RADIO 2011 Otimização da radioproteção em manutenções de celas de produção de radiofármacos

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Transcrição:

RADIO 2011 Otimização da radioproteção em manutenções de celas de produção de radiofármacos JÄssica S. Machado, Eduardo Gerulis, Alberto S. Todo e Orlando Rodrigues Jr. Instituto de Pesquisas EnergÄticas e Nucleares, IPEN- CNEN/SP Av. Professor Lineu Prestes 2242 Cidade UniversitÇria 05508-000 SÉo Paulo, SP jsmachado@ipen.br, egerulis@ipen.br, astodo@ipen.br e rodrijr@ipen.br Resumo. As produñöes de atividades grandes de 67 Ga e 201 Tl e outros radioisütopos no Instituto de Pesquisas EnergÄticas e Nucleares - IPEN séo realizadas individualmente em celas totalmente blindadas e vedadas com manipulañéo por meio de pinñas e garras. Para garantir a produñéo, Ä imprescindável que haja profissionais qualificados que realizem as tarefas de manutenñéo dos equipamentos e instrumentos instalados nas celas, sem os quais néo Ä possável conduzir o trabalho com seguranña e qualidade. O serviño de radioproteñéo Ä responsçvel por buscar e manter condiñöes radiolügicas satisfatürias nessas tarefas de manutenñéo. O objetivo deste trabalho Ä realizar um estudo de tarefas de manutenñéo realizadas em celas de produñéo para sugerir melhorias relacionadas às doses ocupacionais baseadas no princápio de otimizañéo de radioproteñéo. Foi realizado um levantamento de dados das doses recebidas pelos trabalhadores durante as manutenñöes. Os valores mädios de dose efetiva séo menores que os limites estabelecidos em norma, entretanto podem ser otimizados. 1 Introdução. 1.1 Celas e Manutenções As produñöes de atividades grandes de 67 Ga (GÇlio) e 201 Tl (TÇlio) e outros radioisütopos no Instituto de Pesquisas EnergÄticas e Nucleares - IPEN séo realizadas individualmente em celas totalmente blindadas e lacradas, dotadas de um sistema de exaustéo para evitar contaminañöes no ambiente de trabalho.[8,10] As celas séo posicionadas em blocos e foram projetadas para terem acessos em duas Çreas distintas paralelas, uma Ä o laboratürio de produñéo onde ficam os operadores que manipulam os radioisütopos por meio de um painel de controle e garras mecânicas (figura 1). A outra Ä a ala-quente, nela se encontram os acessos para manutenñöes em celas (figura 2). Essas Çreas foram classificadas pelo serviño de radioproteñéo como supervisionada e controlada, respectivamente. Com a consolidañéo e o crescimento do uso de radiofçrmacos as manutenñöes em celas de produñéo se tornaram significativas pelo risco de dose ocupacional, pois,

para garantir a produñéo, Ä imprescindável que hajam profissionais qualificados que realizem as tarefas de manutenñéo dos equipamentos e instrumentos instalados nas celas, sem os quais néo Ä possável conduzir o trabalho com seguranña e qualidade. [8] As manutenñöes séo classificadas como preventivas, corretivas e de urgäncia. As preventivas e as corretivas séo consideradas de rotina, pois hç procedimentos präestabelecidos para cada uma delas. As de urgäncia séo incomuns de ocorrerem, portanto os procedimentos séo efetuados de acordo com a circunstância. O trabalhador que faz as manutenñöes em celas de produñéo de radiofçrmacos realiza tarefas externamente e internamente às celas. Em tarefas realizadas externamente hç o risco de irradiañéo. Em tarefas realizadas internamente às celas, aläm do risco de irradiañéo, hç o risco de contaminañéo tanto externa (pela pele) quanto interna (por aspirañéo ou ingestéo), pois nestas celas hç radioisütopos em forma láquida e gasosa. Fig. 1 LaboratÜrio de operañéo de celas 67 Ga (GÇlio), 201 Tl (TÇlio) Janelas circulares, garras e painel de controle Fig. 2 ManutenÑÉo na Cela de 131 I (Iodo). [8]

