Protocolo: 33661090639-5 Procedida a entrevista prevista e realizada regularmente na forma do Edital n.º 06/2015, a Comissão entendeu, ao fim, fundamentadamente, que a candidata não reúne as condições fenotípicas para a caracterização de pessoa negra, conforme exigência e nos termos do artigo 11 e seu parágrafo primeiro, da Resolução n.º 79, de 25 de outubro de 2014. Em suas razões, em síntese, a candidata alega ter sido desconsiderada sua autodeclaração, autodeclaração essa considerada de boa-fé pela Comissão. Alega que a boa-fé, também reconhecida, aliada à dúvida inicial da Comissão, quando da entrevista, deveria, por consequência, levar à confirmação da sua condição e não ao contrário, como restou decidido. Acrescenta, ainda, que algumas perguntas feitas, como relatos de eventuais experiências de discriminações sofridas, sobre qual o entendimento sobre o que seriam pessoas pardas ou negras e, ainda, sobre qual a compreensão sobre as políticas de quotas, seriam de caráter subjetivo e teria causado constrangimento e que, portanto, tais questões não poderiam ter sido levadas em consideração para a decisão. Alega que, dessa forma, teria sido ofendido o princípio da legalidade, por ofensa às regras do Edital, vez que não houve, então, falsidade na autodeclaração. Não prosperam os argumentos da candidata. Inicialmente, cumpre apontar que, conforme as regras claramente postas no item 28 e seguintes, especialmente o item 30.1 e, mais adiante, os itens 30.3.1 e 30.3.2 do Edital de Abertura do 14º Concurso para Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, quando prevê, pela primeira vez, pela instituição da reserva de vagas para a ação afirmativa de quotas raciais, deixam estreme de dúvidas que a autodeclaração não tem caráter absoluto, vez que já previsto, por primeiro, o submetimento dos candidatos e candidatas optantes pelo regime de quotas à verificação fenotípica por Comissão Especial e, por segundo, que há consequências distintas para as autodeclarações feitas de boa-fé em relação àquelas de má-fé. Àquelas, a não confirmação do candidato ou candidata na condição de pessoa negra - preta ou parda é dada a consequência de tornar...sem efeito a opção de concorrer às vagas reservadas para pessoas negras, concorrendo às vagas de acesso universal ; a estas, como decorrência da má-fé, o candidato/a...será eliminado do certame, independentemente de classificação, sem prejuízo de cominação de outras penalidades legais e de responsabilidade civil. Resta, dessa forma, de solar clareza, que à Comissão competia não somente a verificação fenotípica, mas avaliar também, até porque não haveria, por evidente, outra forma e outro momento para tanto, se a autodeclaração, nos casos de não confirmação da condição de pessoa negra preta ou parda -, se dera de boa ou de má-fé. Essa a razão pela qual, tal como consta da decisão da Comissão, referida pela candidata, chegou-se a ambas as conclusões, quais sejam, a relativa ao não pertencimento racial com base nas condições fenotípicas e de ascendência e a não constatação de má-fé. Assim, ao contrário do que sustenta, a não confirmação da autodeclaração se deu com base nos aspectos fenotípicos e de ascendência, com base nos documentos oficiais, nos exatos termos e limites previstos. Efetivamente, as entrevistas foram determinadas, de forma presencial, uma vez que puro envio de documentos e fotografias, assim fosse, implicaria em cópias reprográficas que certamente em nada auxiliariam e redundariam em confirmações ou recusas de candidatos/as de forma indevida. Assim, somente nos casos de dúvida, ainda que fosse de apenas um dos integrantes da Comissão daria ensejo, como efetivamente deu, à verificação de documentos e fotografias oficiais de
