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Transcrição:

AGRAVO DE INSTRUMENTO N º 688.623-0/1 SÃO PAULO Agravante: Omni Local S.A. Crédito, Financiamento e Investimento Agravada: Cibele Alves Lima ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE DEPÓSITO. Acordo com o reconhecimento da procedência do pedido. Homologação. Descumprimento pela devedora. Não havendo contrato de depósito nem depositário judicial, a privação da liberdade individual como forma de coerção para o cumprimento da obrigação é juridicamente inviável. Agravo não provido. ACORDO. HOMOLOGAÇÃO. EXECUÇÃO. Na forma como se encontra elaborado o termo de composição, extinto o processo, a parte credora passou a ter título executivo judicial e, no caso de inadimplência, deve promover Ação de Execução com fundamento no art. 584, inc. III do Cód de Proc. Civil. ACORDO. OBRIGAÇÕES. DESCARACTERIZAÇÃO DO DEPÓSITO. PRISÃO. No acordo a Requerida não permaneceu com o veículo para guardar, mas para usar; não ficou adstrita a devolvê-lo; não pode ser privada da posse se cumprir as obrigações assumidas. O depósito está tecnicamente descaracterizado, circunstância que não autorizaria a prisão da devedora. Não havendo contrato de depósito nem depositário judicial, a privação da liberdade individual como forma de coerção para o cumprimento da obrigação é juridicamente inviável. Voto n 0 4.741 Visto. OMNI LOCAL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO interpôs Recurso de Agravo de Instrumento contra despacho do MM. JUÍZO DE DIREITO DA 1 a VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DE SÃO MIGUEL PAULISTA, Comarca da Capital, proferido na Ação de Depósito que promove - 1 -

contra CIBELE ALVES LIMA, caracteres e qualificação das partes nos autos. A Agravada não foi intimada para resposta porque não possui Advogado constituído. É o relatório. OMNI LOCAL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO ingressou com Ação de Busca e Apreensão de veículo alienado fiduciariamente contra CIBELE ALVES LIMA. Não localizado o bem, o pedido foi convertido em Ação de Depósito. A Requerida foi citada e, em vez de contestação, trouxe aos autos o termo de acordo (folhas 28/29), onde restou acertado, além do parcelamento da dívida:... Após o pagamento da última parcela, a Autora entregará à Requerida os documentos para liberação do veículo objeto da garantia, uma vez que o mesmo permanecerá como garantia do pagamento, continuando a Ré, inclusive, a responder por sua guarda e conservação, na condição de fiel depositária, sendo que, uma vez verificado o descumprimento do acordo, deverá ter prosseguimento a presente ação, independente de qualquer noificação ou interpelação com o imediato desentranhamento do mandado para intimação do Requerida/depositária do bem a apresentá-lo em 24:00 horas, ou consignar o valor equivalente em dinheiro (saldo devedor em aberto), sob pena de prisão, nos termos da lei.... Foi ele homologado e o processo extinto com julgamento do mérito em 21.12.99. Pelo inadimplemento da Requerida, a Requerente pediu o prosseguimento. O r. Juízo determinou:... Expeça-se mandado de intimação, sob pena de execução... (folha 40). Daí o Recurso de Agravo de Instrumento, onde a Requerente (Agravante) persegue:... o cumprimento do acordo celebrado nos autos... e de sua sentença homologatória, com o cumprimento do quanto nele consignado... (folha 6). O acordo esteve adstrito apenas ao valor devido, não alcançando os atos contratuais anteriores, - 2 -