1.2 Princípio da Otimização nas manutenções de cela de produção Os princípios de radioproteção aplicados às manutenções de celas orientam a elaboração de procedimentos para a realização desta atividade. Do mesmo modo que em qualquer outra atividade ocupacional com radiação ionizante devem trazer benefícios em relação aos possíveis detrimentos (princípio da justificação); as doses ocupacionais devem ser diminuídas tanto quanto razoavelmente exeqüíveis, considerando fatores econômicos e sociais (princípio da otimização) e os limites de dose determinados em regulamentos nacionais e internacionais devem ser obedecidos (princípio da limitação de dose). [1,3,4,5,6,7,8,9] O objetivo do serviço de radioproteção em relação aos trabalhadores é buscar e manter condições satisfatórias de trabalho sem limitar indevidamente o trabalho com radiação. As atividades realizadas pelo serviço de radioproteção na manutenção de celas são: controle de trabalhadores, controle de áreas, controle de fontes de radiação, controle do meio-ambiente, controle de equipamentos, treinamento de trabalhadores, registros de dados e preparação de relatórios. [1,3,4,5,6,7,8,9] 1.3 Objetivo O objetivo deste trabalho é realizar um estudo de tarefas de manutenções preventivas mais representativas realizadas em celas de produção de radiofármacos de 67 Ga (Gálio) e 201 Tl (Tálio) para sugerir melhorias relacionadas às doses ocupacionais baseadas no princípio de otimização de radioproteção e limites de doses anuais. 2 Metodologia. Esse estudo foi realizado por meio da avaliação de registros de doses ocupacionais do serviço de radioproteção do Centro de Radiofarmácia do IPEN, dos anos de 2009 e 2010 das manutenções preventivas na autoclave das celas de produção do 67 Ga e 201 Tl. As condições radiológicas foram analisadas considerando os seguintes parâmetros: monitoração do local de trabalho (controle de área), monitoração individual (controle de dose ocupacional), treinamentos (de dois em dois anos e em caso de mudança de procedimentos), controle de fontes, utilização de EPIs (equipamentos de proteção individual) (tabela 2), e registro de dados. [2,4] Os parâmetros acima estão relacionados a fatores diretamente ligados ao aumento da dose ocupacional. Os fatores são: trabalhador, tempo de manutenção, ocorrência de manutenção, celas e característica física dos radioisótopos produzidos.

2.1 Equipamentos Tabela 1. Os detectores de radiação utilizados durante as manutenções em celas de produção de radiofármacos foram os seguintes[8]: Detectores de Taxa de Exposição Medidor portátil de taxa de exposição modelo teletector Medidor portátil de taxa de exposição Detectores Contaminação externa Medidor portátil para contaminação modelo MIP-10 Medidor semi-portátil para contaminação Dosímetros Individuais Dosímetro termoluminescente Dosímetros digitais semicondutores Tabela 2. Equipamentos de proteção Individual (EPIs) Proteção Corpo Proteção Mãos Proteção Pés Proteção Cabeça Proteção Face Avental e calças Luvas (látex) Sapatilhas Touca Mácara meiaface e inteira Macacão- tyvek Luvas (látex) Botas Capuz- tyvek Óculos plumbífero 2.2 Manutenções Preventivas na Autoclave do Gálio e do Tálio Cada cela apresenta características específicas quanto às propriedades físicas e químicas do radioisótopo e a freqüência de produção. [9] O 67 Ga é um emissor betagama de média energia com meia-vida de 78 horas e o 201 Tl é um emissor gama de média e baixa energia com meia-vida de 73 horas, ambos são produzidos em forma líquida nas celas e não apresentam riscos de inalação. A produção desses radioisótopos é semanal. As manutenções preventivas da autoclave das celas de 67 Ga e 201 Tl são realizadas bimestralmente e trimestralmente, respectivamente. O objetivo dessa manutenção é prevenir a ocorrência de defeitos na autoclave das celas. Nessa manutenção são feitos reparos externamente à cela, no painel de controle, onde são verificados botões elétricos, terminais, resistências, cabos etc. E internamente à cela, na autoclave (Figura 3), onde são verificados câmara de esterilização, fechamento da porta de vedação, dobradiças, equipamentos pneumáticos. Durante as manutenções esses profissionais recebem instruções de radioproteção para sua maior segurança radiológica na ala-quente.

