Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil



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1 Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil Rosanne Teixeira de Araújo rosannearaujo@ig.com.br Master em Arquitetura Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Manaus, AM, 11/03/2012 Resumo Na atual realidade em que vivemos, uma das maiores preocupações da humanidade é o futuro do nosso planeta. Grande parte dessa preocupação origina-se do desmatamento indiscriminado das florestas brasileiras, das queimadas em extensas áreas verdes e da exploração ilegal de madeiras de lei. Este artigo visa mostrar a opinião dos profissionais e indústrias de madeira para construção sobre a origem da matéria-prima e a sustentabilidade. Foram questionados arquitetos, engenheiros e industriários do setor, de várias regiões do país e suas respostas foram avaliadas e agrupadas por conteúdo. Constatou-se a necessidade do controle desde o manejo até o produto final e que a busca por novas alternativas e tecnologias deve ser contínua, de forma a minimizar os impactos ambientais e suprir as características de resistência, requinte e nobreza que a madeira proporciona. Palavras-chave: Madeira. Sustentabilidade. Construção civil. 1. Introdução Muito se tem falado sobre sustentabilidade nos dias de hoje, porém, pouco se conhece ou se põe em prática esse conceito. A sustentabilidade nada mais é do que a utilização racional de recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, sem que esse recurso comprometa as futuras gerações. Na vida moderna, todos os setores da economia dependem de um fluxo constante de materiais, em um ciclo que começa na extração de matérias-primas naturais, e segue em sucessivas etapas de transformações industriais, transporte, montagem, manutenção e desmontagem final. (AGOPYAN E JOHN, 2011, p.74). A madeira é um produto presente em quase todas as etapas das obras de construção civil. Seja em fôrmas, estruturas, escoramentos, esquadrias, pisos, forros, revestimentos até a mobília final, o uso da madeira ainda é indispensável para muitos arquitetos e engenheiros, por ser um diferencial de beleza e sofisticação. A questão é: como aliar o uso da madeira com a sustentabilidade? Na tentativa de poupar o corte de árvores, buscam-se alternativas que muitas vezes são mais prejudiciais ao meio-ambiente. Optar pelo uso de alumínio, plástico ou outros derivados do petróleo, por exemplo, é um grande engano, pois estes produtos não são renováveis e nem biodegradáveis.

2 A devastação das florestas traz não só a perda da biodiversidade e outros danos à fauna e à flora, mas reduz as áreas do planeta com grande potencial para contribuir com o combate ao aquecimento global. Uma das formas de devastação da floresta é a extração de madeira ilegal. Estima-se, através de imagens de satélite, que para cada hectare de madeira extraída segundo um plano de manejo sustentável, outros 100 são desmatados ilegalmente. Além da questão do aquecimento global é importante garantir que na sua cadeia produtiva a madeira seja extraída de forma sustentável, com respeito aos direitos dos trabalhadores e a identidade das comunidades. Em outras palavras, existe a responsabilidade de garantir que a madeira exista sempre, que a riqueza que ela produz não empobreça as comunidades de onde ela é extraída e que haja sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. Na região norte do Brasil, ainda é muito comum a utilização de madeira de lei, proveniente de árvores centenárias da floresta. Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA indicam que entre 43% e 80% da produção madeireira da região amazônica seja ilegal, advinda de áreas desmatadas ou exploradas de forma predatória, sem o manejo adequado das áreas nativas. Isso faz com que a produção de madeira no estado tenha um perfil bastante semelhante ao dos demais estados da região: é oriunda, principalmente, do desmatamento e do corte seletivo não sustentável, e desconhece-se quanto dela é produzido legalmente. (MENEZES, 2005, p.11) Ao se optar pela escolha de um produto, deve-se levar em conta várias características que comprovam seu respeito ao meio-ambiente: disponibilidade da matéria-prima, impacto ambiental na extração, transporte, utilização e demolição, eficiência na energia embutida, durabilidade, manutenção, reutilização, reciclabilidade e os aspectos humanos. LEE (1998), analisando o trabalho de Severiano Mário Porto, observa que o arquiteto desenvolvendo um comportamento coerente com suas obras, teve a preocupação em aproveitar a potencialidade da região, considerando as técnicas contemporâneas para buscar alternativas tecnológicas mais adaptadas ecológica e socialmente à realidade regional. Enfim, a sustentabilidade é a forma de promover uma busca de maior igualdade social, valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um menor impacto ambiental, nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando à distribuição equitativa da matéria-prima, garantindo a competitividade do homem e das cidades. 2. A madeira na construção civil A madeira é um recurso insubstituível. Desde os primórdios da civilização ela sempre desempenhou papel decisivo em todos os aspectos da vida. Através da construção de casas, silos, estradas, pontes, teatros, templos e barragens, a humanidade desde a antiguidade vem moldando a natureza de forma a desenvolver sua capacidade em edificar.

