ALÇAMENTO DA VOGAL PRETÔNICA /e/ NA FALA DOS HABITANTES DE COROMANDEL-MG E MONTE CARMELO-MG

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ALÇAMNTO DA VOGAL PRTÔNICA /e/ NA FALA DOS HABITANTS D COROMANDL-MG MONT CARMLO-MG TH RAISING OF PR-STRSSD VOWL // IN TH SPCH OF COROMANDL-MG AND MONT CARMLO-MG S INHABITANTS Fernanda Alvarenga RZND * José Sueli de MAGALHÃS ** Resumo: O objetivo desse artigo é apresentar a análise feita sobre o sistema vocálico pretônico nos municípios de Coromandel e Monte Carmelo, com destaque aos processos fonológicos que ocorrem com a vogal média-alta /e/ na posição pretônica, tais como: a elevação, a harmonização, a redução vocálica e a neutralização. Desse modo, utilizamos a fala espontânea dos habitantes de Coromandel e Monte Carmelo, duas cidades do Alto Paranaíba, região que faz parte do Triângulo Mineiro, no estado de Minas Gerais. Palavras-chave: Processos fonológicos; vogais pretônicas; elevação. Abstract: The aim of this paper is to showing the analisis done about the prestressed vowel system in the cities of Coromandel and Monte Carmelo. The phonologic processes that occur with mid front vowel /e/ in the pre-stressed position, such as raising, harmony, reduction and neutralization. In this way, we use the spontaneous speech of Coromandel and Monte Carmelo s inhabitants, two cities located in Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro - Minas Gerais. Keywords: Phonologic processes; prestressed vowels; raising Introdução Os estudos de Câmara Jr. (1970) sobre o sistema vocálico do Português Brasileiro (PB), mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro, contribuíram bastante para mostrar que a língua oral não é tão simples quanto parece no que se refere ao uso das cinco vogais latinas a, e, i, o, u na escrita. Segundo o autor, na verdade, existem sete vogais distribuídas em muitos alofones, que são as variantes de um fonema. ntão, alémdas * Mestranda em studos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia. Contatos: fernanda.1608@yahoo.com.br. ** Professor do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. Contato: mgsjose@gmail.com. 57

cinco vogais já mencionadas, na posição tônica existem também: /é/ (de va) e /ó/ (de tijolos). Câmara Jr. (1970) as classifica da seguinte forma: Quadro das vogais do PB, segundo Câmara Jr. (1970). Vogal Anterior Central Posterior Alta /i/ /u/ Média- alta /e/ /o/ Média- baixa /é/ /ó/ Baixa /a/ No entanto, se na posição tônica, são sete as vogais utilizadas, nas posições pretônica e átona final ocorre uma redução no sistema vocálico. Na posição pretônica, com a redução das vogais médias baixas (/é/ e /ó/), as vogais passam a cinco (/i/; /e/; /a/; /o/; /u/). Mas é na posição de sílaba átona final que ocorre a maior redução das vogais, restando apenas três (/i/; /a/; /u/), visto que as vogais médias-altas (/e/ e /o/) cedem seu lugar às vogais altas (/i/ e /u/). O que ocorreu com as vogais na posição pretônica foi um processo fonológico denominado neutralização, que é a perda da capacidade distintiva entre dois fonemas num determinado contexto. Além desse processo, existe outro conhecido como redução vocálica, que ocorre no sistema vocálico do português com as vogais na posição átona final. Desse modo, conforme vimos, na posição átona, as vogais no português sofrem uma drástica redução, passando de sete na posição tônica para apenas três na posição átona final (/i/; /a/; /u/). Por isso, temos, por exemplo: surd[u]-mud[u] para surdo-mudo e pent[i] para pente. Quanto à neutralização, para Câmara Jr. (1970, p.43), ela ocorre quando: [...] mais de uma oposição desaparece ou se suprime, ficando para cada uma um fonema em vez de dois. Assim, um bom exemplo desse processo são as vogais médias (/e/; /é/; /o/; /ó/), uma vez que na posição pretônica /é/ e /ó/ não se realizam mais, restando apenas /e/ e /o/ para essa posição. Além disso, para Câmara Jr. (1970), a neutralização considera um falar padrão do Português Brasileiro, não levando em conta realizações regionais ou dialetais, como ocorre com os falares nordestinos. 58

