribuição à memória da área de Química, no contexto da UFRJ. Palavras-chave: Biblioteconomia de Livros Raros. Biblioteca do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ). Critérios de raridade. Obras raras. ABSTRACT The objective of this work is to establish and discuss the criteria for the identification of rare books from the Library of the Institute of Chemistry of the Federal University of Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ). From the bibliographical research, we seek concepts about rare books and the establishment of criteria of rarity. In parallel, we analyze the criteria for the identification of rare works adopted by the National Library (BN) and four universities, namely: Federal University of Minas Gerais (UFMG), Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Fluminense University (UFF) and Federal University of Santa Catarina (UFSC). The establishment of new criteria for the identification of rare and/or special boos of BIQ might serve as a proposal to similar institutions in the analysis and discussion of of rarity in their collections. Based on the knowledge of what is rare is possible to take appropriate measures to safeguard and document dissemination. This study is a contribution to the memory of chemistry in the context of UFRJ. Keywords: Rare Book Librarianship. Library of the Institute of Chemistry of the Federal University of Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ). Criteria of rarity. Rare books.
3 1 Introdução Livros raros se distinguem de outros tipos de livros pois podem conduzir o leitor a um universo encantador, em que o toque, o olfato e a fisicalidade conduzem a experiências únicas. Como documento, um livro raro possui características relevantes que vão além de seu conteúdo, tais como sua produção, encadernação, impressão/impressor, possíveis marcas de propriedade... é aí que se encontram as diferenças entre um livro comum e um livro raro. A Biblioteconomia de Livros Raros nos dá subsídios para que o reconhecimento e o posterior tratamento de livros raros sejam feitos a partir de bases teórico-metodológicas. A partir dessas questões, voltadas à Biblioteca do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ), algumas perguntas moveram este estudo: há critérios específicos para identificação de obras raras da BIQ/UFRJ? Os critérios gerais existentes hoje na literatura são suficientes para o estabelecimento de raridade bibliográfica na coleção da BIQ/UFRJ? Partindo dessas questões, este estudo tem como objetivo principal estabelecer e discutir os critérios para a identificação de obras raras na BIQ/UFRJ. 2 Revisão de Literatura No contexto da raridade, os termos livro e obra muitas vezes se confundem. Houaiss define livro como: [...] coleção de folhas de papel, impressas ou não, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume que se recobre com capa resistente (DICIONÁRIO..., 2004). Já a definição de obra, para Houaiss, é: [...] a produção total de um artista, de um cientista (DICIONÁRIO..., 2004). Neste trabalho, utilizaremos a palavra livro e obra com o mesmo sentido. A palavra raro também significa algo valioso ou precioso; uma obra rara seria uma publicação incomum, difícil de encontrar, e com um valor maior do que os livros tradicionalmente disponíveis (SANT ANNA, 2001). Rubens Borba de Moraes (1998, p. 65) complementa: [...] um livro não é valioso porque é antigo e, provavelmente, raro. Existem milhões de livros antigos que nada valem porque não
4 interessam a ninguém. Toda biblioteca pública está cheia de livros antigos, que, se fossem postos à venda, não valeriam mais que o seu peso como papel velho. O valor de um livro nada tem que ver com a sua idade. A procura é que torna um livro valioso. O livro raro não é só livro velho. Ele possui qualidades que o tornam diferente dos demais. Ele é, normalmente, subutilizado e requer pessoal especializado (ou seja, caro) e sua manutenção na coleção não é barata, seja do ponto de vista da segurança ou de seu tratamento (GAUZ, 2008). A definição do que pode ser uma obra rara não possui uma orientação padronizada, e deve levar em consideração o contexto da própria da instituição. Para Pinheiro (2009, p. 36): Cada livro, mesmo que em dezenas de exemplares, ganha o caráter da unicidade, quando é parte de um todo particular, formado segundo os interesses de leitura de um professor, de um estudioso, de um colecionador. A biblioteca de livros raros no Brasil é múltipla (abrange objetos diferentes), porque é a soma de muitas coleções, assemelhadas e diversas, representativas de opiniões e ideologias, de crenças e descrenças, de verdades e mentiras. Bibliotecas de obras raras, muito embora por décadas estivessem vinculadas ao modelo custodial de formação e de guarda de acervos, tem constituído na contemporaneidade tanto espaços físicos como digitais. 3 Materiais e Métodos Como já mencionado, o objetivo deste estudo é estabelecer e discutir os critérios para a identificação de livros raros da Biblioteca do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BIQ/UFRJ). Para alcançá-los, realizamos a análise panorâmica dos critérios para identificação de obras raras adotadas pela Biblioteca Nacional (BN) e por quatro universidades, a saber: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ideia de analisar os critérios das quatro universidades está no fato destas subsidiarem as ações de suas bibliotecas universitárias que possuem missões semelhantes ao