3 As características únicas de beleza, charme, conforto térmico e acústico, fácil manuseio e usinagem, leveza, fonte renovável, grande resistência mecânica, estabilidade e durabilidade que só a madeira proporciona, fazem desde recurso uma opção indispensável em qualquer projeto. A tradição em arquitetura pode ser descrita como um conjunto de precedentes conhecidos e de uso consagrado, parcialmente repetidos, parcialmente modificados, dos quais o arquiteto se utiliza quando projeta um edifício. (...) que torna possível a quem projeta ir direto às prioridades, poupando-lhe o trabalho de reinventar o que já foi inventado. (STROETER, 1986, p.109) Várias civilizações fizeram da madeira uma referência de sua história. Temos como exemplo a arquitetura japonesa, com seus tradicionais pagodes e templos que fazem amplo uso desse recurso. O templo budista Horyu-ji construído no ano 607 é considerado a construção de madeira mais antiga do mundo. Figura 1 Templo Horyu-ji construído em 607 - Japão Fonte: Wikipédia A arquitetura dos países europeus também apresenta um vasto repertório. Fazia-se uso da arquitetura vernacular, com madeira extraída dos vastos bosques da região. Tinham por característica uma estrutura maciça e robusta, sem transparências, com a junção de troncos empilhados.

4 Figura 2 Igreja da Dormição de 1674 - Rússia Fonte: BDM Nos Estados Unidos é quase unânime o uso do wood frame em residências. Trata-se de um método construtivo industrializado que utiliza perfis de madeira reflorestada em sua estrutura e destaca-se pela rapidez na sua execução. Figura 3 Sistema wood frame Estados Unidos Fonte: Wikipédia No Brasil, os primeiros relatos de construções em madeira referem-se às malocas indígenas. A arquitetura evoluiu para o uso predominante do concreto e aço e com isso criou-se a cultura do preconceito com as casas de madeira, remetendo à populações de baixa renda, sendo bem comum o seu uso em favelas da região sudeste, nos sertões do nordeste ou em casas ribeirinhas no norte do país.

5 Figura 4 Moradias ribeirinhas da região amazônica Brasil Fonte: Gilberto Costa - Panoramio 3. Certificadoras A grande necessidade do uso dos recursos naturais advindos da madeira, já se tornou alvo de estudo de muitos órgãos ligados a estas indústrias. Diante dessa necessidade cada vez maior em se buscar alternativas sustentáveis e da ânsia das grandes construtoras pela obtenção do selo verde em suas obras, o mercado tem tornado indispensável a existência de certificadoras que garantam tais atributos, indicando que não só o produto tem qualidade, mas que o ambiente de onde ele foi extraído continua saudável. A certificação florestal tem como fundamento a garantia dada ao consumidor de que determinado produto é originário de manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável. Ou seja, os produtos que têm o selo de certificação são aqueles produzidos com madeira de florestas certificadas. Não cabe ao consumidor o conhecimento e exigências técnicas de uma produção sustentável, ele precisa de uma instituição confiável que garanta que aquele produto chegou até ele respeitando o meio ambiente. 3.1 Selo FSC O selo FSC Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) é uma das primeiras etapas na busca de um produto sustentável. Trata-se de uma organização internacional não-governamental fundada em 1993, que objetiva o manejo correto e responsável das florestas, garantindo a preservação dos recursos naturais e a sobrevivência das comunidades locais. O FSC não emite certificados e sim credencia certificadoras no mundo inteiro, garantindo que os certificados destas obedeçam aos seus princípios e critérios de qualidade, adaptando-o para a realidade de cada região ou sistema de produção. Apesar de ser um selo voluntário, 100% das grandes empresas nacionais fabricantes de produtos provenientes de madeira já possuem esse certificado, o que demonstra a preocupação das mesmas com a sustentabilidade, desde a busca de sua matéria-prima. É uma certificação onerosa, mas que gera um amplo custo-benefício, pois o FSC já pode ser visto pelos consumidores como um indício básico de que a empresa tem essa preocupação com o meio-

