Desenho de uma poiesis



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Transcrição:

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Desenho de uma poiesis comunicação de um processo coletivo de criação na arquitetura Daniel Ribeiro Cardoso DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Área de concentração: Signo e significação nas mídias Linha de pesquisa: Processo de criação nas mídias Orientadora: Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles Coorientador: Prof. Dr. Jorge de Albuquerque Vieira São Paulo 2008

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial do corpo da tese, por qualquer meio seja convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Daniel Cardoso São Paulo, de maio 2008.

Banca Examinadora São Paulo, de maio 2008

de meu pai... ao José

AGRADECIMENTOS Aos professores do Curso de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP pelos encontros que resultaram na formação da pesquisa. Sou especialmente grato ao Prof. Jorge Vieira e à Prof a. Cecília Salles pelo acolhimento, conversas e correções no processo de desenvolvimento. Sou grato ao Grupo de Pesquisa em Processos da Criação PUC-SP, ao Núcleo de Estudos de Semiótica e Complexidade PUC-SP pelas leituras e discussões. Agradeço aos professores do Departamento do de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, Prof. Ricardo Bezerra pelo acolhimento no Grupo de Pesquisa em Arquitetura, Urbanismo e Desenvolvimento, ao Prof. Roberto Castelo e Prof. Clovis Jucá Neto abertos e generosos no compartilhamento do conhecimento. Aos alunos de arquitetura: Francisco Jeffeson, Lucy Donegan, Hector Rocha, Jean Marcell Parente pela disposição, rapidez e eficiência em alguns dos levantamentos arquitetônicos. Ao Prof. Almir Leal de Oliveira do Departamento de História da Universidade do Ceará, pelos esclarecimentos sobre a formação da região estudada. Ao mestre Luiz de Meu Chico pela generosidade em partilhar sua memória e conhecimento do processo de formação das casas. Às arquitetas e agora pesquisadoras Adriana Gurgel e Larissa Menescal pelo envolvimento inicial na pesquisa. Sou também grato ao Filipe Cruz e Deweyne da Silva pelo apoio nos levantamentos arquitetônicos e pesquisas de campo. Ao CNPq pela bolsa concedida para realização da pesquisa. Ao André Paes pelas conversas, dedicação e presença fundamental no desenvolvimento, implementação, testes e correções do sistema. Agradeço ao Grupo de Redes de Computadores, Engenharia de Software e Sistemas da Universidade Federal do Ceará (GREat.UFC) pelo acolhimento através do Projeto de Pesquisa LG coordenado pela prof. Dra Rossana Maria de Castro Andrade, a quem especialmente sou grato. Ao Saulo Passos e Ronaldo Mota que, apesar dos contra-tempos na esteriolitografia, sempre os encontrei cedo e já entusiasmados na produção dos protótipos. Ao Sr. José, Sr a Rita, Sr a. Anaides, Sr a. Gerarda, Sr. João Borges, Sr. Joaquim, Sr. Paulo, Sr a. Francisca Bezerra, Sr a. Ivanilde, Sr a. Francisca Holanda, Sr. Jerônimo e todos os proprietários que cuidam de suas casas e da identidade da região. Sou grato ao Marcos e Patrícia Naspolini por terem continuado a expressar uma possível atualização do tipo da região. À Christine Mello, desde o princípio. Agradeço à Andréia Moassab pelas objeções. À Aléxia Brasil firme e serena. À Vivi e Regina pelo apoio incondicional e paciência.

