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78 Balanço 2016 Perspectivas 2017
Perspectivas 2017 OFERTA RESTRITA PODE MANTER PREÇO DO CAFÉ FIRME PARA 2017 A demanda crescente no mercado mundial, a queda nos estoques e as incertezas climáticas no Brasil, associados à bienalidade negativa, delineiam um cenário complexo para o mercado de café em 2017. A safra nacional de café arábica apresentou bienalidade positiva em 2016. Com exceção da Zona da Mata mineira e do estado do Paraná que tiveram redução na produção, todas as outras regiões produtoras registraram aumento em relação à safra anterior. Para a safra 2017, projeta-se um volume mais baixo de produção, por ser uma safra de bienalidade negativa. O estresse sofrido pela elevada produção nas lavouras, em 2016, deverá ser acentuado pelas variáveis climáticas. A antecipação das chuvas que promoveu a floração precoce dos cafezais, as chuvas de granizo que atingiram a região do Sul de Minas Gerais e parte de São Paulo e as geadas que afetaram as lavouras do sul de Minas, do Cerrado Mineiro e de São Paulo, durante os meses de junho e julho de 2016, deverão reforçar a redução da produção na safra de 2017. Assim, estima-se queda de 10% a 15% da produção nacional de café (arábica e conilon), um volume de aproximadamente 44 milhões de sacas (gráfico 1). Gráfico 1. Evolução da produção brasileira de café discriminada em bienalidade positiva (verde) e bienalidade negativa (azul) 52.000,0 50.826,4 50.000,0 49.151,6 49.640,0 Mil sacas de 60kg 48.000,0 46.000,0 44.000,0 42.000,0 45.341,8 43.235,0 43.840,4 40.000,0 38.000,0 2012 2013 2014 2015 2016 2017** Fonte: Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) publicado em setembro de 2016. ** Estimativa de produção de café para a safra 2017. A expectativa de queda na produção de café arábica, associada à redução dos estoques no mercado interno, deverá manter firme o preço na safra 2017. As projeções feitas pelos top cinco analistas do relatório Focus do Banco Central, de outubro de 2016, indicam taxa de câmbio de R$ 3,19, ao final de 2016, e de R$ 3,39, em dezembro de 2017. Caso essa 79
expectativa de estabilidade da moeda norte-americana frente ao real se concretize, haverá pouca influência da taxa de câmbio nos preços de café no decorrer da próxima safra. Quanto à produção de café conilon em 2017, esperam-se níveis de produção inferiores aos obtidos na safra de 2016 devido aos níveis de pluviosidade pouco favoráveis para a cultura no início da safra. Mesmo que os níveis pluviométricos sejam adequados às exigências da cultura ao longo da safra, a produção será comprometida, principalmente, no Espírito Santo, em decorrência da seca drástica na safra 2015/2016. Em algumas regiões, houve morte de plantas e danos severos que obrigaram os produtores a fazerem poda nos cafezais. A produção brasileira de conilon, em 2017, será influenciada também pelo baixo poder aquisitivo dos produtores que, devido à frustação da safra em 2016, terão limitações financeiras para realizar investimentos em adubações e no controle de pragas e doenças. Além disso, a necessidade de renegociação dos financiamentos de crédito rural em 2016 tende a dificultar o acesso ao crédito em 2017. Em 2017, os preços de conilon, que tem registrado altas históricas, devem permanecer acima da média verificada para a espécie nos últimos anos, com leve queda durante a colheita da safra 2016/2017, seguindo o comportamento sazonal dos preços. Os preços elevados e a expectativa de baixa produção no mercado doméstico provavelmente irão provocar queda no volume de café exportado durante a safra 2017, podendo chegar ao volume aproximado de 32 milhões de sacas, frente aos 35 milhões de sacas que foram exportados na safra 2016. As expectativas pouco otimistas para safra deixam claro que os produtores de café deverão trabalhar, constantemente, na gestão dos custos de produção e do controle de fluxo de caixa da propriedade, de forma a amenizar os possíveis problemas oriundos das adversidades climáticas. Os produtores terão de dar mais atenção às informações de mercado e, assim, devem escolher o melhor momento para realizar a compra dos insumos e a venda da produção. O fato é que os produtores não poderão abrir mão das ferramentas de gestão de risco e estratégias de longo prazo devem ser traçadas para evitar contenção de despesas com adubação, controle de pragas e doenças e demais investimentos, no curto prazo, que poderão levar a prejuízos para a produção das safras posteriores. 80