6 ambiente. Já é possível inclusive, ver o selo FSC em embalagens de papel nas prateleiras de supermercados, indicando que essa preocupação com a origem e preservação dos recursos já é um diferencial na escolha de um produto pelo consumidor. 3.2 Cerflor Fundado em 1996 pela Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) em parceria com outras entidades, o Cerflor Programa Brasileiro de Certificação Florestal, também é um programa voluntário desenvolvido em parceria com a ABNT e o Inmetro, que visa à certificação do manejo florestal e da cadeira de custódia, segundo o atendimento dos critérios e indicadores, aplicáveis para todo o território nacional. 3.3 PNQM O PNQM Programa Nacional de Qualidade da Madeira é um certificado desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente ABIMCI, que visa o controle do processo produtivo, desde o recebimento da matéria-prima (toras e lâminas) até a embalagem do produto final, sendo definidos parâmetros a serem verificados e critérios de aceitação. O objetivo deste controle é disponibilizar ao mercado produtos com especificações conhecidas, fabricados dentro de parâmetros controlados. 3.4 Marcação CE O Certificado de Conformidade Européia (Marcação CE) é uma marca que indica que o produto ao qual está afixada está em conformidade com as Diretivas de Segurança de Produtos da União Européia. Desde 2004 a certificação CE está sendo exigida para painéis de madeira, em todo o Espaço Econômico Europeu. É regido pela Norma Européia 13986 que garante que os painéis de madeira aos quais se refere, podem ser utilizados em construção como elementos estruturais. A diretiva estabelece requisitos essenciais para esses produtos, com o objetivo de atender a determinados níveis de resistência mecânica, estabilidade, durabilidade da colagem, baixas emissões de gás formaldeído, tolerâncias rigorosas quanto ao tamanho e durabilidade da própria madeira. 3.5 ISO 14001 Criada para controlar os resíduos e evitar a poluição, permitindo uma convivência responsável entre as empresas e o meio-ambiente, a ISO 14001 é um reconhecimento mundial de que uma empresa cumpre rigorosos padrões para promover a proteção ambiental. Com a ISO 14001, as empresas comprovam ter um compromisso ainda maior com a conservação da biodiversidade. O primeiro passo é determinar a Política Ambiental da empresa. O segundo é um processo contínuo de investimentos em ações para minimizar os impactos ambientais, otimizar a utilização de fertilizantes químicos, reduzir a utilização de agrotóxicos, recompor a vegetação dos fragmentos florestais, promover a conscientização nas unidades vizinhas e estabelecer indicadores e verificadores de conservação da biodiversidade.