ascendentes, critério este, ao contrário do que sustentado no recurso, expressamente previsto. Daí porque também, nesse passo, cumpre dizer que as fotos e outros documentos apresentados somente agora, em sede de recurso, não podem ser considerados, seja pelos fundamentos aqui apontados, seja porque extemporâneos. Os documentos oficiais considerados devem ser apenas aqueles apresentados por ocasião da entrevista presencial, seja em homenagem ao princípio da legalidade, seja em observância ao princípio da isonomia. Por outro lado, o fato de constar de documentos de ascendentes a consignação de morenos não é condição, por si só, para a decisão. Primeiro, que se assim fosse, bastaria solicitar, até por princípio de economia processual - e também econômica para o Estado e para os/as candidatos/as o envio de cópia de tais documentos. Segundo, que a análise da Comissão se deu sobre o conjunto de elementos fenotípicos, tanto do/a candidato/a quanto dos ascendentes e também suas características e, nesse passo, a Comissão também não verificou, nos documentos dos ascendentes, o conjunto de elementos fenotípicos que autorizasse outra conclusão. Terceiro, apenas para apontar, que há discussões antropológicas importantes que não autorizam a afirmação categórica de que moreno equivale a pardo, discussões essas que não comportam na presente decisão. Quarto, que tais critérios são todos objetivos; o questionamento acerca da percepção de situações de discriminação, que, ressalte-se, não são somente subjetivas (as situações de vivência discriminatória também têm, por óbvio, sua objetividade, uma vez que elas se dão no mundo, em dado contexto social) teve por finalidade precípua a verificação do outro aspecto, que é da verificação da boa-fé. Efetivamente, o questionamento sobre situações discriminatórias e demais perguntas, não todas, que adentraram, em alguma medida, em aspectos subjetivos, como as que se refere a recorrente, tiveram por objetivo, isto sim, verificar a boa-fé, dadas as substanciais diferenças das consequências, tal como referido e como consta dos fundamentos da decisão recorrida. Cumpre dizer, que as ações afirmativas, especialmente as políticas de quotas raciais para o serviço público, constituem experiência muito recente no País e seriedade e lisuras dos processos que as envolvem se tornam necessários, sob pena de colocá-las em total descrédito perante a sociedade, para além de frustrar um esforço, sob todos os aspectos, inclusive jurídico, de buscar superar as situações de discriminação negativa e desigualdade com fundamentos étnico-raciais. A instituição de Comissões com as funções de verificações fenotípicas nos concursos que prevêem quotas raciais não se constituem em qualquer tribunal racial. São instrumentos forjados para conferir seriedade e efetividade em tais políticas. Dessa maneira, longe está de constituírem-se em elemento de discriminação negativa, como sustentado no recurso, mas, ao contrário, de procedimento possível e necessário até que eventuais outras alternativas sejam pensadas de forma a dar firmeza a tais políticas que se constituem, bem ao contrário, portanto, em esforço na busca de superação das discriminações étnico-raciais. Nesse sentido, é que a própria jurisprudência avaliza tais procedimentos, como demonstra a decisão que segue: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL Nº 002/2013. OFICIAL DE CONTROLE EXTERNO DO TRIBUNAL DE CONTAS. CONCORRÊNCIA NAS VAGAS DESTINADAS A AFRODESCENDENTES. LEGITIMIDADE DA COMISSÃO AFERIDORA DOS REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO NA RESERVA DE VAGAS. 1. A Lei Estadual nº 13.694/2011 - Estatuto Estadual da Igualdade Racial -, dispõe que "Para beneficiar-se do amparo deste Estatuto, considerar-se-á negro aquele que se declare, expressamente, como negro, pardo, mestiço de ascendência africana, ou através de palavra ou expressão equivalente que o caracterize negro". 2. Tanto o Edital nº 002/2013 quanto a Lei Estadual nº 14.417/212 estabelecem que tal declaração não se reveste de presunção absoluta, de modo que a autodeclaração do candidato para concorrer às vagas das cotas encontra-se sujeita ao crivo da Administração Pública, pois, do contrário, não haveria a hipótese de falsidade dessa declaração.
