PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA GESTÃO DA ÁGUA CAPTADA DA CHUVA E ARMAZENADA EM CISTERNAS, NA REGIÃO DO MÉDIO SERTÃO PARAIBANO

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Giovanna Gabeira
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CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA PARA SUSTENTABILIDADE DE ÁREAS RURAIS E URBANAS TECNOLOGIAS E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA TERESINA, PI, DE 11 A 14 DE JULHO DE 2005 PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA GESTÃO

1 CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA PARA SUSTENTABILIDADE DE ÁREAS RURAIS E URBANAS TECNOLOGIAS E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA TERESINA, PI, DE 11 A 14 DE JULHO DE 2005 PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA GESTÃO DA ÁGUA CAPTADA DA CHUVA E ARMAZENADA EM CISTERNAS, NA REGIÃO DO MÉDIO SERTÃO PARAIBANO Ligia Maria de Medeiros Silva 1, José Dias Campos 1 e José Rego Neto 1 RESUMO: Este trabalho teve como objetivo levantar informações das mulheres agricultoras das comunidades rurais dos municípios de Teixeira, Maturéia e Cacimbas com relação a gestão da água das cisternas familiares. Para tanto, foram aplicados questionários com 73 mulheres agricultoras e 22 jovens (agricultoras na faixa etária de 14 a 24 anos), totalizando 95 pessoas entrevistadas, que estão envolvidas nas atividades realizadas pelo Centro de Educação Popular e Formação Sindical (CEPFS). Das entrevistadas 9,5% (10 pessoas) não possuem cisternas, no entanto, quatro pessoas já estão tratando da construção, três plantam em terras cedidas e duas não sabem se vão construir. Com relação aos cuidados com a qualidade da água, 100% das entrevistadas que possuem cisternas afirmam tratar água com hipoclorito de sódio. Com relação à utilização da água das cisternas, 98% utilizam a água da cisterna para beber e cozinhar, apenas duas pessoas tem usado a água das cisternas para outros serviços além, de beber e cozinhar. Todas as entrevistadas afirmaram que as cisternas contribuíram para melhorar, principalmente, a qualidade de vida das famílias e da comunidade. A conservação e as formas de uso da água têm forte relação com questões de gênero. Foi possível verificar com relação aos questionamentos resgatados que as mulheres e crianças têm sido as mais penalizadas com serviços pesados de transporte de água. 1. INTRODUÇÃO Nas regiões Semi-áridas o problema da água é, obviamente, mais relevante e antigo que em outras regiões. No entanto as experiências das organizações não governamentais e organizações de agricultores(as) vêm optando por uma estratégia que se dirige à busca de soluções diferenciadas para os diferentes tipos de demanda de água nas propriedades rurais. Algumas são soluções de manejo de recursos para economizar a água disponível, e outras são infra-estruturas baratas para captação e conservação de água para diferentes fins (Weid, 2002). 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 1

2 Armazenar água de chuva, entretanto, é uma aprendizagem cultural, é uma revolução de costumes que aponta para um novo comportamento em relação à natureza da população do semiárido brasileiro. Essa mudança foi possível através da luta pela captação de água de chuva por meio 1 CEPFS, Rua Felizardo Nunes de Souza, 07, CEP , Teixeira-PB, cepfs@uol.com.br dos telhados nos períodos chuvosos, estocando e gerenciando a água para períodos de estiagem. Uma das formas de captação de água é a cisterna familiar para abastecimento humano. Segundo Malbezzi(2001) a captação de água é uma questão de gênero. O trabalho de abastecer a família com água no sertão brasileiro, é tarefa da mulher. A construção de cisternas tem permitido discutir a questão de gênero no sertão nordestino de maneira muito real. Segundo a Articulação no Semi-árido Brasileiro (2000), as mulheres representam 40% da força de trabalho no campo e mais da metade começam a trabalhar com 10 anos de idade. No Sertão, são elas que são responsáveis pela água da casa e dos pequenos animais, ajudadas nessa tarefa pelos (as) jovens. Portanto, este trabalho teve como objetivo levantar informações das mulheres agricultoras das comunidades rurais dos municípios de Teixeira, Maturéia e Cacimbas com relação a forma de gestão da água, no âmbito familiar e comunitário. 2. METODOLOGIA Para atingir os objetivos propostos foram aplicados questionários com 73 mulheres agricultoras e 22 jovens (agricultoras na faixa etária de 14 a 24 anos), totalizando 95 pessoas entrevistadas, que estão envolvidas nas atividades promovidas pelo Centro de Educação Popular e Formação Sindical (CEPFS). Para tanto foram visitadas 25 comunidades rurais nos municípios de Teixeira, Maturéia e Cacimbas, localizados no sertão paraibano. O questionário dirigido as entrevistadas foi feito oralmente e tratava da identificação das mulheres agricultoras e jovens em termos de condições de vida e perguntas com relação a situação de gestão da água na família e na comunidade. Durante a aplicação do questionário, alguns comentários feitos no recinto, por outras pessoas presentes, foram resgatados. 3. RESULTADO O resultado da pesquisa mostrou que de uma maneira geral as condições de vida das famílias das entrevistadas podem ser considerada boa. Do total que responderam a pesquisa apenas 7,4% (8 2

