Programa de Gestão de Custos do Vestibular (PGCV) a experiência da COMPERVE da UFRN Brasil



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Transcrição:

Programa de Gestão de Custos do Vestibular (PGCV) a experiência da COMPERVE da UFRN Brasil Ridalvo Medeiros Alves de Oliveira ridalvo@ufrnet.br Daniele da Rocha Carvalho danielerocha@ufrnet.br Área Temática: A3 - Custos e gestão no setor público e organizações sem fins lucrativos Palavras-chave: Gestão de Custos. Vestibular. Argumento de Inclusão. Metodologia de investigação: M2 Case/Field Study Resumo O presente estudo objetiva apresentar os resultados obtidos pela Comissão Permanente do Vestibular (COMPERVE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a partir da implantação do plano estratégico de gestão suportado por dois pilares básicos: o argumento de inclusão (AI) e o programa de gestão de custos do vestibular (PGCV). O AI objetiva o aumento da participação dos alunos da rede pública no preenchimento das vagas oferecidas pela UFRN por meio do vestibular, enquanto o PGCV visa gerenciar os custos desse vestibular, buscando otimizar a utilização dos recursos que são integralmente oriundos das taxas de inscrição pagas pelos candidatos, sem contrapartida do orçamento da UFRN. Apresenta um breve histórico do ensino superior no Brasil e do vestibular, bem como do surgimento e evolução do AI no contexto da UFRN. Aponta os ganhos obtidos com a implantação do PGCV, com destaque para os gastos com impressão, alimentação, telefonia, serviços gráficos e de leitura ótica, e, por fim, com deslocamentos (diárias). 1 Introdução A conclusão da educação básica e a continuidade dos estudos em nível superior tem sido, historicamente, um grande problema para os jovens brasileiros. Esse problema se agrava mais ainda entre os jovens oriundos das classes sociais mais humildes. No ano 2000, o percentual da população brasileira de jovens entre 18 e 24 anos de idade que frequentavam o ensino superior era de 10%, e no final do ano 2010 atingiu apenas 15%. Esse número é muito inferior aos de outros países da América Latina, como a Argentina, onde o percentual de jovens nessa faixa etária cursando o ensino superior atinge 32%. Em países mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Canadá, esse percentual sobe para 50% e 62%, respectivamente. O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado por meio da Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, previa que até 2011, o Brasil triplicasse esse percentual, ao instituir como uma das metas para a educação superior: Prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos. Caso essa meta tivesse sido

atingida, o que representaria um crescimento de 200%, o Brasil ainda atingiria um percentual inferior ao da Argentina. Em se tratando especificamente das instituições públicas, onde o ensino superior é gratuito, essa gratuidade, aliada à qualidade dessas IES, faz com que as vagas existentes em seus cursos continuem sendo disputadas por uma quantidade de candidatos que supera, em muito, as vagas ofertadas. Na UFRN, nos últimos anos, o número de candidatos oscila entre 25.000 e 30.000, representando uma média de cerca de cinco candidatos para cada vaga, o que significa, em última análise, que cerca de 20.000 a 25.000 candidatos não conseguem uma vaga nos cursos por eles escolhidos em cada ano. Do outro lado dessa questão, encontram-se as comissões de vestibular das instituições de ensino, que precisam, cada vez mais, administrar eficazmente os custos relacionados aos seus processos seletivos (vestibulares), visando proporcionar aos candidatos um processo de qualidade, praticando taxas de inscrição módicas, permitindo, assim, a um número maior de candidatos, a participação nesses processos. Dessa forma, o vestibular pode vir a ser um processo seletivo baseado puramente em conhecimento, deixando de ser um processo seletivo penalizante, com um grande limitador econômico para os candidatos de condições financeiras menos privilegiadas. Ciente dessa realidade, a Comissão Permanente do Vestibular (COMPERVE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), criou em 2005 um plano estratégico de gestão suportado por dois pilares básicos: o argumento de inclusão (AI) e o programa de gestão de custos do vestibular (PGCV). Em função das políticas governamentais de acesso ao ensino superior, que redirecionaram o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para tornar-se uma forma de acesso ao ensino superior, deixando de ser apenas um instrumento de avaliação da qualidade do ensino médio, foi criado o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) em 2010. O SiSU é um sistema informatizado gerenciado pelo próprio Ministério da Educação (MEC), por meio do qual os candidatos a vagas em cursos de graduação disponibilizadas pelas instituições de ensino superior são selecionados.

