CITOGENÉTICA COMO FERRAMENTA PARA O MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL: ANÁLISE MITÓTICA E MEIÓTICA EM ESPÉCIES DE Manihot

Documentos relacionados
ESTUDO DO COMPORTAMENTO MEIÓTICO EM ACESSOS DO GÊNERO Manihot

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS

Citogenética Clássica e Molecularem Passifloras:

Resumo. B ióloga, M.Sc. em Agronomia, bolsista B F T F acepe/ Embrapa Semiárido, Petrolina, PE. 3

HIBRIDAÇÃO INTERESPECÍFICA CONTROLADA ENTRE ESPÉCIES DO GÊNERO Manihot.

CARACTERIZAÇÃO CITOMOLECULAR DE TRÊS ESPÉCIES DE Coffea L: C. eugenioides, C. canephora E C. dewevrei *

Acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UNIJUÍ, bolsista PET Biologia/MEC/SESU, 3

Atividades de Meiose

Comportamento meiótico em irmãos-germanos e meios-irmãos entre Brachiaria ruziziensis x B. brizantha (Poaceae)

AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS DE HÍBRIDOS INTERESPECÍFICOS ENTRE Manihot. esculenta E ESPÉCIES SILVESTRES DE Manihot

PRÉ-MELHORAMENTO DE MANDIOCA: HIBRIDAÇÃO INTERESPECÍFICA ENTRE CULTIVARES COMERCIAIS E ESPÉCIES SILVESTRES DE Manihot

SUB-PROJETO DE PESQUISA. Otimização do protocolo de coleta de meristemas e análise do cariótipo de cana de açúcar

TD de Revisão de Biologia- 9º ano- 4ª etapa Profa: Ana Gardênia Assunto: Mitose e Meiose

COMPORTAMENTO MEIÓTICO E VIABILIDADE POLÍNICA EM HELICONIA POGONANTHA E HELICONIA PSITTACORUM

Técnicas utilizadas para estudo citogenético clínico. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Aberrações cromossômicas numéricas e estruturais

CICLO BIOLÓGICO E TAXA DE OVIPOSIÇÃO DO ÁCARO VERDE DA MANDIOCA (Mononychellus tanajoa) EM GENÓTIPOS DE Manihot

Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas

VERIFICAÇÃO DE PLOIDIA EM AUTOPOLIPLÓIDES ARTIFICIAIS DE BANANEIRA QUATRO ANOS APÓS A INDUÇÃO DE DUPLICAÇÃO CROMOSSÔMICA RESUMO

Estimativa da viabilidade polínica de diferentes genótipos de aceroleiras cultivadas no Vale do São Francisco

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO DEPARTAMENTO CCENS BIOLOGIA. Plano de Ensino

Ciclo Celular. Ciclo Celular 22/05/ ) Conceitos Prévios. 1) Conceitos Prévios

Mutagênese... a prevenção é o espelho do índice cultural de uma nação.

Divisão Celular: Mitose e Meiose

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

BIOLOGIA E GEOLOGIA- 11º ANO. Reprodução sexuada - Meiose

ESTUDO CITOGENÉTICO E DE POLIMORFISMO CROMOSSÔMICO EM POPULAÇÕES DO GÊNERO Rineloricaria (LORICARIIDAE, SILURIFORMES) DA BACIA DO RIO PARANÁ.

Evolução de Plantas Cultivadas MGV 3717

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CICLO CELULAR. Conjunto de modificações por que passa uma célula, desde seu aparecimento até sua própria duplicação.

Biologia Celular e Molecular:

DIVISÃO CELULAR BIOLOGIA KEFFN ARANTES

Biologia. ( ) centríolo (A) 2, 1, 3, 5, 6, 4. ( ) retículo endoplasmático (B) 2, 1, 3, 5, 4, 6. ( ) complexo de Golgi (C) 1, 6, 5, 3, 2, 4

Unidade 6 Reprodução nos seres vivos

Capítulo 5 cariótipos

CROMOSSOMOS. Profa. Dra. Viviane Nogaroto

Tipos de divisão celular. Disponível em: < Acesso em: 26 jun

Caracterização M orfo- Agronômica de Acessos do Gênero Manihot com Potencial Forrageiro

A CÉLULA 1. Introdução: Uma Visão Geral da Célula

EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

DIVISÃO CELULAR MÓDULO 2 CITOLOGIA

MICROSPOROGÊNESE EM CLONES NORMAIS E TETRA PLÓIDES DE HEVEA BRASILIENSIS MUELL.-ARG. ( 1 )

Óvulo ( ) + Espermatozóide ( ) formam um zigoto ( ) Óvulo (haplóide) + Espermatozóide (haplóide) formam um zigoto (diplóide)

Escola Secundária/3 Morgado de Mateus

Ciclo celular. Ciclo celular 13/03/2017. Interfase. Interfase FACULDADE EDUCACIONAL DE MEDIANEIRA DIVISÃO CELULAR. Ciclo de vida de uma célula.