ntretanto, é importante ressaltar que a não realização das vogais médias-baixas na posição pretônica não implica o seu desaparecimento do dialeto do Português Brasileiro. Isso porque, segundo Callou; Moraes e Leite (1996), a neutralização entre as vogais médias-altas e as médiasbaixas é um dos fatores que diferenciam não só os falares brasileiros, mas também o português do Brasil do português de Portugal. As autoras destacam ainda o fato de que os falantes do Norte do Brasil optam pela realização aberta das vogais, enquanto que os falantes do Sul as realizam como fechadas. Por isso, podemos encontrar palavras como b/é/leza e b/e/leza; c/ó/ruja e c/o/ruja, sem que essas duas formas prejudiquem a compreensão dos vocábulos. Já Collischonn (2006) entende a realização da vogal média baixa na posição pretônica como um processo de abaixamento da vogal, ou seja, nos dialetos do Norte o traço de altura da vogal é abaixado (/e/ [é]); /o/ [ó]). Contudo, embora a autora considere que os estudos acerca do abaixamento da vogal pretônica nos falares das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil são insuficientes, ela afirma que a elevação das vogais médias é um assunto que vem sendo bem desenvolvido em diversas regiões do país. Para Viegas (1987), a variação das vogais na posição pretônica é um processo originado do latim e na literatura é visto como uma das características que diferem o português brasileiro do português europeu. Desse modo, Labov (1972) argumenta que a variação deve ser verificada através do estudo dos ambientes favorecedores e desfavorecedores e que esse estudo leva a regras variáveis. Assim, é possível dizer algo em um mesmo contexto de maneiras diferentes. Segundo esse raciocínio, em seus estudos sobre o dialeto mineiro, Viegas (1987) observou que a elevação do traço de altura das vogais médias pretônicas é um fenômeno variável, isto é, algumas vezes tem-se a vogal média e outras vezes tem-se a vogal alta, como em: meninge ; comício ; minino ; cumida. Diante disso, Viegas (1987) verificou que os contextos de alçamento de /e/ e de /o/ são diferentes. Por isso, a autora analisou tanto as variantes estruturais (regras), como as não-estruturais (estilos de fala, por exemplo) que favorecem a elevação de cada vogal, separando a vogal média posterior (/o/) da vogal média anterior (/e/). Com relação ao alçamento vocálico, muitos estudos apontam que a variação /e/ [i] é um processo que eleva a vogal média na 59

posição pretônica, devido à presença de uma vogal alta na sílaba tônica, por exemplo, m[i]nino por menino. É o que Bisol (1981) denomina de harmonização vocálica. De acordo com a autora, esse processo ocorre porque as vogais médias na posição pretônica assimilam o traço [+alto] da vogal alta da sílaba seguinte. ntão, a harmonização vocálica pode ser entendida como um processo em que o traço da vogal alta tônica /i/ se estende até a vogal média da pretônica /e/ em formas como: bebida, ferida, feliz, apelido, fazendo com que essas palavras tenham outra forma possível: b[i]bida, f[i]rida, f[i]liz e ap[i]lido, respectivamente. Collischonn (2006) verificou ainda que a harmonia pode atingir mais de uma vogal, como ocorre em mexerico>mex[i]rico>m[i]x[i]rico. No entanto, esse processo não ultrapassa uma fronteira de palavra; logo, não atinge nenhuma vogal que esteja em outros vocábulos. (2) Bloqueio do alçamento vocálico Semi-intensivo *s[i]mi-intensivo. Nesse caso, a vogal /e/ não alça por não estar na mesma palavra que a vogal tônica alta /i/. Dedo-duro *d[i]do-duro. Assim como ocorreu com semi-intensivo, a elevação aqui não acontece pelo fato de a vogal tônica alta estar em outro vocábulo. (3) Alçamento vocálico Queria qu[i]ria. Nesse caso, a elevação de /e/ [i] ocorre porque tanto a vogal média pretônica quanto a vogal alta tônica estão na mesma palavra e, como a vogal tônica é alta, há tendência à harmonização vocálica. Até o presente momento, entendeu-se o alçamento da vogal média pretônica por meio da harmonia vocálica, porém, existem casos em que a elevação ocorre sem a presença de uma vogal alta na sílaba tônica, como em: [i]stava por estava. m meio a isso, Viegas (1987) percebeu que com relação ao alçamento, além da harmonia vocálica, havia uma segunda proposta de regra: o enfraquecimento da vogal por assimilação dos traços consonantais adjacentes. Assim, depois de analisar o dialeto de Belo Horizonte, a autora concluiu que a harmonia vocálica é o principal fator que favorece a elevação da vogal /e/ na posição pretônica. Isso porque na maioria das 60