Résumé/Resumo/Abstract

RÉSUMÉ CARDOSO, Daniel R. Dessin d'une poiesis: la communication d un processus collective de création dans la architecture. 2008. 109 f. Thèse (Doctoral) - Universidade Pontifícia Católica de São Paulo, 2008. Dessin d'une poiesis: la communication d un processus de création dans la architecture est assignée comme un domaine de recherche de la Visualité. Étant donné que c est un travail lié à la visualisation scientifique, les recherches seront orientées vers la représentation et la communication au moyen d'images graphiques visuels. L objectif de cette thèse est de réfléchir sur des questions concernant les processus de génération et sur la forme appropriée de les représenter. Le processus de formation de la typologie dans l'architecture est adopté comme l objet de la recherche. Objet propre d'une culture, le type est considéré comme un élément qui sert de principe général de formation, un mécanisme supra-individuel nécessaire à la construction de sens et de l identité d'une société. Dans ce sens, les maisons, instantiation de la même logique de création, sont des voies qui expriment une intelligence collective. Etant donné l importance de la grandeur de l'échelle à la perception de son évolution, l'objet a été considéré dans l'architecture formée entre 1890 et 1980, dans la région de Cajuais et de Mutamba, du littoral sud du Ceará. Dans ce contexte, se posent quelques questions clés liées à la problématique de la thèse: Comment préserver des processus de génération d'un objet culturel? Comment garder quelque chose qui est par nature en état de fonctionnement et informationnel? Ou mieux encore, comment représenter convenablement une poiesis? Dans les possibles réponses à ces questionnements, se trouve le fondement de l'hypothèse de la thèse qui considère la grammaire de génération de la forme comme le signe le plus approprié à la représentation d'une poiesis. Les théories articulées pour supporter le développement de la recherche sont distinctes. Néanmoins, le réseau tissé se trouve dans un espace commun, dans un environnement où les théoriciens règlent les questions du signe et de la signification selon la pensée de Charles S. Peirce. Le fondement théorique se constitue à partir de trois axes majeurs: la Théorie Générale des Systèmes, au sens de Bunge et Vieira, dans laquelle se cherchent des concepts et des méthodologies en les justifiant à la seconde ligne la Critique Génétique telle que proposée par Salles qui recherche des principes généraux de la création; et la Sémiotique comme base pour les questions de la représentation et de la communication de processus. En outre, des auteurs tels que Chomsky, Prusinkiewics, Stiny, Duarte, pour ne citer que ceux-là désignent également la grammaire comme représentation du processus dans des systèmes de sémiotique. À la fin, est proposé un système générateur de formes comme un signe ajusté à la poiesis qui fonctionne avec la logique évolutive trouvée dans l'objet. Par conséquent, le résultat de la recherche est non seulement un outil qui spécule sur la génération et la visualisation de formes futures, mais également c est une voie d'accès pour le développement de la critique génétique. Mots-clés: communication visuelle, critique génétique, représentation des processus, poiesis, morphogenèse, grammaire.

RESUMO CARDOSO, Daniel R. Desenho de uma poiesis: comunicação de um processo coletivo de criação na arquitetura. 2008. 109 f. Tese (Doutorado) - Universidade Pontifícia Católica de São Paulo, 2008. Desenho de uma poiesis: comunicação de um processo coletivo de criação na arquitetura insere-se no domínio das pesquisas da visualidade. Como um trabalho ligado à visualização científica, equipara-se às investigações sobre representação e comunicação por meio de imagens gráfico-visuais. O propósito da tese é refletir sobre questões relativas aos processos de geração e à forma adequada de representá-los. Adota-se como objeto da pesquisa o processo de formação de uma tipologia na arquitetura. Objeto próprio de uma cultura, o tipo é entendido como um elemento que serve como princípio geral de formação, um mecanismo supra-individual necessário à construção de sentido e identidade de uma sociedade. Nessa acepção, as casas, instanciações de uma mesma lógica de formação, são meios que expressam uma inteligência coletiva. Dada a escala necessária à percepção de sua evolução, o objeto foi considerado na arquitetura formada entre 1890 e 1980, na região de Cajuais e Mutamba, litoral sul do Ceará. Nesse contexto, apresentam-se algumas das questões constituintes da problemática da tese: Como preservar processos de geração de um objeto cultural? Como guardar alguma coisa que é por natureza operativa e informacional? Ou, ainda, como representar adequadamente uma poiesis? Nas possíveis repostas a esses questionamentos está o cerne da hipótese da tese que considera a gramática de geração da forma o signo mais adequado à representação de uma poiesis. São linhas distintas as teorias articuladas para apoiar o desenvolvimento da pesquisa. Contudo, a rede tecida encontra-se num espaço comum, num ambiente onde teóricos concertam questões do signo e da significação em coerência com pensamento de Charles S. Peirce. A fundamentação teórica se constitui a partir de três linhas: a Teoria Geral dos Sistemas, na acepção de Bunge e Vieira, nos quais se buscam conceitos e metodologias ajustando-as à segunda linha; a Crítica Genética, precisamente na forma proposta por Salles, que busca por princípios gerais dos processos de formação; e a Semiótica, como fundamento para as questões da representação e comunicação de processos. Aqui, especificamente, são considerados autores como Chomsky, Prusinkiewicz, Stiny, Duarte, entre outros que também apontam para a gramática como representação de processo em sistemas semióticos. Ao fim, propõe-se como um signo adequado à poiesis um sistema gerador de formas que opera com a lógica evolutiva encontrada no objeto. Deste modo, tem-se como resultado da pesquisa não só uma ferramenta que especula sobre geração e visualização de formas futuras, como também um caminho para o desenvolvimento da Crítica Genética. Palavras-chave: comunicação visual, crítica genética, representação de processo, morfogênese, poiesis, gramática.

