Nota Técnica FENAJUFE nº 004/2012

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Transcrição:

Nota Técnica FENAJUFE nº 004/2012 REVISÃO DO PCS DOS SERVIDORES DO JUDICIÁRIO E MPU EM ANO ELEITORAL. POSSIBILIDADE. 1 - LEI ELEITORAL (Lei 9.504/97), ART. 73, VIII. Vedação voltada apenas à revisão geral. Não aplicação à hipótese de aumento, realinhamento ou reestruturação de carreira. 2- LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LC 101/2000), ART. 21, ÚN. Restrição vinculada ao término do mandato do titular dos órgãos respectivos. Peculiaridades do PJU e MPU. Irrelevância do calendário eleitoral. 3 - ELEIÇÕES MUNICIPAIS E SERVIDORES FEDERAIS. Lei Eleitoral voltada para a "circunscrição" em que realizado o pleito. LRF que regula a situação "do órgão ou Poder". Situação salarial dos servidores federais que em nada se relaciona com as eleições municipais. 1. Através de sua Coordenadoria Jurídica e Parlamentar, a Federação Nacional dos Trabalhadores no Judiciário Federal e Ministério Público da União submete à análise de sua Assessoria Jurídica Nacional, representada pelo escritório PITA MACHADO ADVOGADOS, a seguinte questão: "É possível a aprovação das novas tabelas remuneratórias previstas nos Projetos de Lei que tratam da revisão do PCS dos servidores do Judiciário da União e Ministério Público da União?" 2. Para responder a esse questionamento, é preciso analisar os dois dispositivos legais que estabelecem limitações à elevação da 1

remuneração dos servidores públicos em período eleitoral, um da Lei Eleitoral (Lei 9.504/97) e outro da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000). As condicionantes de ordem orçamentária, também referidos nesta última, não serão objeto de análise, pois ultrapassam o objeto da presente Nota. 3. A Lei Eleitoral dispõe em seu artigo 73, VIII: Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: (...) VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos. 1 Como se vê, fica proibida apenas a "revisão geral" da remuneração dos servidores. Mais do que isso, fica vedada apenas a revisão geral na parte em que "exceda a recomposição da perda do seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição". Ora, como se sabe, os vencimentos dos servidores podem ser modificados por duas ordens de fatores, a revisão geral e os aumentos, realinhamentos ou reestruturações. A revisão geral é aquela que visa corrigir as perdas inflacionárias que corroem os vencimentos, devendo ser efetuada anualmente, pelos mesmos índices para civis e militares, mediante lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo mas que alcança os servidores de todos os Poderes (art. 37, X, c/c art. 61, 1º, II, a, da CF/88). Já os aumentos, realinhamentos ou reestruturações, inserem-se na idéia geral de fixação da remuneração, devendo ser observada para cada caso a iniciativa privativa (arts. 51, IV, 52, XIII, 61, 1º, II, a, 96, II, b, e 61, c/c o 127, 2º, todos da CF/88). 2 1 O prazo estabelecido no art. 7º da mesma lei, a que remete o inciso VIII, acima transcrito, é o de 180 dias antes das eleições. 2 Há duas espécies de aumento de vencimentos: uma genérica, provocada pela alteração do poder aquisitivo da moeda, à qual poderíamos denominar de aumento impróprio, por se tratar, na 2

