TRATAMENTO DO EFLUENTE DA PRODUÇÃO DO ETANOL VIA PROCESSO DE OXIDAÇÃO AVANÇADA

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS PROCESSOS DE COAGULAÇÃO- FLOCULAÇÃO E ADSORÇÃO NO TRATAMENTO DO EFLUENTE DA PRODUÇÃO DO ETANOL

Titulo do Trabalho APLICAÇÃO DO COAGULANTE TANINO NO TRATAMENTO DA VINHAÇA EM ph NEUTRO

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO COAGULANTE POLICLORETO DE ALUMÍNIO (PAC) NA REMOÇÃO DA COR, TURBIDEZ E DQO DE EFLUENTE DE LAVANDERIA TEXTIL.

XX Encontro Anual de Iniciação Científica EAIC X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

CARACTERIZAÇÃO E TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO DE EFLUENTE DE INDUSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ DA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO COAGULANTE TANINO NA REMOÇÃO DA COR, TURBIDEZ e DQO DO EFLUENTE TEXTIL DE UMA LAVANDERIA INDUSTRIAL.

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO METAIS PESADOS

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido. REMOÇÃO DA DQO DA VINHAÇA UTILIZANDO H 2 O 2 /UV EM DIFERENTES VALORES DE ph

TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERROS SANITÁRIOS URBANOS UTILIZANDO OS PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS COMBINADOS A COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO

INFLUÊNCIA DO ph NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO POR PROCESSO DE STRIPPING DE AMÔNIA.

APLICAÇÃO DO COAGULANTE QUITOSANA NO TRATAMENTO DE CHORUME

APLICAÇÃO DE LUZ UV SOLAR ASSOCIADA COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO NO TRATAMENTO DA VINHAÇA

TÍTULO: DEGRADAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA DO CHORUME DO ATERRO MUNICIPAL DE CONTAGEM ATRAVÉS DO PROCESSO OXIDATIVO AVANÇADO UTILIZANDO REAGENTE DE FENTON

ANÁLISE DOS PROCESSOS FENTON E FOTO-FENTON NO TRATAMENTO DO EFLUENTE DO ATERRO SANITÁRIO DE CACHOEIRA PAULISTA EM RELAÇÃO AO TOC E DQO

Ruiter Lima Morais 1 Yara Vanessa Portuguez Fonseca¹ RESUMO

estas atividades deparam com a presença de amônia nos efluentes industriais e, em conseqüência, nos recursos hídricos. Desta forma, são desenvolvidos

Recuperação de fósforo de efluentes através da precipitação de estruvita MAP

03 - EFLUENTES LÍQUIDOS

Avaliação da Etapa de Tratamento Físico-Químico da Água do Mar com Vistas à Dessalinização Para Uso em Usinas Termoelétricas

SÍNTESE DE CARVÃO ATIVADO FISICAMENTE COM VAPOR DE ÁGUA VISANDO TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS PARA FINS DE REÚSO

ESTUDO PRELIMINAR DE TRATABILIDADE DO LIXIVIADO DO ATERRO SANITÁRIO DE LUANDA, ANGOLA; PROCESSO DE FENTON

REMOÇÃO DE ÁCIDOS HÚMICOS NA ETAPA DE PRÉ-OXIDAÇÃO DO TRATAMENTO DE ÁGUA PARA O CONSUMO HUMANO COM O USO DOS PROCESSOS FENTON E FOTO-FENTON

II-069 TRATAMENTO DAS ÁGUAS ÁCIDAS DE REFINARIA DE PETRÓLEO PELOS PROCESSOS FENTON E FOTO-FENTON COMBINADOS

GABARITO PROVA DE QUALIDADE DA ÁGUA E DO AR SELEÇÃO PPGRHS

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA CODISPOSIÇÃO DE LODO SÉPTICO EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERROS SANITÁRIOS

PROCESSO DE TRATAMENTO

SANITARY LANDFILL LEACHATE TREATMENT BY FENTON OXIDATION

II OZONIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMICILIARES APÓS TRATAMENTO ANAERÓBIO - ESTUDO PRELIMINAR

EFICIÊNCIA NA ADERÊNCIA DOS ORGANISMOS DECOMPOSITORES, EMPREGANDO-SE DIFERENTES MEIOS SUPORTES PLÁSTICOS PARA REMOÇÃO DOS POLUENTES

