Cremar ou Não Cremar? Embora adotada desde a antiguidade, a cremação ainda é tema polêmico na sociedade



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Transcrição:

Cremação Cremar ou Não Cremar? Embora adotada desde a antiguidade, a cremação ainda é tema polêmico na sociedade ocidental, defendida por muitos e combatida pela opinião mais conservadora. Cremação é a incineração de um cadáver até reduzi-lo a cinzas. Faz-se no forno crematório, onde o cadáver, submetido a calor intenso durante uma ou duas horas, transforma-se em um pequeno monte de cinza esbranquiçada. Em seguida, as cinzas são espalhadas em um jardim ou outro lugar qualquer, ou colocadas em uma urna, que fica em poder da família ou é guardada em um nicho, no cemitério. Caso não haja nenhuma determinação legal em contrário, prevalece o desejo manifestado em vida pelo morto, ou da família, em falta deste, quanto à opção pela cremação e o destino a ser dado às cinzas. Na antiguidade, a prática da cremação provinha de duas razões diferentes: a necessidade de trazer de volta os soldados mortos, para receberem sepultura em sua pátria, como ocorria entre os gregos; ou de convicções religiosas, como entre os escandinavos, que acreditavam assim libertar o espírito de seu invólucro carnal e evitar que o morto pudesse causar algum mal aos vivos. Em Roma, talvez devido ao ritual adotado para queimar os soldados mortos, a cremação virou símbolo de prestígio social, de tal forma que a construção de columbários - edifício com nichos para as urnas funerárias - tornou-se negócio lucrativo. Nos tempos modernos, a discussão sobre a cremação iniciou-se, no Ocidente, no século XIX, com a publicação de um livro do médico Sir Henry Thompson. Nos Estados Unidos, o primeiro forno crematório foi construído em 1876, e logo surgiram sociedades de apoio à cremação. Na Alemanha e Dinamarca, no final do século XX, o número de cremações excedia o de enterros comuns, tal como no Japão, onde foi admitida legalmente em 1875. A aceitação ampliou-se graças à derrubada das objeções, como a de que impediria a investigação criminal, contraditada pelo aperfeiçoamento dos equipamentos policiais e pelo desgaste dos preconceitos supersticiosos. (1) A Questão Bíblica Era prática judaica enterrar os mortos na terra ou em túmulos de pedra (Gn. 15:15). Nunca foi do costume judeu cremar os corpos e contemplavam essa prática com horror (Am. 2:1). A cremação só era prescrita como castigo (Js. 7:15). Os cristãos seguiram o exemplo judaico no que concerne ao respeito aos mortos. Aceitavam o ensino de que o corpo do Cristão é o Templo do Espírito Santo e, como tal, deveria ser respeitosamente enterrado (I Cor. 3:16 e 6:19). Esses cristãos primitivos procuravam sepultar seus mortos num mesmo lugar, dando a esse lugar o título de cemitério, cujo significado é dormitório (Mt. 27:52). (2) Conselho Prático Bem, cremado ou enterrado, nada disso poderá impedir o arrebatamento do cristão (I Cor. 15; I Ts. 4:16-17), pois todas as cinzas voltarão à vida (Ap. 20:13). Entretanto,