vezes o alçamento ocorreu devido à presença de uma vogal alta na sílaba tônica, como em: m[i]ntira ; c[u]mida. Collischonn (2006) também concluiu que a vogal tônica alta contribui bastante para o alçamento da vogal média pretônica, mas a autora ressalta ainda que há outros fatores de menor importância que favorecem a elevação. É o caso das consoantes fricativas (/s/; /z/) que colaboram para o alçamento de /e/. Bisol (1981) também obtém esses resultados ao estudar o dialeto do Rio Grande do Sul. Segundo a autora, a elevação de /e/ [i] é favorecida por uma consoante nasal precedente, uma velar precedente ou seguinte e por uma consoante palatal seguinte. 1. Contexto da Pesquisa e Metodologia ste trabalho foi dividido da seguinte forma: primeiramente, realizamos a leitura de textos sobre o sistema fonológico do Português Brasileiro, em especial àqueles que tratam do sistema vocálico. nfocamos, nessas leituras, especialmente os processos fonológicos envolvendo as vogais pretônicas, são eles: a redução vocálica, a neutralização e o alçamento. Feito isso, partimos para a coleta dos dados nos municípios mineiros de Coromandel e Monte Carmelo. De posse desses dados, eles foram transcritos e codificados, para, posteriormente, serem analisados com a ajuda do programa estatístico GOLDVARB 2003. Por fim, depois de concluídas todas essas etapas, os resultados foram interpretados. 1.1. Coleta dos dados Para a obtenção dos dados dessa pesquisa foram entrevistadas dezoito pessoas, sendo nove homens e nove mulheres, moradores das cidades de Coromandel-MG, que conta com uma área de aproximadamente 3.296 km² e uma população estimada em 28.296 habitantes, está a 477 km de Belo Horizonte e a 170 km de Uberlândia; e Monte Carmelo-MG, cuja área corresponde a 1.354 km² e conta com aproximadamente 45.975 habitantes, está a 486 km de Belo Horizonte e a 120 km de Uberlândia. A coleta de dados realizou-se em duas etapas. A primeira ocorreu no período de junho a setembro de 2008 e a segunda, em janeiro de 2009. Devido ao aumento no tempo das entrevistas, que passaram de 61

dez minutos para meia hora, as entrevistas com os informantes de Monte Carmelo precisaram ser refeitas, por isso, houve uma segunda etapa. Como as entrevistas foram gravadas, para chegarmos ao vernáculo, que é o estilo de fala ao qual o falante não dá atenção ao modo como as palavras são pronunciadas, - de acordo com Labov (1972) ou Labov, na compreensão de Tarallo (1994) -, utilizamos um roteiro de perguntas, com o objetivo de desinibir o entrevistado para que ele não se preocupasse com a sua maneira de se expressar, mas apenas com o conteúdo de sua fala. Conforme Tarallo (1994), o roteiro de perguntas deve levar o informante a narrar experiências pessoais, quando ele estará envolvido emocionalmente com o assunto e não se preocupará com a forma que fala. Desse modo, o nosso roteiro continha setenta e três perguntas sobre os mais diversos assuntos, como: infância, tempo de escola, atividades profissionais, lazer, entre outros, que são temas relacionados à cidade e ao dia-a-dia do entrevistado. 2. Seleção das variáveis 2.1. Variável dependente A variável dependente é o fenômeno a ser estudado, uma vez que ele depende de determinados fatores, que são as variáveis linguísticas e extralinguísticas. Nesse caso, a variável dependente é a vogal média-alta /e/ na posição pretônica. Para a vogal pretônica /e/, há três variantes: (1) para a realização de /e/: (al/e/gria); (2) para a realização de /é/: (al/é/gria); e (3) para a realização de /i/: (al/i/gria). 2.2. Variáveis independentes ssas variáveis representam os fatores que favorecem ou desfavorecem a ocorrência da variável dependente. Desse modo, determinamos onze variáveis independentes, em que oito são linguísticas e três extralinguísticas. 2.2.1. Variáveis linguísticas 2.2.1.1. Contexto precedente Por meio dessa variável, pretende-se identificar se uma consoante (menino), uma vogal (poesia) ou uma pausa (#estava) favorecem ou desfavorecem o alçamento de /e/ [i]. 62

Além disso, o contexto precedente leva em consideração o modo de articulação e o ponto de articulação do segmento que antecede a vogal alçada. Quanto ao modo de articulação, os segmentos precedentes foram divididos em: nasais (menino), oclusivos (pequeno), fricativos (vestido), lateral (leão), vibrante (precisa), africada (demais), pausa (#estava), tepe (Aparecida), vogal alta (científica), vogal média-alta (reeleito), vogal média-baixa ( réeleita ). Quanto ao ponto de articulação, os segmentos precedentes foram assim divididos: velares (queria), alveolar (domingo), labiais (pequeno), palatal (demais), lábio-dentais (vestido), pós-alveolar (José), pausa (#estava), vogal alta (maioria), vogal média-alta (reeleito), vogal média-baixa ( réeleita ). 2.2.1.2. Contexto seguinte Assim como ocorreu com o contexto precedente, por meio dessa variável pretende-se verificar se uma consoante (então) ou uma vogal (teatro) influenciam ou não o alçamento de /e/ [i]. Quanto ao modo de articulação, os segmentos seguintes foram divididos em: nasal (emprego), oclusivos (pequeno), fricativos (prefiro), lateral (melhora), tepe (queria), africados (acredito), vogal baixa (cadeado), vogal alta (veículo), vogal média-alta (candeeira), vogal média-baixa (coreógrafa). Quanto ao ponto de articulação, os segmentos seguintes foram assim divididos: velar (serviço), alveolares (dezesseis), labial (debaixo), palatal (nenhum), lábio-dentais (prefiro), pós-alveolar (Alexandre), vogal baixa (passear), vogal alta (veículo), vogal médiaalta (candeeira), vogal média-baixa (coreógrafa). 2.2.1.3. specificação da vogal tônica Conforme Bisol (1981), as vogais [i] e [u] em posição tônica influenciam o alçamento da pretônica. Desse modo, por meio dessa variável pretende-se verificar se apenas as vogais altas atuam na elevação das vogais pretônicas ou se as demais também exercem alguma influência sobre o alçamento. Por isso, as vogais foram divididas quanto à altura (altas /i/, /u/; médias-altas /e/, /o/; médias-baixas /é/, /ó/ e baixa /a/), quanto a posição (anteriores /é/, /e/, /i/; central /a/ e posteriores /ó/, /o/, /u/) e quanto a nasalidade (orais e nasais). 63