A UFRN aderiu parcialmente ao SiSU nos dois últimos vestibulares e já anunciou, após reunião de seus colegiados superiores, que esse será o último ano no qual o acesso aos seus cursos de graduação se dará por meio do vestibular próprio da instituição. Das pouco mais de 6.000 vagas disponíveis para 2013 nos cursos de graduação da UFRN, 50% serão preenchidas por candidatos do vestibular, e os outros 50% serão preenchidas através do SiSU. A partir do ano seguinte, todas as vagas passarão a ser preenchidas por meio do ENEM/SiSU. Para adequar-se a essa nova realidade esperada para 2013, com o fim do vestibular, a COMPERVE foi transformada no Núcleo Permanente de Concursos e deixará de ser responsável pela seleção de alunos para os cursos de graduação da UFRN, permanecendo com a missão de realizar os outros processos seletivos (residência médica, cursos técnicos, etc.) e concursos da UFRN. Com base no exposto, propõe-se o seguinte problema de pesquisa como foco principal de desenvolvimento deste trabalho: Quais os resultados obtidos pela COMPERVE/UFRN a partir do plano estratégico de gestão? Trata-se de um estudo de caso desenvolvido a partir de fontes primárias (relatórios e documentos da COMPERVE) referentes ao período de 2006 a 2011, período em que vigorou o plano estratégico de gestão. Cabe ressaltar que, como a COMPERVE continuará realizando todos os demais processos seletivos da instituição, os êxitos obtidos com o PGCV podem e devem ter continuidade. A estrutura desse trabalho está dividida da seguinte forma: no capítulo 2 apresenta-se um breve histórico do ensino superior no Brasil; no capítulo 3, o vestibular e as novas formas de acesso; em seguida, no capítulo 4, a política de inclusão desenvolvida e adotada pela UFRN, que é o argumento de inclusão; no capítulo 5, o programa de gestão de custos do vestibular, implementado na COMPERVE a partir do vestibular 2006; por fim, são apresentadas as conclusões do estudo no capítulo 6.

2 O ensino superior no Brasil: breve histórico O ensino superior brasileiro, apesar de ser relativamente jovem, percorreu um longo e tortuoso caminho até atingir essa realidade, que ainda não é a desejada, mas já é bastante evoluída se comparada aos tempos da colônia e da monarquia. O ensino superior só veio a acontecer tardiamente no Brasil, tendo ganhado impulso com a vinda da família real portuguesa para o país, afastando-se das guerras napoleônicas, em 1808. Tal acontecimento gerou a necessidade de organizar a Corte, formando quadros administrativos na Colônia, o que teria favorecido a criação dos primeiros cursos superiores. (NUNES, 2007) Reforçando as afirmações de Nunes, Gomes (2007) cita que ao chegar ao Brasil em 1808, D. João permaneceu um mês na Bahia, ocasião em que aprovou a criação da primeira escola de medicina do Brasil. O próprio Gomes (2010, p. 75) complementou asseverando que A criação de uma escola de medicina em Salvador inaugurou o ensino superior no Brasil. Vieram logo em seguida uma escola de técnicas agrícolas, um laboratório de estudos e análises químicas e a Academia Real Militar. Em 1814, destaca Martins (2002), foi criado o Curso de Agricultura. Outra importante criação, ocorrida 10 anos depois, em 1820, foi a da Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, fruto da presença da Missão Cultural Francesa no Brasil. Com o advento da independência política em 1822, segundo Martins (2002, p. 4), o sistema de ensino brasileiro não sofreu mudança alguma no formato, nem registrou ampliação ou diversificação, pois a elite detentora do poder à época não vislumbrava vantagens na criação de universidades. Nessa época, o acesso ao ensino superior ainda era extremamente reduzido e desigual, pois esse acesso era, conforme cita Gouveia (2009, p. 19-20), desfrutado apenas pelos filhos das famílias que possuíam uma significativa monta de recursos econômicos. Estes tinham a opção de ir para a Europa, com mais frequência a Portugal. Após 1850, prossegue Martins (2002), se observa uma discreta expansão do número de instituições de ensino, chegando ao final do século XIX com 24 estabelecimentos de ensino superior no Brasil, apresentando cerca de 10.000 estudantes matriculados.