Balanço 2016 CLIMA FAVORECE A PRODUÇÃO DE CAFÉ ARÁBICA, MAS PROVOCA QUEDA DRÁSTICA NA PRODUÇÃO DE CONILON Após duas safras afetadas por longos períodos de estiagem, as áreas cultivadas com café arábica apresentaram boas condições climáticas na safra de 2016, o que refletiu em aumento significativo da produção, comparado com a safra anterior na maioria das regiões produtoras. O estado de Minas Gerais, que é o maior produtor do país, produziu 28,6 milhões de sacas, registrando aumento de 30,3% em relação à safra anterior. A produção de café arábica nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Bahia também tiveram bom desempenho com aumento de 45,2%, 28,2% e 9,2%, respectivamente. Com isso, o Brasil fecha a safra 2016 com produção estimada de 41,3 milhões de sacas de café arábica, 28,8% superior à produção da safra anterior, conforme terceira estimativa de safra feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O aumento de produtividade e, consequentemente, da produção, resultou na redução significativa dos custos unitários de produção nas principais regiões produtoras de café arábica do país. Os preços médios de venda foram superiores aos desembolsos em todas as regiões com levantamento de custos do projeto Campo Futuro, da CNA, em parceria com o Centro de Inteligência em Mercados da Universidade Federal de Lavras (CIM/Ufla). Os preços do café arábica, em 2016, corrigidos pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), referentes a de setembro de 2016, mantiveram-se estáveis. As médias mensais variaram de R$ 498,00 a R$ 513,00, até o início da colheita, momento em que houve leve queda e atingiu a média de R$ 468,00, em maio. Apesar da leve queda, os preços do café arábica apresentaram comportamento atípico para os outros meses de colheita (junho, julho, agosto) de um ano de alta produção. Porém esse comportamento é justificável pela baixa produção das safras anteriores e pelo recorde de exportação verificado em 2015, o que acarretou em redução nos estoques. Segundo levantamento feito pela Conab, no início da safra, os estoques totalizavam 13,6 milhões de sacas, 4% inferior ao volume verificado no mesmo levantamento feito em 2015. A produção de café conilon apresentou queda drástica nesta safra. A queda foi impulsionada principalmente pelo déficit hídrico no estado do Espírito Santo, estado responsável por aproximadamente 70% da produção nacional. O país registrou, assim, uma produção de 8,4 milhões de sacas de café conilon, queda de 25,3 % em relação à safra anterior. A baixa produção brasileira de conilon, associada à expectativa de queda na produção do Vietnã, foram primordiais para o aumento constante e acentuado dos preços, chegando a ultrapassar a cotação do café arábica tipo 6, bebida dura. Com esses resultados, o Brasil fecha a safra de café em 2016 (arábica e conilon) com uma produção total de 49,6 milhões de sacas, 15% superior à safra de 2015 (tabela 1). 81
Tabela 1. Produção brasileira de café nos principais estados produtores durante as safras 2015 e 2016 em mil sacas UNIDADE DA FEDERAÇÃO 2015 2016³ Variação RO 1.723,9 1.626,9-6% BA 2.345,7 2.095,0-11% MG 22.302,9 28.936,6 30% ES 10.700,0 9.148,0-15% SP 4.063,9 5.899,9 45% PR 1.290,0 1.050,0-19% Outros¹ 808,6 883,6 9% Brasil 43.235,0 49.640,0 15% ³Terceira estimativa de produção feita pela Conab em setembro de 2016. As exportações apresentaram-se com volumes maiores no início da safra, devido à alta do dólar, mas foram freadas no final devido aos problemas climáticos e as boas expectativas de preço para o mercado interno. Nesse contexto, o Brasil exportou mais de 35 milhões de sacas de café no ano safra (julho de 2015 a junho de 2016), gerando US$ 5,3 bilhões em receita. 82
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