2.2.1.4. Distância da sílaba tônica Conforme Viana (2008), com essa variável pretende-se verificar se a quantidade de sílabas que há entre a sílaba pretônica e a tônica favorece ou não a elevação da vogal pretônica /e/. Assim, estabelecemos quatro distâncias entre a vogal tônica e a vogal pretônica: distância zero (estuda); distância de uma sílaba (expressar); distância de duas sílabas (precisaria) e distância de mais de duas sílabas (escandalosamente). 2.2.1.5. Distância do início da palavra O objetivo dessa variável é identificar se o número de sílabas que existe entre a sílaba pretônica e o início da palavra exercem ou não alguma influência sobre o alçamento da vogal pretônica /e/. Nesse caso, também estabelecemos quatro distâncias: distância zero (#menino; #está); distância de uma sílaba (sobrecarregada); distância de duas sílabas (independente) e distância de mais de duas sílabas (sorridentemente). 2.2.1.6. Tipo de sílaba Por meio dessa variável pretende-se verificar qual tipo de sílaba mais influencia o alçamento da vogal /e/ na posição pretônica ou se ambos o fazem. Para isso, dividimos as sílabas em três tipos: a sílaba aberta (formada por consoante-vogal), exemplo: futebol; a sílaba fechada travada por consoante e a sílaba fechada travada por nasal, exemplos: resposta; mensagem, respectivamente. 2.2.1.7. Quantidade de sílabas da palavra Com essa variável pretende-se identificar se a quantidade de sílabas da palavra é um fator que contribui ou inibe a elevação da vogal pretônica /e/. Desse modo, estabelecemos quatro índices quantitativos: palavras com duas sílabas (estou); palavras com três sílabas (ensino); palavras com quatro sílabas (descrédito) e palavras com mais de quatro sílabas (Aparecida). 2.2.1.8. Classe da palavra Como optamos por analisar quase todos os dados - com exceção dos ditongos - em que havia a vogal pretônica /e/, com essa variável pretendemos verificar se a classe da palavra colabora ou não para que o alçamento aconteça. Por isso, dividimos as palavras em quatro tipos de 64

classes: substantivos (futebol); verbos (ensinar); adjetivos/advérbios (perigoso/ demais) e outras classes gramaticais (nenhum). ssa última engloba pronomes, conjunções e numerais. 2.2.2. Variáveis extralinguísticas As variáveis extralinguísticas estudadas foram as seguintes: ¾ Sexo: Masculino; Feminino. ¾ Faixa etária: ntre 15 e 25 anos de idade; ntre 26 e 49 anos de idade; Com 50 anos ou mais de idade. ¾scolaridade: ntre 0 e 8 anos de estudo (ensino primário e fundamental); ntre 9 e 11 anos de estudo (ensino médio); ntre 12 anos ou mais de estudo (ensino superior). 3. Resultado da análise A seguir apresentaremos os resultados das variáveis selecionadas pelo GOLDVARB 2003. 3.1. Análise de /e/ m nossa análise, foram obtidos 5947 dados da vogal /e/ na posição pretônica. Desses, 2067 apresentaram o alçamento da vogal nessa posição. Assim, após rodarmos os dados de /e/ no GOLDVARB 2003, o programa selecionou doze variáveis significativas, sendo onze variáveis linguísticas e uma extralinguística. De acordo com o programa, as variáveis foram selecionadas na seguinte ordem: especificação do contexto precedente (modo de articulação); vogal tônica (altura); tipo de sílaba; quantidade de sílabas da palavra; especificação do contexto precedente (ponto de articulação); classe da palavra; idade; vogal tônica (nasalidade); especificação do contexto seguinte (ponto de articulação); especificação do contexto seguinte (modo de articulação); distância do início da palavra; distância da sílaba tônica. 65

