Caso Prático: Actividade de revestimento de superfícies. Francisco Póvoas Técnico superior CCDR-Centro

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Transcrição:

Caso Prático: Actividade de revestimento de superfícies Francisco Póvoas Técnico superior CCDR-Centro 1

Unidade industrial: - XYZ Actividades de Revestimentos, SA; Actividade desenvolvida: - execução de serviços de pintura em metais e plásticos; Actividade desenvolvida enquadrada no DL 242/2001: - Actividade de Revestimento - alínea c), Actividade B),Anexo I - Actividade 8 do Anexo II-A -Consumo Limiar =5t - se consumo entre 5 e 15 t: VLE confinadas = 100mg/Nm3 VLE (% difusas) = 25% - se consumo > 15 t: VLE confinadas revestimento = 75mg/Nm3 VLE confinadas secagem = 50mg/Nm3 VLE (% difusas) = 25% 2

Plano de Gestão de Solventes de 2010 Entradas no processo (E1): Tipo Quantidade (litros) Massa específica (g/cm3) % COV (m/m) Quantidade de COV (kg) Tinta 19 805 1,01 60 12 002 * Endurecedor 4493 1,00 31 1 393 Diluente de Tintas 20 265 0,88 100 17 833 Diluente de Limpeza 26 720 0,88 94 22 103 Total de COV 53 331 *12 002 =19 805 x 1,01 x 60% 3

1ª Questão: o diluente de limpeza deve ser considerado? - depende da utilização que tiver o solvente: Na introdução do Anexo I refere-se: Em todos os casos, a actividade compreende a limpeza dos equipamentos, mas não dos produtos, salvo especificação em contrário. No caso presente: é usado para limpar cabines de pintura, logo terá de se considerar. Se fosse usado para desengordurar peças antes da pintura, haveria abrangência noutra actividade: - actividade D) do Anexo I Limpeza de Superficíes; - actividade 4) do Anexo II-A Neste caso teria de se efectuar um PGS à parte. 4

2ª Questão: como deve ser considerado o diluente de limpeza? No caso presente o diluente de limpeza sujo é enviado para uma empresa o vai valorizar (destilação) e o devolve: Então: - o solvente de limpeza usado deve ser considerado em S8 - o solvente recuperado deve ser contabilizado em E1. Entradas no processo (E2): Não existe, na medida em que não há na unidade um processo de valorização de solvente: => E2 =0 5

Emissões confinadas S1 Emissões em gases residuais Tinta TEGO BECKER 527342 (60% massa de solvente) CAS Nome Fórmula Química PM Carbono % (base solvente) Carbono (g/100g solvente)** 1330-20-7 xileno C8H10 106 8 x 12= 96 26,26 23,75 108-65-6 1-metoxi - 2 propil acetato C6H12O3 132 72 4,04 2,20 54839-24-6 1 etoxy 2 propil acetato C7H14O3 146 84 12,12 6,96 100-41-4 etilbenzeno C8H10 106 96 8,08 7,30 71-36-3 1 butanol C4H10O 74 48 4,04 2,61 123-86-4 alcoól n-butilico C4H10O 74 48 45,46 29,43 Soma = %C na mistura (base solvente) 72,27% *23,75 =(96/106) x (26,26/100) 6

Emissões confinadas S1 EndurecedorTEGO BECKER DF7887 (31% massa de solvente) CAS Nome Fórmula Química PM Carbono % (base solvente) Carbono (g/100g solvente) 141-78-6 Acetato de etilo C4H8O2 88,1 48 9,56 5,21 123-86-4 Butil acetato C6H12O2 116,1 6 72 90,44 56,06 Soma = %C na mistura (base solvente) 61,27% %C no solvente = 61,27% Notas: Fazer o mesmo para o diluente das tintas Será conveniente verificar se o que estamos a considerar COV apresenta MESMO pressão de vapor superior a 0,01kPa nas condições de T 7

Emissões confinadas S1 Diluente de tinta TEGO BECKER DF12342 (100% massa de solvente) CAS Nome Fórmula Química PM Carbono % (base solvente) Carbono (g/100g solvente) 123-42-2 4-Hydroxi-4metil-2pentanona C6H12O2 116,2 72 100 62,98 Soma 62,98% %C no solvente = 62,98% % C global (tinta + endurecedor + diluente da tinta) = = 12 002 x72,27% +1 393 x 61,27% +17 833 x 62,98 = 66,5% 31 227 8

Conclusão: Em média em 100g de COV tem 66,5g de Carbono A XYZ, SA possui 2 cabines de pintura, cada uma com sua chaminé; Resultados das medições em 2010: Máquina MP 1 Média MP 2 Média COT (mg/nm3) COT (kg/h) Qv (Nm3/h) 307 1,97 6428 1879 12,6 6688 1093 7,28 6558 725 6,86 9456 386 3,68 9538 556 5,27 9497 Não cumpre o VLE das confinadas: 75mg C/Nm3!!!! 9