3. As ações afirmativas visam a promover a correção das desigualdades raciais e a igualdade de oportunidades e, assim, a inclusão de pessoas não abarcadas por tais políticas públicas nas listas dos candidatos negros e pardos ofende a iniciativa da inclusão social e de aceleração do processo de igualdade material. 4. A designação da comissão depois da homologação do resultado final do concurso não representa ofensa aos princípios da legalidade, da eficiência e da motivação, porquanto se coaduna com a efetividade das ações afirmativas e, por consequência, com os princípios do Estado Democrático de Direito, atendendo, teleologicamente, ao estatuído na Lei nº 12.288/10 - Estatuto da Igualdade Racial. 5. Tratando-se de Direito Constitucional de acesso aos cargos públicos, bem assim de efetivação de benesse legal relativa a reserva de vagas para negros e pardos, a Administração Pública tem o dever de conferir a veracidade das informações prestadas pelo candidato. Tal premissa decorre da disposição do artigo 19 da Lei Complementar Estadual nº 10.098/94, que expressamente estabelece que a autoridade que deva dar posse ao candidato verificará, sob pena de responsabilidade, se foram cumpridas as formalidades legais para o provimento do cargo público disputado no certame. 6. A Comissão formada no âmbito do Tribunal de Contas, primando pela maior isenção possível, foi composta não somente por servidores da Corte, mas também por representantes de comissões de proteção dos direitos humanos da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública, bem como de movimentos de proteção dos direitos das pessoas negras, como Maria mulher: Organização das Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado e Associação Nacional de Teólogos e Teólogas Afrocentrados da Tradição de Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indígena, além de haver observado os princípios da ampla defesa e do contraditório. 7. A candidata tomou posse de forma provisória, ciente de que estaria sujeita à instauração de incidente para verifica Estadual nº 14.147/2012, não podendo alegar a surpresa de ter sido empossada e, posteriormente, ter ocorrido o indeferimento de sua inscrição. A conduta da Administração coaduna-se com a concretização de políticas afirmativas de inclusão social, visando a corrigir desigualdades sociais, devendo, tanto quanto possível, evitar que haja distorções na verificação dos requisitos para a concorrência nas vagas especiais. DENEGARAM A SEGURANÇA. (Mandado de Segurança Nº 70061783676, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 12/12/2014) Assim, com base em tais argumentos, a Comissão Especial opina pelo indeferimento do pedido de reconsideração.
Protocolo: 33661090621-7 Procedida a entrevista prevista e realizada regularmente na forma do Edital n.º 06/2015, a Comissão entendeu, ao fim, fundamentadamente, que o candidato não reúne as condições fenotípicas para a caracterização de pessoa negra, conforme exigência e nos termos do artigo 11 e seu parágrafo primeiro, da Resolução n.º 79, de 25 de outubro de 2014. Em suas razões, em síntese, o candidato alega ter sido desconsiderada sua autodeclaração, autodeclaração essa considerada de boa-fé pela Comissão. Alega que a boa-fé, também reconhecida, aliada à dúvida inicial da Comissão, quando da entrevista, deveria, por consequência, levar à confirmação da sua condição e não ao contrário, como restou decidido. Acrescenta, ainda, que algumas perguntas feitas, como relatos de eventuais experiências de discriminações sofridas, sobre qual o entendimento sobre o que seriam pessoas pardas ou negras e, ainda, sobre qual a compreensão sobre as políticas de quotas, seriam de caráter subjetivo e teria causado constrangimento e que, portanto, tais questões não poderiam ter sido levadas em consideração para a decisão. Alega que, dessa forma, teria sido ofendido o princípio da legalidade, por ofensa às regras do Edital, vez que não houve, então, falsidade na autodeclaração. Não prosperam os argumentos do candidato. Inicialmente, cumpre apontar que, conforme as regras claramente postas nos itens 28 e seguintes, especialmente o item 30.1 e, mais adiante, os itens 30.3.1 e 30.3.2 do Edital de Abertura do 14º Concurso para Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, quando prevê, pela primeira vez, pela instituição da reserva de vagas para a ação afirmativa de quotas raciais, deixam estreme de dúvidas que a autodeclaração não tem caráter absoluto, vez que já