3.1.1. Variáveis linguísticas selecionadas pelo GOLDVARB 2003 TABLA 1 - specificação do contexto precedente: modo de articulação Contexto precedente (modo) e Ocorrência % Peso relativo pausa (#ensino) 1430/1689 85 0.89 fricativa (vestido) 259/1431 18 0.52 oclusiva (pequeno) 160/1639 10 0.15 nasal (menino) 98/476 20 0.10 vibrante (precisa) 107/438 24 0.62 vogal média-alta (reeleito) 4/12 33 0.84 lateral (leão) 5/190 3 0.21 tepe (Aparecida) 3/64 5 0.63 vogal alta (científica) 1/8 12 0.14 Ao analisar a tabela 1, devido ao alto número de ocorrências e com peso relativo de 0.89, notamos a supremacia do contexto pausa para o alçamento da vogal pretônica /e/. Como afirmaram Bisol (1981) e Schwindt (2002), nos casos em que a vogal /e/ é seguida pelos segmentos /n/ ou /s/, como em ensina e estuda, a elevação da pretônica é quase categórica, ou seja, dificilmente não ocorrerá. m segundo lugar, aparece o contexto vogal média-alta (/e/; /o/), com peso relativo de 0.84. Os contextos mais desfavorecedores para a elevação foram as laterais (/l/; /lh/), as oclusivas (/p/; /b/; /t/; /d/; /k/; /g/) e as vogais altas (/i/; /u/), conforme Viegas (1987) já tinha observado em seus estudos sobre o falar dos habitantes de Belo Horizonte. 66

TABLA 2 - specificação do contexto precedente: ponto de articulação Contexto precedente (ponto) Ocorrência % Peso Relativo pausa (#ensino) 1430/1689 85 0.63 alveolar (interesse) 370/2024 18 0.33 labial (pequeno) 166/1211 14 0.78 pós-alveolar (Jesus) 1/115 1 0.04 Lábio-dental (vestido) 26/386 7 0.14 velar (resposta) 55/448 12 0.38 vogal média-alta (reeleito) 4/12 33 0.56 palatal (demais) 14/54 26 0.95 vogal alta (científica) 1/8 12 0.39 De acordo com o ponto de articulação do contexto precedente, conforme vimos na tabela 1, na tabela acima percebemos como o contexto pausa influencia o alçamento da vogal pretônica /e/, com 0.63 para o peso relativo. Por sua vez, se observarmos o índice de 0.95 que obtiveram as consoantes palatais (/dz/ 1 ; /ts/ 2 ; /lh/; /nh/), podemos notar que esse é o fator que mais favorece a elevação de /e/, como concluiu Bisol (1981). Os contextos consoantes lábio-dentais (/f/; /v/), velares (/k/; /g/; /R/ 3 ), alveolares (/t/; /d/; /n/; /r/ 4 ; tepe 5 ; /s/; /z/; /l/) e vogais altas (/i/; /u/) precedentes podem ser vistos como inibidores da elevação de /e/, uma vez que o número de dados que tiveram essa vogal alçada na posição pretônica foi bem pequeno. Sobre os contextos vogal alta e consoante velar, acreditávamos que por terem uma articulação alta, poderiam favorecer o alçamento de 1 dz/ de /d/emais, por exemplo. 2 /ts/ de /t/eatro. 3 /R/ de /R/ezar. 4 /r/ é a vibrante, como em p/r/efiro. 5 tepe: é o /r/ entre vogais, como em que/r/ia. 67

/e/ [i], o que não ocorreu. Todavia, com peso relativo de apenas 0.04, as consoantes pós-alveolares (/ch/; /j 6 /) precedentes foram consideradas pelo GOLDVARB 2003 as maiores inibidoras do alçamento de /e/ na posição pretônica. Quanto ao contexto consoantes labiais (/p/; /b/; /m/), não chegamos à mesma conclusão que Bisol (1981). Isso porque, em nossa pesquisa, verificamos que apesar de a labialidade não ser um traço comum às labiais e à vogal anterior, essas consoantes contribuem para a elevação de /e/ para [i]. TABLA 3 - specificação do contexto seguinte: modo de articulação Contexto seguinte (modo) Ocorrência % Peso Relativo fricativa (prefiro) 963/2923 33 0.45 oclusiva (pequeno) 787/1671 47 0.63 africada (acredito) 115/257 45 0.15 nasal (emprego) 96/258 37 0.55 lateral (melhora) 37/335 11 0.33 tepe (queria) 56/417 13 0.59 vogal média-alta (candeeira) 2/9 22 0.75 vogal baixa (cadeado) 10/69 14 0.64 vogal média-baixa (eólico) 1/8 12 0.75 Nesse fator, observamos que a vogal pretônica /e/ quando seguida de uma vogal média-alta (/e/; /o/) ou de uma vogal médiabaixa (/é/; /ó/), provavelmente, se tornará [i], posto que, conforme a tabela acima, os pesos relativos para esses contextos foram de 0.75. ntretanto, não temos uma explicação para o alçamento de /e/ nesses 6 /j/ de /J/esus. 68