Autoclave aberta A Autoclave fechada B Fig. 3 Autoclave cela 67 Ga (Gálio) Antes do início da manutenção da autoclave das celas de 67 Ga e 201 Tl o serviço de radioproteção faz a monitoração da taxa de exposição em área controlada (local) e na cela (fonte) onde serão realizadas as tarefas, na distância onde o trabalhador permanecerá a maior parte do tempo durante a manutenção. Caso a taxa de exposição seja considerada aceitável, é determinado um tempo de trabalho adequado para todas as tarefas com a menor dose possível. A manutenção preventiva é agendada para dias em que a atividade do 67 Ga e 201 Tl seja a mais baixa possível. Além disso, as celas são previamente preparadas visando diminuição da dose, de modo que todo o rejeito gerado na produção seja retirado do interior das mesmas. 3 Resultados e Discussão 3.1 Doses Ocupacionais Foi efetuado um levantamento de doses ocupacionais das manutenções preventivas nas autoclaves das celas de 67 Ga e 201 Tl, utilizando os registros do serviço de radioproteção do Centro de Radiofarmácia do IPEN, dos anos de 2009 e 2010 (tabelas 3 e 4), para avaliação das mesmas baseando-se nos limites de doses ocupacionais anuais recomendados pela ICRP (International Commission on Radiological Protecction) que é de 20 msv por ano e relacionar os fatores aos resultados.

Tabela 3 - Registro de doses ocupacionais: Manutenção Preventiva na Autoclave das Celas de 67 Ga (Gálio) e 201 Tl (Tálio) no ano de 2009. Manutenção Cela Trabalhador Tempo total Dose Mês Manutenção(h) ( Sv) 67 Ga T1 3,5 Abril 201 Tl T2 2 Maio 67 Ga T3 1 30 Julho 201 Tl T4 8 Agosto 67 Ga T5 2 20 Agosto Preventiva T2 20 67 Ga T6 1 40 Outubro 201 Tl T7 T8 T2 3,5 Novembro 67 Ga T6 0,5 Dezembro Observa-se na tabela 3 que no ano de 2009 ocorreram oito manutenções sendo cinco na cela do 67 Ga e três na cela do 201 Tl. O tempo total das manutenções foi de oito horas na cela de gálio e 13,5 na cela de tálio. Durante este ano oito trabalhadores no total efetuaram manutenções na autoclave. Os trabalhadores T2 e T6 foram os que mais realizaram manutenções. O trabalhador T2 fez uma manutenção na cela de 67 Ga e duas na cela de 201 Tl. O trabalhador T6 fez duas manutenções na cela de 67 Ga. Apesar das manutenções da cela de 201 Tl terem o maior tempo total, o número de ocorrência é menor. Isso porque o volume de produção de 201 Tl foi menor que o de 67 Ga, em conseqüência disso aumentou necessidade de manutenções. As doses na cela de 67 Ga foram maiores que a de 201 Tl. O principal motivo está relacionado à energia da radiação emitida, mais alta e meia-vida relativamente longa do 67 Ga e a atividade dentro da cela no momento da manutenção.

