Revista Eletrônica de Biologia

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. REB Volume 2 (2): 29-39, 2009 ISSN 1983-7682 Revista Eletrônica de Biologia Levantamento Taxonômico e Diversidade das Macroalgas Marinhas Bentônicas da Praia da Pituba, Salvador, Bahia Survey of the species and diversity of the benthics macroalgae of the Pituba s Beach, Salvador, Bahia Taís Soares Macedo 1 ; Arlene Soares Varjão 1 ; Luciana Lima Fernandes 1 ; Débora Ferreira da Silva 1 ; Judson de Santana Almeida 1 ; Juciara Coelho Messias 1 ; Ariane Santos das Neves 1 ; Fabiana Regina Nonato 2 1 Graduados em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Jorge Amado UNIJORGE. Av. Luis Viana, nº 6775, CEP 41745-130, Paralela, Salvador- BA. 2 Doutora em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Pesquisadora Colaboradora do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz FIOCRUZ, Rua Waldemar Falcão, 121, CEP 40296-710, Candeal, Salvador-BA. E-mail: taismacedo10@yahoo.com.br Resumo O presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento das espécies e da diversidade das macroalgas bentônicas da Praia da Pituba, Salvador, Bahia, contribuindo para o conhecimento da comunidade algácea da região. O material botânico foi coletado e armazenado utilizando-se as técnicas usuais. Foram identificados sete táxons que já possuíam ocorrências para o litoral baiano, sendo quatro da Divisão Chlorophyta e três da Divisão Rhodophyta. Espécies da Divisão Phaeophyta não foram encontradas. O índice de diversidade das espécies foi de H = 0,72 e o índice de equitabilidade foi J = 0,80, sugerindo que a comunidade de macroalgas bentônicas da área de estudo é homogênea. Contudo a abundância relativa dos gêneros Ulva e Pterocladiella, provavelmente pode estar associada à eutrofização do local. Sugere-se o estudo aprofundado, visando detectar, mais precisamente, os fatores que determinam tais características da comunidade algácea da Praia da Pituba.

Palavras-chave: macroalgas bentônicas, taxonomia, diversidade, Praia da Pituba, Salvador, Bahia. Abstract This present work aimed to carry out a survey of the species and diversity of the benthics macroalgae of the Pituba s Beach, Salvador, Bahia, contributing for the knowledge of the algae community of the region. The botanical material was collected and stored using the usual techniques. Seven taxons already known in the bahian coast had been identified, being four of the Chlorophyta Division and three of the Rhodophyta Division. Species of the Phaeophyta Division had not been found. The index of diversity of the species was of H = 0,72 and the equitability index was J = 0,80, suggesting that the benthics macroalgae community of the study area is homogeneous. However the relative abundance of the genus Ulva and Pterocladiella, probably can be associated to the eutrofization of the site. A study deeper is recommended aiming to detect, more precisely, the factors that determine such characteristics of the algae community of the Pituba Beach. Keywords: benthics macroalgae, taxonomy, diversity, Pituba s Beach, Salvador, Bahia State 1) Introdução As macroalgas ou algas macroscópicas são termos que designam a parcela de organismos genericamente chamados de algas que apresentam dimensões visíveis a olho nu (PEREIRA & GOMES, 2002). São organismos pluricelulares com formas bastante diversificadas e que em sua maioria possuem hábitos bentônicos. As macroalgas são divididas em três grandes grupos de acordo com as suas cores e composição de pigmentos: Chlorophyta (algas verdes), Rhodophyta (algas vermelhas) e Phaeophyta (algas pardas). As algas, aliadas a um pequeno grupo de angiospermas marinhas constituem os produtores primários que sustentam a vida nos mares e oceanos e, portanto, desempenham um papel ecológico fundamental na manutenção destes ecossistemas (BOLIN et al., 1977). A diversidade de organismos marinhos está correlacionada de certa forma, com a diversidade das 30

comunidades algais, diversidade esta que aumenta a estabilidade desses ecossistemas na medida em que um maior número de espécies funcionalmente equivalentes com diferentes capacidades de tolerância a fatores ambientais, pode melhor resistir a alterações do meio marinho, inclusive aquelas causadas por atividades antrópicas (CHAPIN III et al., 1997). Assim, as comunidades de macroalgas marinhas, por serem compostas de organismos sésseis, sofrem efeitos de diversos elementos do meio circundante, o que as fazem excelentes sensores biológicos das condições ambientais e das tendências evolutivas de seus ecossistemas (BOROWWITZKA, 1972; LITTLER; MURRAY, 1975; LEVINE, 1984; DUCROTOY, 1999; DIEZ et al., 1999 apud TAOUIL; YONESHIGUE, 2002). De acordo com Oliveira Filho (1977) o litoral do estado da Bahia corresponde a zona nordeste-oriental do Brasil, abrigando a flora mais diversificada do país. A região é caracterizada por águas oligotróficas e abundância de substratos duros, propícios ao crescimento de macroalgas marinhas (HORTA et al., 2001). No entanto, o trabalho realizado por Oliveira et al. (1999) a respeito da diversidade, explotação e conservação das espécies de algas marinhas no litoral do Brasil, expõe duas lacunas no conhecimento das macroalgas da costa brasileira: os estados do Espírito Santo e Bahia, sendo este último o menos conhecido. Estudos que faziam referências às algas marinhas bentônicas coletadas no litoral baiano foram reunidos por Nunes (1998), que desde então vem realizando levantamentos taxonômicos contribuindo para o conhecimento da ficoflora marinha do litoral baiano. O presente estudo teve como objetivo fazer um levantamento das espécies e da diversidade das macroalgas marinhas bentônicas da Praia da Pituba, Salvador, Bahia, contribuindo para o conhecimento da comunidade algácea da região. 31

