ESCOAMENTO SUPERFICIAL EM DIFERENTES DECLIVIDADES DO TERRENO E NÍVEIS DE COBERTURA DA SUPERFÍCIE DO SOLO

Documentos relacionados
PERDAS DE ÁGUA POR ESCOAMENTO SUPERFICIAL DO SOLO DURANTE O CICLO DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO FEIJÃO

VARIAÇÃO NO ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO DURANTE O CICLO DE DESENVOLVIMENTO DO FEIJOEIRO

PERDAS DE ÁGUA POR ESCOAMENTO SUPERFICIAL A PARTIR DE DIFERENTES INTENSIDADES DE CHUVAS SIMULADAS 1 RESUMO

AVALIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA ESCOADO EM DIFERENTES DECLIVES SOB CHUVA SIMULADA 1

EROSÃO HÍDRICA RELACIONADA À RUGOSIDADE SUPERFICIAL DO SOLO NA AUSÊNCIA E NA PRESENÇA DE COBERTURA POR RESÍDUOS DE AVEIA

Erosão potencial laminar hídrica sob três formas de cultivo no município de Coronel Pacheco, Minas Gerais, Brasil

Luiz Fernando Barros de Morais Engenheiro Agrônomo UFRGS

SIMULAÇÃO DA NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO PARA A CULTURA DO FEIJÃO UTILIZANDO O MODELO CROPWAT-FAO

PERDAS POR EROSÃO HÍDRICA EM DIFERENTES CLASSES DE DECLIVIDADE, SISTEMAS DE PREPARO E NÍVEIS DE FERTILIDADE DO SOLO NA REGIÃO DAS MISSÕES - RS

INFILTRAÇÃO APROXIMADA DE ÁGUA NO SOLO DE TALUDE REVEGETADO COM CAPIM VETIVER EM DIFERENTES ESPAÇAMENTOS

EXTRAÇÃO DE ÁGUA DO SOLO PELO FEIJOEIRO CULTIVADO COM DIFERENTES ESPAÇAMENTOS ENTRELINHAS E QUANTIDADES DE RESÍDUOS VEGETAIS NA SUPERFÍCIE DO SOLO

RELAÇÕES DA EROSÃO EM ENTRESSULCOS COM RESÍDUOS VEGETAIS EM COBERTURA E EROSÃO EM SULCOS EM UM SOLO PODZÓLICO VERMELHO ESCURO

BALANÇO HÍDRICO DA CULTURA DO MILHO Álvaro José BACK 1. Resumo. Introdução

Professor Doutor do Departamento de Solos da UFSM, UFSM, Prédio 42, Sala 3316, , Santa Maria-RS Brasil,

INFLUÊNCIA DE BORDADURA NAS LATERAIS E NAS EXTREMIDADES DE FILEIRAS DE MILHO NA PRECISÃO EXPERIMENTAL 1

GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN ) NOTA CIENTÍFICA

EROSÃO EM ENTRESSULCOS E EM SULCOS SOB DIFERENTES TIPOS DE PREPARO DO SOLO E MANEJO DE RESÍDUOS CULTURAIS

EFEITO DA APLICAÇAO DE MICROGEO NA QUALIDADE FÍSICA DO SOLO EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO

Modelagem do escoamento superficial a partir das características físicas de alguns solos do Uruguai

DIMENSIONAMENTO DE TERRAÇOS: AVALIAÇÃO DA INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO COM DIFERENTES EQUIPAMENTOS NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO.