previsto, por primeiro, o submetimento dos candidatos e candidatas optantes pelo regime de quotas à verificação fenotípica por Comissão Especial e, por segundo, que há consequências distintas para as autodeclarações feitas de boa-fé em relação àquelas de má-fé. Àquelas, a não confirmação do candidato ou candidata na condição de pessoa negra - preta ou parda é dada a consequência de tornar...sem efeito a opção de concorrer às vagas reservadas para pessoas negras, concorrendo às vagas de acesso universal ; a estas, como decorrência da má-fé, o candidato/a...será eliminado do certame, independentemente de de classificação, sem prejuízo de cominação de outras penalidades legais e de responsabilidade civil. Resta, dessa forma, de solar clareza, que à Comissão competia não somente a verificação fenotípica, mas avaliar também, até porque não haveria, por evidente, outra forma e outro momento para tanto, se a autodeclaração, nos casos de não confirmação da condição de pessoa negra preta ou parda -, se dera de boa ou de má-fé. Essa a razão pela qual, tal como consta da decisão da Comissão, referida pelo candidato, chegou-se a ambas as conclusões, quais sejam, a relativa ao não pertencimento racial com base nas condições fenotípicas e de ascendência e a não constatação de má-fé. Assim, ao contrário do que sustenta, a não confirmação da autodeclaração se deu com base nos aspectos fenotípicos e de ascendência, considerando os documentos oficiais apresentados, nos exatos termos e limites previstos. Efetivamente, as entrevistas foram determinadas, de forma presencial, uma vez que puro envio de documentos e fotografias, assim fosse, implicaria em cópias reprográficas que certamente em nada auxiliariam e redundariam em confirmações ou recusas de candidatos/as de forma indevida. Assim, somente nos casos de dúvida, ainda que fosse de apenas um dos integrantes da Comissão daria ensejo, como efetivamente deu, à verificação de documentos e fotografias oficiais de
ascendentes, critério este, ao contrário do que sustentado no recurso, expressamente previsto. Daí porque também, nesse passo, cumpre dizer que as fotos e outros documentos apresentados somente agora, em sede recurso, não podem ser considerados, seja pelos fundamentos aqui apontados, seja porque extemporâneos. Os documentos oficiais considerados devem ser apenas aqueles apresentados por ocasião da entrevista presencial, seja em homenagem ao princípio da legalidade, seja em observância ao princípio da isonomia. Po outro lado, o fato de constar de documentos de ascendentes a consignação de moreno/a não é condição, por si só, para a decisão. Primeiro, que se assim fosse, bastaria solicitar, até por princípio de economia processual - e também econômica para o Estado e para os/as candidatos/as o envio de cópia de tais documentos. Segundo, que a análise da Comissão se deu sobre o conjunto de elementos fenotípicos, não somente a cor da pele, tanto do/a candidato/a quanto dos ascendentes e também suas demais características e, nesse passo, a Comissão também não verificou, nos documentos dos ascendentes, o conjunto de elementos fenotípicos que autorizasse outra conclusão. Terceiro, apenas para apontar, que há discussões antropológicas importantes que não autorizam a afirmação categórica de que moreno equivale a pardo, discussões essas que não comportam a presente decisão. Quarto, que tais critérios são todos objetivos; o questionamento acerca da percepção de situações de discriminação, que, ressalte-se, não são somente subjetivas (as situações de vivência discriminatória também tem, por óbvio, sua objetividade, uma vez que elas se dão no mundo, em dado contexto social) teve por finalidade precípua a verificação do outro aspecto, que é da verificação da boa-fé. Efetivamente, o questionamento sobre situações discriminatórias e demais perguntas, não todas, que adentraram, em alguma medida, em aspectos subjetivos, como as que se refere o recorrente, tiveram por objetivo, isto sim, verificar a boa-fé, dadas as substanciais diferenças das consequências, tal como referido e como consta dos fundamentos da decisão recorrida. Cumpre dizer, que as ações afirmativas, especialmente as políticas de quotas raciais para o serviço público, constituem experiência muito recente no País e a seriedade e lisura dos processos que envolvem se tornam necessários, sob pena de colocá-las em total descrédito perante a sociedade, para além de frustrar um esforço, sob todos os aspectos, inclusive jurídico, de