Determinação da susceptibilidade à inundação e à erosão em praias expostas.

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Transcrição:

Determinação da susceptibilidade à inundação e à erosão em praias expostas. Beach susceptibility to flooding and erosion. J. Trindade 1, A. Ramos Pereira 1 1 Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, edifício da Faculdade de Letras, Alameda da Universidade, 1600 214, Lisboa, Portugal. jorgetrd@univ ab.pt Abstract This paper presents the beach morphodynamic monitoring results of three beach systems in the Estremadura coast. The aim of this research is to define the local susceptibility to marine flooding and erosion, distinguishing different levels of exposure to hazard. Conceptual susceptibility model for beach system and adjacent areas is proposed based on the indexes of potential marine flooding and erosion. These indexes are calculated using field measured morphodynamic and hydrodynamic data and empirical modelling of the beach profile response to extreme events. Results clearly show that different exposure levels relative to marine flooding and erosion are directly driven by beach profile and frontal dune morphology types. Keywords Coastal Systems, risk, extreme events, morphodynamics Resumo Apresentam se os resultados da monitorização de três sistemas de praia no litoral estremenho, tendo como objectivo a determinação da susceptibilidade local à inundação e à erosão marinhas. São propostos dois indicadores do potencial de inundação e erosão, recorrendo a parâmetros morfológicos e hidrodinâmicos observados e à modelação empírica do comportamento dos perfis de praia sob condições extremas de ondulação. Os resultados e o zonamento da susceptibilidade a este tipo de perigo revelam níveis distintos de exposição ao risco de inundação e erosão marinhas dos vários sistemas analisados e das suas áreas adjacentes sob a influência de temporais extremos, com período de retorno de 100 anos. Palavras Chave Sistemas costeiros, risco, fenómenos extremos, morfodinâmica Introdução O elevado dinamismo que caracteriza o ambiente litoral e em particular as praias está associado a elementos forçadores capazes de induzir mudanças dramáticas na linha de costa. As praias correspondem a um dos sistemas litorais mais dinâmicos, onde se concentram vários tipos de usos permanentes ou temporários (sazonais), cuja vulnerabilidade dependerá da robustez que o sistema apresenta no momento em que ocorre um fenómeno com potencial destruidor. Este perigo materializase na frequência e magnitude com que as ondas atingem as praias. As consequências mais importantes e também as mais frequentes do impacto dos temporais na costa ocidental portuguesa são a erosão, por perda temporária ou permanente de sedimentos para a plataforma continental, e a inundação, por galgamento oceânico, das praias e das áreas adjacentes. Entre os elementos em risco podem enunciar se os que são encontrados dentro do limite do sistema de praia, ou seja, as pessoas e as estruturas de apoio à prática balnear. No entanto, estes fenómenos potencialmente danosos fazem estender os seus efeitos para lá dos limites do sistema, tendo por isso de ser considerados em risco todos os tipos de uso do território próximos do sistema, nomeadamente as infra estruturas marítimas e terrestres, os bens, as propriedades e, em última análise, as actividades económicas. 315

Objectivos O objectivo deste estudo é a determinação da susceptibilidade à inundação e à erosão em três praias expostass do litoral estremenho português ( Fig. 1), a praia de S ta. Rita, a praia Azul e a praia da Foz do Lizandro, localizadas entre Peniche e Cascais. Figura 1. Localização dos perfis de praia monitorizados nas praias de S ta. Rita (a), Azul (b) e Foz do Lizandro (c). Metodologias Apresentam se os resultados das campanhas quinzenais de monitorização sequencial de perfis de praiaa nos três sistemas estudados, salientando se o seu comportamento morfodinâmico após a ocorrência de temporais. Os perfis de praia foram monitorizados com recurso a dgps e estação total a partir de uma rede de referenciação local construída para o efeito, entre os anos de 2005 e 2006. São propostos os indicadores do potencial de inundação e erosãoo como base para o zonamento da susceptibilidade nos sistemas estudados e áreas adjacentes, conceptualizados num modelo de avaliação de susceptibilidades locais (Fig. 2). Figura 2. Susceptibilidade dos sistemas de praia à inundação e à erosão. Ambos os indicadores foram determinados a partir da parametrização da hidrodinâmica e morfodinâmica locais e da modelação empírica (incluindo os processos de calibração e a validação) do comportamento dos sistemas sob o efeito de temporais registados durante o período de monitorizaçãoo e de um temporal extremo, com período de retorno de 100 anos. 316

