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Transcrição:

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em conjunto com líderes mundiais, após reunião para a Ação Contra a Fome e a Pobreza Nova Iorque-EUA, 20 de setembro de 2004 Presidente Lula: Eu não tenho muita experiência de participar de reuniões nas Nações Unidas mas, pela quantidade de presidentes de países e chefes de Governo que eu vi,hoje, aí, eu penso que o tema da fome se transformou definitivamente num problema político, prioritário e que, daqui para a frente, será discutido com mais intensidade por todos nós que participamos desta reunião e por muitos outros países que não participaram da reunião. Eu quero dizer a vocês que o combate à pobreza e à fome está mudando de patamar. Agora, não é apenas a repetição de uma prática em que os países pobres apenas cobravam dos países ricos e, muitas vezes, os países ricos tinham políticas de ajuda muito dispersas. Nós, agora, queremos que, por mais pobre que seja um país, cada um de nós assuma a responsabilidade, fazendo o máximo que nós pudermos fazer. Eu creio que será muito difícil exigir que qualquer cidadão rico do mundo ou qualquer trabalhador de país rico do mundo faça uma doação para ajudar um país pobre se ele não tiver clareza de saber para onde vai o seu dinheiro e se ele vai ser aplicado em alguma coisa que signifique desenvolvimento, que signifique crescimento da oferta de empregos e, sobretudo, que signifique desenvolvimento econômico. Portanto, os países pobres têm que fazer a sua parte para conquistar autoridade política, ética, para cobrar uma política mais justa dos países ricos, desde a política do comércio até a política de criação de fundos para o combate à pobreza. 1

Ditas estas palavras, eu quero passar a palavra ao presidente Chirac, para que ele possa conversar um pouco com a imprensa e dar a sua impressão de como ele viu este encontro e o seu resultado. Intervenção do presidente Lula, durante a entrevista coletiva Antes de passar a palavra para o nosso coordenador, para que ele possa coordenar as perguntas da imprensa, quero lembrar à imprensa que um fato importante, também, é a participação do presidente do Banco Mundial, o presidente Wolfensohn; do presidente do FMI, Rodrigo Rato; da Igreja Católica, na sua mais alta representação depois do Papa; do mundo do trabalho, com o movimento sindical participando e, sobretudo, com a representação de empresários e de ONGs. Eu penso que fizemos um encontro em que não esquecemos nenhum setor da sociedade. E penso que com um pouco de vontade política, um pouco de sorte e com muito trabalho nós, finalmente, estamos com mais esperança de que as Metas do Milênio possam ser alcançadas. André Singer: Obrigado, Presidente. Boa noite a todos. Agradeço a presença de todos aqui. Os presidentes, conforme foi previamente combinado, responderão a sete perguntas. A primeira, como é da tradição desta Casa, será do presidente da Associação dos Correspondentes junto à ONU e, em seguida, serão reservadas quatro perguntas para jornalistas dos quatro países aqui representados Brasil, França, Chile e Espanha. Esses jornalistas foram escolhidos pelos próprios jornalistas que estão aqui presentes. Finalmente, os presidentes responderão a mais duas últimas perguntas. Eu pediria a cada jornalista que se identificasse, ao início da sua pergunta e que se limitasse a uma pergunta dirigida a um dos presidentes, concentrada nos temas desta reunião. 2

