SINGULARIDADES E SEMELHANÇAS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA DO CARIRI E DO SERTÃO PARAIBANO

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1 SINGULARIDADES E SEMELHANÇAS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA DO CARIRI E DO SERTÃO PARAIBANO Albertina de Farias Silva 1, Tamires de Lima Luna 2, Cidoval Morais de Sousa 4, Beatriz Susana Ovruski de Ceballos 4 1 Licenciada em Ciências Biológica- UEPB. Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática UEPB. albertinafs.89@gmail.com 2 graduanda em Ciências Biológicas- UEPB. Colaboradora Projeto Cisternas do Sertão. tamyluna18@hotmail.com, 3 Professor Dr. Titular UEPB, Dr. em Geociências (UNICAMP).cidoval@gmail.com 4 ProfessoraDra Titular-UEPB, Dr a. em Microbiologia ambiental (USP). bia.ceballos@gmail.com Resumo Objetivou-se investigar como comunidades rurais do Cariri e do Sertão paraibano usam e manejam os sistemas de captação e armazenamento de água de chuva em cisterna, avaliando-se semelhanças e diferenças entre as duas regiões. Para o estudo foram selecionadas três comunidades rurais e um assentamento no município de Malta, três comunidades rurais na cidade de São Joao do Cariri e um assentamento no município de Campina Grande. Os resultados mostraram que a principal fonte de água para beber é da cisterna, e em segundo lugar de poços. Confirmo-se que em ambas as regiões é prática comum encher a cisterna com água de carro pipa. A desinfecção da água antes de beber e mais evidente no Sertão A gestão das águas de diversas origens nas residências não é tema abordado pelos agentes de saúde que também não orientam sobre o uso e manejo higiênico das águas e aplicação das barreiras sanitária nos sistemas de captação nem nas cisternas. Conclui-se que a necessidade por água para múltiplas finalidade obriga às famílias ao uso de águas de qualidade duvidosa comprometendo a saúde e desvirtuando propósitos do P1MC. Palavras-chave: cisternas, usos da água, semiarido INTRODUÇÃO Em 22 de março de 1992 a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o "Dia Mundial da Água" e publicou a "Declaração Universal dos Direitos da Água que considera a água parte do patrimônio do planeta, essencial à vida e adverte que a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia considerandosua gestão na base da solidariedade e de sua distribuição desigual sobre a Terra. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2011), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. Moradores do nordeste do Brasil convivem com as secas típicas do semiárido que caracterizam o clima da região: concentração das chuvas em 3 a 5 meses, seguidos de longos períodos anuais de estiagens (7 a 8 meses) e secas periódicas interanuais que

2 ocorrem aproximadamente a cada dez anos. Alem da má distribuição espacial e temporal da precipitação, os altos índices de evapotranspiração e a baixa capacidade dos solos de retenção de água complementam o quadro de déficit hídrico (MARENGO, 2008). A pesar da essencialidade da água para a vida, os programas para fornecer água potável em quantidade suficiente às populações dispersas da zona rural semiárida, em torno de 9 milhões de pessoas, não são satisfatórios. Nas localidades mais afastadas do semiárido mulheres e crianças ainda realizam longas caminhadas, de mais de 30 minutos até o manancial mais próximo, levando para casa durante outros 30 minutos duas ou três latas de água de qualidade inadequada para o consumo familiar. Embrapa Semiárido/CPATSA calcula que uma pessoa pode usar até 36 dias por ano exclusivamente em busca de água (BRITO et al.,2007) A coleta de águas de chuvas em cisternas para serem usadas na estação seca é um habito antigo no semiárido nordestino para mitigar os efeitos do déficit hídrico na região (NÓBREGA et al, 2009). O Programa Um milhão de Cisternas - P1MC, iniciado em 2002 sob coordenação da Articulação do Semi Árido (ASA em parceria com o Governo Federal (Ministério de Desenvolvimento Social), através do Programa de Segurança Alimentar e Nutricional é um dos programas mais bem sucedidos de captação e armazenamento de água de chuvas. Tem como objetivo construir 1 milhão de cisternas de placas com capacidade de 16 mil litros para beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas com água de boa qualidade para beber e cozinhar. O tempo antes gasto com a coleta deveria ser usado pelas crianças para estudar e para as mulheres realizar as atividades do lar, ajudar os filhos nos deveres s da escola e reservar tempo para seus próprios estudos e participação nas atividades das comunidades. São priorizadas famílias que residem na área rural sem acesso ao sistema público de abastecimento de água, com chefes de família mulheres com crianças ate 6 anos e adolescentes na escola, com adultos com 65 anos o mais e portadores de necessidades especiais (ASA, 2012). O programa já beneficiou cerca de dois milhões de pessoas e frente sua ampla dimensão e impactos obtidos e os esperados, o monitoramento das condições de manutenção e do manejo dos sistemas e dos benefícios sociais atingidos são valiosas informações para tomada de decisão por órgãos governamentais responsáveis pela execução e sustentabilidade do Programa nos níveis federal, estadual e municipal.

