AS DIMENSÕES MÍSTICA E PROFÉTICA DA PASTORAL UNIVERSITÁRIA GIOVANI MARINOT VEDOATO 1 RESUMO O texto As dimensões mística e profética da pastoral universitária apresenta, no cenário da racionalidade contemporânea, a tentativa de articular adequadamente mística e profetismo a partir do horizonte universitário. Em outras palavras, provocar um encontro entre uma vida em Deus e um agir na vida à luz do projeto de Deus. Palavras-chaves: Cristãos, Mística, Pastoral, Profetismo e Universidade. ABSTRACT The text The mystic and prophetic dimension of the academic pastoral presents, in the scenario of contemporary rationality, the attempt to articulate accordingly mystique and prophetism from the academic horizon. In other words, to motivate an encounter between a life in God and an attitude in life in the light of God s project. 1 O professor Pe. Dr. Giovani Marinot Vedoato é professor de Filosofia na Faculdade Castelo Branco, em Colatina ES. É graduado em Filosofia, especialista em Psicopedagogia e Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino. Roma. Itália. 1
Keywords: Christians, Mystique, Pastoral, Prophetism and University. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo o aprofundamento de duas dimensões importantíssimas à pastoral universitária: a dimensão mística e a dimensão profética. Na dimensão mística, o foco central recai sobre a realidade da experiência humana no encontro com o Deus de Jesus que interpela o homem a um compromisso com o mundo criado no amor e perante uma história orientada para Ele. Por sua vez, a dimensão profética é a realidade da práxis cristã através de um comprometimento em que a ação cuidadora transborda a esfera do humano em si, orientando-o para o horizonte da defesa e a da promoção da vida de forma geral. Com certeza, são duas dimensões vitais para uma pastoral universitária séria. Isto porque, se na dimensão mística o aspecto de comunhão fica estabelecido entre Deus, ser humano e realidade criada, por outro lado, na dimensão profética, a defesa dessa relação comunhonal torna-se uma urgência permanente e contínua. Por fim, antes de adentrar ao conteúdo fontal, é preciso ter presente que a pastoral universitária é uma articulação de cristãos de forma sistemática e ecumênica, que desejam construir relações mais humanas e humanizantes a caminho do Reino de Deus, a partir do meio universitário. 2 Castelo Branco Científi ca - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifi ca.com.br
A DIMENSÃO MÍSTICA A conceitualidade acerca da mística pode ser estabelecida da seguinte forma: mística é a abertura do ser humano em direção ao Deus que se antecipa, ou seja, pela mística, Deus fala ao coração humano e o humano sente-se envolvido pelo mistério de Deus. Mística designa um profundo encontro do ser humano com o mistério de Deus, conforme enfatizam Leonardo Boff e Frei Beto. Quando as pessoas personalizam a experiência do mistério, sentem-se como habitadas por Ele e convidadas ao diálogo, à oração e a cair de joelhos diante de sua sacralidade. 2 Desse encontro entre o humano e o divino é que decorre o desejo do ser humano em viver a comunhão com outros seres humanos, com outras criaturas e com o cosmos. Portanto, a mística não está entregue ao campo do abstrato, pelo contrário, ela proclama a necessidade de atitudes evangélicas decorrentes do encontro Humano/Divino. Na verdade, ela convida o ser humano para algumas operosidades conforme veremos agora: a. Ação hospitaleira Por ação hospitaleira entende-se o acolhimento do ser humano, independente de sua cor, raça ou credo. Esta ação parte da seguinte pergunta vital: como acolher o outro na sua condição de outro? 2 Boff, L. & Beto, F. Mística e espiritualidade, p. 17. 3
b. Ação samaritana Por ação samaritana entende-se uma ação que transborda os limites do templo conforme aparece na parábola do bom samaritano (Lc 10, 25-37). É uma ação que socorre os caídos à beira do caminho e não faz distinção de pessoas quando o importante e fundamental é cuidar da vida. c. Ação teocêntrica Por ação teocêntrica entende-se uma ação que se alimenta do projeto de Deus apresentado por Jesus. É uma ação em que a alteridade vivida por Jesus indica-nos a transcendência a partir da imanência histórica. d. Ação de unidade na pluralidade É uma ação em que o pluralismo não é causa de divisão, ele, como plural, reivindica uma unidade de fé a partir da pluralidade de crenças religiosas. A DIMENSÃO PROFÉTICA Em termos práticos, a dimensão profética, iluminada pela dimensão mística, coloca a necessidade do compromisso histórico no compromisso ético com a justiça e com o amor efetivo. À luz da fé, o cristão age na história transformando-a em sintonia com o projeto de Deus. Impelidos pela força do evangelho, os cristãos não acreditam num Reino em outro mundo, mas esse mundo sendo transformando em outro, a caminho de Reino. Na dimensão profética, toda forma de morte e vitimação das realidades criadas por Deus é denunciada em nome de uma visão de Deus como Deus da vida, conforme diz Guitiérrez. 4 Castelo Branco Científi ca - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifi ca.com.br