seria respeitoso o ofício fúnebre nos moldes cristãos, isso por que nos primórdios do cristianismo o paganismo se utilizou dessa prática para se contrapor a idéia cristã da ressurreição do corpo. Acredito que não seria viável para nós tal prática pelo que ela nos lembra! "Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão" (Jo. 5:28). Um funeral cristão nem sempre é um sinal de que o morto possuía uma fé genuinamente Cristã., pois de vez em quando o clero dirige funerais por motivos de decência e respeito ou simplesmente por razões humanitárias ou sociais. De qualquer forma essas são excessões da Lei Cristã, para a qual um funeral Cristão deveria ser dado apenas para aqueles Cristãos que morreram com as justas disposições, tais como fé, contrição e aceitação da Vontade de Deus que é o que torna uma morte boa ou não.em sua obra De Cura pro Defunctis Gerenda,( sobre os cuidados que se deve ter pelos mortos), Santo Agostinho declara que embora o morto não saiba o que está acontecendo agora na terra, as observâncias dos ritos funerais indiretamente proporcionam-lhes benefícios na medida em que os vivos que visitam suas tumbas são levados a recordá-los e orar por eles.cuidados especiais devem ser tomados com os corpos dos mortos, porque eles foram os companheiros da alma nas atividades da vida e ainda mais porque tendo sido parte de uma pessoa humana durante sua vida terrena, tais corpos serão novamente parte daquela mesma pessoa na ressurreição final, da qual a Ressurreição de Cristo é causa, certeza e esperança.enquanto muitas religiões acreditam na imortalidade da alma, podemos dizer que a fé na ressurreição do corpo é uma doutrina exclusivamente Cristã, e essa é entre todas as crenças, a mais difícil para a razão humana aceitar, já que é objeto pura e simplesmente de fé e o maior de todos os paradoxos. Quando São Paulo foi pregar em Atenas no ano 51 DC, um lugar onde se reunia toda a sorte de gentios, filósofos Epicureus e Estóicos o conduziram do mercado para o Aeropagus de forma que todos pudessem ouvir aquele homem extraordinário. Mas bastou o Apóstolo começar a pregar sobre a ressurreição dos mortos que eles o deixaram falando sozinho e saíram como quem diz: "sobre esse assunto, fica pra uma outra vez".dentro do paganismo a imortalidade da alma às vezes é aceita, mas a idéia de distinção entre a recompensa que a alma virá a receber, não: todas as religiões pagãs caem na mesma escuridão a respeito do que seria uma vida sem a vida. As antigas religiões místicas tinham uma vaga idéia de recompensa pela virtude e de uma abençoada perfeição numa vida futura. Mas nenhuma religião, com excessão do Cristianismo sustenta claramente que nossos corpos ressuscitarão novamente um dia, e continuarão o curso de nossas vidas, tendo nossa identidade pessoal restaurada em sua plenitude.e foi exatamente para nutrir a fé nessa

doutrina que a razão encontra tanta dificuldade em aceitar, mas que é tão fundamental para o Catolicismo (Se não há ressurreição dos mortos e nem Cristo ressuscitou, vã é a nossa fé - I Cor.15;13:14)) que a Igreja sempre se opôs à cremação dos corpos de seus fiéis, ao passo que sempre permitiu uma certa variedade de enterros, seja a princípio dentro de igrejas no caso dos mártires, ou nos jardins das igrejas, em solos consagrados fora da cidade ou mesmo em cemitérios seculares.obviamente que o homem deixa de existir quando a morte o atinge, mas o corpo que está ali pertenceu a um ser humano e voltará a pertencer novamente na ressurreição final e isso já é o suficiente para que ele seja tratado com respeito e devidos cuidados.podemos afirmar que a prática antiga e contínua dos cristãos enterrarem os mortos tem raízes no Evangelho e São Paulo explica melhor o seu significado em I Coríntios 15:42, quando compara o corpo a uma semente que semeado na corrupção, ressuscita incorruptível. O enterro Cristão é portanto e antes de tudo, uma imitação do que aconteceu com o corpo de Cristo.A Igreja nunca disse que a redução do corpo a cinzas pela incineração ou cremação é um obstáculo à ressurreição, mas como uma religião que aceita a validade do simbolismo, a Igreja dificilmente falharia em considerar a cremação como um sinal contrário à ressurreição dos corpos. Em outras palavras, a cremação pode até não contradizer diretamente a idéia da ressurreição, mas certamente joga por terra todo o simbolismo conexo à prática do enterro, bem como priva de significado vários termos usados pelos cristãos que datam de tempos imemoriais. Por exemplo, a palavra "cemitério" em sua orígem significa: "local de repouso"; a palavra italiana "camposanto" significa "campo sagrado dedicado a Deus"; a palavra latina "depositio" usada no ritual em latim para exéquias é derivada nem tanto do ato de se "depositar" algo na terra, mas sim do ato legal de se entregar em depósito o corpo Cristão que será restaurado no dia da ressurreição final.como podemos ver, esse simbolismo é tão forte que levou a Igreja a adotar uma matéria a esse respeito: durante o século 19 e parte do século 20, a cremação era vista pelos Católicos como um sinal claro de que aquela pessoa era um pagão, ou seja, não era Cristão e nem acreditava na ressurreição. Às vezes a pessoa optava pela cremação apenas pelo medo infundado de ser enterrado vivo e não por descrença ou por ser pagão, mas de qualquer modo o Código de Direito Canônico de 1917, Cânon 1203, recusava a permitir ou reconhecer pedidos para cremação da parte dos fiéis Católicos. Já o Novo Código de Direito Canônico de 1983, Canon 1176 permite a cremação reforçando as grandes mudanças que houveram na Igreja no período pós-conciliar. Com isso, nas cidades onde existem crematórios, rapidamente o número de cremações ultrapassou o número de enterros.esse obscurecimento de práticas distintamente Cristãs, mesmo numa matéria que vem de uma imemorial tradição e a qual possui um genuíno significado religioso, faz parte da acomodação geral do Catolicismo ao espírito do mundo, da diluição do sagrado, do