VELOCIDADE DE INFILTRAÇÃO BÁSICA EM ÁREAS COM DIFERENTES USOS E MANEJOS

AVALIAÇÃO FISIOLÓGICA DE PLANTAS DE MILHO SUBMETIDO A IRRIGAÇÃO DEFICITÁRIA

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE SEMEADURA NO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DA CULTURA DO MILHO. Resumo

Variabilidade da estabilidade de agregados de um Argissolo cultivado com pessegueiro

Avaliação das perdas de solo e água em canais de solo sob diferentes intensidades de precipitação

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM GIRASSOL EM DECORRÊNCIA DA CHUVA E TEMPERATURA DO AR 1 RESUMO

ESTIMATIVA DA EROSIVIDADE DA CHUVA NO PERÍODO DE NO MUNICÍPIO DE BANANEIRAS-PB COMO CONTRIBUIÇÃO A AGROPECUÁRIA

DESEMPENHO DE UMA SEMEADORA-ADUBADORA UTILIZANDO UM SISTEMA DE DEPOSIÇÃO DE SEMENTES POR FITA.

Atividades para subsidiar a agricultura conservacionista

ESCOAMENTO SUPERFICIAL EM FLORESTA PLANTADA EM UM LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO DISTRÓFICO

EVOLUÇÃO DO CONSÓRCIO MILHO-BRAQUIÁRIA, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

UTILIZAÇÃO DO MODELO SWAT PARA VERIFICAÇÃO DA INFLUENCIA DO DESMATAMENTO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO

VELOCIDADE DE INFILTRAÇÃO DE ÁGUA EM LATOSSOLO VERMELHO- AMARELO DISTRÓFICO SOB DIFERENTES CULTIVOS

Número Final de Folhas de Cultivares de Milho com Diferente Variabilidade Genética

COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS MÉTODOS PARA ESTIMAR A LÂMINA DE IRRIGAÇÃO DO FEIJOEIRO NA REGIÃO DE BAMBUÍ-MG

Desempenho Operacional de Máquinas Agrícolas na Implantação da Cultura do Sorgo Forrageiro

EFEITO DO TRÁFEGO DE MÁQUINAS SOBRE ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO E DESENVOLVIMENTO DA AVEIA PRETA. Instituto Federal Catarinense, Rio do Sul/SC

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE SEMEADURA NA CULTURA DO FEIJÃO

PRODUÇÃO DE CULTIVARES DE AZEVÉM NO EXTREMO OESTE CATARINENSE. Palavras-chave: Lolium multiflorum L., Produção de leite, Pastagem de inverno.

OXIRREDUÇÃO EM SOLOS ALAGADOS AFETADA POR RESÍDUOS VEGETAIS

EFFECTS OF MULCH LEVELS ON TEMPERATURE IRRIGATED COMMON BEAN, UNDER NO TILLAGE SYSTEM

CARACTERÍSTICAS BIOMÉTRICAS DE VARIEDADES DE MILHO PARA SILAGEM EM SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA NO SUL DE MG

DESEMPENHO DO MÉTODO DAS PESAGENS EM GARRAFA PET PARA A DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO

RESPOSTA FOTOSSINTÉTICA DE PLANTAS DE MILHO SAFRINHA EM DIFERENTES ESTÁDIOS E HORÁRIOS DE AVALIAÇÃO

Erosão Hídrica Laminar nos Sistemas de Cultivo de Milho no Agreste Sergipano

EFFECT EVALUATION OF DEAD IN COVERAGE EROSION AND MOISTURE A ULTISOL YELLOW WITH RAIN SIMULATOR USE

file://e:\arquivos\poster\451.htm

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA E VIABILIDADE TÉCNICA DO PROGRAMA FOLIAR KIMBERLIT EM SOJA

EFEITO DA APLICAÇAO DE MICROGEO NA QUALIDADE FÍSICA DO SOLO EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE TABACO NO RS

PRODUTIVIDADE DO MILHO INFLUENCIADA PELA EFICIÊNCIA DO USO DA ÁGUA EM SISTEMAS DE MANEJO

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DO CULTIVO DO TOMATEIRO IRRIGADO *

CONSUMO DE TRATOR EQUIPADO COM SEMEADORA

MANEJO DA PASTAGEM ANUAL DE INVERNO AFETANDO A EMERGÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO EM SUCESSÃO 1. INTRODUÇÃO

Escoamento Superficial Em Encosta Coberta Por Capim Vetiver Plantado Em Diferentes Espaçamentos

RELATÓRIO DE PESQUISA 11 17

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

Key words: plant density, leaf area index, soil temperature, Manihot esculenta.