Assim, resta claro que a legislação eleitoral não veda a concessão de aumentos, as reestruturações ou realinhamentos das diversas carreiras, como é o caso da revisão do Plano de Cargos e Salários dos servidores do Judiciário e MPU. Esta distinção é reconhecida pela jurisprudência do próprio Tribunal Superior Eleitoral, como se exemplifica: Revisão geral de remuneração de servidores públicos. Circunscrição do pleito. Art. 73, inciso VIII, da Lei n o 9.504/97. Perda do poder aquisitivo. Recomposição. Projeto de lei.encaminhamento. Aprovação. 1. O ato de revisão geral de remuneração dos servidores públicos, a que se refere o art. 73, inciso VIII, da Lei n o 9.504/97, tem natureza legislativa, em face da exigência contida no texto constitucional. 2. O encaminhamento de projeto de lei de revisão geral de remuneração de servidores públicos que exceda à mera recomposição da perda do poder aquisitivo sofre expressa limitação do art. 73, inciso VIII, da Lei n o 9.504/97, na circunscrição do pleito, não podendo ocorrer a partir do dia 9 de abril de 2002 até a posse dos eleitos, conforme dispõe a Res.-TSE n o 20.890, de 9.10.2001. 3. A aprovação do projeto de lei que tiver sido encaminhado antes do período vedado pela Lei Eleitoral não se encontra obstada, desde que se restrinja à mera recomposição do poder aquisitivo no ano eleitoral. 4. A revisão geral de remuneração deve ser entendida como sendo o aumento concedido em razão do poder aquisitivo da moeda e que não tem por objetivo corrigir situações de injustiça ou de necessidade de revalorização profissional de carreiras específicas. (TSE, Res. n o 21.296, de 12.11.2002, rel. Min. Fernando Neves, in http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/condutasvedadas-a-agentes-publicos/servidor-publico/revisao-geral-deremuneracao acesso em 08.02.2012) A aprovação, pela via legislativa, de proposta de reestruturação de carreira de servidores não se confunde com revisão geral de remuneração e, portanto, não encontra obstáculo na proibição contida no art. 73, inciso VIII, da Lei n o 9.504, de 1997. (TSE, Res. n o 21.054, de 2.4.2002, rel. Min. Fernando Neves, verdade, de um reajustamento destinado a manter o equilíbrio da situação financeira dos servidores públicos; e outra específica, geralmente feita à margem da lei que concede o aumento geral, abrangendo determinados cargos ou classes funcionais e representando realmente uma elevação de vencimentos, por se fazer em índices não proporcionais ao do decréscimo do poder aquisitivo. ( MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 29.ed., S. Paulo, Malheiros: 2004, p. 459 - grifamos). 3

in http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/condutasvedadas-a-agentes-publicos/servidor-publico/revisao-geral-deremuneracao - acesso em 08.02.2012) Como se não bastasse, a restrição da Lei Eleitoral diz apenas com "a circunscrição do pleito". Tratando-se de ano de eleições municipais, não haveria como pretender a extensão de mesmos limites às modificações salariais dos servidores federais. 4. No que respeita à Lei de Responsabilidade Fiscal, a regra restritiva (art. 21, parágrafo único) tem a seguinte redação: Art. 21 - é nulo de pleito direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: I - as exigências dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no inciso XIII do art. 37 e no parágrafo 1º do art. 169 da Constituição; II - o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo; Parágrafo Único - Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento de despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no artigo 20. (grifo nosso) Os pontos mais salientes da norma, para fins desta Nota Técnica, são aqueles em que há (a) vedação ao todo ato "que resulte aumento de despesa com pessoal" e (b) vinculação do óbice ao período de "cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no artigo 20". Verifica-se que, diferentemente da Lei Eleitoral, a LRF veda não apenas a revisão geral, mas de modo genérico os atos que impliquem aumento de despesa com pessoal, o que poderia em tese abranger a hipótese de um novo Plano de Cargos e Salários para os servidores do Judiciário e MPU. Ocorre que a última parte do dispositivo, ao direcionar a proibição do aumento "ao final do mandato do titular do respectivo Poder", afasta a possibilidade de sua aplicação ao caso concreto. Conforme IVAN BARBOSA RIGOLIN: "Mas o art. 21 contém também outra importante cominação de nulidade, referindo como nulo o ato de que resulte aumento de 4

