UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS EMMANUELA NOGUEIRA DINIZ

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS EMMANUELA NOGUEIRA DINIZ IMAGEM DO SOL, LINHA SEGMENTADA E A CAVERNA NA POLITEIA DE PLATÃO JOÃO PESSOA PB 2013

EMMANUELA NOGUEIRA DINIZ IMAGEM DO SOL, LINHA SEGMENTADA E A CAVERNA NA POLITEIA DE PLATÃO Defesa de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para obtenção do título de Mestre em Letras Clássicas. Área de concentração: Linguagem e Cultura Linha de Pesquisa: Estudos Clássicos Orientador: Prof. Dr. Milton Marques Junior João Pessoa PB 2013

D585i Diniz, Emmanuela Nogueira. Imagem do sol, Linha Segmentada e A Caverna na Politeia de Platão / Emmanuel Nogueira Diniz.-- João Pessoa, 2013. 111f. Orientador: Milton Marques Junior Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA 1. Platão, 427a.C.-347a.C.(Paideia) - crítica e

AGRADECIMENTOS Os primeiros votos de agradecimento são para minha mãe D. Cleonice Nogueira Lemos; minhas irmãs Ana Isaura e Paloma. Em seguida, agradeço imensamente ao Prof. Dr. Milton Marques pela generosidade em me orientar junto ao PPGL-UFPB, além disso, pelo bom-humor, pela paciência, pelo alimento e por todas as oportunidades concedidas. Ao Prof. Dr. Juvino Alves Maia pelos preciosos ensinamentos tanto na literatura dos diálogos platônicos quanto pela inserção na língua e literatura latinas. Aos queridos professores Henrique Murachco e sua esposa France Yvone Murachco pelo acolhimento, diálogo, biblioteca, estudos, sobretudo, pelas luzes acerca do estudo em Platão e das línguas grega e latina. Aos professores de Filosofia Prof. Francisco de Assis e Prof. Anderson D Arce pelas correções e pela gentileza de cuidar do meu trabalho. Ao professor de Francês, Heritier Kabamba Subssay pelo auxílio com a leitura das referências francesas. Aos amigos, colegas e colaboradores neste estudo dissertativo: Abigail Brito, Stefano Alves, Ana Renata Medeiros, Lu Damasceno, Saulo Santana. Aos queridos amigos: Profª Margarida Magalhães, Claudionísio, Júlio César, Lobo, Ricardo, Katiuska, Eva, Michel, Nelsão (o poeta), Cícero, Carla. Ao contramestre Coyote da escola de Capoeira Afro-Nagô e aos meus colegas: Klenilton (Bode), Luis Schroeder (Asteróide), Genilson Nóbrega (Pimenta), Prof. Jonas (Lagarta de fogo), Gabriel Braga (Biriba) e a pequena Sayuri Beatriz pelo lazer e pelo treinamento. Aos músicos John Coltrane, Chet Baker, Miles Davis, Ella Fitzgerald, a dupla francesa Deep Forest, Chopin e aos felinos, Marie, Mané, Gigi, Alice e Pagu pela companhia noturna.

DEDICATÓRIA Este estudo dissertativo é dedicado ao Professor Henrique Graciano Murachco pelos verdadeiros ensinamentos em Língua Grega e pelos esclarecimentos acerca do ver de Platão.

