SEGURANÇA HÍDRICA DO ABASTECIMENTO HUMANO ATRAVÉS DA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA: A EXPERIÊNCIA DO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS

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Palavras-chave: Análise de água. Qualidade da água. Queijo Canastra.

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Transcrição:

SEGURANÇA HÍDRICA DO ABASTECIMENTO HUMANO ATRAVÉS DA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA: A EXPERIÊNCIA DO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS Anne Rosse e Silva 1 *& Patrícia Campos Borja 2 Resumo Apesar do valor inestimável e do caráter essencial atribuído à água, aproximadamente 750 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à água potável, sendo que 90% vivem em zonas rurais. Enquanto diariamente, em média quase mil crianças morrem, devido a doenças diarreicas. (Unicef, 2015). A captação de água pluvial e reserva em cisternas constitui uma possível solução alternativa para o abastecimento de água para consumo humano. A água da chuva geralmente é considerada de boa qualidade e necessita apenas de tratamento simplificado, no entanto, durante o seu percurso até ser consumida pode ser contaminada, comprometendo assim a segurança sanitária de sua utilização. Nesse sentido, o Programa Um Milhão de Cisternas busca promover o acesso à água potável para as famílias do semiárido brasileiro, através da construção de cisternas, e sob a lógica do incentivo a convivência sustentável com o ecossistema local. O presente estudo objetiva discutir a segurança hídrica do abastecimento humano através da captação de água da chuva, a experiência do Brasil através do P1MC e os desafios e avanços alcançados com o aproveitamento deste recurso natural. A metodologia adotada envolveu uma revisão da literatura relacionada ao tema seguida da análise críticas dos conteúdos. Palavras-Chave Cisternas; P1MC; Captação de água da chuva. WATER SECURITY TO HUMAN SUPPLY THROUGH RAINWATER HARVESTING: THE BRAZIL'S EXPERIENCE IN RECENT YEARS Abstract Despite the inestimable value and essential character attributed to water, approximately 750 million people worldwide lack access to safe water, and 90% live in rural areas. While almost 1000 children die daily due to diarrhea. (UNICEF, 2015). The capture of rainwater and reserve in cisterns is a possible alternative solution to the water supply for human consumption. Rainwater is generally considered good quality and requires only simplified treatment, however, during the water s route to the consumption it can be contaminated and so compromising the health safety to human use. In this sense, the One Million Cisterns Program (original title: Programa Um Milhão de Cisternas) seeks to promote access to clean water for families in the Brazilian semiarid, by building cisterns, and under the logic of encouraging sustainable coexistence with the local ecosystem. This study aim to discuss the water security of the human supply through rainwater harvesting, the experience of Brazil through P1MC and the challenges and advances achieved with the use of this natural resource. The methodology involved a literature review on the topic, followed by critical analysis. Keywords Cisterns; P1MC; Rainwater Harvesting. 1 UFBA: Mestranda em Meio Ambiente, Águas e Saneamento, e-mail: annerosse_ambiental@yahoo.com.br. 2 UFBA: Prof a. Doutora do Departamento de Engenharia Ambiental e do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento, e-mail: borja@ufba.br * Autor Correspondente. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

INTRODUÇÃO O abastecimento de água para consumo humano, enquanto um dos serviços de saneamento básico que visa a promoção e proteção da saúde pública, se constitui uma medida necessária a garantia dos direitos sociais previstos na Constituição Federal de 1988. Do ponto de vista sanitário, o acesso à água potável assegura a comunidade abastecida a prevenção de uma série de doenças relacionadas com a água como diarreias, disenterias, cólera, ascaridíase, hepatite, infecções na pele e nos olhos, entre outras. Contudo, para que o abastecimento de água potável possa promover a saúde e a qualidade de vida da população, não somente os aspectos qualitativos devem ser observados, mas a quantidade e continuidade do acesso a esse bem. A água com qualidade e em quantidade suficientes permite que a população possa efetuar adequadamente a higiene pessoal, doméstica e dos alimentos e evita que a mesma utilize outras fontes de água inseguras ou contaminadas, contribuindo assim, para a interrupção do ciclo de transmissão de doenças associadas à água. Dessa forma, é necessário