UMA ESTRATÉGIA NEURAL PARA DIAGNÓSTICO DE CURTO-CIRCUITO ENTRE ESPIRAS NO ENROLAMENTO DE ESTATOR EM MÁQUINAS DE INDUÇÃO TRIFÁSICAS

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Transcrição:

UMA ESTRATÉGIA NEURAL PARA DIAGNÓSTICO DE CURTO-CIRCUITO ENTRE ESPIRAS NO ENROLAMENTO DE ESTATOR EM MÁQUINAS DE INDUÇÃO TRIFÁSICAS PAULO BRONIERA JUNIOR, ALESSANDRO GOEDTEL, CLAYTON LUIZ GRACIOLA Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica PPGEE-CP Avenida Alberto Carazaai, 164 Cornélio Procópio/PR, Brasil - CEP 863- E-mails: paulobrj@hotmail.com, agoedtel@utfpr.edu.br, claytongraciola@gmail.com Abstract The application of induction motors in industry is widespread. Several studies have presented strategies for the diagnosis and prediction of failures in these motors. One technique used is based on the recent utilization of intelligent systems for detecting faults in electric motors. Thus, this paper proposes an alternative tool to traditional methods for fault detection of a short circuit between the turns of the stator winding, using artificial neural networks to analyze the stator current signals in the time domain. Experimental results are presented to validate the proposed work in two neural structures investigated. Keywords Three Phase Induction Motor, Artificial Neural Networks, Faults in Electric Motors. Resumo A aplicação dos motores de indução trifásicos na indústria é extensa. Desta forma, vários estudos têm apresentado estratégias para o diagnóstico e a predição de falhas nestas máquinas. Este trabalho propõe uma ferramenta alternativa às técnicas tradicionais para detecção de falhas de curto-circuito entre as espiras do enrolamento de estator utilizando redes neurais artificiais as quais analisam os sinais de corrente de estator no domínio do tempo. Resultados experimentais são apresentados para validar a proposta do trabalho em duas estruturas neurais investigadas. Palavras-chave Motor de Indução Trifásico, Redes Neurais Artificiais, Falhas em Motores Elétricos. 1 Introdução A aplicação de Motores de Indução Trifásicos (MIT) na indústria é extensa, sendo este o principal meio de conversão eletromecânica de energia. Este fato ocorre devido as suas características já consolidadas, tais como baixo custo, versatilidade e robustez (Suetake et al., 211). Embora estes motores sejam usualmente bem construídos e robustos a possibilidade de falhas é inerente a operação do dispositivo. Defeitos incipientes dentro da máquina geralmente afetam seu desempenho antes mesmo que falhas significativas ocorram, trazendo assim, prejuízos ao processo industrial (Brito, 22; Suetake, 212; Belline et al., 28; Filho, 23). De acordo com Tallam et al. (27) as principais falhas encontradas em motores de indução trifásicos são provinientes de problemas elétricos ou mecânicos. Dentre os problemas elétricos destacamse as falhas no estator que são da ordem de 38% do total (Bouzid et al., 212). O diagnóstico deste tipo de falha pode ser realizado por meio de técnicas tradicionais nãoinvasivas. Estas estratégias se fundamentam na ánalise de grandezas como vibração, tensão, corrente, torque e velocidade (Bellini et al., 28; Santos et al., 212). O trabalho de Bouzid et al. (212) define um sistema de detecção de falhas de estator em motores de indução trifásicos que analizam as componentes simétricas por meio dos espectros harmônicos dos sinais de corrente. O artigo de Ukil et al. (21) descreve a utilização das assinaturas dos sinais de corrente de estator para diagnosticar falhas de curtocircuito entre as espiras no enrolamento de estator de um MIT. Entre as técnicas utilizadas para o diagnóstico de falhas em motores elétricos pode-se destacar a utilização dos sistemas inteligentes, em especial as Redes Neurais Artificiais (RNA). Esta metodologia apresenta robustez para o tratamento de incertezas no processamento de sinais. Ainda, as RNA reduzem de forma significativa o número de elementos sensores que monitoram as condições de operação da máquina. Tais sensores contribuem de forma direta com o aumento dos custos de implementação das técnicas tradicionais (Suetake, 212). O artigo de Ghate e Dudul (21) apresenta um classificador de padrões neural, o qual utiliza-se de uma rede Perceptron Multicamadas (PMC) que tem como entrada dados estatísticos retirados dos sinais de corrente do motor. Os sinais de corrente são coletados das fases do motor de indução, a fim de detectar falhas de curto-circuito entre as espiras do enrolamento de estator. Em Martins et al. (27) é definido um classificador de padrões que utiliza redes neurais artificiais as quais classificam os sinais de corrente de estator por meio da análise da componente principal (Principal Component Analysis PCA) para diagnosticar falhas de curto-circuito no enrolamento de estator em motores de indução trifásicos. A proposta deste trabalho consiste em desenvolver uma estratégia para a detecção de falhas no