Tabela 4 - Registro de doses ocupacionais: Manutenção Preventiva na Autoclave das Celas de 67 Ga (Gálio) e 201 Tl (Tálio) no ano de 2010. Manutneção Cela Trabalhador Tempo total Dose Mês Manutenção(h) ( Sv) 67 Ga T9 2 20 Fevereiro T2 67 Ga T7 5 Maio T10 201 Tl T7 2 Maio T10 T9 2 7 67 Ga T7 6 10 Junho Preventiva T11 10 67 Ga T12 0,5 Julho 201 Tl T7 6 Julho Agosto 201 Tl T7 T5 T2 1/4 67 Ga T4 6 Agosto T13 67 Ga T7 3 90 Agosto T13 6 140 67 Ga T7 1 Novembro T14 67 Ga T15 1 10 Dezembro 67 Ga T4 4 40 Dezembro T13 1 10 Observa-se na tabela 4 que no ano de 2010 foram efetuadas doze manutenções, sendo nove na cela de 67 Ga e três na cela de 201 Tl. O tempo total das manutenções foram de 35,5 horas na cela de 67 Ga e 17,5 horas na cela de 201 Tl. Os trabalhadores que mais realizaram manutenções foram o T7 com quatro na cela de 67 Ga e três na cela de 201 Tl e o T13 com três manutenções na cela de 67 Ga. O número de trabalhadores que executaram as tarefas também aumentou, foram doze. Neste ano a freqüência de manutenções na cela de 67 Ga aumentou consideravelmente, nove no total, comparando ao ano de 2009 foi quase o dobro. Isso porque com o tempo e o desgaste das peças internas à cela há o aumento da necessidade de se fazer cada vez mais manutenções. Além disso, o volume da produção de 67 Ga em 2010 foi bem maior o que é diretamente relacionado a freqüência de manutenções. O resultado da combinação desses fatores é o aumento da dose ocupacional que em 2010 comparadas a 2009 (figura 4) foram maiores. A dose máxima em 2009 foi de 50 Sv em 2010 foi de 159 Sv. Há também outros dois fatores determinantes associados, o tempo da manutenção (considerando a cela de 67 Ga) as doses mais altas foram em manutenções com mais tempo de duração. O outro fator são os resíduos que ficam na cela após a produção que aumentam a taxa de exposição e atividade no interior da

cela. Em agosto de 2010 os trabalhadores T7 e T13 receberam doses atípicas dessa manutenção por causa desse fator. Dose em Sv 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Manutenções Preventivas nas celas de 67 Ga e 201 Tl T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13 T14 T15 Trabalhadores 2009 2010 Fig. 4 Doses anuais das manutenções preventivas na autoclave das celas de 67 Ga (Gálio) e 201 Tl (Tálio) em 2009 e 2010. 4 Conclusão. As manutenções feitas nas autoclaves das celas de 67 Ga e 201 Tl são imprescindíveis para que a produção desses radiofármacos seja segura e atenda as exigências da garantia de qualidade, além de evitar manutenções corretivas e de urgência. Apesar das doses nessa prática estarem abaixo do limite de dose ocupacional anual, o tempo das tarefas é grande e a freqüência de manutenções em um ano é considerável. Como já é sabido, a dose é proporcional ao tempo de exposição, portanto mesmo em doses baixas a exposição deve ter o menor tempo possível, para diminuir o risco de efeitos biológicos estocásticos, considerando também que os mesmos trabalhadores podem executar outras atividades com radiação ionizante.

Referências 1. COMISSçO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Diretrizes BÇsicas de RadioproteÑÉo (CNEN NN 3,01). SÉo Paulo, 2005. 2. IAEA INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Practical Radiation Technical Manual Personal Monitoring. Vienna, 1995. (IAEA-PRTM-2) 3. IAEA INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. International basic Safety Standards for Protection Against Ionizing Radiation and for Safety or Radiation Sources. Vienna,1996. (Safety Series, 115). 4. IAEA INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Optimization of Radiation Protection in the Control of Occupational Exposure. Vienna, 2002. 66 p. (Safety Series, 21). 5. IAEA INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Radiation, People and Enviroment. Vienna, 2004, 81p. 6. INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. ICRP, Oxford, 1991. (ICRP Publication 60). 7. INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. Principles for the Radiation Protection of Workers. ICRP, Oxford, 1997. (ICRP Publication 75). 8. GERULIS, E. Controle da dose de RadiaÑÉo Ionizante para trabalhadores em uma instalañéo radiativa com fontes néo seladas. 2006. DissertaÑÉo (Mestrado) - Instituto de Pesquisas EnergÄticas e Nucleares - IPEN/CNEN. SÉo Paulo. 98p. 9. TAUHATA, L; SALATI, I.P.A; PRINZIO, R. D; PRINZIO, A. R. D.: RadioproteÑÉo e Dosimetria: Fundamentos. Instituto de RadioproteÑÉo e Dosimetria - IRD/CNEN. Rio de Janeiro, 2002. 238p. 10. Araujo, Elaine B. de et al. Garantia da qualidade aplicada a produñéo de radiofçrmacos. Revista Brasileira de Ciäncias Farmacäuticas,, V. 44, n.n. 1, p. 1-12, 2008.