pois implicou no término da Ação de Depósito, desafiando, a decisão que o homologou, execução independente. Não ocorreu uma convenção formal entre as partes, a fim de que o processo ficasse suspenso e, sim, a extinção do processo com julgamento do mérito, de acordo com a diretriz do art. 269, inc. III do Cód. de Proc. Civil, haja vista que as partes não reservaram direitos originários do contrato inicial, v.g. ficam mantidas as demais cláusula do contrato..., ou ainda, sem prejuízo das cláusulas não excluídas do contrato.... Na forma como se encontra elaborado o termo de composição, extinto o processo, a parte credora passou a ter título executivo judicial e, no caso de inadimplência, deve promover Ação de Execução com fundamento no art. 584, inc. III do Cód de Proc. Civil. Não poderiam as partes dispor sobre a liberdade individual da Agravada no acordo homologado, porque desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 a prisão civil do depositário infiel no contrato de alienação fiduciária em garantia está vedada. A Constituição Federal de 18/9/46, dispunha no artigo 153, 17: "Não haverá prisão civil por dívida, multa ou custas, salvo o caso do depositário infiel ou do responsável pelo inadimplemento de obrigação alimentar, na forma da lei". A Constituição Federal de 5/10/88, dispõe no artigo 5 0, inciso LXVIII: "Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel". O Decreto Legislativo n 0 27, de 26/5/92, do Congresso Nacional, aprovou o Pacto de São José da Costa Rica. O Brasil fez o depósito da Carta de Adesão à Convenção em 25/9/92, com determinação para o seu cumprimento através do Decreto n 0 678, de 6/11/92, - 3 -

publicado no DOU de 9/11/92, págs. 15.562 e seguintes, que diz em seu artigo 71: "Ninguém deve ser detido por dívidas, exceto em cumprimento de mandado expedido pela autoridade judiciária, em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar". O Constituinte de 1988 retirou do inciso LXVIII, do artigo 5 0, da Constituição Federal, a expressão "na forma da lei". Essa circunstância autoriza uma interpretação diversa da que vinha sendo adotada, por se tratar de norma constitucional de exceção. Esse desvio da regra constitucional tornou impossível a figura do depositário infiel pela legislação ordinária, não mais se justificando um conceito abrangente do contrato de depósito. Diz Carlos Maximiliano 1 : "Interpretam-se estritamente os dispositivos que instituem exceções às regras gerais firmadas pelo Constituição. Assim se entendem os que favorecem algumas profissões, classes, ou indivíduos, excluem outros, estabelecem incompatibilidades, asseguram prerrogativas, ou cerceiam, embora temporariamente, a liberdade, ou as garantias da propriedade. Na dúvida, siga-se a regra geral". O preceito, por excepcionar o sentido protetivo dos direitos individuais consagrados sob o título Dos Direitos e Garantias Individuais, não se torna compatível com uma interpretação extensiva. No artigo 5 0, inciso XII a Constituição Federal transferiu ao legislador ordinário os casos em que permite violação "... nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal". Logo, a lei ordinária não pode ampliar os casos de constrangimento. sustentam: Paulo Restiffe Neto e Paulo Sérgio Restiffe "a) É constitucional a permissão de prisão civil do infiel depositário. 1 - Hermenêutica e Aplicação do Direito, 8ª ed., pág. 325. - 4 -

b) Entretanto, no plano infraconstitucional, como tratado internacional, com eficácia no direito doméstico brasileiro, o Pacto de São José da Costa Rica está em plena vigência como norma de caráter geral e, assim, derrogou todas as previsões legislativas de caráter de lei geral sobre prisão civil e os procedimentos para sua aplicação, por infidelidade depositária, inclusive e principalmente o art. 1.287 do C.C. e os arts. 885, par. ún., 902, 1º, e 904, par. ún., todos do CPC. c) O Dec.-lei 911/69, muito embora seja lei especial - não revogável diretamente por lei de caráter geral, como é o caso do Pacto de São José da Costa Rica, foi esvaziado reflexamente por não cominar a prisão civil do infiel depositário, mas tão-somente, fazer remissão à fonte cominatória derrogada (Códigos Civil e Processual Civil), de modo que a remissão à responsabilidade imposta pela lei civil geral e à forma de sua aplicação, feita no Dec.-lei 911/69, cai no vazio. d) Logo, não há responsabilidade civil cujo cumprimento possa ser exigível coercitivamente sob cominação de prisão civil, seja no depósito genuíno, seja no depósito derivado, como no da alienação fiduciária em garantia, penhor mercantil, rural etc, até que outra norma revogue o Pacto de São José da Costa Rica, repristinando a antiga redação do art. 1.287 do CC e preenchendo o vazio deixado nos arts. 885, 902 e 904 do CPC 2. Dispõe Código de Processo Civil: Julgada procedente a ação (de depósito), ordenará o juiz a expedição de mandado para a entrega, em vinte e quatro (24) horas, da coisa ou do equivalente em dinheiro. Parágrafo único. Não sendo cumprido o mandado, o juiz decretará a prisão do depositário infiel 3. Admitindo-se que a lei pode impor a pena de prisão para modalidades diferentes de depósito, a solução que se deduz pela razão está voltada ao exame imperioso se existe depósito no acordo homologado. Sobre o depósito sustenta Orlando Gomes: Pelo contrato de depósito recebe alguém objeto móvel para guardá-lo e restituí-lo, por certo prazo. Quem entrega a coisa para ser guardada chamase depositante. Quem a recebe, para tê-la em custódia, depositário. 2 - Revista dos Tribunais, vol. 756/37-52. 3 - Artigo 904 e parágrafo único. - 5 -

