Dia Internacional de Luta da Mulher! Uni-vos contra a violência machista!

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Transcrição:

Filiado à: BOLETIM CEA Ano XVII Nº 550 8 de março de 2014 Dia Internacional de Luta da Mulher! Uni-vos contra a violência machista! A luta contra as opressões e suas consequências, especialmente o machismo, é o tema deste nosso Boletim Especial do Dia Internacional de Luta da Mulher. Edição que dedicamos à todas as vítimas da violência machista, que mata cerca de 15 mulheres por dia só no Brasíl. Mulheres índias, negras, brancas, amarelas, trans, lésbicas, idosas, jovens e crianças: todas sofrem com o machismo que devemos combater em todos os espaços e momentos. Refletiremos nas próximas páginas sobre as estatísticas preocupantes do Brasil e do mundo, geradas pela ideologia atrasada e assassina que se esconde no machismo. Para além da data, tratada pela mídia tradicional e comércio como uma confraternização e não um dia de lutas, reafirmamos que nosso combate ao machismo, ao racismo e à homofobia é todo dia: só com a extinção de todas as formas de opressão e preconceito poderemos viver numa sociedade livre e emancipada! destaques Servidoras públicas Maria da Penha Organização As dificuldades que as mulheres enfrentam no serviço público: demandas, reivindicações e bandeiras Após feminicídio e impunidade, legislação avançou, mas ainda precisa ser aplicada CSP-Conlutas e Movimento Mulheres em Luta organizam trabalhadoras contra o machismo PÁG. 3 PÁG. 5 PÁG. 6

2 editorial Um mundo sem machismo é necessário: a opressão de gênero é um impeditivo à emancipação humana Após uma nova volta ao redor do sol, chegamos a mais um 8 de março, Dia Internacional da M u l h e r. M a s e s s a d a t a comemorativa, segregada da luta, não faz sentido. É comum a s s i s t i r m o s a c o r t e j o s d e cavalheiros, promoções em redes comerciais e propagandas meigas, instruindo a ideia majoritária de que o sexo frágil seria digno de uma atenção especial nesta data, como um convite para jantar num local diferente do comum... e depois, nos dias seguintes, o machismo nosso de cada dia retorna sem maiores remorsos! Precisamos de mais do que um Dia I n t e r n a c i o n a l d a M u l h e r : precisamos e construiremos o Dia Internacional de Luta da Mulher, onde lembraremos que a mulher deve estar em condição de igualdade ao homem, jamais de submissão. E que essa igualdade é, nos dias de hoje, desrespeitada cotidianamente por um machismo que se evidencia através de agressões físicas, psicológicas, desigualdades econômicas etc. É preciso atacar mais que o machismo, mas também sua naturalização. É preciso lutar por direitos legítimos da mulher, como o de proteção legal, direito ao aborto etc. Para lembrarmos dessas demandas existe essa data, e para lutarmos por elas existem todas as outras. O amadureceu nos últimos anos o debate sobre direitos da mulher e opressão de gênero em suas bases e possui um GT específico para tratar do tema. Neste Boletim especial traremos matérias referentes aos temas, pautando lutas que já nos são CSP-Conlutas Arquivo Enquanto houver opressão, existirá luta: Viva ao Dia Internacional de Luta da Mulher! cotidianas, mas que devem ser que Clara Zetkin e as mulheres sempre alçadas à ordem do dia, socialistas na Alemanha marcaram a data do Dia de Luta da c o m o a n e c e s s i d a d e d e organização, aplicabilidade da Lei Mulher para 8 de março, data que Maria da Penha no combate à hoje é reconhecida oficialmente violência machista, participação como Internacional. da mulher nas entidades de classe O tempo avançou, conquistamos etc. alguma coisa, mas ainda há muito T e m o s h o j e, a l é m d o D i a pelo que lutar. Queremos um Internacional de Luta da Mulher, mundo onde companheiras como datas que fazem remissões às Sandra Fernandes não tenham a lutas e aos direitos dos oprimidos. vida retirada pelo machismo. Um Homens e mulheres E todas essas datas mundo onde Eli- foram, como sabete Gomes, es- tudo que possuímos, precisam lutar juntos posa do trabalha- conquistas dor Amarildo, as- contra a opressão de da classe trabalhadora. sassinado pela gênero. O polícia, não tensassinado No caso do 8 de ham o mundo sobre as costas ao defende um mundo sem março, a data é e m a l g u m a s machismo, onde todos perderem seus ocasiões ligada de c o m p a n h e i r o s. maneira equívoca sejam livres! Um mundo onde à greve das tecelãs americanas de 1857, em Nova York. A data, em verdade, surgiu a partir da luta socialista, que deu origem às bandeiras e ideais de libertação da mulher. No início do século XX, com a organização de partidos socialistas, surgiam as organizações de mulheres socialistas, que lutavam inicialmente pelo direito ao voto. Foi em 1914, pela primeira vez, crimes como o cometido contra a biofarmacêutica Maria da Penha não fiquem impunes. E um mundo com esses contornos só será possível onde não exista a exploração de um ser humano por outro e nem a hierarquização de um gênero sobre outro. Façamos esse mundo juntos, homens e mulheres, lutando pelo socialismo e contra o machismo!