USO DE LEGUMINOSAS NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS SOB PASTAGENS DEGRADADAS, EM GURUPI-TO. Danilo Silva Machado¹; Saulo de Oliveira Lima²

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 888

Adubação com composto de farelos anaeróbico na produção de tomate orgânico cultivado sobre coberturas vivas de amendoim forrageiro e grama batatais.

NUTRIÇÃO DA MAMONEIRA CONSORCIADA COM FEIJÃO COMUM EM FUNÇÃO DO PARCELAMENTO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

CALAGEM, GESSAGEM E MANEJO DA ADUBAÇÃO EM MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis

pelo sentido de semeadura e compactação sob chuva simulada

GERMINAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DA SOJA EM DIFERENTES MANEJOS DO SOLO

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

DOIS VOLUMES DE CALDA EM QUATRO ESPAÇAMENTOS DE PLANTAS DE SOJA

Produtividade de Genótipos de Feijão do Grupo Comercial Preto, Cultivados na Safra da Seca de 2015, no Norte de Minas Gerais.

Avaliação de cobertura de solo em sistemas intensivos de cultivo 1

MATURAÇÃO ANTECIPADA DA CULTURA DE TRIGO: PRODUTIVIDADE DE GRÃOS E QUALIDADE DAS SEMENTES

CALAGEM NA SUPERFÍCIE DO SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO EM CAMPO NATIVO. CIRO PETRERE Eng. Agr. (UEPG)

SEÇÃO VI - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Av. Ademar Diógenes, BR 135 Centro Empresarial Arine 2ºAndar Bom Jesus PI Brasil (89)

EFEITO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL E DA PERDA DE SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

EFEITO DO MANEJO DO SOLO NA CONTENÇÃO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NO SEMI-ÁRIDO

CARACTERIZAÇÃO DA FENOLOGIA DE CULTIVARES DE SOJA EM AMBIENTE SUBTROPICAL

RESISTÊNCIA DO SOLO À PENETRAÇÃO EM ÁREA CULTIVADA COM CANA-DE-AÇÚCAR SUBMETIDA A DIFERENTES MANEJOS DA CANA- SOCA RESUMO

PROJETO DE PESQUISA REALIZADO NO CURSO DE AGRONOMINA - UERGS, UNIDADE DE TRÊS PASSOS RIO GRANDE DO SUL 2

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

Quantificação da serapilheira acumulada em um povoamento de Eucalyptus saligna Smith em São Gabriel - RS

BOLETIM TÉCNICO nº 19/2017

Perdas de Solo e Água por Erosão Hídrica em Florestas Equiânea em um Latossolo Vermelho-Amarelo

DETERMINAÇÃO DA ERODIBILIDADE DE UM VERTISSOLO POR DIFERENTES METODOLOGIAS 1

Perdas de água e solo sob diferentes padrões de chuva simulada e condições de cobertura do solo

INFLUÊNCIA DE RESÍDUOS VEGETAIS NA SUPERFÍCIE DO SOLO E DE DIFERENTES ESPAÇAMENTOS ENTRE LINHAS DO FEIJOEIRO NA TEMPERATURA DO SOLO 1 RESUMO

ÉPOCAS DE SEMEADURA DE MAMONA CONDUZIDA POR DUAS SAFRAS EM PELOTAS - RS 1

Uso do balanço hídrico simplificado em sistemas de conservação em um solo classificado como Argissolo Vermelho Amarelo

ÍNDICE DE ESPIGAS DE DOIS HÍBRIDOS DE MILHO EM QUATRO POPULAÇÕES DE PLANTAS E TRÊS ÉPOCAS DE SEMEADURA NA SAFRINHA

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DO CAPIM VETIVER PARA PROTEÇÃO DE ENCOSTAS: QUANTIFICAÇÃO DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA

EFEITO DA ADUBAÇÃO BORATADA NO DESEMPENHO PRODUTIVO DE GIRASSOL

Plantas de cobertura no controle das perdas de solo, água e nutrientes por erosão hídrica

AVALIAÇÃO DE LINHAGENS DE FEIJÃO DO GRUPO COMERCIAL CARIOCA NO ESTADO DE SERGIPE NO ANO AGRÍCOLA 2001.