buscar superar as situações de discriminação negativa e desigualdade com fundamentos étnico-raciais. A instituição de Comissões com as funções de verificações fenotípicas nos concursos que prevêem quotas raciais não se constituem em qualquer tribunal racial. São instrumentos forjados para conferir seriedade e efetividade em tais políticas. Dessa maneira, longe está de constituírem-se em elemento de discriminação negativa, como sustentado no recurso, mas, ao contrário, de procedimento possível e necessário até que eventuais outras alternativas sejam pensadas de forma a dar firmeza a tais políticas que se constituem, bem ao contrário, portanto, em esforço na busca de superação das discriminações étnico-raciais. Nesse sentido, é que a própria jurisprudência avaliza tais procedimentos, como demonstra a decisão que segue: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL Nº 002/2013. OFICIAL DE CONTROLE EXTERNO DO TRIBUNAL DE CONTAS. CONCORRÊNCIA NAS VAGAS DESTINADAS A AFRODESCENDENTES. LEGITIMIDADE DA COMISSÃO AFERIDORA DOS REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO NA RESERVA DE VAGAS. 1. A Lei Estadual nº 13.694/2011 - Estatuto Estadual da Igualdade Racial -, dispõe que "Para beneficiar-se do amparo deste Estatuto, considerar-se-á negro aquele que se declare, expressamente, como negro, pardo, mestiço de ascendência africana, ou através de palavra ou expressão equivalente que o caracterize negro". 2. Tanto o Edital nº 002/2013 quanto a Lei Estadual nº 14.417/212 estabelecem que tal declaração não se reveste de presunção absoluta, de modo que a autodeclaração do candidato para concorrer às vagas das cotas encontra-se sujeita ao crivo da
Administração Pública, pois, do contrário, não haveria a hipótese de falsidade dessa declaração. 3. As ações afirmativas visam a promover a correção das desigualdades raciais e a igualdade de oportunidades e, assim, a inclusão de pessoas não abarcadas por tais políticas públicas nas listas dos candidatos negros e pardos ofende a iniciativa da inclusão social e de aceleração do processo de igualdade material. 4. A designação da comissão depois da homologação do resultado final do concurso não representa ofensa aos princípios da legalidade, da eficiência e da motivação, porquanto se coaduna com a efetividade das ações afirmativas e, por consequência, com os princípios do Estado Democrático de Direito, atendendo, teleologicamente, ao estatuído na Lei nº 12.288/10 - Estatuto da Igualdade Racial. 5. Tratando-se de Direito Constitucional de acesso aos cargos públicos, bem assim de efetivação de benesse legal relativa a reserva de vagas para negros e pardos, a Administração Pública tem o dever de conferir a veracidade das informações prestadas pelo candidato. Tal premissa decorre da disposição do artigo 19 da Lei Complementar Estadual nº 10.098/94, que expressamente estabelece que a autoridade que deva dar posse ao candidato verificará, sob pena de responsabilidade, se foram cumpridas as formalidades legais para o provimento do cargo público disputado no certame. 6. A Comissão formada no âmbito do Tribunal de Contas, primando pela maior isenção possível, foi composta não somente por servidores da Corte, mas também por representantes de comissões de proteção dos direitos humanos da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública, bem como de movimentos de proteção dos direitos das pessoas negras, como Maria mulher: Organização das Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado e Associação Nacional de Teólogos e Teólogas Afrocentrados da Tradição de Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indígena, além de haver observado os princípios da ampla defesa e do contraditório. 7. A candidata tomou posse de forma provisória, ciente de que estaria sujeita à instauração de incidente para verifica Estadual nº 14.147/2012, não podendo alegar a surpresa de ter sido empossada e, posteriormente, ter ocorrido o indeferimento de sua inscrição. A conduta da Administração coaduna-se com a concretização de políticas afirmativas de inclusão social, visando a corrigir desigualdades sociais, devendo, tanto quanto possível, evitar que haja distorções na verificação dos requisitos para a concorrência nas vagas especiais. DENEGARAM A SEGURANÇA. (Mandado de Segurança Nº 70061783676, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 12/12/2014) Assim, com base em tais argumentos, a Comissão Especial opina pelo indeferimento do pedido de reconsideração.