ABSTRACT CARDOSO, Daniel R. Drawing a poiesis: communication of a collective process of creation in architecture. 2008. 109 f. Thesis (Doctoral) - Universidade Pontifícia Católica de São Paulo, 2008. Drawing of the poiesis: communication of a collective process of creation in architecture is assigned as a domain of the visuality research. As a work related to scientific visualization, it can be compared to the investigations on representation and communication through visual graphic images. The purpose of this thesis is to reflect on issues concerning the processes of generation and the adequate way to represent them. The process of the form development tipology in architecture is adopted as the object of the research. As a proper object of a culture, the type is perceived as an element that serves as a general principle of creation, a supraindividual mechanism needed for the construction of meaning and identity of a society. In that sense, the houses, instantiation of the same logic of creation, are ways that express a collective intelligence. Given the necessary scale for the perception of its evolution, the object was found in the architecture formed between 1890 and 1980, in the region of Cajuais and Mutamba, southern coast of Ceará. In that context, there are some issues concerning the problematic of the thesis to be considered: How to preserve the processes of generation of cultural object? How to apprehend something that is by its nature operative and informative? Moreover, how to represent adequately a poiesis? The answers to these questions are the hypothesis crux of the thesis that considers the grammar of the form development most appropriate sign to represent for the representation of a poiesis. The articulated theories to support the development of the research are distinct. However, the composed network is in a common area in a environment where theoreticians settle the issues of sign and meaning according to the thinking of Charles S Peirce. The theoretical foundation is based on three views: the new General Theory of Systems as defined by Bunge and Vieira, in which it seeks concepts and methodologies adjusting them to the second view; the Genetic Criticism as proposed by Salles that searches general principles of the creation processes; and Semiotic as a basis for the issues of representation and communication processes. Furthermore, it will be considered authors like Chomsky, Prusinkiewics, Stiny, Duarte, among others that point out the grammar as a representation of process in semiotics systems. Finally, it is proposed a sign poiesis appropriate to a system generator of forms that operates with the evolutionary logic found in the object. Therefore, the result of the research is not only a tool that speculates the generation and the visualization of future forms, but it is also a path for the development of Genetic Criticism. Keywords: visual communication, genetic criticism, representation of morphogenesis, grammar. process, poiesis,

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 001: Distribuição da amostra de casas no tempo... 24 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de pesquisa de campo Figura 002: A terra vista de cima e por dentro... 31 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de imagem fornecida pelo Instituto de Ciência do Mar (LABOMAR - UFC) e foto do autor Figura 003: Foto justapostas de casas de Mutamba e Cajuais... 32 Fonte: Acervo do autor Figura 004: Partes da casa... 34 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir da casa 005 Figura 005: Fotos da explicação de Luiz de Meu Chico sobre o processo de marcação do corpo da casa. Na última foto, com destaque da marcação... 37 Fonte: Acervo do autor Figura 006: Figura 006. Gráfico de participação da Agropecuária, Indústria e Serviços no PIB Municipal... 34 Fonte: Diagramas elaborados pelo autor a partir de base de dados do IBGE Figura 007: Identificação e referências geográficas das 27 casas sobre imagem de satélite da região de Mutamba e Cajuais... 43 Fonte: Mapa do autor realizado a partir de pesquisa de campo e imagem fornecida pelo Instituto de Ciência do Mar (LABOMAR - UFC) Figura 008: Identificação, proprietário e características de 3 das 12 casas referentes ao grupo 2 da região de Mutamba e Cajuais... 44 Fonte: Mapa do autor elaborado a partir do acervo do autor e pesquisa de campo Figura 009 - Identificação, proprietário e características de 9 das 12 casas referentes ao grupo 2 da região de Mutamba e Cajuais... 45 Fonte: Mapa do autor elaborado a partir do acervo do autor e pesquisa de campo Figura 010. Formulário de pesquisa de campo (inicial)... 47 Fonte: Formulário elaborado pelo autor Figura 011. Identificação do corpo, alpendre e expansão... 50 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir da planta baixa da casa 005