RESUMO O presente estudo trabalha com as imagens do tratado de Platão Politeia, vulgarmente conhecida como República, no final do Livro VI e no início do Livro VII, com a finalidade de mostrar o problema das traduções modernas não dão conta de transmitir as ideias platônicas sobre a relação do Bem com o Sol, o Filho do Bem, a Linha Segmentada e a Caverna tema do corpus aqui estudado, não por incompetência dos tradutores, mas por causa das línguas modernas que se apoiaram especialmente nas traduções latinas clássicas ao longo do tempo e por demonstrarem uma grande influência tanto na dificuldade de interpretar o original em grego clássico quanto no vocabulário latino que não possui a mesma concretude e a mesma riqueza de aspectos verbais bem como o uso dos particípios, por exemplo, que acontece nos textos gregos. Todas as traduções da Politeia estão contaminadas por um vocabulário latino que paradoxalmente aprendeu a pensar com a filosofia de Platão. Com relação ao corpus platonicum delimitado, é possível provar que Platão não escreveu nenhuma Metáfora do Sol, não distinguiu exatamente um mundo sensível de um mundo inteligível em sua Linha Segmentada, nem escreveu um Mito da Caverna. Na verdade, o que acontece na literatura de Platão é que ele se utiliza de imagens εἰκόνες para tentar atingir o que não pode ser atingido pelo homem: o conhecimento do Bem ηὸ ἀγαθὸν, pois, é somente através dessas imagens que o pensamento e a língua grega construíram um caminho além μεθοδὸν para alcançar a verdade das coisas. Portanto, a educação παιδέια sendo posta no cerne da alma ψυχή humana, ele se tornará livre para trilhar esse caminho dialético em busca do que é a realidade. Palavras-chave: Imagens, Politeia, diálogo, mito, paideia e Platão.

RÉSUMÉ Le présent étude a l intention de réaliser une analyse opére avec les images s utilisées pour Platon à l intérieur du contexte de la Politeia vulgairement connu comme République, à la fin du livre VI et du début du livre VII, afin de montrer que les traductiones ne peuvent pas transmettre les idées platoniciennes par le rapport entre le Bien et le Soleil, lefils du Bien, la Ligne [Segmentée] et la Caverne thème du corpus ici étudie. Le anachronisme issu de ce procès de traduction, en effet, assombrit le voir du Platon, non pas pour l incompétence des traducteurs, mais à cause des langues modernes qu ils se soutiennent, specialment, dans traductions latines classiques au cours du temps et pour démontrer une grande influence sort dans le dificulté d interpreter l original en grec ancien sait dans le vocabulaire latin que ne possede pas la même concretude et la même richesse d aspects verbaux ainsi que l usage des participes, par exemple, que succède dans les texts grecs. Toutes les traductione du Politeia sont contagées par une vocabulaire latin que paradoxalment Il a pris a penser comme la philosofie du platon. On rapport avec corpus platonicum delimitée, est possible prouver que Platon n a pas écrit, précisément, une méthaphore du Soleil, n a pas distingue exactement un monde sensible d un monde visible dans sa Ligne, ni n a pas écrit un mythe du caverne. En verité, ce qui parait dans la litterature platonicienne, est que il utilize des images εἰκόνες pour essayer atteindre celle qui n a pas été atteint pour la nature humaine: le connaissance du Bien ηὸ ἀγαθὸν, car, est seulement através de ces images que la pensée et la langue grecque ont constru un chemin au-delà de μεθοδὸν pour atteindre la verité des choises, donc, l éducation παιδέια est posté au centre de l âme humaine ψυχή, elle deviendra libre pour réaliser ou construire ce chemin dialeticque dans la recherché de la réalité. Mots-clé: Images, République, dialogue, mythe, paideia, Platon.

SUMÁRIO Introdução... 09 Divisão dos corpus selecionado para análise e cotejamento: VI, 506d6 VII, 515d9... 19 I. Contextualização da Politeia de Platão, objetivo e estrutura da obra... 20 1. Politeia e o seu significado no contexto da obra... 21 1.1. A Dialética ou Ciência Dialética Διαλεηική ou Διαλέγεζθαι Ἐπιζηήμη... 22 1.2. Oralidade e Escrita... 27 1.3. Mito e Logos... 32 2. O objetivo da Politeia de Platão... 34 3. Estrutura da Politeia de Platão... 37 II. O Bem, a Imagens do Sol e da Linha Segmentada na Politeia de Platão...48 2.1. A ideia do Bem... 48 2.2. A imagem do Sol: Filho do Bem... 57 2.3. A Linha Segmentada... 63 III. A Caverna: mito, logos, a paideia na Grécia Antiga e o paradigma de Platão... 77 3.1. As definições de mito e logos na tradição grega e na Politeia de Platão... 78 3.2. A Paidéia grega e o paradigma de Platão... 86 3.3. A Caverna de Platão no Livro VII da Politeia... 98 Conclusão... 103 Referências...109