despesa com pessoal praticado nos 180 dias anteriores ao fim do mandato do titular de cada respectivo Poder ou órgão. Observe-se que neste caso coincidem os mandatos dos chefes do Executivo e do Legislativo, mas não coincidem com estes o fim do mandato dos chefes do Judiciário, do Tribunal de Contas e do Ministério Público. Sempre, assim, que esses três últimos Poderes - entendemos nós que os três são Poderes pretenderem, dentro de sua competência, praticar atos de que decorra aumento de despesa com seu respectivo pessoal, precisarão observar que o seja no prazo máximo de um semestre antes do fim de seu mandato, ou de outro modo será nulo o ato praticado. (RIGOLIN, Ivan Barbosa. Lei de Responsabilidade Fiscal e Despesas com Pessoal.Direito Administrativo Contabilidade e Administração Pública. São Paulo: IOB, ano IV, nº7. 2000, p.25-34.) Assim, tratando-se de ano destinado à realização apenas de eleições municipais, não haveria qualquer obstáculo à concretização do reajustamento proposto para os Planos de Cargos e Salários dos servidores do Judiciário e Ministério Público federais. De mais a mais, no que respeita aos servidores públicos civis federais do Poder Judiciário e do Ministério Público, a vedação constante da Lei de Responsabilidade Fiscal não guarda qualquer relação com o chamado "calendário eleitoral". Isso porque, como é notório, os Tribunais elegem seus próprios administradores. E o Ministério Público, por sua vez, tem seu Chefe escolhido dentre os integrantes das carreiras que o compõe (MPF, MPT, MPM, MPDFT), mediante nomeação do Presidente da República e após a aprovação de seu nome pelo Senado Federal. Provas maiores disso são as Lei 11.415 e 11.416, ambas datadas de 15 de dezembro de 2006, portanto aprovadas em ano eleitoral, quando faltavam apenas dois meses para o encerramento do mandato do Presidente da República. Tais leis, aliás, foram precisamente as que procederam à última atualização do Plano de Cargos e Salários dos servidores do PJU e do MPU. Deve-se observar, ainda, uma virtual impossibilidade física de aplicação da regra de 180 dias antes do término do mandato no âmbito do Poder Judiciário. É que os mandatos dos Presidentes de Tribunais não coincidem por nenhum modo. Não se pode esquecer que o artigo 21, parágrafo único, da LRF é específico ao determinar que o prazo seja contado relativamente ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no artigo 20: 5

"Art. 20. (...) 2 o Para efeito deste artigo entende-se como órgão: I - o Ministério Público; (...) III - no Poder Judiciário: a) Federal, os tribunais referidos no art. 92 da Constituição; b) Estadual, o Tribunal de Justiça e outros, quando houver." A remissão ao art. 92 da Constituição, portanto, faz com que se deva considerar cada um dos Tribunais. Mas não apenas os Tribunais Superiores (STF, STJ, TST, STM, TSE). Também os Tribunais Regionais do Trabalho (em número de 24), os Tribunais Regionais Federais (5) e o Tribunal de Justiça do DF e Territórios, sendo notório que cada um deles define autonomamente, em seus próprios regimentos, a duração e a época do mandato de seus gestores. Assim, como os servidores vinculados a todos esses tribunais submetem-se ao mesmo Plano de Cargos e Salários, a se entender aplicável a regra, resultaria vedado para sempre o aumento de despesa com o pessoal do Judiciário, interpretação que, por conduzir ao absurdo, deve ser prontamente rechaçada. Sabendo-se ainda que o Exmo. Sr. Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, tomou posse em 15.08.2011, para um mandato de dois anos, nada obsta a votação do Projeto de Lei de PCS do Ministério Público da União. Mesmo que se quisesse considerar o término do mandato do Chefe do Executivo a conclusão não seria alterada, pois a Exma. Sra. Presidenta da República, Dilma Roussef não chegou sequer à metade de seu mandato. 5. Em conclusão, pode-se afirmar, sinteticamente: a) a vedação do artigo 73, VIII, da Lei Eleitoral, não impede a aprovação no ano de 2012 dos Projetos de Lei de reestruturação do PCS dos servidores do Judiciário da União e do MPU, porque não se trata de revisão geral (hipótese ali versada) mas de aumento, realinhamento ou reestruturação; b) a restrição do artigo 21 parágrafo único da Lei de Responsabilidade Fiscal, igualmente, não inibe a votação do PCS do Judiciário e 6

MPU, porquanto o final do mandato do titular dos órgãos respectivos não está demarcado pelo calendário eleitoral; c) em qualquer caso, não haveria aplicação das mesmas regras no ano de 2012 a uma proposta salarial de servidores federais, por se tratar de ano com eleições apenas em âmbito municipal. Ou seja, a resposta à indagação apresentada pela Executiva da Federação é positiva: "Sim. À vista das normas jurídicas e da situação concreta estudada, é possível a aprovação em 2012 das novas tabelas remuneratórias previstas nos Projetos de Lei que tratam da revisão do PCS dos servidores do Judiciário da União e Ministério Público da União, independentemente do calendário eleitoral. São as considerações, a serem submetidas ao criterioso exame da Diretoria Executiva da Fenajufe. Brasília, 08 de fevereiro de 2012. Renata von Hoonholtz Trindade Pedro Maurício Pita Machado Brendali Tabile Furlan OAB RS 76.730 OAB RS 24.372 - SC 12.391 A - DF 29.543 OAB RS 61.812 SC 28.292A Pita Machado Advogados Assessoria Jurídica Nacional da FENAJUFE 7