penetrante utilitarismo e de um verdadeiro eclipse no chamado fundamental do homem para uma realidade que está muito além da figura desse mundo. ( Romano Amerio- ) Circular aos padres da cidade de Caxias do Sul O estabelecimento de um crematório em nossa cidade e as vezes que hoje entre nós é escolhida a cremação, pedem de nós cristãos reflexão sobre fatos e atitudes que nos tocam como pessoas humanas e de fé. Mais do que examinarmos o que justifica a escolha feita entre inumação (colocar na terra, colocar no tumulo) e cremação, é preciso pensar sobre implicações, que não podem ser esquecidas para que não aconteça que valores contidos em práticas, costumes e ritos sejam abandonados. Indico nessa circunstância, sem desenvolver, algumas realidades que precisam ser aprofundadas. 1. A morte. As exéquias estão ligadas a ela. A morte é uma realidade marcante na vida humana e não em último lugar pelas perguntas que nos obriga a fazer sobre o sentido da vida humana e sobre o além. Ela não atinge somente quem morre, mas pela separação e ausência, outros, especialmente parentes, amigos e conhecidos. Ver a realidade da morte é olhá-la de frente especialmente num mundo que procura afastar a visibilidade da morte. Ver a sua seriedade não significa dramatizá-la, embora como diz santo Agostinho não é a fé, mas a natureza que tem horror a morte. 2. O respeito. É outra atitude bem humana e cristã não fácil de definir, mas que todos experimentamos. É um sentimento de consideração e o reconhecimento do valor, seja de uma pessoa ou de uma realidade. O respeito importa numa manifestação externa, embora ela seja diversa conforme as culturas e circunstâncias. Por isso não é só a memória de quem faleceu que é respeitada e a dor das pessoas a ela ligadas, mas também seu corpo é cercado de respeito. 3. O corpo. Além de ser parte essencial da pessoa é o caminho de tantas relações e manifestações. O corpo é concreto e é um sinal sensível. O que resta do corpo é um sinal de referência. De onde o valor de conservar com respeito as cinzas e de não dispersá-las. Na morte nós voltamos para Deus e não para a natureza. É outra razão simbólica para que as cinzas não sejam espalhadas, embora o Criador possa reconhecer os seus sem que, nem o fogo que incinerou os corpos e nem o verde da natureza que os absorveu, possa impedir. 4. Ao longo da história a Igreja procurou no seu longo caminho que a fé iluminasse o momento das exéquias tendo presente as culturas e circunstâncias, com palavras e ritos animando a fé e consolando na esperança. É indispensável em qualquer hipótese que as exéquias sejam marcadas pela celebração da fé. Por isso no caso de ser escolhida a cremação deveremos procurar o modo de realizar as exéquias, onde e quem. Nos últimos tempos eram realizadas em três etapas. Levantamento, enterro e igreja. É necessário procurar o modo ter paciência, evitando a acepção de pessoas ou discriminação. 5. Uma pergunta que é feita muitas vezes: a Igreja permite ou não a cremação? Os cristãos sempre preferiram à prática de inumação. A incineração em si mesma não tem nada de intrinsecamente contrario a fé. A restrição da Igreja foi quando e porque, quem defendeu a incineração teve como objetivo hostilizar a fé cristã e particularmente a Igreja católica negando a ressurreição. A fé na ressurreição, pois o Senhor chamará para a vida plena a mesma pessoa que morreu, e a esperança que não exclui as lágrimas, não podem faltar seja na incineração seja quando o corpo é depositado na sepultura. Caxias do Sul, 20 de abril de 2006. + Paulo Moretto Bispo da Diocese de Caxias do Sul Cremação Como é visto este ato por algumas religiões. Igreja Católica Para o mais importante representante da Igreja Católica em Brasília, o cardeal-arcebispo D.José Freire Falcão, ao contrário do que se pode pensar em princípio, não há qualquer objeção à cremação. Mas a preferência é pelo sepultamento, como segue a tradição católica, explica ele, lembrando que a cremação não pode significar oposição à esperança na ressurreição. A pessoa não deve escolher ser cremada como forma de negar essa fé. Igreja Batista