Protocolo: 33661090663-0 Procedida a entrevista prevista e realizada regularmente na forma do Edital n.º 06/2015, a Comissão entendeu, ao fim, fundamentadamente, que o candidato não reúne as condições fenotípicas para a caracterização de pessoa negra, conforme exigência e nos termos do artigo 11 e seu parágrafo primeiro, da Resolução n.º 79, de 25 de outubro de 2014. Em suas razões, em síntese, o candidato alega ter sido desconsiderada sua autodeclaração, autodeclaração essa considerada de boa-fé pela Comissão. Junta novos documentos e fotos. Refirma sua condição de negro e requer a reconsideração da decisão. Não prosperam os argumentos do candidato. Inicialmente, cumpre apontar que, conforme as regras claramente postas no item 28 e seguintes, especialmente o item 30.1 e, mais adiante, os itens 30.3.1 e 30.3.2 do Edital de Abertura do 14º Concurso para Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, quando prevê, pela primeira vez, pela instituição da reserva de vagas para a ação afirmativa de quotas raciais, deixam estreme de dúvidas que a autodeclaração não tem caráter absoluto, vez que já previsto, por primeiro, o submetimento dos candidatos e candidatas optantes pelo regime de quotas à verificação fenotípica por Comissão Especial e, por segundo, que há consequências distintas para as autodeclarações feitas de boa-fé em relação àquelas de má-fé. Àquelas, a não confirmação do candidato ou candidata na condição de pessoa negra - preta ou parda é dada a consequência de tornar...sem efeito a opção de concorrer às vagas reservadas para pessoas negras, concorrendo às vagas de acesso universal ; a estas, como decorrência da má-fé, o candidato/a...será eliminado do certame, independentemente de de classificação, sem prejuízo de cominação de outras penalidades legais e de responsabilidade civil. Resta, dessa forma, de solar clareza, que à Comissão competia não somente a verificação fenotípica, mas avaliar também, até porque não haveria, por evidente, outra forma e outro momento para tanto, se a autodeclaração, nos casos de não confirmação da condição de pessoa negra preta ou parda -, se dera de boa ou de má-fé. Essa a razão pela qual, tal como consta da decisão da Comissão, referida pela candidata, chegou-se a ambas as conclusões, quais sejam, a relativa ao não pertencimento racial com base nas condições fenotípicas e de ascendência e a não constatação de má-fé. Assim, a não confirmação da autodeclaração se deu com base nos aspectos fenotípicos e de ascendência, com base nos documentos oficiais, nos exatos termos e limites previstos. Efetivamente, as entrevistas foram determinadas, de forma presencial, uma vez que puro envio de documentos e fotografias, assim fosse, implicaria em cópias reprográficas que certamente em nada auxiliariam e redundariam em confirmações ou recusas de candidatos/as de forma indevida. Assim, somente nos casos de dúvida, ainda que fosse de apenas um dos integrantes da Comissão daria ensejo, como efetivamente deu, à verificação de documentos e fotografias oficiais de ascendentes, critério este, ao contrário do que sustentado no recurso, expressamente previsto. Daí porque também, nesse passo, cumpre dizer que as fotos e outros documentos apresentados somente agora, em sede recurso, não podem ser considerados, seja pelos fundamentos aqui apontados, seja porque extemporâneos. Os documentos oficiais considerados devem ser apenas aqueles apresentados por ocasião da entrevista presencial, seja em homenagem ao princípio da legalidade,
seja em observância ao princípio da isonomia. Os critérios utilizados são todos objetivos; o questionamento acerca da percepção de situações de discriminação, que, ressalte-se, não são somente subjetivas (a situações de vivência discriminatória também tem, por óbvio, sua objetividade, uma vez que elas se dão no mundo, em dado contexto social) teve por finalidade precípua a verificação do outro aspecto, que é da verificação da boa-fé. Efetivamente, o questionamento sobre situações discriminatórias e demais perguntas, não todas, que adentraram, em alguma medida, em aspectos subjetivos, como as que se refere a recorrente, tiveram por objetivo, isto sim, verificar a boa-fé, dadas as substanciais diferenças das consequências, tal como referido e como consta dos fundamentos da decisão recorrida. Cumpre dizer, que as ações afirmativas, especialmente as políticas de quotas raciais para o serviço público, constituem experiência muito recente no País e seriedade e lisuras dos processos que as envolvem se tornam necessários, sob pena de colocá-las em total descrédito