7 3.6 Teco Tested Os painéis com esta marca indicam que eles foram certificados de acordo com as exigências do código de construção dos Estados Unidos para aplicações industriais e estruturais. Portanto, arquitetos, engenheiros e construtores podem ter certeza de que quando os painéis tiverem o selo da agência Teco, eles atendem às exigências da norma adequada. 4. Metodologia A pesquisa foi feita com profissionais e indústrias do setor, com a intenção de conhecer e analisar a preocupação e as ações desenvolvidas por ambos, na busca da sustentabilidade direcionada à construção civil. Foi adotado o método de questionário, distintos para profissionais e indústrias, enviado por e-mail, com quinze perguntas sobre o tema. A escolha desses grupos se justifica pela representatividade dos mesmos para a construção civil. Conforme critérios descritos por Levin (1985), a amostra escolhida é não-casual, do tipo julgamento ou conveniência. As respostas foram categorizadas pela técnica de análise de conteúdo e apresentaram os resultados relatados a seguir. 4.1 As Indústrias e a Sustentabilidade Foram coletados os dados de vinte empresas nacionais, das variadas regiões do país, desde multinacionais a pequenas empresas que trabalham com qualquer material proveniente do uso de madeira. 17% 32% 17% 17% 17% Painéis e compensados Madeira beneficiada Madeira de demolição Madeira ecológica Esquadrias Figura 5 Ramo de atividade das indústrias pesquisadas Foi comprovada a preocupação das empresas com a obtenção da matéria prima. Todas as grandes fábricas de painéis e compensados possuem sua própria área de reflorestamento, todas com certificação do selo verde FSC, garantindo o manejo correto de suas florestas e comprovando o estudo de Zenid (2009), de que o Brasil tem a maior área certificada da América Latina. Algumas empresas possuem mais de um certificado, demonstrando ainda maior interesse e total comprometimento com o meio ambiente, conforme gráfico abaixo. Apenas as pequenas empresas não possuem certificação, mas garantiram exigi-lo de seus fornecedores.

8 11% 11% 45% 11% 11% 11% FSC CERFLOR CE TECO PNQM Não possui Figura 6 Certificação das indústrias Dentre os fatores considerados impeditivos para a aceitação do mercado pelos produtos alternativos aliados à sustentabilidade, os mais citados foram o custo e a cultura. O processo de certificação, o manejo e o controle de poluentes na produção aumenta significativamente o custo desses materiais, o que muitas vezes acarreta na escolha de produtos ilegais menos onerosos. A cultura de muitas regiões tende a rejeitar a idéia de uso de madeiras ecológicas, como a substituição de madeiras de lei por reflorestadas como o pinus e o eucalipto. Infelizmente, muitos profissionais ainda acreditam que somente as madeiras nobres possuem qualidade e resistência, mas já é possível encontrar no mercado espécies geneticamente modificadas, que apresentam características semelhantes, sem agredir as florestas nativas. De um modo geral, observa-se que o mercado já exige das indústrias de madeira um produto com o diferencial da sustentabilidade. A empresa que deseja manter-se competitiva no mercado, precisa obrigatoriamente, procurar a certificação e garantir aos seus clientes que os impactos ambientais provenientes do processo de fabricação de seus produtos não agridem o meio-ambiente e agregam valor ao seu projeto. 4.2 Os Profissionais e a Sustentabilidade Foram coletados os dados de dezessete profissionais, entre arquitetos e engenheiros, das regiões norte e sul do país, nos percentuais indicados na Tabela 1. O principal objetivo era conhecer a opinião dos mesmos sobre sustentabilidade e de que forma estes profissionais estão incorporando esse conceito em seus projetos e obras. Tabela 1 Grupo de profissionais pesquisados Profissionais Quantidade Percentual Arquiteto Engenheiro Civil 9 7 53% 41% Engenheiro Florestal 1 6% Total 17 100% Fonte: Rosanne Araújo (2012) Felizmente a consciência da sociedade sobre esta questão tem avançado bastante. Por conta disso, os clientes tendem a solicitar cada vez mais dos arquitetos e engenheiros, alternativas sustentáveis para aplicação em seus projetos. Esse número ainda é pequeno se considerarmos