A proclamação da República, em 1889, trouxe outras tentativas de criação de universidades federais, todas postergadas devido à rejeição dos positivistas a tal instituição (CUNHA, 2003). A Constituição de 1891 manteve o ensino superior como atribuição do poder central, mas não com exclusividade. Tal situação acabou por gerar condições para o surgimento de universidades estaduais, com uma tendência de deslocamento provisório da órbita do Governo Federal para os Estaduais. (FÁVERO, 2006) Nesse contexto, conforme cita Cunha (2003), foi criada a primeira universidade brasileira, a Universidade de Manaus, em 1909, durante o curto período de prosperidade que foi fruto da exploração da borracha naquela região. Na sequência, surgiram as universidades dos Estados de São Paulo e do Paraná, em 1911 e 1912, respectivamente (FÁVERO, 2006). Finalmente, em 1920, por meio do ato que consubstanciou a Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), surgiu a primeira universidade federal do Brasil. (MOROSINI, 2005) Segundo Cunha (2003), a UFRJ foi a primeira instituição de ensino superior do Brasil que assumiu duradouramente o status de universidade, e teve sua autorização legal conferida pelo presidente da República por meio do Congresso Nacional. Essa instituição resultou da reunião das faculdades de Medicina e de Engenharia, descendentes das cátedras criadas em 1808 e 1810, respectivamente, e de uma faculdade de Direito. De acordo com Nunes (2007), a educação superior brasileira, que teve seu início direcionado apenas à formação e reprodução de elites, expandiu-se para os segmentos médios da população apenas na segunda metade do século XX. Foi também nessa época que o ensino superior desenvolveu-se na forma universitária, deixando de ser predominantemente desenvolvido em faculdades e escolas isoladas, fortalecendo-se nos anos de 1960, com a Lei de Diretrizes e Bases (1961) e com a reforma universitária (1968). Nesse período, afirma Gouveia (2009, p. 34), Começaram a surgir, então, problemas com a questão da disponibilidade de vagas e com o acesso ao ensino superior, já que o mesmo passou a ter grande importância individual, visto que a qualificação acadêmica passou a significar uma ferramenta fundamental para a aquisição de um bom emprego e para a possibilidade de ascensão social da classe média.

Numa análise realizada a partir das informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e pelo MEC, relativas ao período compreendido entre os anos de 1960 e 2002, Gouveia (2009, p. 57) constatou que as matrículas no ensino superior na rede privada cresceram 59 vezes, enquanto na rede pública o aumento foi de apenas 20 vezes no mesmo período, o que tornou o Brasil um dos países com mais alto grau de privatização desse nível de ensino. Porém, Gouveia (2009) chama a atenção para o fato de que esse modelo de expansão da educação superior no Brasil privilegiou o crescimento do número de instituições privadas, responsáveis atualmente por cerca de 70% das matrículas, sendo que a maioria dessas IES oferece um ensino de qualidade baixa. 3 O vestibular e as novas formas de acesso ao ensino superior 3.1 O Vestibular Criado com o nome de exame de admissão no governo do então presidente da República Hermes da Fonseca, o vestibular passou a existir a partir da promulgação do Decreto nº 8.659, de 05 de abril de 1911 (Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental). Esse exame era o exame de saída do ensino secundário e, ao mesmo tempo, permitia o acesso ao ensino superior. (TOSCANO, 1999) Segundo Souza e Barreto (2009, p. 2), Por este decreto, estabeleceuse a exigência de exame de admissão e formularam-se critérios relativos à forma do exame, à banca examinadora, às datas dos exames e às taxas de inscrição. Quanto à forma do exame, o citado decreto definiu que as provas deveriam ser realizadas em duas etapas: uma discursiva (primeira etapa) e outra oral (segunda etapa). Essa forma permaneceu sendo utilizada até a década de 1960. Corcini (2007) ressalta que esse exame não possuía caráter seletivo e era meramente escrito. Souza e Barreto (2009, p. 2) complementam que: Naquela época, a prova ainda não se chamava vestibular e nem lhe era dada a importância que recebe hoje. Na verdade, o que importava realmente eram as notas dos alunos nos chamados

exames preparatórios, instituídos em 1808, com acesso restrito aos alunos dos colégios de elite. Exigia-se uma nota mínima para aprovação, e os que a alcançavam iam preenchendo as vagas (os melhores colocados tinham prioridade) até elas se esgotarem. Cerca de quatro anos após a criação dos exames de admissão, já no governo do presidente Venceslau Brás, foi promulgado o Decreto nº 11.530, em 18 de março de 1915, que instituiu a denominação de vestibular ao antes conhecido exame de admissão. Conforme defende Toscano (1999), o vestibular passou a ser realizado sempre no mês de janeiro, sendo composto de uma prova escrita que era a tradução de dois textos escritos em francês, inglês ou alemão, e uma prova oral, cujo conteúdo era definido de acordo com a escola que o candidato pretendia ingressar como, por exemplo, física, química e história natural para os candidatos que pretendiam ingressar nas faculdades de medicina. O número de candidatos ao ensino superior passou a crescer ano após ano até que, pressionado por esse crescimento, em 1925, o então presidente da República Artur Bernardes instituiu o numero clausus, que prefixava o número de vagas em cada curso, transformando o vestibular em um concurso para preenchimento de vagas, ao contrário do que acontecia antes, quando todos os candidatos que conseguiam aprovação no vestibular tinham o direito de se matricularem nas instituições de ensino superior. Era o início da época do vestibular classificatório. (TOSCANO, 1999) Várias mudanças ocorridas na economia a partir de meados dos anos de 1950 provocaram uma forte concentração da propriedade do capital, do mercado e da renda, resultando no crescimento de grandes empresas, que passaram a necessitar de pessoas com níveis de escolarização mais elevados, especialmente detentores de nível superior (TOSCANO, 1999). Foi nesse contexto que, em 1961, foi promulgada a Lei nº 4.024, em 1961, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que garantiu o acesso ao ensino superior a todos os alunos que concluíssem o ensino médio, tendo sua matrícula condicionada à obtenção de, no mínimo, nota 5,0 no vestibular. Essa abertura propiciada pela primeira LDB gerou complicações, pois, nas instituições de menor prestígio a nota mínima não era atingida por um