O termo depósito emprega-se em duplo sentido. Ora significa a relação contratual; ora, seu objeto. O contrato perfaz-se com a entrega da coisa. Podem ser objeto de depósito, entre nós, somente as coisa móveis. A limitação, como se verá adiante, quadra melhor à função econômico-social do contrato. Em algumas legislações permite-se, contudo, o depósito de imóveis. A guarda deve ser temporária, uma vez que é da essência do contrato a obrigação de restituir a coisa depositada. Todavia, pode ser estipulado por prazo determinado ou indeterminado. A característica do depósito é a obrigação de custódia. Distingue-se do mandato e do comodato, porque não têm estes como causa a guarda e conservação das coisas, posto envolvam-nas 4. Ao analisar o artigo 1.275 do Código Civil, Clóvis Bevilaqua torna bem visível que a essência do depósito é a guarda da coisa:... se ao depositário se concede o direito de usar da coisa, já não haverá depósito, e sim comodato se a coisa for infungível e o uso gratuito; locação, se oneroso for o uso; mútuo, se for a coisa fungível. A essência do depósito é a custodia rei, a guarda da coisa 5. No acordo a Requerida não permaneceu com o veículo para guardar, mas para usar; não ficou adstrita a devolvê-lo; não pode ser privada da posse se cumprir as obrigações assumidas. O depósito está tecnicamente descaracterizado, circunstância que não autorizaria a prisão da devedora. Não se pode falar que a Agravada tornou-se depositária judicial do veículo, porque o ato representa medida administrativa submetida ao exclusivo poder discricionário do Magistrado, atento aos requisitos da conveniência e da oportunidade. Também não dispunham as partes deste instituto jurídico no acordo de vontades levado à homologação. Para que houvesse modificação da qualidade da posse da Requerida sobre o bem, derivada do contrato, passando a ser exercida na condição de auxiliar 4 - Contratos, pág. 378, 12ª edição. 5 - Código Civil Comentado - vol. V - 9ª edição (Comentários ao art. 1275). - 6 -

do juízo (Código de Processo Civil, artigo 139), a nomeação para o encargo era de rigor. Devia ter sido aceito o compromisso de manter o veículo sob sua guarda e esfera de vigilância, e assinado o termo para exercer a função pública de depositária. Isto não ocorreu. A assunção da obrigação de depositário judicial é de caráter personalíssimo e intransferível, não sendo admitido o aceite por procurador diante das gravíssimas conseqüências que poderão advir do nãocumprimento da ordem de apresentar o bem ou o seu equivalente em dinheiro. Não pode haver a imposição do encargo à devedora contra a sua vontade, porque a incumbência, embora constitua munus público, exige a aceitação pessoal em face das obrigações com a guarda da coisa, que, não atendidas, podem até implicar em imposição de prisão civil por infidelidade depositária. Não havendo contrato de depósito nem depositário judicial, a privação da liberdade individual como forma de coerção para o cumprimento da obrigação é juridicamente inviável. Alienação fiduciária. Ação de Depósito. Acordo financeiro. Saldo devedor em aberto. Execução. Prisão civil. Inadmissibilidade. Não se admite o decreto de prisão civil, como forma de coação para ver satisfeita a dívida assumida em acordo homologado em sede de ação de depósito, ainda que suspensa por decisão judicial 6. recurso. Em face ao exposto, nega-se provimento ao IRINEU PEDROTTI Relator 6-2º TACivSP - Ap. c/ Rev. 536.024-7ª Câm. - Rel. Juiz WILLIAN CAMPOS - J. 15.9.98. - 7 -