CQ136 Química Experimental I

TRATAMENTO DO EFLUENTE GERADO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL UTILIZANDO OS PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS FOTO- FENTON- EM LUZ ARTIFICIAL

CHORUME DE ATERRO NÃO É ESGOTO PRECISA DE TRATAMENTO ADEQUADO

TÍTULO: APLICAÇÃO DE PROCESSO FENTON ASSOCIADO A FILTRAÇÃO EM AREIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE INDÚSTRIA ACABADORA DE COURO

TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO DAS ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE UMA INDÚSTRIA DE PAPEL UTILIZANDO-SE A FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO

Avaliação do Potencial e da Capacidade de Desnitrificação em Sistema Pós-D de Tratamento de Esgoto

II PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO ATRAVÉS DE PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS OBJETIVANDO REUSO

II DESCOLORIZAÇÃO DE EFLUENTE DE INDÚSTRIA TÊXTIL UTILIZANDO COAGULANTE NATURAL (MORINGA OLEIFERA E QUITOSANA)

4 Materiais e métodos

6 Metodologia experimental

III ESTUDO DO STRIPPING DE AMÔNIA EM LÍQUIDO PERCOLADO

MF-441.R-1 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DA ALCALINIDADE (MÉTODO TITULOMÉTRICO COM INDICADOR)

Cálculos envolvendo reações

VIABILIDADE TÉCNICA DA REGENERAÇÃO DE COAGULANTE POR VIA ÁCIDA A PARTIR DO LODO DA ETA DE UMA INDÚSTRIA DE CORANTES

Determinação da cor, turbidez, ph, salinidade, condutividade e O 2 dissolvido

II ESTUDO DA BIOREMOÇÃO DO ÍON CIANETO PELA MACRÓFITA EICHHORNIA CRASSIPES

ASSOCIAÇÃO DE TÉCNICAS DE OXIDAÇÃO AVANÇADA VISANDO A DEGRADAÇÃO DE FENÓIS E ABATIMENTO DE DQO EM EFLUENTES INDUSTRIAIS

AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS DE PRECIPITAÇÃO QUÍMICA DE EFLUENTE GALVÂNICO COM HIDRÓXIDO DE CÁLCIO E CARBONATO DE SÓDIO

II-095 LODO RESIDUAL EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO TRATANDO ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMÉSTICAS II LAGOAS FACULTATIVAS PRIMÁRIAS

AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DA ETE DE GOIÂNIA

MF-439.R-1 - MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO DBO.

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO REAGENTE DE FENTON NO TRATAMENTO DO EFLUENTE DE LAVAGEM DE UMA RECICLADORA DE PLÁSTICOS PARA FINS DE REUSO

MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BENFICA COM VISTAS À SUA PRESERVAÇÃO

Tratar os efluentes significa reduzir seu potencial poluidor através de processos físicos, químicos ou biológicos, adaptando-os aos padrões

III ANÁLISE DE REMOÇÃO DE COR E TURBIDEZ EM LIXIVIADO ATRAVÉS DE COAGULAÇÃO COM BIOCAGULANTE A BASE DE MORINGA

II DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA À INCINERAÇÃO NO TRATAMENTO DE MEDICAMENTOS VENCIDOS

II-292 DEGRADAÇÃO DO CORANTE TÊXTIL LUMACRON SE UTILIZANDO H 2 O 2 /UV

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DO PROCESSO DE FOTO-FENTON NA DEGRADAÇAO DE EFLUENTE TÊXTIL

TRATAMENTO DE EFLUENTE DOMÉSTICO DE LODOS ATIVADOS POR MEMBRANA DE ULTRAFILTRAÇÃO

RESÍDUOS SÓLIDOS REMOÇÃO DE COR DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO ATRAVÉS DO PROCESSO UV/H 2 O 2.

P&D na PUC-Rio em Trat. Águas e Efluentes e Possibilidades de Projetos Visando ao Reuso Abril 2008

Poluição Ambiental Matéria Orgânica e Carga Poluidora. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

O estudo de oxidação da amônia foi realizado usando-se solução sintética de 100mg/L de NH 3 obtida a partir de uma solução de NH 4 OH, PA, 33%.

UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS NA DEGRADAÇÃO AERÓBIA DE DESPEJO DE ABATEDOURO DE AVES

APLICAÇÃO DE LUZ UV SOLAR ASSOCIADA COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO NO TRATAMENTO DA VINHAÇA

05/06/2012. Petróleo e Gás Prof. Sabrina

UTILIZAÇÃO DE PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS (POAs) NO TRATAMENTO DE LÍQUIDOS PERCOLADOS PROVENIENTES DO ATERRO SANITÁRIO DE UBERLÂNDIA-MG/BRASIL

13 Sistemas de lodos ativados

Poluição Ambiental Matéria Orgânica e Carga Poluidora. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

Anais do Simpósio de Iniciação Científica FACLEPP UNOESTE 1 RESUMOS DE PROJETOS...2 RESUMOS COM RESULTADOS...5 RESUMOS DE ARTIGOS COMPLETOS...

SOS QUÍMICA - O SITE DO PROFESSOR SAUL SANTANA.

UTILIZAÇÃO DA REAÇÃO FOTO-FENTON PARA REMEDIAÇÃO DE EFLUENTE FENÓLICO EM REATOR PARABÓLICO

II-167 INFLUÊNCIA DA ALCALINIDADE NA PRECIPITAÇÃO DE FLUORETOS COM CÁLCIO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS PROVENIENTES DA FOSCAÇÃO DE VIDRO.

ESTUDO DA REMOÇÃO DA SÍLICA NO PRÉ-TRATAMENTO DE ÁGUAS SALOBRAS

Caracterização físico-química de efluente de indústria de laticínios tratado por sistema de lagoas de estabilização

3ª Série / Vestibular. As equações (I) e (II), acima, representam reações que podem ocorrer na formação do H 2SO 4. É correto afirmar que, na reação:

ESTUDO DA LAMA VERMELHA COMO MEIO DE REAÇÃO FENTON NO TRATAMENTO DE EFLUENTES DA INDÚSTRIA TEXTIL

LISTA DE FIGURAS. Figura 3.8 Gráfico de Kla ( 20)

TRATAMENTO TERCIÁRIO DE ESGOTO SANITÁRIO VISANDO O REÚSO DA ÁGUA

VI-024 ESTUDO DA AÇÃO DO FENTON NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS CONTENDO FORMOL

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

I ESTUDO COMPARATIVO DO USO DA CAL HIDRATADA NA COAGULAÇÃO COM CLORETO FÉRRICO E SULFATO DE ALUMÍNIO EM ÁGUAS NATURAIS DE BAIXA ALCALINIDADE

MF-420.R-3 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE AMÔNIA (MÉTODO DO INDOFENOL).

THUANNE BRAÚLIO HENNIG 1,2*, ARLINDO CRISTIANO FELIPPE 1,2

DISPOSIÇÃO DE CHORUME DE ATERRO SANITÁRIO EM SOLO AGRÍCOLA

MF-431.R-1 - MÉTODO TURBIDIMÉTRICO PARA DETERMINAÇÃO DE SULFATO

Saneamento Ambiental I. Aula 12 Parâmetros de Qualidade de Água - Potabilização

II EFICIÊNCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE FÁBRICA DE PAPEL POR LAGOAS E RESERVATÓRIO DE ESTABILIZAÇÃO

Gerenciamento e Tratamento de Águas Residuárias - GTAR

USO DA MACRÓFITA LEMNA PARA REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA REMANESCENTE DE EFLUENTE TÊXTIL TRATADO POR PROCESSO FISICO-QUÍMICO

REMOÇÃO DE COR E MATÉRIA ORGÂNICA DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO POR MEIO DE TRATAMENTO COM O 3, O 3 /TiO 2 e O 3 /ZnO

Estequiometria. Priscila Milani

Classificação e distribuição dos sólidos em função do tamanho

Tratamento e descarte de Resíduos Químicos dos laboratórios da Unipampa Itaqui

PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS

UMA NOVA SOLUÇÃO PARA O TRATAMENTO DA VINHAÇA RESULTANTE DA PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DO PROCESSAMENTO DA CANA DE AÇÚCAR

APLICAÇÃO DA FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA NO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE LAVAGEM DO BIODIESEL RESUMO

METODOLOGIA EXPERIMENTAL

PRODUÇÃO DE COAGULANTE FÉRRICO A PARTIR DE REJEITOS DA MINERAÇÃO DE CARVÃO. 21/08 24/08 de 2011.

Ficha Informativa n.º 2 Tipos de Reações Químicas

Tratamento alternativo do corpo hídrico do Ribeirão Vai e Vem no município de Ipameri GO contaminado por efluente doméstico.