A privação do necessário para viver como seres humanos é contrária à vontade de Deus que Jesus revela. Afirmar a fé nele implica rejeitar uma situação desumana que, por sua vez, dá conteúdo e urgência à proclamação do Deus da vida. 3 Portanto, como enfatiza Vedoato: O profetismo, em última análise, orienta-se historicamente para o próprio Deus, e, a partir de uma fé na história, reclama uma história em conformidade com uma das principais orações de Jesus, que é a oração do Pai Nosso. 4 Para levar a cabo a dimensão profética da pastoral universitária, eis alguns caminhos importantes: a. A oração Por meio da oração, o ser humano pode deixar-se interpelar pela práxis transformadora de Jesus. Daí, surge o seguimento como prosseguimento de sua causa de Jesus hoje. Na oração, o encontro com Deus nos conduz ao horizonte maior da vida, e mais, uma vida de oração significa uma vida que deseja mais vida plena para as realidades criadas. b. O diálogo Por meio do diálogo, pode-se reconhecer o outro como outro. Portanto, sem o diálogo não é possível gerar aprendências acerca das várias cosmovisões de Deus e das várias maneiras de cuidar da vida. 3 Guitiérrez, G. O Deus da vida, p. 11. 4 Vedoato, G. M. Teologia, Teologia da libertação, pluralismo religioso, p. 125. 5
c. A afirmação da vida Por meio da afirmação da vida em sentido amplo, resgata-se a função pública da religião. Assim, a defesa da biodiversidade coloca-se aqui como situação focal na relação fé e realidades existentes, religião e transformação social, ou seja, o encontro entre profetismo e afirmação da vida diz que, não basta simplesmente contemplar a vida como presente de Deus, é preciso protegê-la e promovê-la de forma micro e macro. d. A defesa do pobre A defesa da vida ecoa fundamentalmente em direção à defesa dos pobres. De fato, eles são as principais vítimas do desrespeito à vida. Não é possível postular o tema do profetismo à mercê do mundo dos pobres. O indiferentismo a tal realidade acarretará a sentença de cinismo e de mediocridade àqueles que pretenderem articular eficazmente dimensão profética da pastoral universitária e vida em abundância (Jo 10, 10). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com certeza, o aprofundamento das dimensões mística e profética, no rol da pastoral universitária, pode enriquecer em muito a consolidação de uma pastoral mais inserida numa vida em Deus e, não obstante, uma pastoral a serviço da vida de maneira geral. Se no caso da mística, a vida em Deus aponta para o encontro do humano com o Deus que se antecipa e, em decorrência disso, para a harmonia em forma de comunhão do ser humano com as variedades das vidas existentes, consequentemente, a dimensão profética indica para a necessidade da defesa e promoção da vida como sacralidade. Eis uma das principais tarefas posta à pastoral universitária; mediar o encontro entre humano e a transcendência, entre universitários e o Deus de Jesus. Sem imposições, sem enjaulá-lo às visões reducionistas de determinadas perspectivas religiosas e princípios míopes. 6 Castelo Branco Científi ca - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifi ca.com.br
Enfim, entender que seu mandato fontal é deixar Deus ser Deus e, por extensão, deixar Deus ser Deus em nós. Daí decorrer no ser humano um desejo de Deus como abertura a mística e um ardente desejo de cuidar das coisas de Deus na história o profetismo. REFERÊNCIAS BOFF, L. & BETTO, F. Mística e Espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. CASALDÁLIGA, P. & VIGÍL, J. M. Espiritualidade da Libertação. São Paulo: Paulus, 1993. CASALDÁLIGA, P. Nossa Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1998. CELAM. Conclusões de Aparecida. São Paulo: Paulus, 2007. GUITIÉRREZ. G., O Deus da vida. São Paulo: Paulinas, 1990. VEDOATO, G. M. Teologia, Teologia da Libertação, Pluralismo Religioso. Vitória: Flor&Cultura, 2008. RÚBIO, A. G. A caminho da maturidade na experiência de Deus. São Paulo: Paulinas, 2008. 7