3 agenda A mulher no Serviço Público Federal: reivindicações, demandas e bandeiras As dificuldades enfrentadas pelas mulheres da rede federal e do serviço público em geral não são diferentes daquelas do conjunto das mulheres trabalhadoras. Problemas como a violência machista no ambiente de trabalho e os assédios moral e sexual, a falta de creches e escolas integrais (e um auxílio creche quase insignificante) e as triplas jornadas são apenas alguns exemplos. Mesmo tendo o mais alto cargo público do país ocupado por uma mulher, e alguns ministérios estratégicos também, a dura realidade das mulheres trabalhadoras não teve melhorias nos últimos anos. Um exemplo claro da falta de interesse foi a manutenção d o s b a i x o s i n v e s t i m e n t o s e m educação, saúde, transporte, moradia e combate à violência. Olhando essa realidade cai por terra a chamada tese do empoderamento, que prega a idéia de que ao ocuparem espaços de poder as mulheres alcançam a igualdade de gênero, portanto, os objetivos de suas lutas. Continua faltando creche Como trabalhadores da educação sentimos os duros ataques e cortes orçamentários que esse importante setor sofreu no último período. De 2011 pra cá tivemos mais de 100 milhões de reais retirados do nosso orçamento. Reflexo sentido em nossas escolas e também nas escolas e creches em que estudam nossos filhos. A presidente Dilma fez um compromisso eleitoral de construir 6.427 creches até 2014. Mesmo parecendo um número alto, é completamente insuficiente perante a necessidade real, que seria em torno de 70 mil novas unidades com capacidade para 120 alunos cada, a um custo de R$ Mesmo com uma Presidenta no poder, não existe sensibilidade do 740 mil, totalizando R$ 51,8 bi. governo para melhorar a realidade ainda ruim enfrentada pelas servidoras Mais uma promessa eleitoral não vai ser cumprida, deixando as trabalhadoras mais uma vez sem esse recurso essencial. Dos R$ 2 bilhões que foram previstos para repassar aos municípios e concretizar a promessa, apenas R$ 383 milhões foram repassados. No início de 2011, 39 creches foram entregues simbolicamente, e nenhuma estava pronta para começar a matricular as crianças. Carreira e movimento sindical Sem ter a assistência adequada para os filhos, as mulheres são praticamente impedidas de dedicar seu escasso tempo ao desenvolvimento na carreira, que, no nosso caso necessita, há anos, de uma reestruturação. Até mesmo a participação feminina nos espaços sindicais é prejudicada, não apenas pela falta de creches, mas também pelo machismo, tanto em casa quanto nos sindicatos. R e f l e t i r s o b r e p o s t u r a s e comportamentos machistas no ambiente sindical e combater essas práticas é uma demanda urgente em nossas fileiras. Lembremos do que nos colocou Fourier (1772-1837), que a mudança de uma época histórica sempre se deixa determinar em função do progresso das mulheres em relação à liberdade, porque é aqui, na relação da mulher com o homem (...) que aparece de maneira mais evidente a vitória da natureza humana sobre a brutalidade. O grau de emancipação da mulher é a medida natural do grau d e e m a n c i p a ç ã o g e r a l. E, finalizando, ninguém fica mais profundamente punido do que o homem quando a mulher é mantida na escravidão. 12 a 26 de março Assembleias das Seções Sindicais para construção da greve em todos os estados 13 de março Reunião da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas em São Paulo-SP 19 de março Dia Nacional de Lutas, com paralisação nacional em todos os estados Marcha dos SPF em Brasília-DF 21 e 23 de março Reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas em São Paulo-SP 22 de março Encontro do Espaço Unidade de Ação em São Paulo-SP 23 de março 1º Encontro Nacional de Negras e Negros da CSP-Conlutas em São Paulo-SP 25 de março Reunião do Conselho Permanente para o Reconhecimento de Saberes e Competências em Brasília-DF Abril Indicativo de greve 28º CON Até 7 de março Compra das passagens dos delegados pelo. 17 de março Pagamento do rateio solidário 27 a 30 de março Realização do Congresso Eleitoral em Brasília/DF