3 O presente estudo tem por objetivo investigar como comunidades rurais do Cariri e do Sertão paraibano usam e manejam os sistemas de captação de água chuva em cisternas do P1MC avaliando semelhanças e diferenças entre as duas regiões. A pesquisa fornece informações importantes para os gestores do P1MC na escolha de melhorias da eficiência e sustentabilidade dos sistemas. METODOLOGIA Foram selecionados sistemas de captação e armazenamento de água de chuva em cisternas de comunidades da mesoregião do médio Sertão paraibano (comunidades Castelo, Areia, Salúbrio e o assentamento Padre Acácio) no município Malta. Este possui área de 156 km 2, habitantes e IDH de 0,613. No cariri as comunidades estudadas se localizam em São João do Cariri, na mesoregião da Borborema: Curral do Meio, Sitio Pombos e Malhada da Roça e o assentamento Paus Brancos, área rural de Campina Grande. Estes locais foram pesquisadas anteriormente no contexto do projeto CISTERNAS (MCT/CT HIDRO-UFCG, UEPB, UFPE, UFRPE, EMBRAPA/CPATSA ). São João do Cariri possui 702 km 2, 4438 habitantes e IDH de 0,678. Foram utilizados um guia para observação do ambiente, das residências, das cisternas e dos sistemas e um formulário semiestruturado para entrevistas (bastante aberto), visando obter informações sobre hábitos, percepções, opiniões e saberes sobre água, cisterna e qualidade de vida. Foram realizadas visitas previas de reconhecimento dos locais e feito a georefereciamento. Posteriormente se aplicaram os questionários numa campanha de vários dias de duração.os resultados foram comparados com dados de 22 residências distribuídas no município de São João do Cariri, Cariri paraibano pesquisadas anteriormente. A organização do trabalho teve o seguinte roteiro:1) avaliação da gestão das águas nas residências; 2) observação e registro da conservação e manejo de todo o sistema, 3) informações socioeconômicas; 4) registro de hábitos, percepções, e saberes sobre água, cisterna e qualidade de vida RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma das estratégias mais importantes e eficientes para a convivência com o semiárido é a gestão eficiente de múltiplas águas na residência.a tabela 1 mostra as principais fontes de abastecimento usadas no Cariri e no Sertão do Estado da