3 pessoas) não possuem terras próprias, destas, três pessoas se denominam moradoras, três pessoas plantam em terras cedidas e duas apenas moram com parentes. Com relação à situação gestão da água entre as famílias das entrevistadas, verificou-se grande mudança na qualidade de vida, das entrevistadas. Apenas 9,5% (10 pessoas) não possuem cisternas, no entanto, quatro pessoas já estão tratando da construção, três plantam em terras cedidas, e, portanto, não moram na zona rural, apenas trabalha na roça durante o dia e no final da tarde retornam para a cidade e apenas três não sabem se vão construir. No que diz respeito aos cuidados com a qualidade da água, 100% das entrevistadas, que possuem cisternas, afirmam tratar a água com hipoclorito de sódio. Com relação à utilização da água das cisternas, 98% utilizam a água da cisterna para beber e cozinhar, apenas duas pessoas tem usado a água das cisternas para outros serviços além, de beber e cozinhar, o que mostra que existe entre as famílias das entrevistadas uma consciência já formada da importância da água de boa qualidade para a saúde da família. A importância hoje que estas famílias atribuem a ter em sua casa água de boa qualidade está associado à maneira como estão sendo conduzidas a construção das cisternas que vem sempre associada a cursos sobre gerenciamento de recursos hídricos, que tem como ponto forte de discussão, a importância do cuidado com o tratamento da água para a saúde da família e também sobre a gestão (uso racional). Nesse contexto, como a maioria dos participantes são mulheres, elas tem desempenhado um papel fundamental como difusoras desses conhecimentos junto à família. A questão da gestão adequada da água é extremante importante no semi-árido onde a escassez do líquido de boa qualidade faz com que o recurso seja altamente valorizado. O papel de ambos, homens e mulheres, nas questões relacionadas a gestão da água é igualmente importante, todavia as atividades desenvolvidas pelas mulheres são ignoradas. O papel das mulheres relacionados ao uso dos recursos hídricos incluem a participação na coleta, transporte e gestão da água. Também são elas as que utilizam a água em casa, diariamente. Uma vez que elas se identificam como domésticas, elas têm um entendimento vasto e íntimo com o uso da água e seu relacionamento com o meio ambiente. O papel de responsável pela saúde da família, na maioria das vezes, fica com a mulher, requerendo tratamento, sabedoria e cuidados especiais com água. Segundo as entrevistadas as cisternas têm proporcionado melhorias e transformações na vida das famílias e da comunidade. Das pessoas entrevistadas 100% afirmaram que melhorou principalmente a qualidade de vida. Sonda et all. (2001) fez um levantamento com o objetivo de analisar a vida das mulheres na Serra de Teixeira-PB, antes de depois das cisternas e verificaram 3

4 que as cisternas contribuíram decisivamente para a melhoria da qualidade de vida das famílias, sobretudo, mulheres e criança. Outras mulheres afirmaram ainda que a cisterna tem sido a responsável pela redução de doenças na família; tranqüilidade para as mulheres; depois das cisternas só veio coisas boas: saúde, menos trabalho e tranqüilidade; também, aumento da renda porque alguns maridos aprenderam a fazer as cisternas e agora tem trabalho; melhorou muito hoje só usam água de poço para a limpeza da casa. Durante as entrevistas foram resgatados alguns depoimentos relacionados a vida delas antes da aquisição das cisternas: A nossa vida era um verdadeiro inferno. A gente não dormia, tinha que ir pegar água a meia noite quando voltava o dia já estava claro e aí não dava mais para dormir já era hora de começar os trabalhos. Todos sofriam muito até as crianças traziam galão de água na cabeça, meu filho mesmo vivia se queixando de dor de cabeça e tudo isso para beber água com lama, porque do mês de outubro em diante a gente bebia lama. As cisternas são uma benção de Deus porque o nosso sofrimento só a gente que sentiu na pele pode imaginar, um dia eu ia de madrugada sofri uma queda fiquei toda arranhada, mas não podia voltar porque se eu fizesse isso a minha família ia passar sede. Agradecemos primeiro a Deus e depois ao CEPFS porque hoje agente vive como gente, tomando água limpa e boa, antes eu tinha até vergonha de oferecer água para uma visita. 3. CONCLUSÃO A conservação e as formas de uso da água têm forte relação com questões de gênero. Verificou-se com relação aos questionamentos resgatados que as mulheres e crianças têm sido as mais penalizadas com serviços pesados de transporte de água. A mulher tem desempenhado importante papel na questão dos recursos hídricos, pois ela é quem se preocupa com a obtenção da água, a forma racional de uso e os cuidados necessários para manter a água limpa, sendo portanto, uma educadora em potencial que poderá contribuir para as soluções de manejo adequado dos recursos hídricos para a economia da água disponível. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4

5 ASA- Articulação Semi-Árido Brasileiro.p (s.d). MALVEZZI, R. Fazer água. In: ÁGUA DE CHUVA: O SEGREDO DA CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO. Cáritas Brasileira/Comissão Pastoral da Terra-FIAN/Brasil. São Paulo: Paulinos. p SONDA, C.; BATISTA, K.M.; CAMPOS, J.D.; NETO, J.R.; SAMPAIO, O. B. A convivência da mulher com o Semi-Árido: a vida antes e depois das cisternas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO SEMI-ÁRIDO, CD-ROM. WEID, J.M.V. der. Recursos hídricos no semi-árido, um desafio para a sustentabilidade, p

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