número suficiente de candidatos, ao passo que, nas instituições de maior prestígio, o número de candidatos aprovados era muito alto. Tal situação criou a figura do candidato excedente que, de acordo com Souza e Barreto (2009), era aquele candidato aprovado no vestibular (atingia a média mínima nas provas), mas que não conseguia vaga nas instituições de ensino superior. Os excedentes, afirma Toscano (1999), se avolumaram durante toda a década de 1960, tendo em vista que a expansão se processou em ritmo mais lento que a demanda. A nova economia fez com que a procura por cursos superiores aumentasse ainda mais rapidamente, até que, em 1968, chega ao auge o movimento dos candidatos excedentes (SOUZA; BARRETO, 2009), fazendo com que a questão das vagas no ensino superior passasse a ser considerada um problema crucial, e o vestibular passasse a ser criticado severamente por amplos setores da sociedade, que consideravam esse modelo de vestibular um exame que privilegiava uma determinada camada da população. (TOSCANO, 1999) Esse movimento foi estancado naquele ano, após a promulgação da Lei nº 5540 (Reforma Universitária) que, de acordo com Souza e Barreto (2009, p. 3) substituiu o critério de habilitação pelo de classificação [no vestibular]. O Vestibular deixa de exigir nota mínima e passa a ser classificatório e unificado para todos os cursos de uma universidade. Nas palavras de Lima e Silva (2000), com a Reforma Universitária o vestibular passou a ter caráter classificatório e passou a atender aos princípios da unicidade de conteúdo (conteúdo único para todas as carreiras) e de unificação da execução. Com efeito, em 1970, foi criada a Comissão Nacional do Vestibular Unificado (CONVESU), para organizar o sistema de vestibular no país (SOUZA; BARRETO, 2009). A CONVESU, definiu a política de unificação dos conteúdos e a realização regionalizada do vestibular (TOSCANO, 1999). Já no ano seguinte, em 1971, o Decreto nº 68.980 unificou novamente o programa a ser abordado na prova, focando-o no currículo do ensino médio. (SOUZA; BARRETO, 2009) Outra mudança marcante para as instituições universitárias, gerada com a Reforma Universitária de 1968, foi a retirada da possibilidade de elaboração de suas próprias provas, passando os vestibulares a serem realizados por

empresas públicas ou privadas, como o Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio (CESGRANRIO) e a Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST). Corcini (2007) ainda destaca que a partir da Reforma Universitária o número de vagas nas IES públicas teve um aumento e, paralelamente, as IES privadas proliferaram de forma abundante e desorganizada. Nessa época, o país passou pelo momento que ficou conhecido como milagre econômico, compreendido entre os anos de 1967 a 1973, o que também provocou um crescimento no número de vagas oferecidas no ensino superior. Porém, a partir de 1974 uma nova crise econômica fez com que a expansão do ensino superior fosse contida. Começaram a crescer as críticas aos testes de múltipla escolha com base nas questões objetivas e ao vestibular classificatório, que passaram a ser apontados como os principais responsáveis pelas dificuldades encontradas pelos alunos na expressão escrita. Foi então que, em 1977, segundo Toscano (1999, p. 35), com o advento do Decreto nº 79.298 e de diversas portarias subsequentes, o vestibular passa a ser realizado em duas etapas, com questões objetivas e discursivas. Além disso, ocorre a inclusão de provas de habilidades específicas para determinados cursos (Música, Arquitetura, Educação Física). Foi também nesse momento que ficou estabelecido um limite mínimo de acerto nas questões objetivas, bem como foi introduzida a prova de redação. Ao longo de mais de dez anos o ensino superior passou por um período de estagnação em função de as políticas educacionais estarem priorizando o ensino fundamental (CORCINI, 2007). Nesse período, crises econômicas fizeram surgir vagas ociosas nas IES, que passaram a aumentar as reivindicações por autonomia. Nesse contexto, antes mesmo da Constituição de 1988, o MEC aos poucos foi permitindo a realização do vestibular pelas próprias instituições. Essa autonomia veio a consolidar-se em agosto de 1990, com o Decreto nº 99.490, regulamentado pela Portaria MEC nº 837, de 30 de agosto daquele ano, que concedeu definitivamente a autonomia para as universidades públicas realizarem seus próprios vestibulares. (TOSCANO, 1999) A educação superior voltou a crescer a partir de 1995 e, logo no ano seguinte foi promulgada a nova LDB, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de