perante a sociedade, para além de frustrar um esforço, sob todos os aspectos, inclusive jurídico, de buscar superar as situações de discriminação negativa e desigualdade com fundamentos étnico-raciais. A instituição de Comissões com as funções de verificações fenotípicas nos concursos que prevêem quotas raciais não se constituem em qualquer tribunal racial. São instrumentos forjados para conferir seriedade e efetividade em tais políticas. Desse maneira, longe está de constituírem-se em elemento de discriminação negativa, como sustentado no recurso, mas, ao contrário, de procedimento possível e necessário até que eventuais outras alternativas sejam pensadas de forma a dar firmeza a tais políticas que se constituem, bem ao contrário, portanto, em esforço na busca de superação das discriminações étnico-raciais. Nesse sentido, é que a própria jurisprudência avaliza tais procedimentos, como demonstra a decisão que segue: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL Nº 002/2013. OFICIAL DE CONTROLE EXTERNO DO TRIBUNAL DE CONTAS. CONCORRÊNCIA NAS VAGAS DESTINADAS A AFRODESCENDENTES. LEGITIMIDADE DA COMISSÃO AFERIDORA DOS REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO NA RESERVA DE VAGAS. 1. A Lei Estadual nº 13.694/2011 - Estatuto Estadual da Igualdade Racial -, dispõe que "Para beneficiar-se do amparo deste Estatuto, considerar-se-á negro aquele que se declare, expressamente, como negro, pardo, mestiço de ascendência africana, ou através de palavra ou expressão equivalente que o caracterize negro". 2. Tanto o Edital nº 002/2013 quanto a Lei Estadual nº 14.417/212 estabelecem que tal declaração não se reveste de presunção absoluta, de modo que a autodeclaração do candidato para concorrer às vagas das cotas encontra-se sujeita ao crivo da Administração Pública, pois, do contrário, não haveria a hipótese de falsidade dessa declaração. 3. As ações afirmativas visam a promover a correção das desigualdades raciais e a igualdade de oportunidades e, assim, a inclusão de pessoas não abarcadas por tais políticas públicas nas listas dos candidatos negros e pardos ofende a iniciativa da inclusão social e de aceleração do processo de igualdade material. 4. A designação da comissão depois da homologação do resultado final do concurso não representa ofensa aos princípios da legalidade, da eficiência e da motivação, porquanto se coaduna com a efetividade das ações afirmativas e, por consequência, com os princípios do Estado Democrático de Direito, atendendo, teleologicamente, ao estatuído na Lei nº 12.288/10 - Estatuto da Igualdade Racial. 5. Tratando-se de Direito Constitucional de acesso aos cargos públicos, bem assim de efetivação de benesse legal relativa a reserva de vagas para negros e pardos, a Administração Pública tem o dever de conferir a veracidade das informações prestadas pelo candidato. Tal premissa decorre da disposição do artigo 19 da Lei Complementar Estadual nº 10.098/94, que expressamente estabelece que a autoridade que deva dar posse ao candidato verificará, sob pena de responsabilidade, se foram cumpridas as formalidades legais para o provimento do cargo público disputado no certame. 6. A Comissão formada no âmbito do Tribunal de Contas, primando pela maior isenção possível, foi composta não somente por servidores da Corte, mas também por representantes de comissões de proteção dos direitos humanos da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública, bem como de movimentos de
proteção dos direitos das pessoas negras, como Maria mulher: Organização das Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado e Associação Nacional de Teólogos e Teólogas Afrocentrados da Tradição de Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indígena, além de haver observado os princípios da ampla defesa e do contraditório. 7. A candidata tomou posse de forma provisória, ciente de que estaria sujeita à instauração de incidente para verifica Estadual nº 14.147/2012, não podendo alegar a surpresa de ter sido empossada e, posteriormente, ter ocorrido o indeferimento de sua inscrição. A conduta da Administração coaduna-se com a concretização de políticas afirmativas de inclusão social, visando a corrigir desigualdades sociais, devendo, tanto quanto possível, evitar que haja distorções na verificação dos requisitos para a concorrência nas vagas especiais. DENEGARAM A SEGURANÇA. (Mandado de Segurança Nº 70061783676, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 12/12/2014) Assim, com base em tais argumentos, a Comissão Especial opina pelo indeferimento do pedido de reconsideração.