2) Materiais e Métodos As amostras foram obtidas na Praia da Pituba, próximo ao antigo Clube Português (Figura1), a qual está situada na zona urbana de Salvador, recebendo alta carga de efluentes domésticos. A praia é caracterizada pela presença de substratos duros que favorecem a fixação e crescimento de macroalgas bentônicas. Foi realizada uma excursão de coleta (no dia 16/03/07) pela manhã durante o período de maré baixa. Com uma trena, traçou-se um transecto, no mesolitoral, de 90 m, perpendicular à linha da água e 60 m paralelo à linha da água, obtendo uma área de amostragem com 5.400 m 2. Ao longo desta, foram lançados, aleatoriamente, 50 quadrados de 50 cm x 50 cm. As algas foram coletadas com auxílio de espátula, acondicionadas em sacos plásticos devidamente numerados e conservadas em solução de formol diluído a 4% com água do mar de acordo com Cordeiro-Marino et al. (1989). Figura 1. Mapa com a localização do local de coleta (seta) na Praia da Pituba, Salvador, Bahia. Fonte: www.praticus.com.br 32

Posteriormente, as amostras coletadas foram encaminhadas ao laboratório de Biologia Marinha do Centro Universitário Jorge Amado, onde foram armazenadas protegidas da luz para evitar a perda da coloração. Para a identificação dos táxons foram realizados cortes histológicos à mão livre, com o auxílio de estilete, observando-se a morfologia externa e interna das estruturas vegetativas das algas, através de microscópio óptico e/ou estereomicroscópio. Os táxons foram identificados a partir de literatura específica. O sistema de classificação adotado segue Wynne (1998). Após esta etapa, foi realizada a contagem das espécies ocorrentes nos 50 quadrados, assumindo-se como um indivíduo a presença de determinada espécie nos mesmos. A partir da contagem das espécies foi realizado o cálculo do índice de diversidade de Shannon-Wiener (H ) e equitabilidade de Pielou (J ) (ODUM, 1988). 3) Resultados e Discussão Foram identificados sete táxons, sendo quatro da Divisão Chlorophyta e três da Divisão Rhodophyta. Espécies da Divisão Phaeophyta não foram encontradas na área de amostragem. Sinopse dos táxons identificados: Chlorophyta Ulvophyceae Ulvales Ulvaceae Ulva flexuosa Wulfen [=Enteromorpha flexuosa (Wulfen) J.Agardh] Ulva lactuca Linnaeus Bryopsidales Caulerpaceae Caulerpa racemosa (Forsskal) J. Agardh Caulerpa sertularioides (S.G. Gemel) M. Howe 33

Rhodophyta Rhodophyceae Florideophycidae Gelidiales Gelidiaceae Pterocladiella bartlettii (Taylor) Santelices Pterocladiella caerulescens (Kützing) Santelices & Hommersand Ceramiales Ceramiaceae Centroceras clavulatum (C. Agardh in Kunth) Mont. in Durieu de Maisonneuve Todas as espécies identificadas já possuíam ocorrências para o litoral baiano, fazendo parte dos 298 táxons de algas marinhas referidas atualmente para o estado. Como observado, a riqueza de espécies na área de amostragem foi igual a 7. No cálculo da abundância relativa (%) observou-se uma maior representatividade das clorofíceas da espécie Ulva lactuca L. (41,1%) seguida de Ulva flexuosa Wulfen (16,8%). Entre as rodofíceas a espécie Centroceras clavulatum (C. Agardh in Kunth) Mont. in Durieu de Maisonneuve foi a mais bem representada com 15,9%, sendo a terceira espécie mais representativa do total de táxons encontrados. Caulerpa racemosa (Forsskal) J. Agardh, foi a espécie menos abundante com 0,01% de representatividade (Figura 2). 34