garantir o acesso de todos à água própria para o consumo humano. Apesar do valor inestimável e do caráter essencial atribuído à água, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância Unicef (2015), aproximadamente 750 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável adequada, sendo que 90% vivem em zonas rurais, estando à margem da prestação desse serviço em seus países. Em meio a este cenário, em média quase mil crianças morrem, diariamente, devido a doenças diarreicas, ligadas à água imprópria para consumo, ao destino dos esgotos precário e a falta de higiene. Na região do semiárido brasileiro, que abrange um total de 1.133 municípios, cerca de 67% das famílias rurais não possuem acesso à rede geral de abastecimento de água, sendo que 43% se abastecem por poços ou nascentes e 24% outras formas de acesso à água (ASA, 2015). Tal situação demonstra a importância e a emergência da instituição de políticas públicas que sejam capazes de reduzir esses índices e, consequentemente, universalizar o acesso à água. Nesse sentido, o Programa Um Milhão de Cisternas compõe uma das ações do governo federal, executada em parceria com a sociedade civil organizada e concebida com o objetivo manifesto de promover o acesso à água potável para as famílias do semiárido brasileiro, por meio da construção de cisternas e sob a lógica do incentivo a convivência sustentável com o ecossistema local. O Programa busca beneficiar em torno de cinco milhões de pessoas, tendo sido construídas 570.398 cisternas desde a sua criação até maio de 2015 (ASA, 2015). As cisternas são uma tecnologia simples, de baixo custo de implantação e manutenção, fácil manejo e adequadas para a região semiárida, marcada por longos períodos de estiagem consequentes de precipitações irregulares, pelas altas temperaturas e taxas de evaporação, além da elevada salinidade da água que contribuem para a conhecida escassez hídrica local. Dessa forma, a captação de água pluvial e reserva em cisternas constitui uma solução individual para o abastecimento de água de consumo humano. No entanto, para que essa solução alcance seu objetivo é indispensável garantir a segurança sanitária da água que será consumida pela população. Nesse contexto, o presente trabalho se propõe a discutir a segurança hídrica do abastecimento humano através da captação de água da chuva, bem como a experiência do Brasil através do Programa Um Milhão de Cisternas, além de fazer uma abordagem sobre os desafios e avanços alcançados com a prática do aproveitamento deste recurso natural. A metodologia adotada envolveu uma revisão da literatura relacionada ao tema seguida da análise críticas dos conteúdos. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA ATRAVÉS DO P1MC O aproveitamento da água da chuva por meio de cisternas é uma prática que tem sido adotada há muitos anos no Brasil. Segundo Palmeira (2006), desde 1977 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa tem desenvolvido estudos que tratam de métodos de coleta de água da chuva e armazenamento em cisterna. Ainda em 1988, após aperfeiçoamento da técnica de construção de cisternas de placas, efetuado pelo pedreiro popularmente conhecido como Nel, da cidade de Simão Dias em Sergipe, houve uma implantação maciça desse tipo de cisterna no Estado da Bahia, por intermédio do Centro Comunitário de Serviços, em convênio com entidade do Governo Estadual (PALMEIRA, 2006). Outro marco que fortaleceu a disseminação dessa tecnologia foi a criação, em 1999, da Articulação para o Semiárido Brasileiro (ASA) que se constitui em uma rede formada por mil organizações da sociedade civil destinadas a atuar na gestão e desenvolvimento de políticas voltadas à convivência com o semiárido. A partir daí, várias foram as iniciativas e parcerias firmadas com a ASA para a construção de cisternas. Em 2001 um convênio com o Ministério do Meio Ambiente financiou a construção de 500 cisternas, no mesmo ano, a Agência Nacional das Águas viabilizou 12.400 cisternas e em 2003 foram 17.400 cisternas construídas pelo Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (D ALVA e FARIAS, 2008). O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), instituído em 2003, integra uma das ações do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da ASA. Sua área de atuação corresponde a todo o semiárido brasileiro formado pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, conforme delimita o Ministério da Integração Nacional (Figura 1). Abrange a área de 969.589,4km² que abriga cerca de 22 milhões de pessoas e forma o semiárido mais populoso do planeta (ASA, 2015). A precipitação média anual varia de 200mm a 1.000mm, porém sua distribuição é altamente irregular, além disso, a alta taxa de evaporação e elevada salinidade da água contribuem para a escassez hídrica da região. Fonte: ASA (2015). Figura 1 Semiárido Brasileiro delimitação segundo o Ministério da Integração. O objetivo do Programa é beneficiar com o acesso à água potável aproximadamente cinco milhões de pessoas na região semiárida do Brasil, através da construção de 1 milhão de cisternas. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Para tanto, o P1MC conta com a colaboração de pessoas físicas, empresas privadas, agências de cooperação e do governo federal (ASA, 2015). As cisternas são construídas com placas de cimento pré-moldadas, semienterradas e cobertas, sendo implantadas perto da moradia e conectada ao seu telhado por uma calha, a partir da qual a água da chuva é coletada. São construídas por pedreiros das próprias localidades, formados e capacitados pela ASA no âmbito do P1MC e possuem capacidade de armazenamento de até 16 mil litros de água, quantidade dita como suficiente para uma família de cinco pessoas beber e cozinhar, pelo período de seca que dura em torno de 6 a 8 meses, (ASA, 2015). O público alvo do P1MC envolve famílias residentes na zona rural do semiárido, com renda per capita de até meio salário mínimo, incluídas no Cadastro Único do governo federal e que não possuem acesso à água potável próximo as suas casas. Ao receber a cisterna, a família passa por um processo de capacitação para o manejo adequado da mesma e da água reservada em seu interior com duração de 16 horas (SILVA et al., 2014). Além da capacitação, a comunidade é envolvida na construção dos sistemas de captação. Essas atividades estimulam processos participativos e o fortalecimento de vínculos sociais de pertencimento, confiança e solidariedade, que se apresentam como alternativa para as práticas políticas clientelistas, assistencialistas e de dependência antes predominantes (SANTOS et al., 2014). Até o presente momento, o P1MC beneficiou mais de 2 milhões de pessoas. O Programa recebeu prêmios nacionais e internacionais, dentre eles o Prêmio Direitos Humanos 2010, na categoria Enfrentamento à Pobreza e o Prêmio Sementes da Organização das Nações Unidas (ASA, 2015). Tem colaborado também para o desenvolvimento de diversas pesquisas referentes à captação e aproveitamento de água da chuva. Contudo, segundo Andrade Neto (2013), é possível identificar três falhas tecnológicas no P1MC: uso da mesma tecnologia de construção de cisternas sem um questionamento suficiente quanto a sua adequação; adoção do mesmo volume para as cisternas em todas as situações, desconsiderando o regime pluviométrico local, o número de usuários e a área de captação, variáveis que poderiam indicar uma capacidade de armazenamento maior e a não execução e divulgação de informações sobre a correta proteção sanitária (barreiras sanitárias físicas e culturais) da água. O Programa Um Milhão de Cisternas certamente tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida da população do semiárido ao viabilizar a implantação de cisternas e possibilitar o acesso à água em períodos de estiagem. Contudo, alguns aspectos precisam ser analisados como o uso e apropriação da tecnologia por parte dos moradores, o cuidado com o manuseio da água, a efetividade das ações, a segurança hídrica do abastecimento e os impactos na vida da população, para que os esforços e recursos investidos não sejam desperdiçados e a política implementada possa servir de referência para outras ações governamentais. SEGURANÇA HÍDRICA A água da chuva geralmente pode ser considerada de boa qualidade e necessita apenas de um tratamento simplificado para que seja destinada ao consumo humano. No entanto, durante o seu percurso até ser consumida pode ser contaminada, comprometendo assim a segurança sanitária e sua utilização. Durante a precipitação, ao atravessar a atmosfera mais próxima ao solo, a água carreia partículas em suspensão e alcança a superfície de coleta transportando as sujeiras como dejetos de XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