enrolamento de estator baseado em uma rede neural artificial através do monitoramento das correntes no domínio do tempo. Mais especificamente, a rede deve ser capaz de aprender os padrões dos sinais de corrente do estator e identificar as falhas de curtocircuito entre as espiras. Assim, este trabalho esta dividido da seguinte maneira: na Seção 2 apresenta-se uma descrição das principais falhas nos motores elétricos. Na Seção 3 são apresentados os aspectos relacionados as RNAs. Na Seção 4 é apresentada a metodologia utilizada para o tratamento dos sinais e os resultados experimentais. Finalmente, na Seção 5, as conclusões do trabalho são apresentadas. 2 Classificação das Falhas no MIT Atualmente a maioria das máquinas são movimentadas por motores elétricos que podem, com o uso, apresentar algum tipo de falha. Estas falhas podem ser classificadas em dois grupos: i) falhas elétricas e ii) falhas mecânicas. A Figura 1 apresenta um diagrama em blocos dos principais tipos de falhas. As falhas elétricas são destacadas devido aos problemas relativos ao enrolamento de estator, o enrolamento de rotor, as barras quebradas no rotor, os anéis quebrados no rotor e conexões. Por outro lado, as falhas mecânicas podem ser oriundas de problemas de rolamentos, excentricidade, desgaste de acoplamento, desalinhamento conforme relata Singh e Kazzaz (21). Falhas Elétricas Enrolamento de Estator Enrolamento de Rotor Barras Quebradas Anéis Quebrados Conexões MIT Falhas Mecânicas Rolamento Excentricidade Desgaste de Acoplamento Desalinhamento Figura 1 Classificação das falhas no MIT Os enrolamentos de estator dos motores de indução trifásicos são submetidos a situações indesejadas por diversos fatores tais como a elevação da temperatura devido a sobrecargas mecânicas, vibrações e problemas relativos a qualidade de energia elétrica. De acordo com Han et al. (27), as falhas no enrolamento de estator podem representar até 38% das paradas indesejadas dos motores elétricos, conforme pode ser visto na Figura 2. Outras Rotor Estator Rolamento 38% % 2% 4% 6% Figura 2 Possibilidade de ocorrência de falhas em MIT As falhas de estator podem ser divididas nas seguintes categorias: curto-circuito entre espiras, curtocircuito entre enrolamentos e curto-circuito entre o enrolamento e a carcaça da máquina. A deterioração do isolamento do estator normalmente começa com o curto-circuito envolvendo poucas espiras. De acordo com Baccarini et al. (21) a corrente de curto-circuito é de aproximadamente duas vezes a corrente de rotor bloqueado e provoca aquecimento localizado que rapidamente se estende para outros setores do enrolamento. O tempo de evolução da falha depende das condições de operação do motor e é difícil de ser estimado. O que se sabe é que a evolução é rápida e desta forma, se torna indispensável o monitoramento contínuo do motor para a detecção de tal falha (Baccarini, 21). 3 Redes Neurais Artificiais As Redes Neurais Artificiais (RNA) são modelos computacionais que utilizam técnicas de processamento inerentemente paralelas, os quais se adaptam a um grande número de unidades simples de processamento (Silva et al, 21). Assim, através dessa ferramenta computacional é possível desenvolver modelos capazes de realizar predições sobre o comportamento de um determinado processo, e também executar ações que visam o controle adequado do mesmo. As aplicações com redes neurais têm aumentado a cada dia. Fornecendo uma nova visão e alternativa a detecção de falhas em motores elétricos, essa