4 violência Barbárie brasileira: violência contra a mulher ainda não é combatida com o rigor necessário pelo Estado Uma reflexão profunda sobre a violência sofrida pelas mulheres se faz necessária quando analisamos os n ú m e r o s e a s e s t a t í s t i c a s relacionados a esse problema. Dados divulgados pela Anistia Internacional no último dia 6 ( www.goo.gl/57trhc) comprovam a dimensão que os ataques às mulheres assumem. O Brasil, infelizmente, também tem um peso grande nessas estatísticas. Os feminicídios (assassinato de m u l h e r e s p e l o f a t o d e s e r e m mulheres) chegaram, nos últimos trinta anos, a 92 mil mulheres, sendo 43 mil delas só na última década. Quando tratamos da violência machista de modo geral, os números são assustadores e, ainda assim não expressam bem a real i d a - 142 milhões de meninas estão propensas a casar ainda crianças entre a g r a v a n t e p a r a o h o m i c í d i o, caracterizado na forma extrema de violência de gênero que resulta na morte da mulher em três situações: quando há relação íntima de afeto ou parentesco entre a vítima e o agressor; quando há prática de qualquer violência sexual contra a vítima e em casos de mutilação ou desfiguração d a m u l h e r. N o e n t a n t o a s recomendações feitas pela comissão ainda não pareceram surtir efeitos práticos nas diferentes esferas governamentais. acesso a métodos contraceptivos, mesmo que 2011 e 2020 queiram evitar 14 milhões 150 milhões de meninas com A relação sexual entre a gravidez de adolescentes dão a luz todos os anos, idade inferior a 18 anos pessoas do mesmo sexo principalmente como já foram agredidas sexualmente é ilegal em pelo menos 76 países, dos quais 36 resultado de sexo forçado e gravidez estão na África indesejada d e, a f i n a l m u i t a s m u l h e r e s n ã o denunciam, em alguns casos até não compreendem, que sofreram uma violência. Esses e outros dados estão disponíveis no relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência Contra Mulher ( www.goo.gl/uhjdc), que finalizou seus trabalhos em junho 2013. Além de elaborar o relatório a comissão fez 68 recomendações ao Executivo, Judiciário, Legislativo e aos governos estaduais e municipais. P r o p ô s a i n d a a i n c l u s ã o d o feminicídio no Código Penal como um I Naturalização NUMEROS A relação entre os atos de violência e a cultura machista predominante em n o s s o p a í s é r e p e t i d a m e n t e negligenciada. Percebemos uma constante naturalização da violência machista, encarada muitas vezes como algo normal ou pouco ofensivo, refletindo as relações de dominação do sistema capitalista e patriarcal. U m e x e m p l o d e s s a p r á t i c a é encontrado no ditado Em briga de marido e mulher não se mete a colher, uma percepção completamente 215 milhões de equivocada do quanto são preocupantes os problemas enfrentados pelas mulheres dentro de suas próprias casas. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Em contraste, essa proporção é próxima a 6% entre os homens assassinados. Ou seja, a proporção de mulheres assassinadas por parceiro é 6,6 vezes maior do que a proporção de homens assassinados por parceira ( www.goo.gl/b0xezx). mulheres não têm A violência machista não pode ser vista como um problema de uma ou de outra mulher, e- la é um problema social. Comportamentos opressores devem ser c o m b a t i - d o s, desde piadas que inferiorizam a mulher, até os ataques machistas mais violentos. E não naturalizados e banalizados como insistem em fazer, especialmente na mídia burguesa. A naturalização da violência contra a mulher, em seus diversos níveis, é tão fortalecida em nosso país que apenas em 2006 passou a ser encarada como um crime e teve punição prevista em lei. Foi quando surgiu a Lei Maria da Penha (leia mais na página 5), fruto do empenho e das lutas das mulheres brasileiras.