animais, poeiras, folhas, galhos, etc. acumulados durante o período de estiagem. Contudo, conforme aponta Andrade Neto (2013), a contaminação atmosférica está limitada a áreas urbanas e industriais poluídas. Em se tratando do semiárido brasileiro, a preocupação maior está na possibilidade de microrganismos patogênicos e matéria orgânica presentes nos telhados atingirem o interior da cisterna. Dentro desse contexto, a adoção de barreiras sanitárias é imprescindível e pode resultar na melhoria da qualidade da água da chuva armazenada, entre elas é possível citar o desvio das primeiras águas de chuva, a limpeza do telhado, dutos e cisterna, a proteção dos dispositivos de entrada e saída de água na cisterna, o uso de bomba para retirar a água, a desinfecção antes do consumo, entre outras. Algumas pesquisas foram desenvolvidas desde o início da implantação do programa P1MC para analisar a qualidade da água das cisternas que abastecem a população contemplada. A maioria desses estudos tem demonstrado que os parâmetros químicos e físicos geralmente atendem aos padrões nacionais de potabilidade, mas o padrão microbiológico quase sempre não é atendido. Um exemplo dessa deficiência é retratado na pesquisa de Xavier et al. (2006), que avaliou a qualidade bacteriológica da água de cisternas em comunidades rurais beneficiadas pelo P1MC, no município de Tuparetama em Pernambuco. O autor verificou que de um total de 132 amostras, sendo 66 em cisternas e 66 em potes ou filtros, 90% das águas analisadas apresentaram contaminação por coliformes totais. Em 39 residências analisadas não houve alteração entre os resultados da água proveniente da cisterna e pote ou filtro, de onde subtendeu que não foi aplicada a solução de cloro no reservatório residencial e em 20 residências a contaminação foi maior no pote ou filtro, evidenciando a contaminação no manejo da água. Outra constatação relevante em seu estudo foi a de que 44% dos moradores não acreditam realmente que é possível contrair doenças na água das cisternas, sendo que 86% dos usuários afirmaram que a água que consomem é de boa ou ótima qualidade por ser proveniente da chuva, evidenciando a falta de esclarecimento da população em relação aos cuidados com a água. Silva et al. (2014), analisou os fatores que podem intervir na qualidade microbiológica da água de chuva armazenada em cisternas na zona rural do município de Inhambupe, Bahia. Considerou uma amostra de 707 cisternas e avaliou a presença de microrganismos e matéria orgânica em seu interior em decorrência da ausência do desvio da primeira água, da forma inadequada de retirada de água do interior da cisterna (uso de balde), da existência de árvores próximas à superfície de coleta e falta de limpeza periódica da cisterna e seus componentes. Observou-se que 78,1% das amostras analisadas apresentaram coliformes termotolerantes, enquanto que em todas havia a presença de bactérias heterotróficas. Para a variável resposta coliforme, os fatores que demonstraram efeito significativo, considerando um nível de confiança de 10%, foram a falta de desvio, existência de árvores, e a interação balde-limpeza-falta desvio, árvores-falta desvio e a interação dos quatros fatores estudados. Para a variável resposta bactérias heterotróficas, os fatores mais significativos foram: existência de árvores e a interação balde-árvores-falta desvio. Outro fator que também merece atenção é a integridade física da cisterna, pois a presença de rachaduras, tampas inadequadas ou portas abertas possibilitam a entrada de poeiras, animais, resíduos, etc. Além deste, preocupa o fato de serem acrescentadas na cisterna, durante os períodos de estiagem, águas de outras fontes como açudes, barreiros e de carro pipa que podem comprometer a qualidade da água captada. Os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano, e o seu padrão de potabilidade são regulamentados pela Portaria MS nº 2914, de 12 de dezembro de 2011. Esse instrumento legal estabelece em seu Art. 4º que, toda água destinada ao consumo humano derivada de solução alternativa individual de abastecimento está sujeita à vigilância da XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

qualidade da água, apesar disso tal controle muitas vezes não ocorre de maneira regular, ficando a caráter dos próprios usuários tomarem os devidos cuidados com a água, o que acaba fragilizando a garantia da potabilidade. No âmbito do Governo Federal, algumas iniciativas são adotadas no sentido de promover a vigilância da qualidade da água, como por exemplo, o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que envolve um conjunto de ações contínuas voltadas para a garantia do acesso à água pela população, em quantidade suficiente e com qualidade adequada aos padrões de potabilidade, exercidas pelas autoridades de saúde pública, como parte integrante das ações de promoção da saúde e prevenção dos agravos transmitidos pela água (BRASIL, 2015). Esse Programa subsidia a estruturação da vigilância da qualidade da água nas três esferas de gestão do SUS, as Secretarias Municipais de Saúde, os Estados e Distrito Federal e o Ministério da Saúde, entre as principais ações que devem ser desenvolvidas para operacionalização do Programa está a identificação, cadastro