FISH. Tratamento com Pepsina (opcional pular para passo 8) Fluorescence in situ hybridization Protocolo p/ 10 lâminas

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DOS MINICURSOS

Biologia SÉRIE: 9º ano. Meiose. Profª Luciana Barroso

Objetivos Conceitos Procedimentos e habilidades Atitudes e valores aspectos Comparar cromossomos mitóticos

ESTIMATIVA DA VIABILIDADE POLÍNICA E ÍNDICE MEIÓTICO DE DELONIX REGIA*

Crescimento, renovação celular e reprodução

BIOLOGIA - 3 o ANO MÓDULO 35 NÚCLEO E DIVISÃO CELULAR: MITOSE

Aconselhamento Genético e Diagnóstico Pré-natal

DETERIORAÇÃO FISIOLÓGICA PÓS-COLHEITA EM GERMOPLASMA DE MANDIOCA

Revelando os Processos de Diversificação Cariotípica em Primatas Neotropicais por FISH

A célula em divisão. Meiose

CARACTERIZAÇÃO CITOGENÉTICA E MORFOLÓGICA DE HÍBRIDOS DE MANDIOCA (Manihot esculenta) CRISTIANE ALMEIDA NOLASCO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS

ANÁLISE CITOGENÉTICA DE Coffea canephora

PROFESSOR: a) produção de gametas a partir de uma célula 2n = 6 em uma espécie animal.

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

DISCIPLINA LISETE CHAMMA DAVIDE GIOVANA AUGUSTA TORRES

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Núcleo interfásico e código genético. Professor: Alex Santos

Resumo. Estudantes de Ciências Biológicas, UPE, estagiário(a) da Embrapa Semiárido, Petrolina, PE. 2

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO MEIÓTICO DE CASSIA FISTULA L.*

Lista de exercícios Aluno (a):

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DE GENÓTIPOS DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) SUBMETIDOS À DEFICIÊNCIA HÍDRICA

MEIOSE EM HÍBRIDOS HEXAPLÓIDES DE CAPIM-ELEFANTE E MILHETO ELISA APARECIDA ALVES PAIVA

Ciclo de Vida Celular. Professora: Luciana Ramalho 2017

Citogenética. Estudo dos cromossomos. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Trabalho de Recuperação final

BIOLOGIA - 3 o ANO MÓDULO 36 MEIOSE

AÇÃO DO PARADICLOROBENZENO SOBRE OS CRO MOSSÔMIOS SOMÁTICOS ( 1 )

AU01. Aspectos Genéticos da Mitose e Meiose. Emanuele Cristina Pesenti. Doutoranda PPG-GEN

VIABILIDADE DE PÓLEN DE SUB-ESPÉCIES DE Manihot esculenta. Introdução

NOTAS CIENTÍFICAS. Apomixia em Manihot esculenta e em seus híbridos interespecíficos (1)

Nucléolo, cromatina e cromossomos

Ligação, permuta e mapas genéticos: ligação e permuta genética, estimativa da freqüência de permuta

Caracterização citogenética de Gabiroba (Campomanesia adamantium)

BIO Genética e Evolução Ciencias Biomedicas. Atividade 6 Montagem de cariótipos

VARIABILIDADE MORFOLÓGICA DE MANDIOCAS BRAVAS E MANSAS DO BAG DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL

Ciclo Celular: Mitose & Meiose Prof. Dr. Philip Wolff Prof. Dr. Renato M. Salgado

Meiose. Texto extraído do site:

a) T2 e T3. b) T1 e T3. c) T3 e T4. d) T1 e T4.

CICLO CELULAR. intérfase. ciclo celular. divisão. intérfase divisão intérfase divisão intérf...