5 nosso objeto de estudo, em função de sua natureza institucional. Por meio da leitura e da análise dos critérios adotados pelas cinco instituições supracitadas, foram selecionadas elementos que pudessem fundamentar e formatar os critérios para identificação de obras raras da BIQ/UFRJ. 4 Resultados Parciais/Finais De acordo com a proposta deste trabalho, cujo escopo visa pontualmente estabelecer os critérios iniciais para identificar obras raras no contexto da BIQ/UFRJ. 4.1 Critérios gerais direcionados ao acervo raro da BIQ/UFRJ De acordo com a leitura analítica dos critérios estabelecidos pelas instituições BN, UFRJ, UFF, UFMG e UFSC, foram destacados como pertinentes ao contexto do acervo da BIQ/UFRJ os seguintes critérios de raridade: Edições comemorativas em formato de luxo ou personalizadas do Instituto; Edições que tenham a participação dos fundadores da instituição; Edições contendo práticas não usadas mais pela instituição; reações químicas; fórmulas e teorias; Livros de autoria dos fundadores do Instituto ou de professores de projeção. 4.2 Critérios específicos direcionados ao acervo raro da BIQ/UFRJ Todos os impressos da área de Química do século XV, XVI, XVII e XVIII; Primeiras edições de livros da área de Química do século XIX; Todos os impressos que assinala, no Brasil, o início da produção em determinado local na área de Química; Autores brasileiros de projeção nacional e/ou internacional da área de Química; Autores premiados da área; Livros de brasileiros e estrangeiros que contenham experimentos, invenções e descobertas significativas. 4.3 Critérios baseados na característica do exemplar raro da BIQ/UFRJ Exemplares com marcas de propriedade (ex libris, super-libris, marcas de fogo, etc.) de pessoas renomadas; Exemplares com marcas de livreiros, encadernadores, restauradores, etc., renomados ou considerados no mercado livreiro; Exemplares com anotações manuscritas importantes; Exemplares autografados por autores renomados da área. Como resultado de nossa pesquisa, podemos afirmar que os critérios aqui propostos
6 trazem a peculiaridade que envolve o universo da área de Química, além de momentos que marcam a história tanto do Instituto de Química da UFRJ (IQ) quanto da BIQ/UFRJ, seja pelo destaque de algum docente/pesquisador ou mesmo pelo destaque do ponto de vista da produção científica. Com o apoio dos especialistas do Instituto, desenvolvemos e propomos os presentes critérios específicos para o IQ. O empenho na pesquisa aqui elaborada poderá ser percebido pela criação de um produto final, pode-se até dizer, uma nova ferramenta de trabalho, composta por orientações e critérios de raridade que englobam não só as particularidades do IQ da UFRJ e as obras que compõem seu acervo, mas também os critérios de raridade preconizados pela BN. obra. É neste momento que entram em atuação as competências do profissional que avalia a 5 Considerações Parciais/Finais Determinar o que é raro dentro de uma biblioteca é uma ação relevante, pois possibilita o desenvolvimento de pesquisas de naturezas diversas por docentes e discentes, sobretudo no contexto das bibliotecas universitárias. A gestão de coleções raras e especiais, no contexto das instituições universitárias, é diferenciada e precisa ser feita em conjunto: bibliotecários, curadores, especialistas de área e responsáveis pela instituição, para que possa haver sinergia e visão do todo. Do ponto de vista prático, este estudo irá balizar as atividade do Setor de Obras Raras recém-criado na BIQ/UFRJ. Há ainda a necessidade de inserção desses estudos na formação do bibliotecário.
7 6 Referências COMITÊ Técnico de Obras Raras da UFRJ. Critérios de livros raros. Rio de Janeiro: UFRJ, [19--]. Disponível em: < http://biblioteca.forum.ufrj.br/index.php/producao-bibliografica/criterios-livrosraros>. Acesso em: 03 abr. 2014. DICIONÁRIO Eletrônico Houaiss. [S.l.]: Objetiva, 2004. Disponível em: <http://dicionario.cijun.sp.gov.br/houaiss/>. Acesso em: 20 abr. 2014. GAUZ, Valéria. Livros raros e preservação: áreas afins em transição. 2008. Disponível em: <http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=376>. Acesso em: 15 out. 2012.. Considerações sobre o uso do catálogo principal de obras raras na Biblioteca Nacional: subsídios para viabilizar a automação do catálogo principal e otimizar o atendimento ao público local e a outras bibliotecas. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)/Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Rio de Janeiro, 1991. 132 p. MORAES, R.B. O bibliógrafo aprendiz. 3 ed. Brasília: Briquet de Lemos, 1998. 65p. NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO DA UFF. Ordem de serviço n. 02/2000. Rio de Janeiro: UFF, 2000. Disponível em: <http://www.ndc.uff.br/sites/default/files/arquivos/ordemdeservico02_2000.pdf> Acesso em: 03 abr. 2014. PINHEIRO, Ana Virgínia. Livro raro: antecedentes, propósitos e definições. In: SILVA, Helen de Castro; BARROS, Maria Helena T. C. Ciência da Informação: múltiplos diálogos. Marília: Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em:já< http://www.marilia.unesp.br/home/publicacoes/helen_e%20book.pdf>. Acesso em 23 out. 2012.. Que é livro raro? Uma metodologia para o estabelecimento de critérios de raridade bibliográfica. Rio de Janeiro: Presença, 1989. PLANO Nacional de Recuperação de Obras Raras. Critérios de Raridade FBN. Rio de Janeiro: FBN, [19--]. RODRIGUES, Márcia Carvalho. Como definir e identificar obras raras: critérios adotados pela biblioteca central da universidade de Caxias do Sul. Ci. Inf., Brasília, v.35, n.1, p. 115-121, 2006. SANT ANA, Rizio Bruno. Critérios para a definição de obras raras. Revista Online Biblioteca Prof. Joel Martins, Campinas, v. 2, n. 3, p. 1-18, jun. 2001. Biblioteca Prof. Joel Martins, Campinas, v. 2, n. 3, p. 1-18, jun. 2001. SISTEMA de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais. Critérios adotados para seleção de obras raras. Belo Horizonte: UFMG, 1992. Disponível em: <https://www.bu.ufmg.br/boletim/obrasraras/criterios_raridade_divisao_colecoes_especiais.pdf> Acesso em: 03 abr. 2014. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Critérios de seleção. Florianópolis: UFSC, [19--]. Disponível em:<http://www.bu.ufsc.br/design/criteriosselecaoobrasraras.pdf> Acesso em: 03 abr. 2014.