Figura 012. Formulário para levantamento arquitetônico preliminar... 50 Fonte: Formulário elaborado pelo autor Figura 013. Gráfico de inclinações... 53 Fonte: Gráfico elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 014. Regressão linear do ângulo de inclinação no tempo... 53 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 015. Orientação do corpo da casa com referência à via de acesso... 54 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 016. Relação L t /F t - ocorrência individuais... 55 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 017. Foto da casa geminada ID:067... 56 Fonte: Acervo do autor Figura 018. Diagrama de aproximações da relação L t /F t... 56 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 019. Diagrama área do corpo - ocorrência individuais... 56 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 020. Diagrama de aproximações da variável área do corpo... 57 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 021. Diagrama de aproximações da variável F t - frente do corpo... 57 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 022. Diagrama de relação entre frente, proporção e área do corpo... 58 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 023. Regressão linear da frente (F t ) e altura (H i )... 59 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 024. Proporção dos retângulos e retângulo médio 066... 59 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 025. Reconstrução individual dos perfis em escala e sem escala, justos na base... 60 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 026. Linhas gerais de formação da casa de Mutamba e Cajuais... 61 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa de campo Figura 027. Reconstrução da casa a partir das diretrizes de formação encontrada... 61

Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de índices encontrados na pesquisa Figura 028. Foto da casa Id.:001... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 029. Foto Sr. José Oceliano de Oliveira... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 030. Foto da casa Id.:004... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 031. Foto Sr. Paulo Simão da Costa... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 032. Foto da casa Id:005... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 033. Foto Sra. Francisca Bezerra... 63 Fonte: Acervo do autor Figura 034.Foto da casa Id.:010... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 035. Foto Sra. Maria Rita dos Reis... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 036. Foto da casa Id:028... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 037. Foto Sra. Ivanilde Maria da Costa... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 038. Foto da casa Id.: 041... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 039. Foto Sr. Joaquim Lourenço Soares... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 040. Foto da casa Id.: 042... 64 Fonte: Acervo do autor Figura 041. Foto Sra. Anaides Borges de Carvalho... 65 Fonte: Acervo do autor Figura 042. Foto da casa Id.: 059... 65 Fonte: Acervo do autor

Figura 043. Sr. João Borges Neto... 65 Fonte: Acervo do autor Figura 044. Foto da casa Id.: 062... 65 Fonte: Acervo do autor Figura 045. Foto Sra. Maria Borges do Nascimento... 65 Fonte: Acervo do autor Figura 046. Foto da casa Id.: 063... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 047. Foto Sr. José Jerônimo Reis de Souza... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 048. Foto da casa Id.: 064... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 049. Foto Sra. Gerarda Costa Borges... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 050. Foto da casa Id.: 076... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 051. Foto Sra. Francisca Holanda Rebouças... 66 Fonte: Acervo do autor Figura 052. Desenho de levantamento referente à casa 005... 67 Fonte: Desenho do autor Figura 053. Grafo valorado dos ambientes... 68 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir do levantamento dos usos da casa Id.:005 Figura 054. Grafos... 68 Fonte: Diagramas elaborados pelo autor a partir do levantamento arquitetônico, através do sistema Agna 2.1 Figura 055. Grafos... 69 Fonte: Diagramas elaborados pelo autor a partir do levantamento arquitetônico, através do sistema Agna 2.1 Figura 056. Estados de formação da casa 005... 72 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 057. Estados de formação da casa 064... 72 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor

Figura 058. Especialização, pesos e regras de divisão de zc!zd... 73 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 059. Especialização, pesos e regras de divisão de ze... 74 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 060. Especialização, pesos e regras de divisão de za!zp... 75 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 061. Estados da forma assumida por zp, a partir dos três estados iniciais... 77 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de pesquisa de campo Figura 062. Relação do ambiente na formação da casa 005... 80 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 063. Relação do ambiente na formação da casa 064... 80 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 064. Quadro etimológico da palavra gênese... 95 Fonte: Quadro elaborado pelo autor a partir dos dicionários de Isidro Pereira, Ermout e Hauaiss Figura 065. Diagrama de estados finitos dos ambientes da Zona de Corpo... 106 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor Figura 066. Tipos de linguagens formais e de gramáticas de Chomsky... 107 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de Kelley. Figura 067. Tipos de linguagens formais e classes de L-system... 110 Fonte: Diagrama elaborado pelo autor a partir de Prusinkiewicz. Figura 068. Desenvolvimento do fractal de Koch... 110 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de Prusinkiewicz. Figura 069. Visualização gráfica da Anabaena Catenula... 112 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de testes de implementação em JAVA 3D. Figura 070. Fragmento da Carta da Capitania do Ceará de 1818 com indicação do Povoado de Motamba... 114 Fonte: Carta da Capitania do Ceará 1818 / levantada por ordem do Governador Manoel Ignacio de Sampaio por seu ajudante e ordens Antonio José de S. Paulet. Biblioteca Nacional (Brasil) / Arch. Militar/ Cartografia ARC.008,01,030. Figura 071. Carta da Capitania do Ceará - 1818... 115 Fonte: Carta da Capitania do Ceará 1818 / levantada por ordem do Governador Manoel Ignacio

de Sampaio por seu ajudante e ordens Antonio José de S. Paulet. Biblioteca Nacional (Brasil) / Arch. Militar/ Cartografia ARC.008,01,030. Figura 072. Estradas Coloniais no Ceará... 115 Fonte: Mapa elaborado pelo autor a partir da Carta da Capitania do Ceará 1818 / levantada por ordem do Governador Manoel Ignacio de Sampaio por seu ajudante e ordens Antonio José de S. Paulet. Biblioteca Nacional (Brasil) / Arch. Militar/ Cartografia ARC.008,01,030.; a partir de informações da pesquisa A urbanização do Ceará setecentista de Jucá (2007); e a partir da pesquisa Notas sobre as casas de fazenda dos Inhamuns (1984) de Bezerra. Figura 073. Fazenda Belmonte - 1835... 117 Fonte: Imagens elaboradas pelo autor a partir das informações da pesquisa Notas sobre as casas de fazenda dos Inhamuns de Bezerra (1984). Figura 074. Fazenda Trigueiro (início XIX) - médio Jaguaribe... 118 Fonte: Acervo Nicolas Gondim e Tibico Brasil. Figura 075. Fazenda Santarém (início XIX) -baixo Jaguaribe... 119 Fonte: Foto acervo de Almir Leal de Oliveira e desenhos do acervo de Clóvis Jucá Figura 076. Forma inicial e parâmetros para desenvolvimento da gramática dos mestres 126 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor, gerada em Blender 4.5 a partir da implementação inicial, em Python, da gramática dos mestres. Figura 077. Foto protótipo de uma casa gerada a partir da gramática dos mestres... 126 Fonte: Protótipo gerado a partir da gramática dos mestre, código disponível em < http://www. morphogenese.com.br>. Figura 078. Imagens das casas geradas a partir da gramática dos mestres... 129 Fonte: Modelos gerados pelo autor a partir da gramática dos mestres implementada em Python para Blender 4.5. Figura 079. Exemplo de L-system celular... 130 Fonte: Ilustração elaborada pelo autor a partir de Prusinkiewicz. Figura 080. Imagens das casas geradas a partir da gramática dos moradores... 135 Fonte: Modelos gerados a partir da gramática dos moradores, código disponível em < http:// www.morphogenese.com.br>. Figura 081. Fotos realizadas durante a identificação e reconhecimento dos protótipos... 136 Fonte: Acervo do autor.