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA POPULAÇÃO TETRAPLÓIDE DE AMENDOIM

Divisão Celular: Mitose e Meiose. Divisão Celular: Mitose e Meiose

NÚCLEO E DIVISÃO CELULAR: Mitose e Meiose

CITOGENÉTICA APLICADA AO ESTUDO DE BRYOPHYTAS

Aberrações Cromossômicas

CROMOSSOMOS DE PLANTAS E ANIMAIS E CARIÓTIPO. Aula prática 9

NÚCLEO E MITOSE. 9º ANO BIOLOGIA LUCIANA ARAUJO 1º Bimestre

Software GUIA DO PROFESSOR. Laminário Virtual_ Cariótipo. Duração da animação: 1 hora-aula

Augusto Adolfo Borba. Miriam Raquel Moro Conforto

Exercícios de revisão sobre DIVISÃO CELULAR:MITOSE E MEIOSE

1.2. Os números 1, 3 e 5 são enzimas com papel ativo no processo. Identifique-as O número 2 representa um grupo de nucleótidos de denominado.

Etapa: Professor(es): Waldir Stefano

BIOLOGIA. Hereditariedade e diversidade da vida. Introdução à genética 1ª e 2ª leis de Mendel. Professor: Alex Santos

Ciclo celular Interfase e divisão celular

Genômica. Mapeamento Molecular

Transcrição:

CITOGENÉTICA COMO FERRAMENTA PARA O MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL: ANÁLISE MITÓTICA E MEIÓTICA EM ESPÉCIES DE Manihot Reginaldo de CARVALHO 1, Kaliny Veiga Pessoa da SILVA 2, Iêda Ferreira de OLIVEIRA 3, Alfredo Augusto Cunha ALVES 4 RESUMO: No presente trabalho, acessos de Manihot foram analisados quanto ao número, morfologia e tamanho cromossômico, além do número e da posição das constrições secundárias, comportamento meiótico e localização dos sítios de DNAr 5S e 45S. Em todos os acessos observados o número cromossômico foi semelhante, apresentando 2n=36 cromossomos de metacêntricos a submetacêntricos. Dois pares de constrições secundárias terminais foram observados em cada um dos acessos, exceto na espécie M. leptophylla que apresentou dois pares de constrição secundária proximais. A meiose mostrou-se regular nas espécies silvestres e bastante irregular nos acessos de M. esculenta. A hibridização in situ - FISH revelou seis sítios de DNAr 45S e apenas um par de cromossomos com sítios de DNAr 5S. Esses dados sugerem uma grande similaridade no complemento cromossômico entre as espécies de Manihot. Por outro lado, eles revelam a importância da análise cromossômica e da meiose em acessos de bancos de germoplasma como ferramenta nos programas de melhoramento de mandioca. Palavras- chave: FISH, constrições secundárias, cromossomos meióticos. SUMMARY: CYTOGENETICS AS A TOOL FOR PLANT GENETIC BREEDING: ANALYSIS OF MITOSIS AND MEIOSIS IN Manihot SPECIES. Accessions of Manihot species were analyzed in this work for number, morphology and size of chromosomes. The number of secondary constrictions, meiotic behavior and the location of 5S and 45S rdna sites were also observed. All investigated accessions showed a similar karyotype with 2n=36, small metacentric to submetacentric chromosomes. Two pairs of terminal secondary constrictions were observed in each accession except M. leptophylla, which presented two proximal secondary constrictions. The meiosis investigated was regular in the wild species, displaying 18 bivalents, but with irregularity in the accessions of M. esculenta. The analysis with fluorochromes frequently showed six 45S rdna sites revealed by FISH and only one chromosome pair presented a 5S rdna site. These data suggest that all Manihot species present a very similar chromosome complement. On the other hand, the results show us the importance of the chromosome analysis and the investigation on the meiosis cycle in Manihot species as a tool in cassava breeding programs. Keywords: FISH, secondary constrictions, chromosomes meiotic. Trabalho financiado pelo Generation Challenge Programme (GCP) e Embrapa 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Depto. de Biologia. Rua Dom Manuel de Medeiros s/n - Dois irmãos - CEP: 52171-900 Recife- PE. Email: Reginaldo.ufrpe@gmail.com 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco. Mestranda em Melhoramento Genético de Plantas, Depto. de Biologia. Email: kalinyveiga@hotmail.com 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Depto. de Biologia. Email: iedaferreira@yahoo.com.br 4 Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Caixa Postal 007, CEP: 44380-000, Cruz das Almas, BA. Email: aalves@cnpmf.embrapa.br XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 645