Transcrição:

TRATAMENTO DO EFLUENTE DA PRODUÇÃO DO ETANOL VIA PROCESSO DE OXIDAÇÃO AVANÇADA Emmely Oliveira da Trindade 1 ; José Soares 2, Hebert Henrique de Souza Lima 3 ; Rênnio Felix de Senna 4 ; José Luiz Francisco Alves 5, 1 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Química emmelyquimica@gmail.com 2 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia Química josesoares@ct.ufpb.br 3 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia Química hebert _itm@hotmail.com 4 Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia Química rennio@ct.ufpb.br 5 Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química zeluiz_alves@hotmail.com RESUMO A vinhaça é o principal efluente das destilarias de álcool, resultando na proporção entre 10 a 15 litros por litro de álcool produzido. É uma água residuária concentrada, com alto poder poluente e alto valor fertilizante. Isto decorre da sua riqueza em matéria orgânica, baixo ph, elevada corrosividade e altos índices de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), além de elevada temperatura na saída dos destiladores. É considerada altamente nociva à fauna, flora, micro fauna e microflora das águas doce. Atualmente a vinhaça é utilizada na fertirrigação da cana de açúcar, porém grandes quantidades de vinhaça podem ter impactos severos no solo e nas águas superficiais e subterrâneas. Como a quantidade de vinhaça produzida é muito grande o solo pode não absorver completamente o efluente, e em tempos de chuva essa vinhaça pode ser arrastada para rios próximos, causando sérios problemas ambientais. Este trabalho teve por objetivo avaliar métodos de oxidação avançada, especificadamente o processo Fenton, no tratamento da vinhaça. O processo Fenton mostra vantagens por ser um processo com uma cinética rápida, e geralmente não necessita de um pós-tratamento. Associado a isto, podemos citar o fato de ocupar um espaço bem menor em comparação com as estações de tratamento biológico convencionais. A vinhaça in natura foi caracterizada e foi avaliada a eficiência deste método em termos de remoção de DQO, DBO, sólidos totais, cor e turbidez. Os resultados experimentais mostraram que o processo Fenton gerou eficiência de remoção superior a 95% para a DQO e 99% para cor e turbidez. Palavras-chave: Tratamento da vinhaça, processo de oxidação avançada, Fenton. 1. INTRODUÇÃO Os efluentes líquidos oriundos de processos agroindustriais são compostos, exclusivamente, por matéria orgânica. Esse material é parcialmente removido através dos processos de coagulação e floculação no tratamento primário de efluentes, e grande parte destes sólidos segue para as estações de tratamento biológico ocasionando sobrecargas e longos tempos de detenção. Nestes processos, a remoção média de matéria orgânica corresponde a 60-65% [TRITT & SCHUSCHARDT, 1992]. A vinhaça é uma água residuária complexa, as concentrações residuais podem atingir valores acima de 100g/L de