4 Paraíba.Para a higiene pessoal (tomar banho e escovar os dentes), e a limpeza do lar as famílias de Malta priorizam a água de poço captada com bomba ate um reservatório elevado de uso comum. Esse distribui a água não tratada por gravidade ate as torneiras das casas e é usada para a limpeza do lar, dessedentação animal, lavagem de roupa, banho. A segunda principal fonte de água para o gasto provém de barragem ou açude, seguido da cisterna, indicando que algumas famílias desperdiçam água destinada a usos mais nobres nas atividades gerais da casa. Nas comunidades rurais do Cariri as principais fontes de água usadas para gasto também foram os poços(49,6%) seguido de barragem e açude (19%) e rio (15%). No assentamento Paus Brancos a água da cisterna é usada para todos os fins, inclusive beber e cozinhar(76,32%), seguido de poço (10,53%) e barragem ou açude (5,3%). Tabela 01 - Origem da água usada pelas famílias de Malta, São João do Cariri e Paus Brancos para higiene pessoal e limpeza da residência. Fonte Malta % São João % Paus % do Cariri Brancos Poço 06 60% 26 49,06% 04 10,53% Cisterna 01 10% 05 9,43% 29 76,32% Chafariz ,63% Rio ,09% 01 2,63% Barragem/ ,87% 02 5,26% Açude Outras 01 10% 04 7,55% 01 2,63% Total % ,00% ,00% A água das cisternas de PIMC é destinada ao consumo humano, para beber, higiene pessoal básica (escovar os dentes, lavar mãos e rosto) e cozinhar. A manutenção de sua boa qualidade e o uso de quantidades controladas são essenciais para obter os resultados esperados na saúde e de menor vulnerabilidade nas estiagens. A qualidade da água armazenada depende da qualidade da fonte: águas de chuva de regiões rurais sem indústrias são de excelente qualidade pela escassa poluição da atmosfera. As cisternas devem receber exclusivamente água de chuva por isso se devem manter cuidados higiênicos desde a captação da água escoada dos telhados ate seu armazenamento na cisterna e posterior retirada e transportada para o interior das casas. Sobre os aspectos quantitativos, é importante que a cisternas fique cheia com chuva média anual de 200 a 300 mm que será captada de um telhado com 40 a 60 m 2, por tanto os aspetos estruturais do sistema devem estar íntegros: tetos sem telhas quebradas (menor área de captação),

5 dutos em bom estado, cisternas sem rachaduras e com tampas, entre outros. Quando cheias completamente permitem o uso de 8,3 litros de água.pessoa -1.dia -1 durante 12 meses e de 13 litros.pessoa -1.dia -1 durante 8 meses de famílias com ate 5 membros. Para a cisterna ser uma fonte de água boa e apta para consumo humano direto devem ser aplicadas barreiras sanitárias (desvio das primeiras águas de cada evento de chuva; lavagem anual das cisterna, uso de bomba para retirar água da cisterna evitando contatos com a roupa e mãos do usuário, desinfecção da água antes de beber).na pesquisa foram avaliadas todos esses fatores dos quais depende o êxito e a sustentabilidade do programa Após a construção das cisternas a água dos poços, antes usada para todos os fins, teve outra finalidade. Em Malta é usada para o gasto ou usos menos nobres (lavar louça e roupas, higienização do lar, etc) e a água da cisterna ficou reservada para beber: 10% usam a água da cisterna exclusivamente para esse fim, 70% para beber e cozinhar e para todos os usos anteriores e tomar banho. Luna et al (2012) no município de Quixabá, a poucos quilômetros de Malta, verificaram que as cisternas que deveriam receber apenas água de chuva, recebem com freqüência água de açudes e de carro pipa para preencher a falta de chuvas e a falta e água potável. Diversas famílias têm clara percepção de que a cisterna se transformou em um reservatório de água para gasto, uma espécie de açude no quintal com águas de qualidade inferior. Para beber e cozinhar, as famílias buscam água no chafariz da Associação de Moradores, abastecida com água potável pela operação pipa do exercito. Os estudos no Cariri e no Sertão confirmam como pratica comum encher a cisterna com água de carro pipa, seja do exercito ou de particulares sem garantia das origens dessas águas. Consumir água sem tratamento pode trazer sérios problemas à saúde, mas a desinfecção pode torná-la apta, se for água de baixa turbidez (<5 ut). Em Malta 60% das famílias usam hipoclorito de sódio, 10% declararam filtrar a água e não fazem nenhum tratamento. Em São João do Cariri, desinfetam por cloração 10% e não tratavam 52% (MIRANDA et al 2010). A desinfecção com hipoclorito de sódio pode ser ineficiente porque não se sabe dosar corretamente o desinfetante. Os que não realizam a desinfecção com hipoclorito nas duas regiões argumentam aparecimento de sabor e odor desagradáveis após de sua adição. Essa observação sugere super-dosagens. Estudos mostram outras semelhanças com a região do Cariri como a falta de hipoclorito alguns meses por falhas na distribuição pelos agentes comunitários de saúde do SUS e ausência de explicações claras de como usar. Souto (2009), em São João do Cariri verificou que vários Agentes