INTRODUÇÃO A maior diversidade biológica das espécies do gênero Manihot no Brasil ocorre na Região Central, nos Estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Muitas das espécies também ocorrem na Região Nordeste e na Região Amazônica (Rogers e Appan, 1973; Nassar, 2000; Allem, 2002). Nos últimos anos, a destruição dos habitats naturais tem levado de forma alarmante a perda da diversidade genética da mandioca e das espécies aparentadas. Com isso, muitas espécies de Manihot, encontram-se ameaçadas de extinção. Nassar (2006) relatou o desaparecimento de 40 populações naturais de um total de 41 localizadas em diversas regiões do Brasil entre os anos de 1977 e 2001, confirmando a grave situação em que se encontram as populações nativas das espécies de Manihot, sugerindo um esforço conjunto por parte dos grupos de pesquisas para o desenvolvimento de programas de preservação in situ em bancos de germoplasmas das espécies silvestres detentoras da ampla diversidade genética e características agronômicas úteis. A caracterização genética de diferentes acessos de bancos de germoplasmas constitui-se em importante fonte de dados para melhoristas e conservacionistas, uma vez que permite um melhor gerenciamento do pool gênico, bem como uma seleção mais eficiente dos recursos genéticos, facilitando a detecção da variabilidade genética para fins de melhoramento genético ou com fins biotecnológicos (Benko-Iseppon, 2001). O estudo citogenético em espécies de importância econômica pode contribuir de forma significativa nas etapas que antecedem os cruzamentos de linhagens parentais nos programas de melhoramento genético. A análise cariotípica em células meióticas ou mitóticas possibilita a identificação dos polimorfismos cromossômicos numéricos ou estruturais entre os cariótipos e a descrição da homologia cariotípica em cultivares ou espécies fornecendo, informações relevantes como alterações cromossômicas, taxa de fertilidade, problemas no reconhecimento dos homólogos, não disjunção cromossômica nas anáfases, gerando gametas aneuplóides, percentual dos genomas parentais nos híbridos, etc. Esses dados podem ser inclusos nos esquemas de cruzamentos contribuindo na pré-seleção de linhagens progenitoras ou ainda, determinando o percentual de genomas parentais nos indivíduos híbridos. Desta forma, a indicação de parentais favoráveis a hibridações pode ser auxiliada pelo do uso de parâmetros citogenéticos. As espécies de Manihot são consideradas alotetraplóides com 2n=36 e um número básico x=9. Contudo, acredita-se que essas espécies tenham sido diploidizadas ao longo do processo evolutivo apresentando hoje, o comportamento típico de um diplóide. Além disso, cruzamentos interespecíficos podem ocorrer freqüentemente produzindo híbridos naturais e, que, nos casos de esterilidade, essa característica pode não ser facilmente detectada por análise fenotípica comprometendo etapas importantes no melhoramento genético. Apresentamos aqui algumas características cariotípicas observadas em cromossomos mitóticos e meióticos de espécies de Manihot objetivando estabelecer relações entre dados citogenéticos e sua utilização em Programas de Melhoramento Genético (Carvalho e Guerra 2002; Nassar, 2000; Rogers e Appan, 1973). MATERIAL E MÉTODOS Foram analisadas as espécies Manihot esculenta ( manipeba, aipim bravo e pornunçabebedouro ), M. glaziovii, M. dichotoma e M. leptophylla. XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 646