9 a importância do assunto. Alguns órgãos públicos já têm optado pela adoção desse sistema, o que estimula a população ao ver que o conceito pode dar certo. A construção civil utiliza basicamente materiais não renováveis, logo, por si só não é sustentável. O que se pode trabalhar é a redução dos desperdícios, o controle desde a origem do processo produtivo de cada produto utilizado, a busca de materiais ecologicamente corretos e certificados e a eficiência energética. A grande maioria dos profissionais consultados têm consciência da importância da sustentabilidade para a construção civil, mas também concordam que na prática, pouco tem sido feito. Muitos atribuem essa escassez ao elevado custo dos produtos com rótulo sustentável, outros admitem que as alternativas disponíveis no mercado, não garantem a mesma qualidade que os produtos de origem nativa. Ao serem questionados sobre os fatores que os influenciam a especificar um produto para seu projeto ou obra, foi constatado que os arquitetos se preocupam mais com a sustentabilidade e a estética, enquanto os engenheiros valorizam a qualidade e o preço. Ainda nesse quesito, foi possível identificar que os profissionais da região sul têm maior preocupação com a sustentabilidade, enquanto os da região norte priorizam a qualidade dos produtos. O estudo indica que esse posicionamento se deve ao fato de a região sul do país disponibilizar uma gama maior de produtos no mercado e da proximidade com as grandes indústrias. No oposto, a região norte sempre fez uso das madeiras nobres e resistentes. Segundo Espósito (2007), em função das dificuldades de cada região, os arquitetos tendem a aproveitar os recursos naturais e materiais locais, bem como a mão de obra típica, adaptados ao contexto onde a obra está inserida. 30 25 20 Arquitetos Engenheiros 15 10 5 0 24 19 18 20 20 19 16 18 13 13 11 9 Qualidade Preço Sustentab. Estética Marca Outros Figura 7 Grau de importância para a escolha de um produto (%) Fonte: Rosanne Araújo (2012) Os profissionais fizeram questão de frisar que a madeira é um item indispensável em qualquer obra. Seja pela beleza, qualidade, durabilidade, propriedades térmica e acústica, trabalhabilidade e custo, a madeira se adapta às mais variadas formas de uso. Com base nesses aspectos, os profissionais esperam das indústrias novidades e tecnologias constantes, que favoreçam a aplicação em novos projetos, como destacado por Agopyan e John (2011) ao

10 afirmarem que a inovação é imprescindível para a sustentabilidade na construção civil. 5. Produtos de madeira sustentável As indústrias já disponibilizam no mercado diversas opções de produtos derivados de madeira certificada, que podem adaptar-se aos mais variados projetos e usos. Abaixo segue relação com alguns materiais de uso mais comum. Painéis de MDF (Medium Density Fiberboard) e derivados: amplamente usados na indústria moveleira, substituindo com extrema qualidade e resistência a madeira maciça. São fabricadas através da aglomeração de fibras de madeira com resinas sintéticas e outros aditivos. Apresentam inúmeras opções de acabamento. São fabricadas obedecendo rigorosos critérios de qualidade e utilizam 100% de madeira certificada como matériaprima. Figura 8 Painéis de MDF Fonte: Portal da Madeira Madeira ecológica: produto rotulado ecologicamente correto, pois tem como matéria-prima principal resíduos plásticos descartados pela indústria e lascas de madeira oriundas de serrarias legalizadas. Possui alta resistência e dispensam manutenção. São utilizadas em revestimentos externos, fachadas, rodapés, decks e paisagismo.

11 Figura 9 Madeira ecológica Fonte: Madeplast Laminados: revestimentos para aplicação nos painéis de MDF, com textura e padrões imitando madeira, de fácil aplicação e com maior durabilidade e resistência que as lâminas naturais. Dispensa aplicação de pintura e podem ser aplicados em áreas externas, sem comprometer sua qualidade e aparência. Figura 10 Laminados de madeira Fonte: Formica Painéis estruturados: revestimentos laminados compactos, autoportantes, indicados para uso em prateleiras, divisórias convencionais e sanitárias, portas, móveis, entre outros. Possui estabilidade dimensional, alta resistência ao desgaste, umidade, impacto, calor e manchas. Já vem sendo empregadas em banheiros públicos de shoppings, aeroportos e áreas de grande público.