matéria orgânica em termos de DQO (Demanda Química de Oxigênio) que é em média 200 vezes mais concentrada que o esgoto doméstico. A vinhaça é constituída de diversos componentes químicos como carbono, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, zinco, cobre e manganês, entre outros. Porém a quantidade de cada um em sua composição varia em função da natureza da matéria prima e operação dos aparelhos de destilação. Quase a metade de toda DQO presente na vinhaça é constituída de matéria orgânica biodegradável. Isso indica o potencial poluidor deste resíduo e uma possibilidade de tratamento para remoção desta parcela de contaminante presente neste efluente. Com o intuito de remover e/ou diminuir as concentrações dos contaminantes presentes na vinhaça, principalmente a carga orgânica, surge a necessidade de se estudar alguns coagulantes que possibilitem a remoção de poluentes a fim de proporcionar alternativas seguras e viáveis de reuso. Para tanto, pode-se citar o processo de oxidação Fenton como processo avançado de tratamento e oxidação de resíduos líquidos. A oxidação avançada é um processo que demonstra grande potencial no tratamento de efluentes contendo compostos tóxicos não biodegradáveis. Através de reações químicas de oxidação pode-se diminuir parâmetros como DQO, DBO, sólidos totais e a intensidade de cor dos efluentes. Os processos oxidativos avançados baseiam-se na formação de radicais hidroxilo (. OH). Estes radicais têm um potencial de oxidação elevado e são capazes de reagir com praticamente todas as classes de compostos orgânicos. Há várias vantagens em relação ao uso dos processos de oxidação avançada, dentre eles podemos citar a sua cinética rápida. Geralmente não é necessario um pós-tratamento, os contaminantes são destruídos quimicamente em vez de sofrerem apenas uma mudança de fase como sucede em processos de adsorção, filtração, etc. Se a extensão da oxidação for suficiente, pode-se até atingir a total mineralização dos compostos orgânicos e obter CO 2, H 2 O e ions inorgânicos. O mecanismo de decomposição do peróxido de hidrogênio é catalisada por óxidos e hidróxidos insolúveis de ferro e tem sido descrito de acordo com as reações 1 a 3 [DANTAS et al., 2005]. A etapa controladora da velocidade da reação seria a reação superficial entre o peróxido de hidrogênio adsorvido e a superfície dos óxidos de ferro. Fe(III) + H 2 O 2 Fe(III)H 2 O 2 [1] Fe(III)H 2 O 2 Fe(II) + HO 2 + H + [2] Fe(II) + H 2 O 2 Fe(III) + OH + OH [3] O sítio de reação ( Fe(III)) representado na Equação 1 é regenerado através da Equação 3, sendo que a adsorção do peróxido de hidrogênio, Equação 1, seria muito mais rápida que as demais reações. Isto significa que a aplicabilidade de um processo oxidativo Fenton seja limitada pela atividade catalítica da fase ativa para decompor H 2 O 2 em radicais livres HO e HO 2. Os radicais HO formados, Equação 3, podem oxidar espécies orgânicas dissolvidas, Equação 4 ou reagir em fase líquida com H 2 O 2 para formar radicais HO 2 que reagem lentamente com espécies orgânicas dissolvidas, Equação 6. HO + espécies orgânicas produtos [4] HO + H 2 O 2 HO 2 + H 2 O [5] HO 2 + espécies orgânicas produtos [6] O reagente de Fenton pode ter diferentes funções de tratamento dependendo da relação H 2 O 2 /Fe 2+. Quando a quantidade de Fe 2+ é maior que a de H 2 O 2, o tratamento tende a apresentar um efeito de coagulação

química. Já quando a quantidade de H 2 O 2 excede a quantidade de Fe 2+ o tratamento tem efeito de oxidação química [NEYENS & BAYENS, 2003]. A definição da faixa de dosagem de reagentes varia de acordo com o tipo de efluente. A faixa típica de relação H 2 O 2 /Fe 2+ é de 5:1 a 25:1 em massa [ALVES, 2004]. 2. METODOLOGIA A vinhaça utilizada foi adquirida em uma usina de açúcar e álcool. Após a coleta foi encaminhado ao laboratório, onde foram realizados os procedimentos. A vinhaça foi armazenada e mantida sob refrigeração à -4 0 C. As amostras de vinhaça coletadas foram analisadas e os parâmetros físico-químicos foram determinados com o standard Methods for the examination of Water and Wastewater [APHA,1995]. 2.1 Processo de Oxidação Fenton O processo Fenton é dividido basicamente em duas etapas: oxidação e precipitação/neutralização, como descrito na Figura 1. Figura 1 - Etapas do processo de oxidação Fenton. Procedimento: Utilizando 500 ml de vinhaça sob agitação foi adicionado solução de sulfato ferroso, e de peróxido de hidrogênio a 30% e algumas gotas de ácido clorídrico para ajustar o ph entre 3-4. Após 60 minutos de reação foi adicionado solução de tiossulfato de sódio 1M e solução de hidróxido de sódio até alcançar o ph 7. Foi deixado em repouso para precipitação da matéria orgânica. Em todos os experimentos foi mantida a temperatura ambiente. Após a precipitação foi filtrado e enviado para análise. Pensando em meios mais econômicos para o processo Fenton, também foi realizado a neutralização da mistura com óxido de cálcio (CaO) até atingir o ph 7, em vez da utilização de tiossulfato de sódio (Na 2 S 2 O 3 ) e hidróxido de sódio (NaOH); onde os resultados foram visualmente semelhantes. Como a proporção H 2 O 2 /Fe 2+ varia de acordo com o tipo de efluente, foi realizado vários testes até encontrar a melhor quantidade de ferro a se utilizar. Fixando a quantidade de ferro, foram feitos testes variando a quantidade de peróxido de hidrogênio. Procedimento: em dois beckers foram adicionados 200 ml de vinhaça,e sob agitação foi adicionado em cada becker a mesma quantidade de solução de sulfato ferroso. Em seguida no becker1 foi adicionado 35 ml de peróxido de hidrogênio a 30 % e no becker 2 foi adicionado 30 ml de peróxido de hidrogênio 30 %. Após, foi adicionado algumas gotas de solução ácido clorídrico para ajustar o ph entre 3-4 e foram retiradas amostras de 10 ml em 30 min, 60 min e 120 min de Em cada amostra a reação foi parada adicionando solução de tiossulfato de sódio e solução de hidróxido de sódio até alcançar o ph 7. Em seguida foi deixado em repouso para precipitação da matéria orgânica. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização da Vinhaça Os parâmetros físico-químicos foram determinados de acordo com o STANDARD METHODS [APHA,1995]. Os parâmetros utilizados foram: ph, SST,