1996. No que diz respeito ao exame de acesso ao ensino superior, a nova LDB define que o candidato deve ser classificado em um processo seletivo, não especificamente em um vestibular. Corcini (2007) destaca que em 1998 o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou a regulamentação de processo seletivo para acesso a cursos de graduação de universidades, centros universitários e instituições isoladas de ensino superior, de acordo com o que preconizou a nova LDB. Nessa regulamentação ficou definido que o vestibular continuaria a ser processo válido para ingresso no ensino superior, mas não mais seria o único e exclusivo mecanismo de acesso; as instituições passaram a ter permissão para desenvolver e aperfeiçoar novos métodos de seleção alternativos que melhor atendam aos seus interessados e às suas especificidades. 3.2 As novas formas de acesso A partir da segunda metade da década de 1990 começou a se delinear mais fortemente o cenário em que a política governamental relativa à educação passou a assinalar uma necessidade de revisão nas formas de acesso ao ensino superior no Brasil. (CABRAL NETO; RAMALHO, 2004) O Parecer do CNE nº CP 98/99 de 06 de julho de 1999, relata Corcini (2007), abriu a possibilidade para as instituições de educação superior criarem novas formas de ingresso para os seus candidatos. Dessa forma, surgiu a possibilidade de haver maior diversificação social e cultural entre os alunos, possibilitando oportunidades para as pessoas consideradas historicamente excluídas. Nesse contexto, em várias universidades foram geradas formas alternativas ao vestibular para ingresso no ensino superior, dentre as quais se destacaram o uso do ENEM, a adoção de políticas de cotas e o Programa de Avaliação Seriada. (CABRAL NETO; RAMALHO, 2004) Corcini (2007) destaca ainda que o Parecer do CNE nº 98/99 de 06 de julho de 1999 determina que igualdade de oportunidades, equidade, conclusão do ensino médio ou equivalente e participação em processo seletivo, são os fatores primordiais a serem observados e atendidos por todas as IES nos seus processos seletivos.

3.2.1 O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) A criação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), pelo MEC em 1998, encontrava-se contextualizada na reforma do Ensino Médio, prevista na LDB de 1996. O ENEM tinha como objetivo analisar as habilidades e competências fundamentais dos alunos do Ensino Médio para a inserção social e para o exercício da cidadania, não havendo sinalização de que serviria como instrumento de seleção para acesso ao ensino superior. Muitas universidades brasileiras utilizam os resultados do ENEM nos seus processos de seleção. Os métodos de uso podem variar: algumas reservam vagas aos participantes que obtiverem média maior ou igual a determinada nota; outras acrescentam pontos à primeira ou à segunda fase de seus vestibulares, e outras ainda substituem a nota do vestibular pela do ENEM. A ideia do ENEM é também servir de referência para o professor implementar a reforma do Ensino Médio em sala de aula, desenvolvendo os conteúdos de forma contextualizada e interdisciplinar. Em março de 2009, o MEC reformulou o ENEM, possibilitando a sua utilização como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais. Essa proposta tinha como objetivos principais democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. (MEC, 2011) Mais recentemente, por meio da Portaria Normativa nº 4, de 11 de fevereiro de 2010, o MEC possibilitou aos maiores de 18 anos utilizarem o ENEM como certificação de conclusão do ensino médio. Desde o ano de 2010 que o ENEM tem sido utilizado pelo MEC como instrumento para seleção do SiSU, que será descrito a seguir. 3.2.2 O Sistema de Seleção Unificada (SiSU) Em 26 de janeiro de 2010, por meio da Portaria Normativa nº 2, o MEC, instituiu o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que é um sistema informatizado gerenciado pelo próprio MEC, por meio do qual os candidatos a