Tempo de funcionamento das cabines: MP1 = 379,1h/ano MP2 = 412,9h/ano Massa de COT emitida = 7,28 x 379,1+ 5,27 x 412,9 = 4 935,8kg (COT) S1 = 4 935,8 x 100 = 7 422,3kg 66,5 Notas: - Está-se a considerar que no gás a proporção de cada COV é igual à da fase líquida (tinta): não é verdade! Mas usam mais do que uma tinta. - Erro: não foi considerado: - O solvente usado para limpeza dos equipamentos (22 103kg). - O tempo de limpeza das cabines (cerca de 2h por cada 4h de pintura); 10

E as medições das cabines serão representativas para o período de limpeza? - não!!: - a volatilidade (Pv) do solvente de limpeza não é certamente igual à mistura que considerámos antes; - o solvente de limpeza do equipamento tem uma concentração de COV de 96%... E a Lei de Raoult Pvi = Xi x Pvi* em que: Pvi = pressão de vapor da substância i; Xi = fracção molar do componente i no líquido; Pvi* = pressão de vapor do componente i quando puro (Antoine) Ou seja: é quase certo que os caudais de COV emitidos no período de limpeza são maiores do que durante a pintura. 11

E as medições das cabines serão representativas para o período de pintura? COV (mg/nm3) 500 450 COV (mg/nm3) 400 350 300 250 200 150 Tendência 100 50 0 1 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo (min) SIM ou Talvez! 12

E as medições das cabines serão representativas para o período de pintura? COV (mg/nm3) 500 450 COV (mg/nm3) 400 COV média = 199mg/Nm3 350 Tendência 300 250 200 150 100 50 0 1 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo (min) Não, de certeza! 13

Mas também não foi considerada a emissão que ocorre nas 2 estufas de secagem: - Estufa 1: - em 2010 funcionou 379h (<500h/ano = dispensada?); - última medição em 2006 (caudal de COT de 0,04kg/h); - Estufa 2: - nunca foi monitorizada.. 14

Emissões confinadas S6 - resíduos recolhidos Valor indicado no PGS S6 =19 086kg mas no SIRAPA: - LER 08 01 11 - resíduos de tintas e vernizes - 32,034t destinado a R2 - LER 08 01 17 - resíduos de remoção de tintas e vernizes - 15,366t destinado a R2 Faltam: - os cálculos explicativos para S6; - análises que demonstrem a % de COV em cada resíduo; - mas no máximo: - os resíduos de tinta não podem ter mais de 74% COV - os resíduos de solvente não podem ter mais de 96% COV 15

Quadro resumo de entradas Entradas Quantidade kg Observações E1 53 331 COV nas tintas, endurecedores, solvente das tintas e diluente de limpeza valorizado no exterior. E2 0 E = E1+ E2 53 331 O solvente valorizado no exterior está contabilizado em E1 A % de difusas utilizada para comparar com o VL toma E para base de cálculo. 16

Quadro resumo de saídas confinadas Saída Quantidade (kg) Observações S1a S1b S1c 7 422,3 (?) (?) S5 0 Embora exista um sistema de cascatas de tratamento dos gases da cabine (para remoção de partículas) o mesmo não absorverá COV; S6 19 086? -A quantidade não está devidamente justificada; -A parte que é para valorizar deveria ser contabilizada em S8 S7 0 - Esta quantidade deve ser apenas contabilizada no caso de fábricas de tintas / colas S8 0 - Deveria contemplar a quantidade de solvente de limpeza usada para valorização (todo S6?) - COV emitido cabines 1 e 2(tempo de pintura); - COV emitido cabines 1 e 2 (tempo de limpeza); - COV emitido nas estufas de secagem 1 e 2; 17

Resultados finais: Consumo (C): C = E1 S8 = 53 331 0(?) < 53 331kg Entradas (E): E = E1 + E2 = 53 331 + 0 = 53 331kg Emissões Confinadas: S1 +S5 +S6 +S7 + S8 = 7 422 + (S1a+S1b) + 19 086 (?) + 0 + 0 (?)= = 26 508 kg Emissões difusas: F = E1 (S1 +S5 +S6 +S7 + S8) = 53 331 26508 (?) = 26 823 kg % Emissões difusas: % difusas = 26 823 x 100 = 50,3% > 25% 53 331 Não cumpre VL! 18

Apreciação final: Emissões confinadas: - Cabines de pintura: - As concentrações médias excedem o VLE (75mg/Nm3) - MP1 = 1093mg/Nm3 - MP2 = 556mg/Nm3 - só tem resolução se for implementado STEG se se reduzirem as concentrações com caudal volumétrico constante aumentam-se as difusas - e durante a limpeza das cabines. Terá de se medir - Estufas de secagem: - estufa 1 - última medição em 2006 dispensada de monitorização - estufa 2 - nunca foi medida. - terão de ser monitorizadas para se decidir o que fazer. 19

Apreciação final (continuação): COV nos resíduos recolhidos: - é necessário proceder a análises aos resíduos para justificar as quantidades a considerar em (S6 e S8); Nota final: O PGS tem como objectivos (2 Princípios Anexo III): - verificar o cumprimento dos VLE; - identificar futuras opções em matéria de redução de emissões; - assegurar o fornecimento de informações ao público. 20

Obrigado pela V. atenção! 21