O indicador do potencial de inundação foi determinado pelo somatório de vários níveis de alturas de água a partir do nível médio do mar [nível médio da preia mar viva + sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica + runup (Stockdon et al., 2006)], diferenciando o perfil de partida segundo os limites de declive apurados durante as campanhas. Os dados utilizados para a determinação do indicador do potencial de inundação correspondem a séries de alturas de maré registadas, no marégrafo de Cascais, e previstas pelo modelo disponibilizado pelo Instituto Hidrográfico (entre 01.01.2004 e 31.07.2007), a dados da bóia ondógrafo de Sines, referentes aos parâmetros das ondas de largo da semana anterior a cada monitorização e a dados que caracterizam a morfologia das praias estudadas à data de cada monitorização. O indicador do potencial de erosão é representado pelo recuo da linha de costa e pelas perdas volumétricas no perfil de praia, resultado da ocorrência de um temporal extremo, paraperfis de partida próximos do dissipativo e do reflectivo. Estes parâmetros foram calculados através da modelação numérica da resposta dos perfis de praia, incluindo processos de calibração e validação do modelo empírico SBEACH (Larson & Kraus, 1989; Wise et al., 1996). Os resultados do processo de validação do modelo SBEACH revelaram se muito positivos. 20 dos 32 perfis testados apresentam uma taxa de explicação das previsões do balanço volumétrico superior a 90%, tendo em conta os dados observados (Fig. 3). Figura 3. Valores de volumes pós temporal medidos vs Previstos, nos três sistemas analisados. Resultados Os resultados revelam a importância da modelação de perfis de praia na previsão do seu comportamento sob o efeito de temporais extremos e no zonamento das principais consequências da sua ocorrência. A cartografia das áreas inundáveis nas três praias analisadas aponta para diferenças muito significativas quanto à susceptibilidade dos sistemas e das áreas circundantes à ocorrência de galgamentos oceânicos. As praias Azul e Foz do Lizandro correspondem aos sistemas mais afectados pelo perímetro de inundação previsto devido às baixas altitudes das planícies aluviais junto à foz dos rios Sizandro e Lizandro, respectivamente (Fig. 4). Salienta se ainda a descontinuidade ou ausência de cordão dunar frontal como factor amplificador dos efeitos dos galgamentos oceânicos induzidos pelos valores considerados para um temporal extremo com período de retorno de 100 anos. A praia de S ta. Rita revelou uma baixa exposição à inundação de origem marinha, mesmo considerando o cenário extremo de um temporal centenário. Neste sistema de praia, a altitude do cordão dunar frontal é bastante superior aos níveis calculados do indicador do potencial de inundação, apresentando se robusto e sem descontinuidades. A previsão das áreas afectadas pela erosão marinha, como consequência de um temporal secular, revela os elevados níveis de pressão sobre os sistemas estudados (Fig. 5), nomeadamente a reactivação de processos marinhos em arribas que actualmente evoluem, no essencial, por processos continentais. 317

(a) (b) (c) Figura 4. Susceptibilidade à inundação nas praias de S ta. Rita (a), Azul (b) e Foz do Lizandro (c). (a) (b) (c) Figura 5. Susceptibilidade à erosão nas praias de S ta. Rita (a), Azul (b) e Foz do Lizandro (c). Salienta se o caso do sector Sul da praia de S ta. Rita onde o recuo proporcionado pela perda total de sedimentos da praia origina o recuo da linha de costa, implicando uma actuação directa e permanente das ondas sobre a base da arriba. Actualmente, este sector do sistema de S ta. Rita apenas é atingida pelo mar esporadicamente. Outra consequência do recuo da linha de costa por ocorrência de um temporal extremo secular é o desaparecimento total ou parcial de dunas frontais, aumentando de forma directa e consequente a susceptibilidade à inundação por galgamento oceânico das áreas próximas do sistema. Este facto é particularmente evidente na praia Azul e na praia da Foz do Lizandro. 318

Conclusões O estudo dos parâmetros que determinam as modificações da forma planimétrica das praias e da geometria dos seus perfis é essencial na previsão da dinâmica dos sistemas associada a condições extremas de agitação marítima. Salientam se os resultados obtidos pela determinação dos potenciais de inundação e erosão como indicadores de susceptibilidade das praias face à ocorrência de temporais extremos. Assim, foi possível determinar os perímetros de inundação esperados na sequência da ocorrência de um temporal secular. A Praia de S ta. Rita apresentou se como a mais robusta e pouco susceptível a este tipo de perigo, sendo de salientar a reduzida área afectada pela inundação marinha. As praias Azul e Foz do Lizandro possuem uma elevada exposição à inundação por galgamento oceânico, essencialmente devido à morfologia das áreas adjacentes ao limite do sistema, que configuram um estuário amplo no caso da praia Azul e encaixado no caso da praia da Foz do Lizandro. O recuo da linha de costa associado à ocorrência de um temporal extremo com período de retorno de 100 anos evidencia perdas sedimentares muito significativas que implicam, por um lado, a reactivação e intensificação de processos de origem marinha em arribas associadas a estes sistemas e, por outro, o desaparecimento do cordão dunar frontal, aumentando de forma indirecta a susceptibilidade à inundação das áreas ribeirinhas próximas das praias estudadas. Referências Gama, C.; Dias, J.; Ferreira, Ó. & Taborda, R. (1994) Analysis of storm surge in Portugal, between June 1986 and May 1988. Proccedings of Littoral 94, Lisboa, p.26 29p. Larson, M. & Kraus, N. (1989) Numerical model for simulating storm induced beach change. Report 1: Empirical foundation and model development. CERC 89 9, U.S. Army Corps of Engineers, 256p. Stockdon, H.; Holman, R.; Howd, P. & Sallenger Jr., A. (2006) Empirical parameterization of setup, swash, and runp. Coastal Engineering, 53, p.573 588 Wise, R.; Smith, S. & Larson, M. (1996) SBEACH: Numerical model for simulating storm induced beach change. Report 4. Technical Report CERC 89 9, US Army Corps of Engineers, 260p. 319