DQO, DBO, COT e turbidez. Os valores estão descritos na Tabela 1. Tabela 1- da vinhaça in natura. Vinhaça Bruta Coleta 1 Coleta 2 ph 4,34 4,40 Sólidos totais (mg.l -1 ) 23.260 25.579 Turbidez (NTU) >3000 >5000 Figura 2 PASTEL UV-70MP0316. DQO (mg/l) 46752 48698 COT (mg.l -1 ) 24218 31000 DBO(mg.L -1 ) >21000 >24000 Observando os resultados apresentados na tabela acima pode-se perceber o alto teor de matéria orgânica presente neste efluente, o que evidencia a importância de um tratamento que seja eficaz para a remoção da matéria orgânica, com o intuito de fazer o reuso desta água. Figura 3- Vinhaça antes e depois do processo Fenton. 3.2 Processo Fenton Para realizar as análises do processo Fenton foi utilizado o PASTEL UV-70MP0316 da SECOMAM que é mostrado na Figura 2 e também o turbidímetro. Os parâmetros utilizados foram sólidos suspensos totais (SST), Demanda Química de Oxigênio (DQO), Demanda Biológica de Oxigênio (DBO), Carbono Orgânico Total (COT), turbidez e ph. A Figura 3 apresenta a vinhaça bruta, antes do processo Fenton e a vinhaça após o processo Fenton e precipitação da matéria orgânica. Na Figura 4 temos uma amostra do processo Fenton neutralizado com CaO e Na 2 S 2 O 3.. Figura 4 O primeiro tubo mostra o processo Fenton neutralizado com Na 2 S 2 O 3 e NaOH e o segundo mostra o processo Fenton neutralizado com CaO. A Tabela 2 apresenta os resultados do processo Fenton neutralizado com CaO e do processo neutralizado com Na 2 S 2 O 3.

Tabela 2- Resultados das análises do processo Fenton neutralizado com CaO e Na 2 S 2 O 3. Processo Fenton com CaO Na tabela 3 temos os percentuais de remoção do processo Fenton neutralizado com CaO. Tabela 3 Percentual de remoção do processo Fenton neutralizado com CaO. Parâmetro % de Remoção TSS (mg.l -1 ) 100%* Turbidez (NTU) 100%* DQO (mg/l) 97% TOC (mg.l -1 ) 99% DBO (mg.l -1 ) 98% * Aproximadamente 100% Na tabela 4 temos os percentuais de remoção do processo Fenton neutralizado com Na 2 S 2 O 3. Tabela 4 - Percentual de remoção do processo Fenton neutralizado com Na 2 S 2 O 3. Parâmetro % de Remoção TSS (mg.l -1 ) 100%* Turbidez (NTU) 100%* DQO (mg/l) 96% TOC (mg.l -1 ) 98% DBO (mg.l -1 ) 97% * Aproximadamente 100% Processo Fenton com Na 2 S 2 O 3 DQO 1110 1440 DBO 355 525 COT 234 345 Turbidez 23 4,77 3.3 Processo Fenton variando a quantidade de peróxido de hidrogênio Como a proporção H 2 O 2 /Fe 2+ varia de acordo com o tipo de efluente, foram realizados vários testes até encontrar a melhor quantidade de Ferro a se utilizar. Fixando a quantidade de ferro variou-se a quantidade de peroxido de hidrogênio, e retirou-se alíquotas no intervalo de 30 minutos de A Figura 5 apresenta as amostras 1 e 2 com 30 minutos de reação, em seguida são apresentadas as amostras 1 e 2 com 1 hora de reação e por fim as amostras 1 e 2 com 1 hora e 30 minutos de Figura 5 - Amostras 1 e 2 com 30 minutos de reação, com 1h de reação e com 1:30h de A Tabela 5 mostra os resultados das análises das amostras com 30 minutos de reação, na Tabela 6 temos os resultados das análises com 1 hora de reação e na Tabela 7 com 1h e 30 minutos de Os seguintes parâmetros foram utilizados: ph, sólidos suspensos totais (SST), Demanda Química de Oxigênio(DQO), Demanda Biológica de Oxigênio (DBO), carbono orgânico total (COT) e turbidez.