cursos de graduação disponibilizadas pelas instituições públicas de ensino superior participantes do sistema são selecionados. Conforme especificado no parágrafo 1º do Artigo 1º da referida Portaria, A seleção dos candidatos às vagas disponibilizadas por meio do SiSU será efetuada com base nos resultados obtidos pelos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, a partir da edição referente ao ano de 2009. Para aderir ao SiSU, as IES devem formalizar sua opção por meio do Termo de Participação, que deve ser assinado digitalmente pelo representante legal da instituição ou pelo responsável institucional. Na primeira edição do SiSU, no ano de 2010, foram oferecidas cerca de 47,9 mil vagas por 51 instituições, sendo 23 universidades federais, 26 institutos federais de educação, ciência e tecnologia, uma universidade estadual e uma instituição isolada. No primeiro semestre de 2011, foram oferecidas 83,1 mil vagas, distribuídas em 83 instituições no país inteiro, sendo 39 universidades federais, cinco universidades estaduais, 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia e uma instituição isolada. Verifica-se o quanto tem se modificado o acesso ao ensino superior no Brasil com a adoção de formas alternativas ao vestibular tradicional. Essas formas devem, futuramente, contribuir para uma maior democratização do acesso, e também para a redução dos custos envolvidos com os processos seletivos, tanto por parte das IES como dos candidatos. 4 O argumento de inclusão da UFRN A UFRN é uma instituição de ensino superior pública, mantida pelo MEC e organizada sob a forma de autarquia de regime especial. Foi criada em 25 de junho de 1958, por meio da Lei Estadual nº 2.307, e federalizada pela Lei nº 3.849, de 18 de dezembro de 1960. De acordo com Ramalho (2007, p. 2), a preocupação com o acesso e a inclusão de alunos oriundos da rede pública nos seus cursos, somente veio acontecer na UFRN no início da década passada: tema que entrou na agenda política acadêmica da UFRN em 2003. Até então, pouca atenção se dava ao fato da universidade matricular em seus cursos, majoritariamente, a cada ano, alunos egressos da rede privada de ensino.

A UFRN, a exemplo do que vem ocorrendo em outras IES do país, passou a concentrar esforços para promover a inclusão social de alunos pertencentes a grupos historicamente privados de uma educação de qualidade. Dentre os esforços dessa IES para viabilizar o acesso e permanência de estudantes provenientes da rede pública de ensino nos seus cursos de graduação, se destaca o Argumento de Inclusão (AI). A partir desse interesse acadêmico e institucional, o tema da inclusão passou a ser objeto de estudo do grupo de docentes pesquisadores responsáveis pela COMPERVE, tendo como suporte para a ampliação da discussão teórico-metodológica a parceria firmada com professores da Universidade de Paris 8. (RAMALHO, 2007) Foi diagnosticado que os alunos da rede pública apresentavam argumento médio final inferior aos alunos da rede privada, fato esse que sinalizava a necessidade de implantação de políticas compensatórias por parte UFRN, possibilitando a ampliação do acesso dos alunos da rede pública aos seus cursos superiores. Surgiu, então, o índice de inclusão para alunos provenientes das escolas públicas, denominado Argumento de Inclusão. Destaca-se na concepção do AI que ele foi pensado como uma ação transitória, uma vez que se espera a melhoria da qualidade do ensino médio nas escolas públicas, tornando o AI desnecessário. A partir de então foi sugerido que o AI passasse a fazer parte dos PS da UFRN, considerando duas restrições: os cursos que preenchiam pelo menos 50% de suas vagas com alunos da rede pública não seriam objeto do AI, e os alunos somente seriam beneficiados com o AI se obtivessem um argumento final igual ou superior à média do curso. O AI foi implantado a partir do PS 2006, com valores diferentes para cada curso. A partir do PS 2007 o critério de mérito foi alterado, obrigando o aluno a ser aprovado na primeira fase para ter direito de se beneficiar do AI. Atualmente o AI deixou de ser diferenciado por curso, passando a representar um acréscimo de 10% no argumento final dos alunos beneficiados. Os resultados da implantação do AI na UFRN verificados nos vestibulares de 2006 a 2011 estão demonstrados na Figura 1. Figura 1 Alunos da rede pública aprovados com AI 2006-2011

Fonte: Elaborado a partir de COMPERVE (2012) Os resultados apresentados na Figura 1 demonstram a efetividade da política de acesso do AI. Desde o seu primeiro ano, o número de aprovados com o benefício do AI aumentou quase 40 vezes, passando de 31 para 1.235. O resultado do vestibular 2010 (735 aprovados com AI) representou um crescimento de quase 4 vezes o resultado do vestibular anterior (195 aprovados com AI), devido à alteração no cálculo do AI. Com esse resultado, o AI passou a garantir o preenchimento de cerca de 19% das vagas ofertadas no último vestibular por alunos da rede pública. Em números totais, a participação dos alunos da rede pública no preenchimento das vagas dos cursos de graduação da UFRN atingiu 40,3% no ano de 2011. Também cabe ressaltar que o número de alunos da rede pública que requerem o benefício do AI, mas que conseguiriam ser aprovados no vestibular sem a necessidade do acréscimo desse no seu argumento final, tem crescido nos últimos cinco anos, passando de 188 em 2006 para 3.513 em 2011, o que representa um crescimento de quase 1.900%. 5 Programa de gestão de custos do vestibular da COMPERVE/UFRN No orçamento da UFRN não há destinação de recursos para a realização do vestibular, que é um processo totalmente custeado pelos candidatos, por meio do pagamento de taxas de inscrição. Em função disso, eventuais saldos superavitários ou deficitários apurados em cada vestibular são transferidos para o vestibular seguinte. O PGCV da COMPERVE/UFRN teve início no ano de 2005, com a proposta orçamentária para execução do Vestibular 2006. O último vestibular