e inspeção das formas de abastecimento de água existentes no município incluindo as soluções alternativas coletivas ou soluções alternativas individuais. Nesse contexto os Agentes Comunitários de Saúde são fundamentais para integrar a comunidade aos serviços da Atenção Primária à Saúde. Nessa perspectiva Luna et al. (2014), analisou a participação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos Agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVAS) no monitoramento da qualidade da água de cisternas, bem como a atuação destes junto as comunidades rurais do município de Quixabá, no estado da Paraíba. Segundo as autoras, em 2010, houve um aumento significativo do número de casos de diarreia nessa região e ao analisar as fichas dos pacientes, os profissionais de saúde detectaram que a maioria residia na zona rural e era abastecida por cisternas, cujas águas foram analisadas e observou-se a presença de coliformes termotolerantes em todas as amostras. A partir daí, as cisternas foram incorporadas ao programa Vigiagua, vinculado a Secretaria Municipal, e passaram a ser monitoradas de forma sistemática, sendo o único município do estado a exercer essa ação. Através dessa pesquisa foram identificados os seguintes fatores de risco: ausência de cuidados higiênicos com a água armazenada nas cisternas; adição de águas de outras fontes como carro pipa e de açudes na cisterna, em função do período prolongado de seca; ausência de limpeza da cisterna e do sistema de captação e baixa prática do desvio das primeiras águas de chuva. Em relação à atuação dos agentes constataram que, ao detectar a contaminação da água, os mesmos orientavam os moradores a descartar essa água e lavar a cisterna, reabastecendo-a com água de chuva ou água potável de carro pipa, no caso de período de seca. Assim, evidenciaram a falta capacitação desses profissionais para atuar como multiplicadores de educação sanitária e ambiental. Apesar disso, ressalta-se que a atuação desses agentes é de extrema importância, visto que executam diretamente as ações do sistema de vigilância da qualidade da água e repassam as informações e orientações para as famílias, cabendo ao Poder Público capacitá-los para isso. A conscientização das famílias em relação ao risco de transmissão de doenças relacionadas à água, seguido da capacitação para o manejo seguro do sistema de captação e da água reservada é fundamental para a melhoria da qualidade da água e, consequentemente, coopera para a segurança sanitária do consumo humano de água da chuva. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS A captação de água da chuva para abastecimento humano na região semiárida do Brasil tem se destacado enquanto alternativa individual para o suprimento de água potável e demonstrado ser viável do ponto de vista social, econômico e ambiental. Nesse contexto, o Programa Um Milhão de Cisternas tem sido de alta relevância para as comunidades rurais por viabilizar o acesso à água próximo das residências e propiciar a estas uma melhor qualidade de vida durante os períodos de estiagem. Não obstante, os estudos até aqui desenvolvidos têm evidenciado a dificuldade na garantia da qualidade e segurança sanitária da água consumida pela população, visto que vários são os fatores intervenientes para a garantia da potabilidade e alguns deles dependem do conhecimento e instrução dos usuários. Assim, torna-se perceptível a necessidade do Programa investir em ações de educação sanitária e ambiental, a fim de promover processos educativos junto às famílias sobre as formas adequadas de manejo do sistema de captação e, ainda, os riscos para a saúde associados à água imprópria ao consumo humano. Nessa perspectiva os Agentes Comunitários de Saúde são fundamentais, uma vez capacitados e integrantes de um sistema de vigilância sanitária instituído pelo Poder Público municipal, por lidar diretamente com a comunidade, acompanhar suas carências e investigar seus hábitos higiênicos, podendo influenciá-los positivamente. O abastecimento das cisternas através de carro pipa também retrata uma fragilidade na adoção da tecnologia no semiárido, uma vez que não é feito um controle sobre toda a operação realizada até a reserva da água na cisterna, portanto, não há uma garantia da qualidade da água que está sendo fornecida. Dessa forma, o P1MC deveria prever um plano de contingência, que envolvesse a participação de diversos atores, com definição de estratégias para que, durante os períodos de seca, seja assegurado à população o fornecimento de água com quantidade e qualidade adequadas ao seu consumo. Outro aspecto relevante para a manutenção da qualidade e, consequentemente, a