6 de Vigilância Sanitária tinham conhecimento formal sobre a desinfecção mas não havia transferência clara do procedimento o que explica a indecisão dos usuários sobre o uso correto. A metade das famílias de Malta confirmou que a água armazenada na cisterna durante as chuvas é suficiente para satisfazer o uso familiar durante todo o ano. Já no cariri somente 18,6% das famílias fizeram essa afirmação. Uma das explicações é o uso incorreto da água (vários fins) por terem a garantia do reabastecimento pelo carro pipa. Outra causa são as inadequações do sistema de captação e armazenamento: calhas mal colocadas, tetos quebrado rachaduras nas cisternas, entre outras. No sertão, a conservação dos telhados é boa, todavia calhas e ductos requerem melhor limpeza e adequado posicionamento para evitar desperdício de água na captação. Nas cisternas emas principais deficiências são rachaduras e infiltrações. No Cariri ocorre melhor conservação (86% das residências), como mostra a figura 02. Figura 02 - Principais deficiências no sistema de captação das regiões do Cariri e Sertão. Inadequações dos sistemas de captação de água de chuva - Sertão Calhas Tubulações Rachadura/V azamento Tampa da cisterna envergada Inadequações dos sistemas de captação de água de chuva - Cariri As calhas 12% 38% 50% tampas 0utros As reuniões previas à construção das cisternas são obrigatória para os beneficiário do P1MC, e é denominada Curso de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (GRH.) As principais barreiras sanitárias abordadas no GRH são o desvio das primeiras águas de chuva e a utilização da bomba manual. No entanto 67% das famílias caririzeiras adotam o balde para retirar água (SILVA et al, 2012) e 80% no Sertão. As justificativas são a fragilidade da bomba que se danificam após de pouco tempo de uso, e o peso para serem bombeadas várias vezes para encher um recipiente. Todas as famílias afirmaram que o balde é usado somente para retirar a água. O desvio das primeiras águas de chuva que arrasta as sujeiras do telhado é pouco praticado e nenhum dos sistemas possui desvio automáticos dessas primeiras águas.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O P1MC tem como meta fornecer água de qualidade e em quantidade suficiente para o consumo humano, na busca de melhorias na saúde das famílias. Porém nas comunidades com maior dificuldade de acesso a outras fontes de água como açudes e poços, a água de chuva armazenada em cisternas passa a ser utilizada para todos os fins. A necessidade por água para os usos gerais (água para o gasto ) obriga as pessoas a recorrerem a fontes de qualidade duvidosa. Quando a água de chuva acaba devido ao uso descuidado se recorre ao carro pipa para abastecer a cisterna, solução que gera dependência política. Inadequações como rachaduras e calhas mal posicionadas são fatores que contribuem bastante para a perda de água captada da chuva. O uso não higiênico das cisternas por falta do manejo adequado da água como a utilização de baldes para retirada da água e inadequações nas tampas das cisternas, uso de fontes de água sem qualidade e a falta de tratamento dessas águas antes do consumo humano são fatores que colocam a saúde das famílias em risco e dificultam visualizar possíveis melhoras na saúde dos usuários de cisternas. Nesse contexto, e vistas as particularidades e semelhanças dos sistemas de captação e manejo de água de chuva, torna-se importante a vigilância sistemática do manejo e conservação dos sistemas e da qualidade da água armazenada para introduzir melhorias que darão maior sustentabilidade ao programa ao garantir água de boa qualidade em quantidade suficiente REFERENCIAS BIBLIOGRAFICA ASA Articulação do semiárido Brasileiro. Disponível em: < Acesso em : 14 mar 2012 BRITO,L.T.de L.; MOURA, M. S. B. de.; GAMA, G. F. B.Potencialidades da água de chuva no semi-árido. Petrolina-PE: EMBRAPA Semi-Árido, 2007 LUNA, T. L, SILVA, A. F. CEBALLOS, B. S. O. de; SOUSA, C. M. Desafios do P1MC no sertão paraibano: gestão e qualidade da água. Anais do 8º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva. Campina Grande, MARENGO, J. A. Vulnerabilidade, impactos e adaptação à mudança do clima no semi-árido do Brasil. Parcerias Estratégicas, Brasília-DF, n.27_ dez MIRANDA, P C. de; XAVIER, R. P. SILVA, A. F.; CEBALLOS, B. S.O. de Avaliação da qualidade da água de chuva armazenada em cisternas e no ponto de consumo em

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