realizado antes da implantação do programa apresentou um saldo negativo acumulado no valor de R$ 162.965,91, quando confrontadas as receitas provenientes das inscrições com os custos de realização do Vestibular 2005. O valor orçado para o Vestibular 2006 foi de R$ 2.009.692,70, para uma previsão de 25.500 candidatos. Ao ser adicionado o déficit do Vestibular 2005 a esse valor orçado, chegou-se à receita necessária para o Vestibular 2006, que seria de R$ 2.172.658,61. Esse era o panorama quando da implantação do PGCV. Os dois primeiros anos do PGCV ainda apresentaram déficits no valor de R$ 3.442,21 e de R$ 18.785,59, nos vestibulares 2006 e 2007, respectivamente. Esses déficits não significam que o PGCV falhou no início, pois nesse período houve expansão no número de isenções concedidas de pagamento da taxa de inscrição, que passou de 5.481 no vestibular 2005, para 6.648 no vestibular 2006 e 6.915 no vestibular 2007. Para comprovar os bons resultados do plano, observou-se que o déficit acumulado nesses dois primeiros anos aumentou apenas 13,6% (passando de R$ 162.965,91 para R$ 185.193,71), enquanto o número de isenções concedidas no mesmo período aumentou 26,1%. A partir desse ano, as isenções concedidas mantiveram-se relativamente estáveis, oscilando em valores próximos a 7.000, enquanto o número de candidatos inscritos cresceu cerca de 25% ao longo do período. A figura a seguir apresenta a evolução desses números. Figura 2 Candidatos inscritos, isentos e pagantes nos vestibulares da UFRN 2006-2012

No vestibular 2009, conseguiu-se a inversão no saldo acumulado, quando obteve-se um superávit de R$ 198.325,73, zerando o déficit acumulado até então e deixando um saldo positivo para o vestibular seguinte no valor de R$ 26.437,42. Os resultados permaneceram positivos nos vestibulares de 2008 a 2010, voltou a ser negativo em 2011 e em 2012 novamente foi positivo, apresentando um superávit final acumulado de R$ 56.190,83. O déficit apresentado em 2011 deveu-se, principalmente, ao redimensionamento da equipe de examinadores das provas discursivas, visando a redução do período de correção e a consequente antecipação da divulgação do resultado final. Essa equipe era composta por 177 pessoas no vestibular anterior e passou a ser composta por 246 pessoas a partir de então. Como essa decisão só foi tomada às vésperas do início da correção, o orçamento não comportou tal acréscimo nos custos, fazendo com que o superávit acumulado de R$ 55.090,04 fosse quase que totalmente consumido pelo déficit do vestibular daquele ano, que atingiu R$ 49.330,90. A figura a seguir apresenta o comportamento dos déficits/superávits de cada vestibular e os acumulados.

Figura 3 Déficits/superávits dos vestibulares da UFRN 2006-2012 O custo do vestibular da UFRN é composto, basicamente, por três elementos: material, pessoal e deslocamento (diárias e passagens). Os valores apurados no período do estudo estão representados no quadro a seguir. Quadro 1 Custos dos vestibulares da UFRN 2006-2012 Ano Material Pessoal Deslocamento Total Candidatos 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 384.509,50 1.616.683,20 335.274,20 1.703.202,00 199.603,59 1.432.840,75 212.599,60 1.426.364,99 247.623,88 1.645.771,07 267.582,50 1.876.047,39 358.565,00 2.013.207,20 Custo por candidato 8.500,00 2.009.692,70 26.671 75,35123 9.800,00 2.048.276,20 24.849 82,42892 13.300,26 1.645.744,60 23.617 69,68474 15.000,00 1.653.964,59 25.407 65,09878 39.429,55 1.932.824,49 27.054 71,44321 31.311,00 2.174.940,89 28.124 77,33398 33.000,00 2.404.772,20 30.133 79,80527 Pode-se observar no quadro acima que o custo por candidato aumentou de R$ 75,35123 para R$ 79,80527, o que representa um aumento de cerca de 5,9%, para uma inflação acumulada no período de cerca de 36% (medida pelo IGP-M). Tal resultado é fruto das políticas do PGCV implantado, cujas principais diretrizes estão descritas a seguir. 5.1 Impressão das provas e demais materiais de aplicação