LISTA DE TABELAS Tabela 001 - Identificação dos mestres-carpinteiros... 38 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir de pesquisa de campo Tabela 002 - As 27 unidades selecionadas para etapa posterior da pesquisa de campo... 49 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir de pesquisa de campo Tabela 003 - Dados morfologia... 51 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir de pesquisa de campo Tabela 004 - Índices de morfologia do corpo... 52 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir da Tabela 003 Tabela 005 - Freqüências... 57 Fonte: Tabelas organizadas pelo autor a partir de pesquisa de campo Tabela 006 - Ângulos de inclinação da coberta do alpendre... 60 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir de pesquisa de campo Tabela 007 - Ângulos de inclinação da coberta do alpendre... 62 Fonte: Tabela organizada pelo autor a partir de pesquisa de campo

LISTA DE SÍMBOLOS a 0.33 b representa uma regra de produção, como exemplo: S ae, lê-se S produz ae. produção com probabilidade de 33% de ocorrência. a(x): x! 10: ab produção paramétrica. opção de produção, como exemplo: E aa B a, E é substituída por aa ou por B ou por a. derivação é a substituição de uma subpalavra de acordo com a regra de produção. ε seqüência vazia. {ε} linguagem vazia, denotada também como conjunto vazio ". " cardinalidade de ", é o número de símbolos que compõe a palavra ". * + Iteração de Kleene, ou estrela de Kleene: # * = # # {ε}. # + representa o conjunto de todas, exceto a palavra vazia: # + = # * - {ε}. # complemento. {x x>1} os x tal que x maior que um. a! b a " b a ou b a e b

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 21 CAPÍTULO I... 29 ex-sist$: sair da terra; aparecer; mostrar-se; existir Objeto instanciado... 32 Processo de construção... 37 Tipo... 39 Ambiente... 42 Corpus... 46 CAPÍTULO II... 83 gen%sis: posição dos astros relativamente ao seu nascimento; estrela; sina Crítica Genética... 88 Expansão da Crítica Genética... 90 Crítica de Processo... 96 Por uma abordagem do processo de formação... 99 Sobre organização e gramática... 103 Por uma abordagem formal da gramática... 105 Idéias de Lindenmayer... 109 Visualização... 111 À montante... 114 Casa de fazenda... 117 CAPÍTULO III... 123 in futura: sobre futuros Gramática dos mestres... 126 Gramática dos moradores... 130 Considerações finais... 137 BIBLIOGRAFIA... 139 ANEXO I... 155 ANEXO II... 167 ANEXO III... 187 ANEXO IV... 213

Introdução

23 Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em um cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Antonio Cícero A s questões que motivam este trabalho advieram da pesquisa de mestrado 1, que se propôs a uma investigação sobre a poiesis, sobre o processo de geração de uma obra de arte realizada com os novos meios uma obra em arte eletrônica. Dada a complexidade do objeto estudado e a particular característica dos documentos de processo 2 encontrados, a elaboração de diagramas 3 mostrou-se útil à apreensão das relações entre os diversos índices do processo, ajudando a revelar tendências e dinâmicas de formação da obra. Não obstante o diagrama tenha se mostrado eficaz naquele momento, o problema da representação persistiu. Ou seja, questões de como representar adequadamente uma poiesis estavam abertas. Como representar algo que é de natureza operativa? Alguma coisa não tangível, que não se mostra diretamente aos sentidos? Ainda noutros termos, como representar aquilo que é aparentemente sem contorno definido, sutil, tênue? 1. A dissertação de mestrado defendida em 2003 com o título completo de [arte comunicação]: processos de criação com os novos meios, considerou especificamente os índices de processo das obras LAPIS/X e ad finem de Carlos Fadon Vicente mostradas na exposição Investigações: o trabalho do artista em 2000 no Itaú Cultural de São Paulo. 2. Termo geral proposto por Cecilia Almeida Salles, que mostrou-se mais adequado à expansão dos objetos de estudos pertinentes à Crítica de Processo. Denominação que se contrapõe a termos restritivos, específicos a cada domínio, como rascunho, manuscrito etc., pertinentes à Crítica Genética. 3. Na dissertação foi proposta a construção de Espaço de Estados que são constructos que apresentam visualmente a evolução de uma ou mais características do sistema.