Pontas de raízes foram pré-tratadas com 8-hidroxiquinoleína na concentração de 0,002M por 24 horas a ~10ºC. Em seguida as raízes foram postas em solução fixadora de etanol-ácido acético (3:1, v/v) por 24 h a temperatura ambiente e acondicionada em freezer a 20ºC. Os botões florais foram colocados diretamente em solução fixadora e estocados a 20ºC antes da preparação das lâminas. Para análise citogenética convencional seguiu-se a metodologia de Guerra (1983). As raízes foram lavadas duas vezes em água destilada, hidrolisadas em HCl 5N por 20 minutos e as lâminas foram coradas com Giemsa 2%. No caso dos botões florais, esses foram hidrolisados por apenas 5 minutos. A hibridização in situ fluorescente foi realizada de acordo com o protocolo de Morais et al. (2007). As sondas de DNAr 45S foram marcadas com biotina e detectada com anticorpo anti-biotina conjugado com TRITC. A sonda de DNAr 5S foi marcada com digoxigenina e detectada com antidigoxigenina conjugado com FITC. As lâminas contendo as preparações citológicas foram lavadas em fixador Carnoy e submetidas a uma série alcoólica. Em seguida foram desnaturadas a 75 C em solução salina de 2xSSC por 7 min, a desnaturação da sonda ocorreu também a 75 C durante 10 min. A solução contendo a sonda foi adicionadas às lâminas e essas, transferidas para uma câmara úmida a 37 C por 16 horas. Após os passos de hibrid ização, detecção e lavagens, as lâminas foram montadas com DAPI (2 µg/ml) em meio de montagem apropriado para hibridização in situ. As imagens foram capturadas com câmera digital Cyber shot Sony 5.1 MP e transferidas para o programa computacional Corel Draw V.12 para processamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO O gênero Manihot parece apresentar uma forte homogeneidade entre suas espécies ao nível cariotípico, ao contrário da ampla plasticidade botânica observada entre suas espécies. Todas as espécies analisadas no presente trabalho apresentaram cariótipos semelhantes com 2n=36, morfologia cromossômica de meta a submetacêntrica, tamanho médio cromossômico de 1,75um e número máximo de dois pares satelitados com constrições secundárias (RON) subterminais (Figura 1). Os sítios ribossômicos foram em número de seis para o DNAr 45S e dois para o DNAr 5S e sempre na mesma posição (Figuras 3 e 4) não representando uma boa marca citogenética para distinção das espécies. Esses dados estão de acordo com dados previamente registrados na literatura (Carvalho e Guerra, 2002; Nassar et al., 1995; Umanah e Hartmann, 1973). Apenas a espécie M. leptophylla apresentou diferença em seu cariótipo apresentando as constrições secundárias próximas ao centrômero e não subterminal como nas outras espécies, sempre sendo observado um número máximo de quatro RONs (Figura 2). Este polimorfismo das RONs foi considerado como um marcador espécie-específico. As espécies de Manihot são consideradas alotetraplóides. Para explicar o sucesso que algumas espécies consideradas poliplóides possuem, tem se discutido a diploidização do cariótipo como processo adaptativo ao longo do processo evolutivo (Singh, 1993). Esse mecanismo pode ter ocorrido dentro do gênero Manihot levando a estabilidade cariotípica observada entre suas espécies. As hibridações interespecíficas, com produção de híbridos férteis podem ocorrer, naturalmente ou artificialmente, com quebra de barreiras de isolamento reprodutivo. Por outro lado, todas as espécies, principalmente a mandioca apresentam a via assexuada (estacas ou manivas) como processo XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 647

alternativo de reprodução, contornando possíveis problemas meióticos pré ou pós-zigóticos (Nassar, 2000; Carvalho e Guerra, 2002). A meiose nas espécies silvestres foi normal observando-se 18 bivalentes na metáfase I e uma segregação regular dos cromossomos homólogos nas anáfases I e II. No final da esporogênese formaram-se, em todas as espécies silvestres, quatro micrósporos, revelando uma meiose completamente regular em termos de divisão celular. A variedade manipeba apresentou um comportamento meiótico muito irregular com a ocorrência de univalentes, bivalentes e trivalentes revelando comportamento típico de um indivíduo triplóide. A segregação cromossômica no final da meiose (anáfase II) foi também irregular, resultando em 100% das tétrades ou políades anormais apresentando um grande número de núcleos no seu interior (Figuras 5 e 6). Para este acesso, a coloração carmim acético mostrou grãos de pólen de diversos tamanhos e sem conteúdo citoplasmático, sugerindo esterilidade total. No acesso pornunça-bebedouro foram observadas políades com número inferior de micronúcleos e univalentes em relação a cultivar manipeba, sugerindo um nível mais atenuado ou parcial de irregularidade meiótica parcial (Figuras 7 e 9). Seguida a essa análise, será realizada uma quantificação dessas irregularidades e teste de viabilidade dos esporos entre os materiais analisados. A ocorrência de eventos de poliploidização espontânea parece não ser um evento freqüente no gênero e a ocorrência de irregularidades meióticas, embora descritos por muitos autores em espécies de Manihot não tem sido tratados utilizando parâmetros estatísticos (De Carvalho et al. 1999; Hahn et al. 1990; Nassar et al. 1995). CONCLUSÃO Esses dados refletem claramente, a possibilidade de uso dos parâmetros citogenéticos e a importância de uma avaliação prévia dos cromossomos nos acessos incluídos nos esquemas de cruzamentos em programas de melhoramento genético. Na análise dos cromossomos metafásicos mitóticos observou-se uma diferença marcante no número e posição das regiões organizadoras dos nucléolos (RONs) entre M. leptophylla e M. glaziovii sendo este considerado um bom marcador espécie-específico. Por outro lado, a análise meiótica se mostrou mais eficiente na identificação de características que podem ser utilizadas de forma prática e direta na seleção das linhagens parentais, considerando as diversas irregularidades durante a divisão meiótica e que poderá influenciar na obtenção de híbridos com diversos níveis de fertilidade. É possível que o emprego de um maior número de técnicas de bandeamento utilizando DNA satélite, hibridização com BACs ou mesmo da hibridização genômica in situ em cromossomos mitóticos, possa ampliar o nível de polimorfismo e conseqüentemente o número de marcadores espécie-específicos, complementando a análise meiótica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEM, A. C. The origin and taxonomy of cassava, In: HILLOCKS, R.J.; THRESH, J.M.; BELLOTTI, A. C. (Eds.). Cassava: Biology, Production and Utilization. Oxon, UK: CABI Publishing, p.1-16, 2002. BENKO-ISEPPON AM (2001) Estudos moleculares e citogenéticos no Caupi e em espécies relacionadas: Avanços e perspectivas. EMBRAPA Documentos 56: 327-332 XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 648