Escoamento superficial em diferentes sistemas de manejo em um Nitossolo Háplico típico

Perdas de solo e água em um Argissolo Vermelho Amarelo, submetido a diferentes intensidades de chuva simulada 1

XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo

Comprimento crítico de declive e erosão hídrica, em três doses de resíduo cultural e dois modos de semeadura direta 1

index, erosivity, R factor

Índice de clorofila em variedades de cana-de-açúcar tardia, sob condições irrigadas e de sequeiro

PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO UMA ALTERNATIVA PARA ALIVIAR A COMPACTAÇÃO

ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO E FONTES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DA SOJA 1

VARIAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO COM COBERTURA MORTA UTILIZANDO CHUVA SIMULADA

Transcrição:

ESCOAMENTO SUPERFICIAL EM DIFERENTES DECLIVIDADES DO TERRENO E NÍVEIS DE COBERTURA DA SUPERFÍCIE DO SOLO A. E. Knies 1 ; R. Carlesso 2 ; Z. B. Oliveira 3 ; T. François 4 ; H. M. Fries 5 ; V. Dubou 5 RESUMO: O objetivo deste trabalho foi determinar as perdas de água por escoamento superficial em solo com diferentes declividades e níveis de cobertura da superfície por resíduos vegetais e área foliar da cultura do feijão. Chuvas simuladas foram aplicadas em quatro momentos ao longo do ciclo do feijão (índice de área foliar - IAF - de 0; 0,6; 3,5 e 9,5), sob solo com dois níveis de cobertura da superfície por resíduos vegetais (0 e 5 Mg ha -1 de aveia preta) e em três declividades do terreno (1, 5 e 10 %). Foram delimitadas parcelas de 1 m 2 no solo com chapas metálicas e determinados o tempo de início e a taxa constante de escoamento superficial de água. A utilização de resíduos vegetais na superfície do solo resultou em redução da taxa constante de escoamento e retardo no início do escoamento de água do solo. O aumento do IAF da cultura do feijão resultou em incremento da taxa constante de escoamento de água no solo com cobertura da superfície por resíduos vegetais e, o aumento da declividade do terreno resultou em aumento na taxa constante de escoamento e redução no tempo de início do escoamento. PALAVRAS-CHAVE: chuva simulada, resíduos vegetais, área foliar da cultura do feijão. RUNOFF IN DIFFERENT LAND SLOPE AND LEVEL OF COVERAGE OF SURFACE SOIL SUMMARY: The objective of this study was to determine runoff water losses of a soil with different slopes and levels of surface coverage by crop residues and drybean leaf area. Simulated rainfall was applied at four points during the bean cycle (leaf area index - LAI - of 0, 0.6, 3.5 and 9.5) under two levels of soil surface cover by the crop residues (0 and 5 Mg ha -1 of oat) and in three soil slopes (1, 5 and 10%). Plots with 1 m 2 in the ground with metal plates and determined the start time and the constant rate of runoff water. The use of vegetable residues on the ground surface resulting in reduced constant rate of flow and delay the beginning of the flow of groundwater. The increase of the LAI of the bean crop resulted in an increase of constant rate of flow of water in the soil surface cover with crop residues, and the increased slope of the ground caused an increase in steady rate of flow and decrease in time of initiation of flow. Keywords: simulated rainfall, crop residues, leaf area of the bean crop 1 Eng. Agr., MSc., doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola PPGEA, Universidade Federal de Santa Maria UFSM. Av. Roraima, 1000, prédio 68, Santa Maria, RS, CEP 97105-900. E-mail: albertoek@mail.ufsm.br; 2 Eng. Agr., PhD., professor do Dpto. de Engenharia Rural, UFSM. 3 Eng. Agrícola, MSc., doutoranda do PPGEA, UFSM. 4 Eng. Agr., mestranda do PPGEA, UFSM. 5 Estudante do Curso de Graduação em Agronomia, UFSM. Apresentador do trabalho. E-mail: henrique_fries@hotmail.com;