12 Figura 11 Divisórias em painéis estruturados Fonte: Neocom Pisos laminados: material de grande durabilidade e resistência, excelente acabamento, conforto ambiental, fabricado com madeira de reflorestamento, não degrada o meio ambiente e proporciona sofisticação aos ambientes. Indicados para áreas internas, quartos, salas e escritórios, conservam a sensação térmica dos cômodos. Figura 12 Pisos laminados Fonte: Eucatex

13 Esquadrias: fabricadas com madeira laminada certificada, ótimo padrão de acabamento, mais leve que as esquadrias maciças e com excelente resistência. Figura 13 Esquadrias laminadas Fonte: Fuck SA Nota-se que é bem extensa a gama de produtos com apelo ecológico que o mercado dispõe aos seus clientes. Boa parte desses produtos já vêm sendo incorporados pelos profissionais, mas muitos ainda esbarram no custo elevado. É imprescindível que haja a cobrança cada vez maior dos arquitetos e engenheiros para com as indústrias, forçando a certificação de mais empresas e ampliando o universo de possibilidades aprimoradas tecnologicamente para aplicações no uso da madeira, que possam agregar valor aos projetos e torná-los cada vez mais sustentáveis. 6. Conclusão A exploração de recursos florestais, notadamente de madeiras, assume especial importância no contexto da sustentabilidade. A maior parte da madeira extraída no Brasil de modo sustentável é exportada. Internamente, o país carece de políticas de incentivo direto ao consumo de produtos da indústria madeireira, produzidos com base em práticas que conjuguem as atividades econômicas e a preservação ambiental. Em geral, o consumidor interno prefere comprar madeira mais barata, o que fomenta uma cadeia produtiva predatória, com efeitos negativos sobre o meio ambiente. É preciso que haja mudança de hábitos, de padrões e de políticas na forma de tratar o meio ambiente, que cada um faça a sua parte para alcançarmos os resultados necessários. Embora as legislações ambientais sejam razoavelmente adequadas, faltam normas que incentivem o consumo de bens e serviços elaborados segundo práticas ambientalmente

14 sustentáveis, socialmente justas e, ainda assim, economicamente viáveis. Nesse contexto, é inegável o papel dos arquitetos e engenheiros na indução de comportamentos sintonizados com o imperativo do desenvolvimento sustentável. Os dados obtidos mostram que a indústria tem sido a grande responsável pela mudança de comportamento, ao disponibilizar no mercado produtos certificados e ecologicamente corretos. Cabe aos profissionais optar pela inclusão desses produtos em seus projetos e obras, apresentando aos clientes as vantagens de se adotá-los, contribuindo para o bem estar geral do planeta e das futuras gerações. É imprescindível a realização de mais estudos sobre o assunto, estimulando um conhecimento mais aprofundado e abrangendo um maior número de profissionais, que são os responsáveis por aplicar na prática todo esse conceito. Referências ABIMCI. Associação Brasileira da Industria de Madeira Processada Mecanicamente. Disponível em: http://www.abimci.com.br/certificacao_ce/certificacao_ce.html. Acesso em: 18 Fev 2012. AGOPYAN, Vahan e JOHN, Vanderley M. Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil. São Paulo: Blucher, 2011. BDM - Biblioteca Digital Mundial. Disponível em http://www.wdl.org. Acesso em 19 Fev 2012. ESPÓSITO, Sidnei Sérgio. O uso da madeira na Arquitetura dos séculos XX e XXI. Dissertação de Mestrado: USJT Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2007. EUCATEX. Disponível em http://www.eucatex.com.br/. Acesso em 19 Fev 2012. FOREST STEWARDSHIP COUNCIL. Um guia de fácil uso sobre a certificação FSC para pequenos proprietários. FSC International Center GmbH, 2009. Disponível em: http://www.fsc.org/fileadmin/web-data/public/document_center/publications/fsc_technical_ Series/FSC_ smallholder_guide-pt.pdf. Acesso em: 18 Fev 2012. FSC. Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. FSC Brasil. 2006. FUCK SA. Disponível em http://www.fucksa.com.br/. Acesso em 20 Fev 2012. LEE, Kyung Mi. Severiano Mário Porto. A produção do espaço na Amazônia. Dissertação de Mestrado: FAUUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998. LEVIN, Jack. Estatística aplicada a Ciências Humanas. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1985. MADEPLAST. Disponível em http://www.madeplast.com.br/. Acesso em 19 Fev 2012.

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