CARVALHO, R.; GUERRA, M. Cytogenetics of Manihot esculenta Crantz (cassava) and eight related species. Hereditas 136: 159-168. 2002. DE CARVALHO, R.; GUERRA, M.; CARVALHO, P. C. L. Occurence of Spontaneous Triploidy in Manihot esculenta Crantz. Cytologia: The Japan Mendel Society, v. 64, p. 137-140, 1999. GUERRA, M.. Uso do giemsa na citogenética vegetal: comparação entre bandeamento simples e o bandeamento. Ci e Cult. 35: 190-193. 1983. HAHN, S, K., BAÍ, V, K. e ASIEDU, R. Tetraploids, triploids and 2n pollen from diploid int sava.theor. Appl. Genetic: v 79. 433-439. 1990. MORAIS, A, P., SOARES FILHO. W.S., GUERRA, M. Karyotype diversity and the origin of grapefruit. chromosome research. 15:115-121. 2007. NASSAR, N.M.A. Wild cassava spp.: biology and potentialities for genetic improvement. Genet. Mol. Biol. 23: 201-212, 2000. NASSAR, N. M. Cassava genetic resources: extinct everywhere in Brazil. Genetic Resources and Crop Evolution. 53: 975 983. 2006. NASSAR, N.M.A, NASSAR H.N.M, VIEIRA, C e SARAIVA, S.L. (1995) Cytogenetic behaviour of the interspecific hybrid of Manihot neusana Nassar and cassava, Manihot esculenta Crantz, and its backcross progeny. Can. J. Plant Sci. 75: 675 678. ROGERS, D.J. e APPAN, S.G. Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae ). Flora Neotropica. New York: Hafner Press (monografia, 13). 1973. SINGH, R, J. plant cytogenetics.. 1993, CRC Press, Inc. Boca Raton: 111-254. UMANAH, E. E.; HARTMANN, R. W. Chromosome numbers and karyotypes of some Manihot species. Journal of American Society of Horticulture Science, v. 98, p. 272-274, 1973. XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 649

Figuras 1 a 9 - Células mitóticas e meióticas de espécies de Manihot. 1) metáfase mitótica de M. glaziovii (setas mostram um par de constrições secundárias terminais - RONs ); 2) metáfase mitótica de M. leptophylla (setas apontam dois pares de RONs proximais). 3-4) metáfases mitóticas de M. dichotoma e M. esculenta Aipim bravo revelando os sítios de DNAr 45S (cores vermelho e rosa) e de DNAr 5S (cor verde) setas pequenas. 5-6) metáfase-anáfase I e políade mostrando dois micronúcleos em M. esculenta pornunça bebedouro. 7 e 9) metáfase-anáfase I e políade com cinco micronúcleos no interior do meiócito em M.esculenta manipeba (setas apontam para cromossomos univalentes). 8) cariograma de quatro metáfases mitóticas de espécies de M. esculenta coradas convencionalmente (barra corresponde a 20 µm). XIII Congresso Brasileiro de Mandioca 650