24 Aquilo que Vincent Colapietro 4, recorrendo a uma figura, melhor traduz na questão: como propor um signo adequado ao vôo errante e encantador das borboletas sem, contudo, ter que fixá-las numa cortiça de fundo de uma caixa taxonômica? Esta foi uma das questões abertas na dissertação, reavivada com o projeto de pesquisa de doutorado e incorporada como guia deste trabalho. Questão constitutiva da problemática da tese e que parecia, à época, inserir-se num âmbito formado ainda com bordas imprecisas, numa superposição 5 de áreas como semiótica, comunicação, lingüística 6, ciência da computação, morfogênese e todas aquelas que, como a Crítica de Processo 7, interessam-se pelos processos de formação, ou seja, pela poiesis. Limites que melhor se definiriam e se configurariam quando vistos através de uma teoria geral, ou seja, de um conjunto de conceitos que vai além das particularidades fáticas do objeto, uma teoria sistêmica. Precisamente, a nova Teoria Geral dos Sistemas proposta por Mario Bunge e Jorge Vieira, como uma possível Ontologia Científica 8. Oportuno ressaltar ainda, que subjaz à pesquisa como seu substrato, as idéias fundamentais do contínuo 4. Uma das considerações propostas pelo professor Vicent M. Colapietro, em encontro de orientação de pesquisa realizado em agosto de 2006. 5. "We shall presently introduce two specific concepts of associatioin: those of juxtaposition or physical sum, and of superposition or phisical product. Two things placed side by side add or juxtapose, while two fluids, when mixed, superposed" (BUNGE, 2004a, p.39, grifos meus). A superposição diferente portanto de uma mera justaposição de áreas estabelecidas como distintas do conhecimento, constitui-se no âmbito da transdisciplinaridade e, por isso, num espaço com limites ainda não muito claros. 6. A lingüística pode ser definida como o estudo científico da linguagem. Em meados do século XX o campo da lingüística teórica ganha força com pesquisas e trabalhos publicados por Noam Chomsky. A ele é creditado ter transformado a lingüística americana, que de um ramo da antropologia passou a ser considerada uma ciência matemática. (DEVLIN, 2002, p.74). 7.Crítica Genética fundamentada na teoria semiótica de Charles S. Peirce, como proposta pelo Centro de Estudos de Crítica Genética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CECG PUC/SP). Atualmente o grupo tem como objeto de estudo o processo de criação, tanto que se sugere a alteração do nome do centro para Grupo de Pesquisa sobre Processo de Criação. 8. Adota-se, neste trabalho, o significado de ontologia como proposto por Vieira (2007, p.30-35) em seu livro Ontologia: formas de conhecimento - arte e ciência. Sigo as palavras do autor, sem acrescentar comentários. Diz ele:... Estaremos seguindo a proposta de Bunge segundo a qual a Teoria Geral de Sistemas é uma boa candidata ao que poderíamos chamar de Ontologia Científica, uma proposta que permitiria uma maior eficiência no tratamento das ciências a partir de suas raizes ontológicas. [...] A Ontologia pode ser definida como outro nome da Metafísica, o estudo do ser enquanto ser, com independência de suas determinações particulares. Embora, a rigor, haja diferenças entre as duas áreas, é nesse sentido que estamos adotando aqui uma certa identificação entre uma Teoria da Realidade (Metafísica) com uma Teoria do Ser ou dos Objetos (Ontologia). Mais ainda, toda ciência será uma Ontologia Regional, na medida em que trabalha com tipos de objetos específicos. Estaremos seguindo ainda aproximadamente a proposta de Bunge (1977, p.5) como sendo a Ontologia (ou Metafísica) uma Cosmologia Geral ou Ciência Geral: como a ciência concernente à totalidade da realidade - o que não é o mesmo que a realidade como um todo. Nesse sentido, ainda segundo Bunge, a Ontologia/ Metafísica estuda os traços genéricos de todo modo de ser e vir-a-ser, assim como as características peculiares da maior parte dos existentes.