5 legislação Lei Maria da Penha: o passo inicial de um Estado que ainda engatinha na proteção às mulheres A aprovação, em 2006, da Lei Maria da Penha/11.340 (confira a íntegra: www.goo.gl/mzfni), foi o resultado, um tanto quanto tardio, da luta pela criminalização da violência contra a mulher e também de uma sanção internacional imposta ao Brasil por causa da omissão e negligência diante do problema. Histórico Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, e foi casada com o professor universitário Marco Antonio Herredia Viveros. Em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de assassinato, quando levou um tiro nas costas enquanto dormia. Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Viveros empurrou Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocuta-la no chuveiro. Apesar da investigação ter começado em junho do mesmo ano, a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento só aconteceu oito anos após os crimes. Em 1991, os advogados de Viveros conseguiram anular o julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado a dez anos de reclusão mas conseguiu recorrer. Mesmo após 15 anos de luta e pressões internacionais, a justiça brasileira ainda não havia dado decisão ao caso, nem justificativa para a demora. Com a ajuda de ONGs, Maria da Penha conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. Viveiro só foi preso em 2002, para cumprir apenas dois anos de prisão. O processo da OEA também condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica. Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada uma legislação adequada a esse tipo de violência. E esta foi a sementinha para a criação da lei. Um conjunto de entidades então reuniu-se para definir um anteprojeto de lei tipificando formas de violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelecendo mecanismos para prevenir e reduzir este tipo de violência, como também prestar assistência às vítimas. precariedade material desse equipamento de segurança pública. A ausência de servidores também é responsável pela quase total inexistência de plantões 24h e nos finais de semanas (quando ocorrem 36% dos casos), na maior parte das DEAMs. O problema da falta de capacitação, e até mesmo de compreensão, dos profissionais que atuam nesses espaços também tem reflexos negativos no enfrentamento à violência. A Lei Maria da Penha foi o primeiro passo no combate à violência contra a mulher, agora é necessário avançar com sua aplicação e políticas públicas Algum tempo depois... Apesar de representar, à época de sua criação, um grande avanço na luta contra a violência machista, a Lei Maria da Penha, passados mais de sete anos de vigência, ainda não alcançou resultados significativos. Não há dúvidas de que a criminalização foi importante, mas a falta de investimentos prejudica a aplicação dos dispositivos da legislação, impedindo assim a proteção efetiva às mulheres. Delegacias da Mulher Para ilustrar o quanto a aplicação de recursos é ínfima, podemos comparar a quantidade de delegacias especializadas no atendimento à mulher 374, ao número de municípios brasileiros: 5.570. É bastante nítida a insuficiência desse recurso essencial para assegurar a estrutura mínima de atendimento às mulheres. Há muito ainda para avançar. Além da quantidade reduzida de delegacias, a realidade daquelas que já existem é preocupante, além do quadro de servidores insuficiente para a demanda de registros policiais, a estrutura física das delegacias, na maioria dos estados, revela a Juizados Especiais De acordo com os dados da CPMI da Violência Contra Mulher, existem 61 juizados de violência doméstica no país, e 27 varas especializadas. A maioria dos Juizados está concentrada nas capitais, não tem equipe multidisciplinar adequada e completa, os cartórios não possuem servidores em numero suficiente e há excesso de processos em tramitação nas Varas e Juizados. Alguns juizados têm muito mais processos que as Varas Criminais Comuns, fato observado nos Juizados Especializados de Porto Alegre, Belo Horizonte, Campo Grande, Rio de Janeiro e Paraná. Investimentos O investimento do governo federal nas políticas e ações para o combate da violência contra mulher é vergonhoso. Dados de 2012 indicam uma destinação total inferior a 30 milhões de reais*. Numa comparação simples, o gasto para a construção do estádio Mané Garrinha, em Brasília, 1,8 bilhão de reais, supera 60 vezes a cifra. É o governo Dilma privilegiando os grandes eventos esportivos e a burguesia, em detrimento dos interesses das mulheres trabalhadoras brasileiras.