A COMPERVE possuía duas impressoras de grande porte, adquiridas por licitação, que imprimiam todas as provas e demais materiais de aplicação, tais como listas de presença, folhas de respostas, manuais de coordenador e de fiscais, entre outros. O custo era de R$ 0,07 por cópia impressa e não incluía o valor dos grampos que eram adquiridos a R$ 243,00 cada caixa, o que representava um custo adicional de cerca de R$ 4.400,00. No vestibular 2006, o valor gasto com esse item foi de R$ 179.374,00, para 26.671 candidatos, o que representa um custo médio de R$ 6,72543 por candidato. Com a implantação do PGCV, optou-se leiloar as máquinas existentes e por contratar o serviço, sem a aquisição de máquinas. Nessa modalidade, o fornecedor instalou suas máquinas nas dependências da COMPERVE e ficou responsável por toda a manutenção das mesmas, inclusive pela substituição de qualquer das máquinas que viesse a parar de funcionar e cujo conserto não pudesse ser realizado em prazo razoável, de forma a não comprometer o calendário de impressão do vestibular. No primeiro ano da licitação o valor contratado foi de R$ 0,0403 por cópia impressa, com a inclusão de todos os insumos, inclusive os grampos. Atualmente, esse valor é de R$ 0,03812 por cópia impressa e, no último vestibular, representou um custo de R$ 145.852,56 para 30.133 candidatos, representando um custo médio de R$ 4,84029 por candidato. 5.2 Lanches para a equipe de aplicação de provas As provas do vestibular da UFRN são aplicadas no horário de 8h às 12h40min, durante três dias. Para os candidatos portadores de necessidades especiais, é concedida uma hora a mais, ficando o horário de encerramento prorrogado para as 13h40min. A equipe de aplicação (fiscais e apoio) deve se apresentar nos locais de aplicação da provas às 6h. Dessa forma, o período de trabalho da equipe dura, em média, 8 horas diárias até o retorno à sede da COMPERVE para a devolução do material de cada dia. Em função dessa jornada longa, a COMPERVE serve um lanche para a equipe de aplicação. Na capital, esse lanche era preparado pela equipe do restaurante universitário, que trabalhava durante a madrugada nessa preparação, e distribuído por veículos da frota da UFRN. No interior do

estado, eram contratados fornecedores que se encarregavam da preparação e da distribuição desses lanches nos diversos locais de aplicação. O custo desse lanche foi, no vestibular 2006, R$ 21,3 mil para uma equipe formada por 2.237 pessoas. No vestibular 2010 foram adquiridos os seguintes gêneros alimentícios para o lanche da capital: suco/achocolatado pronto em caixa, biscoito tipo waffer, batata frita sabor natural e barra de cereais. Esses lanches passaram a ser levados pelo próprio coordenador de cada local de aplicação, eliminado o custo de preparação e de distribuição. A experiência foi aprovada e, no último vestibular, esse lanche foi adotado também para as cidades do interior do estado, atendendo uma equipe de 2.903 pessoas ao custo de R$ 17.993,32.

5.3 Telefonia A COMPERVE realizava todas as suas chamadas telefônicas a partir de duas linhas comuns (fixas). O custo anual de telefonia girava em torno de R$ 15.000,00. O PGCV instituiu inicialmente duas metas para a telefonia: (1) disponibilização de telefones celulares para todas as ligações para terminais móveis e (2) programação da central telefônica para restrigir permissões de chamada realizadas a partir de cada ramal. Essas ações refletiram numa redução de cerca de 35% nos gastos anuais com telefonia. No último ano, a antiga central telefônica foi substituída por um sistema VOIP para ligações para terminais fixos, o que resultou num custo anual de telefonia de R$ 3.053,49, ou seja, a redução foi de cerca de 80% se comparado o gasto atual com o que ocorria antes do PGCV. 5.4 Serviços gráficos e de leitura ótica As folhas de resposta, as folhas de avaliação e quaisquer outros formulários pré-impressos eram adquiridos por meio de licitação em indústrias gráficas. Esses formulários eram processados em leitoras óticas, cujas empresas de manutenção não possuíam sede em Natal, o que tornava as manutenções preventivas e corretivas muito dispendiosas. Optou-se pela aquisição de um software de gerenciamento de documentos, que permite o desenho, a impressão e leitura e processamento nas próprias impressoras e scanners da COMPERVE, proporcionando maior agilidade na criação de novos formulários a cada concurso ou vestibular, bem como reduzindo os custos anuais em mais de 70% com esses serviços. 5.5 Gastos com deslocamento (diárias) O vestibular da UFRN era realizado nas cidades de Natal, Caicó, Currais Novos e Santa Cruz. Nessas cidades existiam campi da instituição UFRN e, exceto na cidade de Santa Cruz, o vestibular era executado por equipes locais. Na cidade de Santa Cruz, como o campus havia sido reativado há pouco tempo, não havia uma equipe disponível na cidade para a execução do vestibular, sendo necessário o deslocamento de uma equipe de Natal para a aplicação das provas.