casos, devido ao pequeno número de ocorrências que os dois contextos mencionados tiveram. Os contextos consoantes oclusivas (/p/; /b/; /t/; /d/; /k/; /g/), tepe, nasais (/m/; /n/; /nh/) e vogal baixa (/a/) também se mostraram favorecedores para a elevação de /e/ na posição pretônica, enquanto as laterais (/l/; /lh/) e as fricativas (/f/; /v/; /s/; /z/; /ch/; /j/; /R/) revelaramse desfavorecedoras do processo. Contudo, a tabela nos mostra que, quando seguida de uma consoante africada (/dz/; /ts/), a vogal pretônica /e/ certamente não alçará. sse contexto teve peso relativo de apenas 0.15 e 115 elevações para 257 ocorrências. TABLA 4 - specificação do contexto seguinte: ponto de articulação Contexto seguinte (ponto) Ocorrência % Peso Relativo alveolar (dezesseis) 1441/3658 39 0.46 labial (debaixo) 139/442 31 0.54 velar (serviço) 209/886 24 0.35 pós-alveolar (Alexandre) 12/110 11 0.32 palatal (nenhum) 203/480 42 0.90 lábio-dental (prefiro) 50/286 17 0.41 vogal média-alta (candeeira) 2/9 22 0.56 vogal baixa (realidade) 10/68 15 0.62 vogal média-baixa (eólico) 1/8 12 0.57 O ponto de articulação do contexto seguinte revelou, conforme Bisol (1981) já havia descoberto, que as consoantes palatais (/dz/; /ts/; / lh/; /nh/) são as que mais favorecem a elevação da vogal /e/ na posição pretônica. sse contexto aparece na tabela acima com 203 alçamentos em 480 ocorrências e peso relativo de 0.90. 69

ntretanto, embora os contextos vogal baixa (/a/), vogal média-baixa (é/; /ó/), vogal média-alta (/e/; /o/) e consoantes labiais (/p/; /b/; /m/) tenham tido um desempenho inferior ao das consoantes palatais, elas também contribuem para o alçamento da vogal pretônica /e/. sses contextos tiveram pesos relativos de 0.62; 0.57; 0.56 e 0.54, respectivamente. Já as alveolares (/t/; /d/; /n/; /r/; tepe; /s/; /z/; /l/), as velares (/k/; /g/; /R/) e as lábio-dentais (/f/; /v/) desfavorecem a elevação de /e/ na posição pretônica. Todavia, as maiores inibidoras do processo são as pós-alveolares (/ch/; /j/), com peso relativo de 0.32 e apenas 12 alçamentos em 110 ocorrências. TABLA 5 - Vogal tônica (altura) Vogal tônica: altura Ocorrência % Peso Relativo vogal média-alta (dezoito) 380/2062 18 0.31 vogal alta (acredito) 632/1244 51 0.86 vogal média-baixa (esquece) 244/437 56 0.49 vogal baixa (estudar) 811/2204 37 0.41 De acordo com a tabela 5, a vogal tônica alta é o contexto que mais favorece a elevação da vogal pretônica /e/. sse resultado confirma a tese da harmonia vocálica de Bisol (1981), em que as vogais altas (/i/, /u/) em posição tônica favorecem o alçamento da pretônica /e/. Os contextos vogais médias-baixas (/é/; /ó/) e vogal baixa (/a/) revelaram-se pouco significativos na elevação da pretônica /e/, com pesos relativos abaixo de 0.50. Como contexto inibidor do processo aparecem as vogais médias-altas (/e/; /o/) tônicas, com peso relativo de 0.31. 70

Vogal tônica: nasalidade vogal nasal (então) vogal oral (serviço) TABLA 6 - Vogal tônica (nasalidade) Ocorrência % Peso Relativo 826/1904 43 0.64 1241/4043 31 0.43 Nessa tabela, verificamos que o contexto vogal tônica nasal favorece mais o alçamento da pretônica /e/ do que a vogal tônica oral, visto que os pesos relativos foram 0.64 e 0.43, respectivamente. TABLA 7 - Distância da sílaba tônica Distância da sílaba tônica Ocorrência % Peso Relativo Distância zero: estuda 1614/4332 37 0.52 Distância de uma sílaba: xpressar 380/1231 31 0.49 Distância de duas sílabas: Precisaria 59/339 17 0.26 Distância de mais de duas sílabas: reencarnação 14/45 31 0.44 Na tabela acima, assim como Bisol (1981) verificou em seus estudos, concluímos que quanto mais próxima da sílaba tônica, maior será a probabilidade da vogal pretônica /e/ se tornar [i], uma vez que o peso relativo do contexto distância zero foi de 0.52. Na verdade, o fator distância da sílaba tônica não se mostrou muito significativo para a elevação de /e/, pois os pesos relativos variaram entre 0.26 e 0.52, sendo o último próximo à posição neutra. 71