6 MML CSP-Conlutas e Movimento Mulheres em Luta: a organização recente das mulheres trabalhadoras necessidade de participação dos movimentos de luta contra a opressão e do movimento estudantil. Neste momento, o MML participou ativamente do fórum e pautou a demanda de que a nova central sindical incorporasse os movimentos de luta contra a opressão e estudantis. A estrutura de organização da nossa Central Sindical, a CSP-Conlutas, descentraliza sua política em setoriais de trabalho, e dentro dessa dinâmica um dos setoriais mais importantes é o de mulheres. Foi em torno desse setorial que as trabalhadoras retomaram uma necessidade de vários anos: debater questões relacionadas à opressão de gênero e as lutas a serem travadas para extirpar a desigualdade existente entre homens e mulheres, tanto do ponto de vista dos direitos quanto econômico. O setorial começou a desenvolver-se e coordenar atividades de massa, tanto que em 2008 foi organizado o 1º Encontro Nacional de Mulheres da antiga Conlutas, que contou com a participação de aproximadamente 1000 pessoas e deu início à publicização das lutas do setorial. Dois anos depois, em Santos-SP, o 2º Encontro de Mulheres da Central foi realizado, contando novamente com 1000 participantes e consolidando o processo de lutas iniciado no setor. Nesse mesmo ano aconteceria o Conclat, que refundaria a Conlutas como CSP-Conlutas. O Movimento Mulheres em Luta (MML) iniciou sua participação de maneira mais coesa nesse ano e deu um salto em sua organização com a eleição de uma Executiva Nacional para organizar e implementar as deliberações de seus encontros e para avançar na organização das mulheres trabalhadoras. Durante os debates do Conclat aconteceram grandes debates sobre a Em 2012, após dois encontros da Conlutas, foi a vez da nova central, a CSP, organizar o seu 1º Encontro de Mulheres, que contou com cerca de 500 pessoas e elegeu sete delegadas para o 1º Congresso da Central. Neste Encontro, o MML foi protagonista, assumindo a responsabilidade de organizar o trabalho de mulheres da CSP-Conlutas, uma vez que se trata do principal movimento de mulheres do setorial. E todo esse acúmulo de seis anos de movimento, com três encontros setoriais e dois congressos de trabalhadores, consolidou a atuação do setorial e do próprio MML, possibilizando que em outubro do ano passado o Movimento conseguisse realizar o seu próprio Encontro Nacional, que superou todas as expectativas e reuniu mais de 2,3 mil trabalhadoras em Sarzedo-MG. O 1º Encontro do MML foi um marco não só por sua diversidade de debates sobre opressão de gênero, violência contra a mulher e combate ao machismo, mas também por ter sido o maior evento classista de mulheres dos últimos 20 anos, mostrando que as mulheres estão dispostas, mobilizadas e no lugar onde deveriam estar: na luta por sua emancipação. A dimensão do evento foi tamanha que contou a participação de diversas entidades classistas, entre elas o, que esteve representado no Encontro por Eugenia Martins e Silvana Pedrozo, Coordenadoras do GT Identidade de Gênero e Orientação Sexual, Raça, Etnia e Trabalho Infantil do nosso Sindicato; e representantes dos GT locais da nossa base. O MML busca hoje organizar-se local- mente, com regionais por estados. Em Brasília-DF, mais uma vez contando com a participação do, o Movimento realizou ato simbólico no dia 25 de novembro (Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher), denunciando a violência a qual as mulheres são cotidianamente submetidas e que tende a se naturalizar. Neste dia 8 de março, o Movimento pauta o Dia Internacional de Luta da Mulher como uma data de enfrentamento contra o machismo; as agressões físicas e morais; a falta de liberdades individuais; a desigualdade econômica; e a necessidade de organização feminista para o travamento de lutas que visem o fim dessa violência. expediente Este boletim é uma publicação do NACIONAL Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica CNPJ: 03.658.820/0001-63 Responsáveis por esta publicação Eulálio Costa Flávia Carvalho Silvio Rotter Jornalistas Mário Júnior MTb-AL 1374 Monalisa Resende MTb-DF 8938 Sede e redação SCS, Qd 02, Bl C, Sls 109/110, Edifício Serra Dourada. CEP: 70300-902 Brasília-DF Fone/Fax (61) 2192-4050 (61) 2192-4095 e-mails dn@sinasefe.org.br imprensa@sinasefe.org.br