metodologia se tornou atraente com o aumento do poder computacional dos microprocessadores. Assim, dentro do contexto deste trabalho, objetiva-se investigar duas arquiteturas neurais para detectar falhas no enrolamento de estator usando as amplitudes dos sinais de corrente. 3.1 Neurônio Artificial O neurônio artificial é a unidade básica de processamento de uma rede neural artificial. Este neurônio, associado computacionalmente a uma estrutura matricial, possui uma ou mais entradas (X 1,..., X n ) e uma saída ( ). A cada entrada fica associado um peso (W 1,...,W n ) que pondera de forma quantitativa cada entrada em relação à saída. A equação matemática que descreve o funcionamento de um neurônio é expressa por: ( ) (1) onde: n é o número de entradas do neurônio; W i é o peso associado com a i-ésima entrada; b é o limiar associado ao neurônio; X i é a i-ésima entrada do neurônio; g(.) é a função de ativação do neurônio; Y é a saída do neurônio. A partir da estrutura do neurônio artificial é possível obter varias topologias de RNA. Estas podem ser classificadas como redes multicamadas ou redes de camada única. Este trabalho tem por objetivo o diagnóstico de falhas de estator utilizando uma RNA. Assim, a abordagem desta proposta utiliza a rede neural como classificadora de padrões. Conforme Silva et al. (21), a rede perceptron multicamadas e a rede de Função Base Radial (Radial Base Function - RBF), podem ser usadas para esta finalidade. As redes perceptron de múltiplas camadas (PMC) possuem arquitetura feedforward, cujo o treinamento é realizado de forma supervisionada. Desta forma a rede ajusta seus respectivos pesos sinápticos de forma adequada para uma determinada aplicação. A topologia das redes neurais de funções de base radial é constituída por uma camada de entrada, apenas uma camada neural intermediária e uma camada de saída. Os neurônios da camada intermediária possuem a função de ativação do tipo gaussiana e os neurônios da camada de saída contêm a função de ativação do tipo linear (Azevedo et al, 2). A RBF também é caracterizada por conter duas etapas de treinamento distintas, sendo que a primeira está associada aos ajustes dos pesos da camada intermediária através de um método de aprendizagem não supervisionado o qual é exclusivamente dependente das características dos dados de entrada. Já a segunda etapa de treinamento está associada aos ajustes dos pesos dos neurônios da camada neural de saída, a qual utiliza-se da técnica de aprendizagem do tipo regra delta generalizada (Silva et al., 21). 4 Identificação de Falhas no Estator do MIT Este trabalho, no que diz respeito aos aspectos metodológicos, utiliza as leituras das correntes de estator no domínio do tempo de um MIT com e sem falhas de estator. Estes sinais são apresentados a uma RNA com o objetivo de identificar a existência ou não de falhas de curto-circuito entre as espiras do enrolamento de estator. A Figura 3a apresenta a estrutura de ensaios do laboratório. Os sinais de corrente foram coletados de forma individual por três sensores Hall conforme apresentado na Figura 3b. Estes foram conectados a uma placa de aquisição de sinais a qual está ligada a um microcomputador. 3.2 Redes Multicamadas (a) (b) Figura 3 Bancada de aquisição de dados: a) Bancada de aquisição de dados em uma visão geral; b) Condicionamento de corrente e tensão da bancada de aquisição de dados.

Corrente (A) Corrente(A).9.8.7.6.5.4.3.2.1 Soma das correntes de estator -.1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Amostras Amplitude (pu) Unidades (pu) De posse dos dados, o processamento do sinal foi realizado conforme ilustra o diagrama em blocos da Figura 4..9.8.7.6 MIT Sensores Hall de Corrente Placa de Aquisição de Sinais (Daq 6221) Amper (A).5.4.3... Tempo(s).2 Tratamento dos dados Matlab Normalização do sinal pela Imax Montagem da matriz de entrada da RNA.1 -.1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Amostras (pu)... Apresentação dos dados RNA Validação dos dados Treinamento RNA Classificação 1-Com Falha -Sem Falha Amper (A) Figura 4 Rotina de tratamento de dados Amostras (pu) A taxa de amostragem dos sinais de corrente foi de 25Ksamples/s em um tempo de aquisição igual a 5s. Desta forma foram realizados 134 ensaios e obteve-se um total de 125. pontos para cada fase. Deste conjunto de dados, 5. pontos foram escolhidos de forma aleatória e armazenados em vetores para condicionamento, conforme apresentado na Figura 5(a). Após o armazenamento da corrente para cada fase, os respectivos sinais foram condicionados de duas formas: na primeira o sinal foi tratado ponto a ponto resultando em um vetor também de 5. pontos. Este totaliza 1 ciclos de onda amostrados, cada um com 5 pontos. Para simplificar e reduzir o número de entradas da rede, utiliza-se uma rotina de tratamento de dados para identificar um ciclo de onda completo e sub amostrá-lo resultando em um vetor de 1 pontos, conforme mostra a Figura 5(b). Já no segundo método os sinais de corrente foram condicionados a partir de seus valores RMS os quais resultaram em apenas três entradas para RNA. (b) Figura 5 Sinais de Corrente de estator: a)correntes de estator (fase a, b e c) armazenadas cada uma em um vetor de 5. pontos; b) Ciclo de onda sub amostrado em 1 pontos resultante do condicionamento das correntes de estator (entrada da rede). A partir destes procedimentos foram geradas duas tabelas contendo em cada uma 134 amostras com e sem falhas de curto-circuito entre as espiras do enrolamento de estator. Destas amostras 89 foram utilizadas para treinamento e 55 para validação. As respectivas amostras de sinais com falhas de estator receberam uma tag de saída desejada igual a 1, e as amostras de sinais sem falhas receberam uma tag de saída desejada igual a. Com o objetivo de avaliar a RNA frente a possíveis interferências nos sinais de corrente apresentados, foi inserido de forma randômica e na mesma frequência do sinal amostrado um ruído branco. Este causou alterações em todo o sinal amostrado, conforme apresenta a Figura 6. Para isto foi desenvolvido um rotina que estabelece valores randômicos de -1 a 1, os quais são limitados a 1% do valor do sinal de corrente normalizado de a 1. Desta forma o sinal amostrado contendo ruído foi apresentado a rede somente na etapa de validação, a fim de verificar a robustez da RNA, frente a interferências contidas no sinal de corrente apresentado em suas entradas..7 Entrada + Ruído Entrada.6 2.5 2.5 1.5.4 1.5.3 -.5.2-1 -1.5.1-2 -2.5 1.468 1.47 1.472 1.474 1.476 1.478 1.48 1.482 1.484 1.486 1.488 Tempo (s) (a) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Amostras (pu) Figura 6 Sinal de Entrada com Ruído