Desse modo, é importante ressaltar que o número de sílabas foi analisado de acordo com a quantidade de sílabas existentes entre a sílaba tônica e a sílaba que continha a vogal analisada. TABLA 8 - Distância do início da palavra Distância do início da palavra Ocorrência % Peso Relativo Distância zero: #menino 1881/4460 42 0.52 Distância de uma sílaba: Conseguir 180/1280 14 0.50 Distância de duas sílabas: Indispensável 4/200 2 0.08 Distância de mais de duas sílabas: homenageando 2/7 29 0.85 A análise da tabela acima nos surpreendeu, pois, assim como concluiu Viegas (1987), pensávamos que quanto mais próxima do início da palavra, maior seria a possibilidade de elevação da vogal pretônica /e/. ntretanto, os dados revelaram como mais significativas as palavras que possuem distância maior que duas sílabas do início da palavra, cujo peso relativo foi de 0.85. sse contexto foi seguido pelas palavras que não possuem nenhuma sílaba de distância do começo do vocábulo, com peso relativo de 0.52. Assim como fizemos para o fator distância da sílaba tônica, no fator distância do início da palavra, analisamos os dados observando a quantidade de sílabas existentes entre a sílaba da vogal analisada e o início da palavra. 72

TABLA 9 - Tipo de sílaba Tipo de sílaba Ocorrência % sílaba aberta: consoantevogal/ vogal (futebol) sílaba fechada travada por nasal (lembranças) sílaba fechada travada por consoante (certeza) Peso Relativo 549/3594 15 0.33 849/1198 71 0.73 669/1155 58 0.75 Nesse fator, os dados mostraram como mais significativas para o alçamento de /e/ as sílabas fechadas travadas por consoante ( serviço ; estar ) e as travadas por nasal ( lembrar ; ensino ), com pesos relativos de 0.75 e 0.73, respectivamente. sse resultado se deve, possivelmente, às palavras que possuem a vogal /e/ seguida pelos segmentos /n/ ou /s/, como escola e então, o que pode justificar a alta ocorrência desses contextos, visto que ambos são quase categóricos. Como fator inibidor do alçamento de /e/, o programa registrou o contexto sílaba aberta, formada geralmente por uma consoante e uma vogal. Assim, palavras como legal, por exemplo, representaram um peso relativo de 0.33. TABLA 10 - Quantidade de sílabas da palavra Quantidade de sílabas da palavra Palavras com duas sílabas (estar) Palavras com três sílabas (ensino) Palavras com quatro sílabas (professora) Ocorrência % Peso Relativo 552/1205 46 0.39 1132/2776 41 0.62 310/1367 23 0.39 73

Palavras com mais de quatro sílabas (evangélico) 73/599 12 0.37 A tabela 10 nos mostra que as palavras com três sílabas são as que mais favorecem o alçamento de /e/, com peso relativo de 0.62. As palavras com duas, com quatro e com mais de quatro sílabas tiveram os piores desempenhos da tabela, com pesos relativos abaixo de 0.40, revelando-se, assim, inibidoras do processo de elevação de /e/. Conforme Bisol (1981), esse resultado se explica pelo fato de que a articulação de um traço atinge sons próximos e não pula uma sílaba para afetar os sons que estão longe. TABLA 11 - Classe da palavra Classe da palavra Ocorrência % Peso Relativo substantivo (menino) 670/2371 28 0.36 Verbo (precisar) 752/2064 36 0.60 advérbio/adjetivo (demais/ errado) 568/1332 43 0.56 Outros (nenhum) 77/180 43 0.60 Segundo a análise que o programa estatístico GOLDVARB 2003 fez para o fator classe da palavra, os verbos e as outras classes gramaticais foram os contextos que mais contribuíram para o alçamento da vogal pretônica /e/, posto que ambos tiveram peso relativo de 0.60. sse índice pode ser devido a algumas palavras que apareceram muitas vezes e quase sempre alçaram, como é o caso de nenhum e dezesseis (ambos para outras classes gramaticais) e estudar e está (ambos para verbos). 74

Variável extralinguística selecionada pelo GOLDVARB 2003 Das três variáveis extralinguísticas que utilizamos (sexo, idade e escolaridade), a variável idade foi a única selecionada pelo programa. mbora acreditássemos que as outras duas variáveis também fossem importantes para o alçamento da vogal pretônica /e/, apenas o fator idade mostrou-se significativo para o processo estudado. TABLA 12 Idade Idade Ocorrência % Peso Relativo ntre 15 e 25 anos 635/1989 32 0.49 ntre 26 e 49 anos 571/1724 33 0.49 Com 50 anos ou mais 861/2234 38 0.50 ntretanto, a diferença mínima entre os pesos relativos revelou um fato interessante: houve um empate entre as três faixas etárias pesquisadas. Por isso, esse fator, embora tenha sido selecionado pelo GOLDVARB 2003, não se mostrou muito significativo para o processo de elevação de /e/. Conclusão A variação de /e/ [i] na posição pretônica foi o foco desse estudo, cujo corpus foi a fala espontânea de 18 habitantes dos municípios de Coromandel e Monte Carmelo, duas cidades do interior do estado de Minas Gerais. Com relação aos informantes de Monte Carmelo, um fato curioso ocorreu assiduamente na fala de um dos entrevistados. Isso porque o falante, geralmente, diferenciou Senhor (Deus) de senhor (homem com mais idade), alçando apenas o segundo termo senhor s[i]nhor e mantendo o Senhor (Deus) sem qualquer alteração. Acreditamos que essa diferenciação pode ter relação com o fato de esse informante de Monte Carmelo ser evangélico, assim como a maioria das pessoas entrevistadas no município. 75