segurança da utilização da água da chuva para o abastecimento humano é o monitoramento dos sistemas de captação de água da chuva. Contudo, a intervenção do Programa P1MC, como a maioria dos programas de governo, acaba após a implantação, não há a adoção de estratégias e responsabilidades para a operação, manutenção e monitoramento dessas cisternas e realização de ação de educação sanitária para orientar a população. Dado a nova conjuntura observada no semiárido, na qual já não se questiona a possibilidade de adequação ao ecossistema e suas peculiaridades, o professor da Universidade Estadual da Paraíba Cidoval Morais defende uma nova proposta na qual afirma que é possível viver bem no semiárido, transformando as dificuldades em potencialidades e quebrar o paradigma da convivência, que para Morais denota acomodação, ajuste e adequação e remove do nordestino o desejo de avançar em busca de uma vida ainda melhor (UEPB, 2015). No entanto, no que se refere ao acesso à água, para que isso seja uma realidade, a dificuldade em manter a qualidade da água armazenada nas cisternas precisa ser superada e isso não implica em estratégias complexas. O manejo adequado por parte dos usuários do sistema de captação e os cuidados com a manipulação e uso da água e, ainda o acompanhamento e monitoramento da qualidade pelas Secretarias Municipais de Saúde, podem resultar na segurança sanitária do abastecimento humano por água da chuva. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

REFERÊNCIAS ANDRADE NETO, C. N. (2013). Aproveitamento imediato de água da chuva. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais, v.1, n. 1, pp.73 86. ASA, Articulação no Semiárido Brasileiro. Brasil, 2015. Semiárido. Disponível em: <http://www.asabrasil.org.br/portal/informacoes.asp?cod_menu=105>. Acesso em 25 abr. 2015. ASA, Articulação no Semiárido Brasileiro. Brasil, 2015. P1MC. Disponível em: <http://www.asabrasil.org.br/portal/informacoes.asp?cod_menu=1150>. Acesso em: 01 mai. 2015. ASA, Articulação no Semiárido Brasileiro. Brasil, 2015. CISTERNAS. Disponível em: < http://www.asabrasil.org.br/portal/informacoes.asp?cod_menu=5622&wordkey=cisterna>. Acesso em: 01 mai. 2015. BRASIL. Portaria Nº MS 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.cvs.saude.sp.gov.br/zip/portaria_ms_2914-11.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2015. D ALVA, O. A,; FARIAS, L. O. P. Programa Cisternas: um estudo sobre a demanda, cobertura e focalização. Cadernos de Estudos - Desenvolvimento Social em Debate, v. 1, n. 7, pp. 1-40, 2008. PALMEIRA, G. Relatório de avaliação de programa: Ação Construção de Cisternas para Armazenamento de Água. Brasília: TCU, 2006. (Relatório Técnico TCU I) LUNA, T. L.; SILVA, A. F.; CEBALLOS, B. S. O. (2014). A participação de AVAS e ACS na vigilância da qualidade da água armazenada em cisternas no município de Quixabá, médio sertão paraibano. In Anais do XII Simpósio Ítalo-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Natal, Mai. 2014. SANTOS, A. C.; CEBALLOS, B. S. O.; SOUSA, C. M. (2013). Políticas públicas de água e participação no semiárido: Limites e tensões no P1MC. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais, v.1, n. 1, pp.145 161. SILVA, N. M. D.; PERELO, L. W.; MORAES, L. R. S. (2014). Fatores intervenientes da qualidade microbiológica das águas de chuva armazenadas em cisternas da área rural do município de Inhambupe no semiárido baiano. In Anais do XII Simpósio Ítalo-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Natal, Mai. 2014. UEPB, Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande PB, 2015. Professor da UEPB defende nova proposta de ação para o desenvolvimento do semiárido nordestino. Disponível em: <http://www.uepb.edu.br/professor-da-uepb-defende-nova-proposta-de-acao-para-odesenvolvimento-do-semiarido-nordestino/>. Acesso em: 07 mai. 2015. UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Brasil, 2015. Dia Mundial da Água: Quase 750 milhões de pessoas ainda não têm acesso a água potável adequada. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/media_29176.htm>. Acesso em 03 mai. 2015. BRASIL. Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua). Brasília, 2015. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/oministerio/principal/secretarias/svs/vigilancia-da-qualidade-da-agua-vigiagua >. Acesso em: 01 mai. 2015. XAVIER, Rogério Pereira et al. (2006). Avaliação da qualidade bacteriológica da água de cisternas de comunidades rurais da cidade de Tuparetama - Pernambuco. In Anais do 3 Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Florianópolis. Out. 2006. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8