Então, eu passo a palavra, para a primeira pergunta, ao presidente da Associação dos Correspondentes junto à ONU, Tony Jenkins. Jornalista: Em nome da Associação dos Correspondes junto à ONU permitame primeiro dizer bem-vindo. O Senhor fez campanha para a presidência de seu país com base em uma plataforma de crítica à globalização e às políticas neo-liberais do Banco Mundial e do FMI ao demandar ação contra a fome e a pobreza. Sua retórica permanece inalterada. Os objetos de suas críticas continuam os mesmos. Contudo no Brasil, muitos dizem que o Senhor adotou as políticas de seu predecessor e agora o Senhor é elogiado pelo FMI. Isso não é uma contradição fundamental entre o que o Senhor diz e faz? Devem os países pobres seguirem sua retórica ou suas ações? Presidente Lula: Eu não sei se o amigo jornalista que fez a pergunta está informado sobre a situação do Brasil, porque se ele estiver informado sobre a situação do Brasil, ele vai constatar algumas coisas: primeiro, que quando ganhamos o governo, o risco-brasil era de 2.400 pontos e hoje está em 460 pontos; segundo, que tínhamos uma perspectiva de inflação de 40% para os próximos 12 meses e ela foi de 6%; terceiro, que a economia estava no seu pior momento de descenso e, agora, superou todas as expectativas de todos os economistas brasileiros, ultrapassando a casa dos 4,5%, que é o que esperamos no final do ano; quarto, estamos criando níveis de empregos maiores, desde 1992. Ainda agora, acabei de receber uma notícia de que no mês de agosto nós criamos 230 mil novos empregos, empregos formais, que é o maior número desde 1992. Ao todo, nos sete primeiros meses do ano, foram 1 milhão 446 mil novos empregos criados, sem levar em conta empregada doméstica, sem levar em conta a economia informal e sem levar em conta o servidor público municipal, estadual e federal. Temos o maior superávit da nossa história, temos a maior taxa de 3

exportação da nossa história. Durante muitos anos nós não fizemos superávit de conta corrente e, hoje, temos superávit de conta corrente. E quero dizer que temos a mais importante política social já feita no meu país. Só para o jornalista ter conhecimento, no Brasil tinha várias políticas sociais repartidas entre os ministérios, e nós criamos o programa Fome Zero. E dentro do programa Fome Zero nós criamos o programa Bolsa Família, que juntou várias políticas pequenas que havia que davam, em média, 28 reais mensais para cada família e passamos a dar 78 reais em média, dando três vezes mais de transferência de renda para cada pessoa. Temos a maior política de financiamento da agricultura familiar da história do Brasil e financiamos não apenas o trabalhador, mas também um projeto paralelo, a mulher do trabalhador, e o filho do trabalhador que tem mais de 18 anos. Criamos o seguro agrícola, que cobre não apenas 100% do prejuízo do trabalhador da agricultura familiar, como lhe dá, ainda, 65% do lucro que ele previa ter com a sua colheita para que ele possa tocar a sua vida. Fizemos a maior compra de alimentos da agricultura familiar, não permitindo que a agricultura familiar fique subordinada aos atravessadores de mercado que, normalmente, reduzem os preços para o pequeno produtor a quase nada. E não tenho nenhuma dúvida de dizer à jornalista, e convidá-la a ir ao Brasil para saber que nós temos a melhor política social de toda a história do nosso país. Atingimos agora, dia 17 de setembro, 5 milhões de famílias; em dezembro, atingiremos 6 milhões e meio de famílias; em dezembro do ano que vem, atingiremos 8 milhões e 700 mil famílias. E, em dezembro de 2006, cumprirei com a minha palavra, atendendo praticamente todas as pessoas que, segundo o IBGE, estão vivendo abaixo da linha da pobreza. Deus queira, se a economia continuar crescendo do jeito que está, que a gente não tenha 11 milhões de famílias vivendo abaixo da linha da pobreza 4