INTRODUÇÃO A taxa e a quantidade de água perdida pelo escoamento superficial são parâmetros fundamentais no planejamento de uso e manejo do solo, no planejamento e dimensionamento de sistemas de terraços agrícolas, para o entendimento e quantificação de processos hidrológicos, além de ser um dos elementos básicos a ser considerado na equação do balanço hídrico, para determinar os requerimentos de irrigação das culturas, ocupando um papel fundamental no planejamento da irrigação, no uso eficiente dos recursos hídricos e no dimensionamento das obras e dos sistemas de irrigação (ROMERO; GRANÃ, 1999). Esse trabalho teve como objetivo determinar as perdas de água por escoamento superficial do solo em diferentes declividades do terreno e níveis de cobertura da superfície por resíduos vegetais e área foliar da cultura do feijão. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em área experimental do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Maria, de Santa Maria-RS, no ano agrícola de 2010/11. A área está situada em Latitude de 29 41 24 S e Longitude de 53 48 42 W. O clima da região, conforme Moreno (1961) é do tipo Cfa de acordo com a classificação climática de Köppen (subtropical úmido, sem estação seca definida e com verões quentes). O solo do local está classificado como Argissolo Vermelho Distrófico arênico (EMBRAPA, 2006). O experimento foi conduzido no delineamento experimental inteiramente casualizado, com dois tratamentos constituídos de níveis de cobertura da superfície do solo por resíduos vegetais (0 e 5 Mg ha -1 de aveia preta) e três repetições. Na área foram definidos três locais distintos, com declividade de 1, 5 e 10 %, onde foram aplicadas chuvas simuladas com intensidade de 70 mm h -1, em quatro momentos ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura do feijão: após a semeadura e antes da emergência da cultura, quando as plantas atingirem o IAF de 0,6 (aos 12 dias após a emergência - DAE), de 3,5 (aos 24 DAE) e 9,5 (aos 39 DAE). Em cada local foram instaladas seis parcelas experimentais, cada uma com tamanho de 1 x 1 m (1,0 m 2 ), delimitadas com chapas metálicas galvanizadas cravadas no solo, contendo na parte inferior uma calha, para a coleta da água de escoamento superficial. Nestas seis parcelas foram distribuídos aleatoriamente os tratamentos dos níveis de cobertura da superfície do solo e as repetições. A semeadura da cultura do feijão foi realizada em 19 de janeiro de 2011, sob sistema de plantio direto, com semeadora-adubadora tratorizada equipada com disco de corte e sulcador, utilizando-se espaçamento entre linhas de 0,45 m, população de 190.000 plantas ha -1 e, os demais tratos culturais, seguiram as recomendações da CEPEF (2007). A área foliar das plantas de feijão foi determinada em duas plantas por parcela, com auxílio do equipamento LI-3000C Portable Área Meter e, o índice de área foliar (IAF) foi calculado pela razão entre á área foliar da planta e a área superficial de solo ocupada pela mesma. As chuvas artificiais foram aplicadas utilizando-se um simulador estacionário de bicos múltiplos e oscilantes desenvolvido pelo National Soil Erosion Research Lab, USDA ARS, USA (NORTON; BROWN, 1992). O tempo de início do escoamento superficial foi