Após a etapa de coleta, tratamento e teste de robustez, os dados foram submetidos a três arquiteturas de rede com duas topologias diferenciadas, apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 Parâmetros da RNA Tipo Rede 1 Rede 2 Rede 3 Arquitetura RBF PMC PMC Treinamento PS PS PS Nº Camadas 2 2 2 Neurônios 1ª Camada Neurônios 2ª Camada Algoritmo de treinamento Função de ativação 1ª Camada Função de ativação 2ª camada 2 3 8 1 1 1 Auto Organizado/ Regra Delta Gaussiana BP Tangente Hiperbólica BP+LM Tangente Hiperbólica Linear Linear Linear (LM) Levenberg Maquardt; (BP) Backpropagation Neste trabalho foram considerados dois métodos de condicionamento de sinais. O primeiro consiste na soma das três correntes de fase e o segundo no valor eficaz das correntes de fase. As redes propostas foram submetidas ao treinamento com o mesmo sinal de entrada, tendo uma taxa de aprendizagem especificada conforme apresentado na Tabela 2 para o primeiro método de tratamento e conforme a Tabela 3 para o segundo método de tratamento dos sinais de corrente. Como critério de parada, foi estabelecido o erro quadrático médio (EQM), sendo este definido de acordo com o melhor desempenho de cada rede. Tabela 2 Resultados para 1º método: soma das correntes Tipo Rede 1 Rede 2 Rede 3 Amostra de treinamento 89 89 89 Amostra de validação 55 55 55 EQM 1e -13 1e -11 1e -11 Coef. De Aprendizado.1.1.1 Épocas 287.832 349 45 Falso positivo 5 13 3 Falso negativo 3 4 Erro classificação 8/55 17/55 3/55 Porcentual de acerto 85,4% 69,1% 94,54% Para o primeiro método a Rede 1 convergiu com 287.832 épocas com 85,4% de acerto, enquanto a Rede 2 atingiu o critério de parada com 349 épocas com apenas 69,1% de acerto. Já à Rede 3 o número de épocas de treinamento foi menor, atingindo um valor máximo de 45 épocas de treinamento com 94,54% de acertos na classificação dos padrões. Tabela 3 Resultados para 2º método: Valor eficaz das correntes Tipo Rede 1 Rede 2 Rede 3 Amostra de treinamento 89 89 89 Amostra de validação 55 55 55 EQM 1e -9 1e -9 1e -2 Coef. De Aprendizado.1.1.1 Épocas 19.357 328 428 Falso positivo 6 13 4 Falso negativo 3 4 Erro classificação 9/55 17/55 4/55 Porcentual de acerto 83,64% 69,1% 92,73% Para o segundo método a Rede 1 convergiu com 19.357 épocas com 83,64% de acerto, enquanto a Rede 2 atingiu o critério de parada com 328 épocas com apenas 69,1% de acerto. Já a Rede 3 o número de épocas de treinamento foi de 428 épocas e com 92,73% de acertos na classificação dos padrões. 5 Conclusão Este trabalho apresentou a proposta de um método alternativo às técnicas tradicionais para detecção de falhas de curto-circuito entre as espiras do enrolamento de estator. Este método utilizou-se de redes neurais artificiais que analisam os sinais de corrente de estator no domínio do tempo. Foram coletados 134 amostras de sinais de corrente de estator. Os dados foram condicionados de duas maneiras, os quais foram treinados e validados por três arquiteturas diferentes de redes neurais. Através dos resultados obtidos, pode-se observar que das três arquiteturas propostas para o trabalho, a Rede 3 apresentou o melhor desempenho para tal aplicação, possibilitando assim a validação do método proposto. Agradecimentos Este trabalho conta com o apoio da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná (Processo No 6/5693-3), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (Processo Nº47429/28-5, 473576/211-2, 552269/211-5) e bolsas Capes- DS.

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