mas, 10, 9 ou, quem sabe, um pouco menos, que vai sobrar dinheiro para fazermos outras coisas no país. Presidente Chirac: (em francês) André Singer: Antes de seguir, eu quero reiterar, em benefício do bom andamento da entrevista, que os jornalistas se identifiquem e identifiquem, também, o veículo ao qual pertencem, que façam apenas uma pergunta dirigida a um presidente e que essa pergunta seja concentrada nos temas da reunião. Eu passo, então, a palavra ao representante da imprensa brasileira. Jornalista Fernando Canzian, da Folha de São Paulo: presidente Lula, é possível levar adiante o projeto discutido hoje, quando a maior potência do mundo, os Estados Unidos, acaba de bombardear a proposta de taxar tanto armas quanto operações financeiras? A secretária de Agricultura, Anne Veneman, qualificou as duas propostas de irrealistas e anti-democráticas. Eu queria saber a opinião do senhor sobre isso. Presidente Lula: Em política, eu já vi milhares de pessoas serem contra uma coisa, ontem, e serem favoráveis a essa mesma coisa, no dia seguinte. Nós estamos começando um processo de discussão que envolve vários países, muitos especialistas. E o tempo que vai permear toda essa discussão vai garantir que aqueles que discordam de uma coisa apresentem outra melhor. Nós não temos nenhuma proposta definitiva, não somos os donos da verdade, queremos discutir. A única coisa que nós temos clareza é que não pode ficar assim. E, do jeito que foi feito até agora não deu certo, só aumentou a pobreza no mundo. Obviamente que nos Estados Unidos nós estamos num momento rico de 5

eleição, é o momento mais rico da democracia de um país. Depois das eleições, muita conversa vai acontecer aqui, nos Estados Unidos, em outro país e, quem sabe, quando chegar o próximo ano e estivermos reunidos aqui, a gente vai perceber que muita coisa que parecia impossível hoje será plenamente possível no ano que vem; e outras, que pareciam possíveis hoje, serão consideradas impossíveis no ano que vem. Eu não sei se a gente poderia ter claro que o governo americano deu um passo importante, mandando vir uma ministra participar do nosso encontro. Este é um passo muito importante, porque havia quem dissesse, antes de chegarmos aqui, que o governo americano não participaria, e participou. E, para mim, o mais importante não é aquele que participou e concordou, ou discordou. Para mim, o mais importante é aquele que participou, colocou a sua posição, a posição está registrada. Nós vamos todos receber as gravações de tudo que foi falado. Vamos ver todas as pessoas que concordaram e as que discordaram. O grupo técnico vai discutir e, nas próximas reuniões, certamente, nós teremos mudado muitas das coisas que foram faladas hoje por várias personalidades. Portanto, eu estou satisfeito, e muito satisfeito, com a participação da ministra da Agricultura dos Estados Unidos. Muito satisfeito. André Singer: Muito obrigado. Passo a palavra ao representante da imprensa francesa. Jornalista: (em francês) Presidente Chirac: (em francês) Jornalista representante da TV Al Jazeera: Chile, Brasil, França, Espanha são obviamente países diferentes, mas uma coisa que tem em comum é que 6

são todos países latinos. Em que medida vocês têm preocupação com que uma nova aliança anglo-saxã possa ter surgido nos últimos anos? Presidente Lula: Eu acredito que muita gente ainda vai ter que compreender o significado do movimento que nós estamos fazendo hoje. Primeiro, que nós aproveitamos todas as propostas que nós sabemos que tem responsabilidade, inclusive a do Gordan Brawn. E achamos que outras propostas, outros países, independentemente do lugar do planeta Terra, da religião, nós queremos que participem, porque a miséria não tem coloração ideológica, partidária, religiosa, ela envolve bilhões de pessoas, sobretudo os pobres. Quis Deus que nós fossemos latinos, possivelmente porque, num belo dia, estávamos juntos em Genebra e resolvemos discutir este assunto. Mas não há, de nossa parte, nenhuma idéia de evitar que qualquer autoridade participe deste processo. O que nós queremos é criar um movimento, um movimento forte que possa transformar a fome num problema político capaz de preocupar as consciências dos governantes, dos empresários, dos dirigentes sindicais, das igrejas, para que juntos encontremos uma solução. E eu penso que vamos conseguir. André Singer: Muito obrigado. Antes de encerrar a entrevista, eu queria agradecer a presença de todos e pedir que os jornalistas fiquem na sala até a saída dos presidentes e, depois, se retirem. Muito obrigado. Está encerrada esta entrevista. 7