Tabela 5 - Análise das amostras 1 e 2 após o processo Fenton 30min de Amostra 1, com 30min de Amostra 2, com 30min de DQO 2800 2650 DBO 1180 1150 COT 830 795 Turbidez 16 14,5 Tabela 6- Análise das amostras 1 e 2 após o processo Fenton 1h de Amostra 1, com 1h de Amostra 2, com 1h de DQO 2600 2550 DBO 1130 1110 COT 790 770 Turbidez 10,3 7,3 Tabela 7- Análise das amostras 1 e 2 após o processo Fenton 1:30h de Amostra 1, com 1:30h de Amostra 2, com 1:30h de DQO 2560 2510 DBO 1100 1050 COT 780 750 Turbidez 7 6,4 Pode-se observar que não há diferenças significativas com a variação de peróxido utilizada, embora em todos os resultados as amostras com menor quantidade de peróxido (amostra 2) apresentaram os menores resultados. Outros experimentos foram realizados até encontrar a melhor proporção, para que não haja excesso de ferro, e para se conseguir uma melhor redução dos parâmetros. Segundo [NEYENS & BAYENS 2003], quando a quantidade de Fe 2+ excede a de H 2 O 2 o tratamento tende a apresentar um efeito de coagulação química. Já com a relação H 2 O 2 /Fe 2+ é alta o tratamento tem efeito de oxidação química, que é o que se pretende neste trabalho. Com relação ao tempo de reação, ele dependerá de variáveis como temperatura e dosagem de reagentes. Como as quantidades foram próximas, pode-se observar que não há uma remoção significativa com as variações. Nas reações anteriores deixou-se a reação ocorrer por 1 hora, e houve bons resultados. Neste processo tirou-se os pontos de 30 em 30 minutos para observar o melhor tempo de reação e se haveria uma diferença significativa nos resultados. 4. CONCLUSÕES O uso de processos oxidativos avançados no tratamento da vinhaça apresenta uma grande eficiência na remoção de matéria orgânica presente neste efluente. O processo Fenton apresentou uma remoção maior do que 90%. É um processo com uma cinética rápida. Associado a isto, podemos citar o fato de ocupar um espaço bem menor em comparação com as estações de tratamento biológico convencionais. Pode ser citado como uma desvantagem o parâmetro ph, pois para cada processo existe um ph ótimo. Por exemplo, no processo Fenton deve-se manter o ph sempre abaixo de 3, para evitar a formação de Fe 3+. 5. AGRADECIMENTOS Ao Laboratório de Carvão Ativado- LCA/UFPB, UFPB e CNPq. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TRITT, W.P.; SCHUCHARDT, F. Materials flow and possibilities of treating liquids and solids wastes from slaughterhouses in

Germany. A Review. Bioresource Technology, 41 p. 235-245, 1992. DANTAS, T.L.P. Decomposição de peróxido de hidrogênio em um catalisador híbrido e oxidação avançada de efluente têxtil por reagente Fenton modificado. Dissertação de Mestrado, UFSC, 2005. APHA, Standard methods for the examination of water and wastewater, 19 th edition, Publication of the American Public Health Association, Washington APHA, AWWA, WEF, 1995. NEYENS, E.; BAEYENS, J. A Review of Classic Fenton s Peroxidation as an Advanced Oxidation Technique. Journal of Harzadous Materials, 28, 33-50, 2003. ALVES, J.F. Aplicação do Reagente de Fenton no tratamento de líquidos lixiviados de Aterros Sanitários. Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Universidade Federal de Minas Gerais, 2004. BULL R.A.; ZEFF, J. D. Hydrogen Peroxide in Advanced Oxidation Process for Treatment of Industrial Process and Contaminated Groundwater. In: ECKENFELDER, W. W.; BOWERS, A. R.; ROTH, J. A. Chemical Oxidation: Technologies for the Nineties. Lancaster: Technomic, p. 26-36. 1991.