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Se os resultados da abundância relativa forem tomados ao nível de gênero observa-se uma abundância do gênero Ulva (Chlorophyta) com 57,9%, seguido do gênero Pterocladiella (Rhodophyta) com 20,6%. Segundo OLIVEIRA et al. (1999) em regiões eutrofizadas o gênero Ulva pode ser localmente dominante, da mesma forma que nestas regiões, em locais onde a salinidade é diminuída pelo contínuo aporte de água doce, são comuns áreas dominadas por Enteromorpha spp. Do mesmo modo, VIDOTTI (2004) aponta a predominância de espécies oportunistas, incluindo esses dois gêneros, como indicadoras de poluição orgânica. O autor ressalta que na presença de excessos de nutrientes, como o N e P decorrentes do lançamento de efluentes químicos ou domésticos, pode haver um rápido crescimento e multiplicação com um deslocamento da população de algas, onde ocorrerá a dominação por uma(s) espécie(s) e/ou florações, indicando, assim, a deterioração na qualidade da água. O predomínio de rodofíceas filamentosas como as do gênero Pterocladiella, com menores dimensões do talo, rápido crescimento e ciclo de vida de curta duração, pode ser observado em ambientes sujeitos a distúrbios físicos (LITTLER & LITTLER, 1980; STENECK & DETHIER, 1994 apud BRITO; SZÉCHY& CASSANO, 2002). A ausência de macroalgas pardas na área de estudo, também é outro fator que provavelmente pode estar associado à eutrofização do local. Estas algas, principalmente as espécies do gênero Sargassum C. Agardh. costumam se estabelecer em locais onde ocorrem a inexistência de impactos significativos recentes (BOROWITZKA, 1972; BERCHEZ; OLIVEIRA, 1992 apud BRITO, SZÉCHY & CASSANO, 2002). A falta de espécies de feofíceas, de grande e pequeno porte, pode estar associada à toxidade de compostos orgânicos antropogênicos presentes nos esgotos doméstico e industrial não tratados e à sua interferência nos ciclos de vida das algas pardas. (JAENICKE, 1977; TEIXEIRA et al., 1987; BELLGROVE et al., 1997 apud TAOUIL & YONESHIGUE, 2002). 36

Oliveira et al. (1999) afirma que dentre os fatores que mais contribuem para a diminuição da biodiversidade marinha destaca-se a poluição ocasionada por lançamentos de poluentes caseiros ou industriais diretamente nas praias ou via cursos d água das áreas costeiras para o meio marinho, e pela movimentação de embarcações junto à costa. Contudo para se detectar se as variações observadas na estrutura das comunidades são devido à poluição, e não a fatores físicos ou biológicos naturais, é necessário o conhecimento prévio e aprofundado destas comunidades, o que significa seu acompanhamento a longo prazo (HAWKINS & HARTNOLL, 1983). 4) Considerações Finais O levantamento taxonômico realizado identificou espécies que já possuíam ocorrências para o litoral baiano e o índice de diversidade apresentado contribuiu para o conhecimento da comunidade fitobentônica da região. O índice de equitabilidade das espécies sugere que a comunidade de macroalgas bentônicas da área de estudo é homogênea, porém a abundância dos gêneros Ulva e Pterocladiella, provavelmente pode estar associada à eutrofização do local devido ao lançamento de efluentes domésticos, assim como a ausência de espécies da Divisão Phaeophyta. Entretanto, deve-se ressaltar que as comunidades algais são controladas por muitos fatores ambientais, bióticos e abióticos, sendo, portanto necessário o estudo aprofundado, visando detectar mais precisamente, os fatores que determinam tais características da comunidade algácea da Praia da Pituba. 37

5) Agradecimentos À Prof a. Patrícia S. Petitinga por dar-nos a oportunidade de realização do trabalho. À Profª. Camila M. Pigozzo pelas orientações e sugestões relacionadas à Ecologia. Ao Prof. Dr. José Marcos de Castro Nunes (Universidade Federal da Bahia-UFBA) por fazer a confirmação dos táxons. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. 6) Revisão de Inglês: Milena B. Meiken 7) Referências Bibliográficas BOLIN, B. et al. The global biogeochemical carbon cycle. In: BOLIN, B.; DEGENS, E. T.; KEMP, S.; KETNER, P. (Eds.). The global carbon cycle. New York: Wiley & Sons, 1977, p 1-53. BRITO, Luciana V. R. de; SZÉCHY, Maria Tereza M.; CASSANO, Valéria. Levantamento taxonômico das macroalgas da zona das marés de costões rochosos adjacentes ao terminal marítimo Almirante Maximiano Fonseca, Baía da Ilha Grande, RJ. Atlântica, v. 24, n. 1. Rio Grande, 2002. CHAPIN III et al. Biotic control over the functioning of ecosystems. Science. n. 277, 1997, p. 500-504. CORDEIRO-MARINO, Marilza et al. Algas marinhas bentônicas. In: FIDALGO, Owaldo; BONONI, Vera L. R. (Coord.). Técnicas de coleta, herborização e preservação de material botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1989, p.11-13. HAWKINS, S. J.; HARTNOL, P. Changes in a rocky shore community: an evaluation of monitoring. Mar. Environ. Res., v.9, 1983, p. 1, 31-181. HORTA, P. A. et al. Considerações sobre a distribuição e origem da flora de macroalgas marinhas brasileiras. Hoehnea, v. 28, n. 3, São Paulo, 2001. p. 243-265. 38

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