determinado quando a superfície da parcela apresentava-se completamente encharcada e ocorria a formação de um filete contínuo de água escoando na calha coletora. Durante as chuvas simuladas, as coletas dos volumes de água escoados foram realizadas em intervalos de cinco minutos e, o volume de escoamento superficial para cada intensidade de chuva simulada foi avaliado até tornar-se constante ou até o tempo máximo de 120 minutos. A taxa constante de escoamento superficial foi considerada quando o volume de escoamento praticamente não variou com o passar do tempo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados do escoamento superficial de água do solo em função do tempo de aplicação da chuva para as diferentes quantidades de resíduos vegetais na superfície do solo (0 e 5 Mg ha -1 ) a partir das diferentes declividades do terreno (1, 5 e 10 %) e IAF da cultura do feijão (0; 0,6;3,5 e 9,5) estão apresentados na figura 1. Na tabela 1 consta a taxa constante de escoamento e o tempo para o início do escoamento superficial nos tratamentos avaliados. Analisando-se o efeito da utilização de resíduos vegetais sobre a superfície do solo, figura 1 e a tabela 1, identifica-se significativa redução da taxa constante de escoamento em função da utilização de resíduos vegetais na superfície do solo, em aproximadamente 55, 30 e 20 % comparado ao solo descoberto, nas declividades de 1, 5 e 10 %, respectivamente. Também, a utilização de resíduos vegetais na superfície do solo causou retardo no início do escoamento, demorando de 2 a 5 vezes mais tempo para iniciar o escoamento comparado ao solo descoberto, pois a cobertura do solo mantém a infiltração de água no solo em níveis mais elevados, sendo o fator mais importante que influencia as taxas de infiltração e de escoamento da água da chuva devido à possibilidade de selamento dos poros na superfície em solos descobertos (COGO et al., 1984). O aumento do IAF da cultura do feijão alterou a taxa constante de escoamento de água no solo apenas nos tratamentos com cobertura de resíduos na superfície, onde, de maneira geral, causou um pequeno incremento, que pode ser atribuído a provável redução da porosidade do solo, em função do desenvolvimento do sistema radicular das plantas, onde as raízes passaram a ocupar uma significativa quantidade de poros, nos quais antes infiltrava a água da chuva. O incremento do IAF da cultura do feijão resultou em diminuição do tempo de início do escoamento superficial no solo sem cobertura da superfície por resíduos vegetais, fato relacionado ao provável selamento dos poros superficiais do solo sem resíduos vegetais na superfície na primeira chuva (no IAF 0), em função do efeito integrado da energia do impacto das gotas d água e da força cisalhante do escoamento superficial, causando o desprendimento, arraste e deposição das partículas do solo (CARVALHO et al., 2002), entupindo os poros superficiais e, consequentemente, reduzindo a infiltração de água no solo e aumentando o escoamento. Porém, no tratamento com cobertura da superfície do solo por resíduos vegetais o tempo de início do escoamento superficial foi prolongado em 2 a 3 vezes, em função dos resíduos vegetais na superfície evitarem o selamento, pois dissipam a energia cinética do impacto das gotas d água e reduzem a velocidade do escoamento, resultando em maior infiltração de água e menor escoamento superficial (BERTOL et al., 2008). Este efeito também corrobora com o fato de os maiores valores da taxa constante de escoamento e os menores