Inicialmente, tínhamos seis hipóteses muito amplas sobre o alçamento da vogal pretônica /e/. A primeira delas se referia ao número de ocorrências da elevação /e/ [i], que foi bastante significativo. A segunda hipótese tinha por objetivo verificar a interferência da tese da harmonia vocálica de Bisol (1981) na elevação /e/ na posição pretônica. Nesse caso, nossos dados provaram que as vogais altas /i; u/ na sílaba tônica favorecem o alçamento de /e/. A terceira hipótese visava a responder a seguinte questão: se houver uma vogal média ou baixa na sílaba tônica, a elevação é desfavorecida?. Para a vogal pretônica /e/, comprovamos que as vogais médias-altas /e; o/ na posição tônica inibem a variação /e/ [i], enquanto as vogais médias-baixas /é; ó/ e a vogal baixa /a/ se mostraram próximas da posição neutra. A quarta hipótese questionava sobre os contextos de alçamento de /e/, cuja análise mostrou que /e/ passa a [i] em vários contextos. Sobre a quinta hipótese, queríamos saber se as sílabas CV (consoante-vogal) e CVC (consoante-vogal-consoante) favoreciam o alçamento da vogal /e/ e se a sílaba CVN (consoante-vogal-nasal) desfavorecia o processo. Nesse caso, os dados revelaram que as sílabas CVC e CVN favorecem a variação /e/ [i] e a sílaba CV a desfavorece. A sexta hipótese se referia à relação entre o alçamento da vogal média-alta e a distância da sílaba tônica. Nossa pesquisa confirmou que quanto mais próximas da sílaba tônica, maior será a probabilidade da variação /e/ [i] ocorrer. Na verdade, nossos dados mostraram que o contexto distância zero entre a vogal /e/ e a sílaba tônica é o que mais contribui para a elevação da vogal média-alta. Desse modo, concluímos que para a vogal /e/ alçar, ela precisa ser precedida por pausa, vogais médias-altas, consoantes palatais ou labiais e não pode ser precedida por consoantes nasais, oclusivas, pósalveolares, lábio-dentais e vogais altas. Quanto ao contexto seguinte, favorecem a elevação de /e/ na posição pretônica: as vogais médiasaltas, as vogais médias-baixas e as consoantes palatais. Já as africadas, as pós-alveolares e as velares seguintes inibem o processo. Com relação à distância do início da palavra, notamos que a distância maior que duas sílabas entre a pretônica /e/ e o início do vocábulo é a que mais favorece a sua elevação e que a distância de duas sílabas a desfavorece. Sobre o fator quantidade de sílabas da palavra, concluímos que quanto maior for a palavra, mais difícil será o alçamento de /e/, enquanto que as palavras com três sílabas se mostraram significativas para o processo ocorrer. 76

Já o fator classe da palavra revelou que são os verbos e as outras classes gramaticais que mais influenciam a elevação de /e/ [i] e que os substantivos são os que menos contribuem para a variação de /e/. Para a vogal pretônica /e/, apenas um fator extralinguístico foi selecionado pelo GOLDVARB 2003: a idade. Na verdade, esse fator se mostrou pouco significativo para o alçamento de /e/, devido à diferença mínima entre os pesos relativos das faixas etárias pesquisadas. Referências BISOL, Leda. Harmonização Vocálica: uma regra variável. 1981. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1981. CALLOU, Dinah; MORAS, João A. de e LIT, Yvonne. O Vocalismo do Português do Brasil. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.31, n. 2, p. 27-40, junho1996. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. strutura da Língua Portuguesa. 10. d. Petrópolis: Vozes, 1970. COLLISCHONN, Gisella. Fonologia do português brasileiro, da sílaba à frase. Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2006/2. LABOV, William. Sociolinguistic Patterns. University of Pennsylvania Press, Philadelphia, 1972. SCHWINDT, Luiz Carlos. A regra variável de harmonização vocálica no RS. In: BISOL, Leda; BRSCANCINI, Cláudia (Orgs.). Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: DIPUCRS, 2002. p. 161-182. TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolinguística. 4. ed. Série Princípios, São Paulo: Ática, 1994. VIANA, Vanessa Faria. As vogais médias pretônicas em Pará de Minas: um caso de variação linguística. 2008. Dissertação (Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2008. VIGAS, Maria do Carmo. Alçamento de vogais médias pretônicas: uma abordagem sociolinguística. 1987. Dissertação (Mestrado em Linguística) Universidade Federal de Minas Gerais, 1987. Recebido em 15/10/2010 Aceito em 03/11/2010 77