tempos de início do escoamento terem sido observados com IAF de 0,6 e no tratamento sem resíduos vegetais na superfície do solo. O aumento da declividade do terreno implicou em aumento na taxa constante de escoamento e redução no tempo de início do escoamento, pois o aumento da declividade acelera a velocidade de deslocamento da água na superfície do solo, diminuindo a infiltração da água no solo. Segundo Carlesso e Zimmermann (2000), a magnitude do escoamento superficial vai depender, principalmente, da intensidade da chuva, da capacidade de infiltração e da declividade da superfície do solo, podendo ser comprovado pelas maiores taxas de escoamento superficial e menor tempo de início do escoamento no solos com maiores declividades. CONCLUSÕES A utilização de resíduos vegetais na superfície do solo resultou em redução da taxa constante de escoamento e retardo no início do escoamento de água do solo. O aumento do índice de área foliar da cultura do feijão ocasionou incremento da taxa constante de escoamento de água no solo com cobertura de resíduos na superfície, enquanto que, diminuiu o tempo para o início no escoamento no solo descoberto e, aumentou o tempo de início no solo com cobertura da superfície por resíduos vegetais. O aumento da declividade do terreno implica em aumento na taxa constante de escoamento e redução no tempo de início do escoamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTOL, I.; BARBOSA, F. T.; FABIAN, E. L.; PEGORARO, R.; ZAVASCHI, E.; GONZÁLEZ, A. P.; VÁZQUEZ, E. V. Escoamento superficial em diferentes sistemas de manejo em um Nitossolo Háplico típico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, PB, v. 12, n. 3, p. 243 250, 2008. CARLESSO. R.; ZIMMERMANN, F.L. Água no solo: Parâmetros para o dimensionamento de sistemas de irrigação. Santa Maria: UFSM, 2000. 88p CARVALHO, D. F.; MONTEBELLER, C. A.; CRUZ, E. S.; CEDDIA, M. B.; LANA, A. M. Q. Perdas de solo e água em um Argissolo Vermelho Amarelo, submetido a diferentes intensidades de chuva simulada. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, PB, v. 6, n. 3, p. 385-389, 2002. CEPEF - Comissão Estadual de Pesquisa do Feijão. Indicações técnicas para a cultura do feijão no Rio Grande do Sul 2007/08. Pelotas, RS, 2007. 110p. COGO, N. P.; MOLDENHAUER, W. C.; FOSTER, G. R. Soil loss reductions from conservation tillage practices. Soil Science Society America Journal, v. 48, p. 368-373, 1984. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro, Embrapa Solos, 2006. 306p. NORTON, L. D., BROWN, L. C. Time-effect on water erosion for ridge tillage. Transactions of the ASAE, St. Joseph, v. 35, p. 473-478, 1992. ROMERO, A.L., GRAÑA, R.C. Modelos para el cálculo de la lluvia efectiva y su aplicación en caña de azúcar. Caña de Azúcar, v. 17, p. 3-20, 1999.

Tabela 1 Resultados da taxa constante de escoamento (mm h-1) e tempo de início do escoamento (minutos) em função da utilização de resíduos vegetais na superfície do solo, para as diferentes declividades do terreno e índices de área foliar da cultura do feijão. Taxa constante de escoamento Tempo de início do escoamento Sem resíduo Com resíduo Sem resíduo Com resíduo Declividade: 1 % IAF 0 42,12 aay* 14,96 bby 6,70 bax 12,50 abx IAF 0,6 46,91 aay 20,40 baby 2,88 bcx 7,83 acx IAF 3,5 42,60 aax 18,84 bby 3,16 bbcx 13,50 abx IAF 9,5 49,83 aax 27,68 bay 4,83 bbx 24,17 aax Declividade: 5 % IAF 0 46,60 abxy 17,84 bdy 5,67 baxy 12,60 abx IAF 0,6 60,85 aax 48,71 bax 3,18 abx 5,50 bcy IAF 3,5 56,19 aabx 41,99 bbx 2,94 bbx 12,17 abx IAF 9,5 52,36 aabx 36,51 bcx 3,67 bbx 23,17 aax Declividade: 10 % IAF 0 50,49 aax 33,03 bcx 4,10 aay 6,23 acy IAF 0,6 58,21 aax 49,88 bax 1,56 acy 3,50 bcz IAF 3,5 50,91 aax 41,69 abx 2,31 bbcy 10,50 abx IAF 9,5 52,19 aax 37,32 bbcx 3,33 babx 19,00 aay * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha, maiúscula na coluna e x/y/z entre declividades no mesmo IAF, não diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade de erro. Figura 1 - Escoamento superficial de água do solo em função do tempo de aplicação da chuva, nas diferentes quantidades de resíduos vegetais na superfície do solo (0 e 5 Mg ha-1) a partir de diferentes declividades do terreno (1, 5 e 10 %) e índices de área foliar da cultura do feijão (0; 0,6; 3,5 e 9,5).