Na opinião do presidente da Igreja Batista de Brasília, pastor Severino Vilarindo, não há nada que condene a decisão de uma pessoa ou de sua família pela cremação do corpo na sua religião. O mais importante é a alma, mas ainda existe muita resistência à prática diferente do sepultamento tradicional, completa. Acho melhor cremar do que saber que o corpo vai entrar em decomposição. Espíritas Para os espíritas, também não há motivos para condenar a cremação, até porque nada é proibitivo no espiritismo, considerado uma doutrina de conscientização. Mas existem algumas recomendações com relação às ligações da pessoa que morreu com o corpo material. A conselheira e oradora da Comunhão Espírita de Brasília, Maíse Braga, explica que o ideal é que a cremação ocorra 48 horas após a morte. Isso para que haja tempo de a energia que nos acompanha se desprender da matéria, acredita. Budista Segundo o monge do Templo Budista da Terra Pura, Marco Yasunaka, 28 anos, a cremação é a forma mais higiênica de destinação de um corpo após a morte. No Japão, trata-se de uma prática milenar preferida pela maioria da população, que também tem a opção de enterrar seus mortos. As famílias podem levar as cinzas para casa ou guardá-las em ossários especiais, diz ele. Para os budistas, a morte não é vista como algo oposto à vida, mas como parte de um processo em que ambas se completam, como as duas faces de uma folha de papel. Escolas budistas, como lamaísmo tibetano, desenvolvem complexas disciplinas mentais destinadas a fazer do instante da morte física uma preciosa oportunidade para a libertação espiritual. MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS DAS EXÉQUIAS DECRETO O mistério da morte, para os cristãos, ilumina-se à luz da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Por isso, o Concílio Vaticano II, ao recomendar a revisão do Ritual das Exéquias, pediu que nelas se exprimisse «mais claramente o sentido pascal da morte cristã», respeitando as condições e as tradições de cada região. Pelas exéquias, a Igreja confia o defunto à misericórdia de Deus e, através da aspersão, da incensação, das flores, dos cânticos e das orações, exprime a veneração que dispensa ao corpo que foi regenerado pelas águas baptismais, se tornou templo do Espírito Santo e foi alimentado com o Pão da Vida. Consola os vivos enlutados, garantindo-lhes, pela fé, a união futura com o defunto na comunhão dos santos. Desta forma a celebração da morte alimenta em todos os fiéis a esperança da eternidade e afirma o carácter escatológico da vida cristã (SC, 8; LG, 48-51), pois os que foram «configurados com Cristo na morte, com Cristo tomarão parte na Ressurreição».

A Igreja sempre dedicou e continua a dedicar uma especial atenção ao culto dos defuntos e à celebração da morte, que considera dotados de uma extraordinária potencialidade pastoral, tanto pelo número elevado de participantes como pela sua qualidade e disposições. É nesta ocasião que tem possibilidade de anunciar a Palavra revelada a muitas pessoas com pouca disponibilidade interior para escutar ou mesmo a pessoas com as quais não contacta noutras ocasiões. Um sinal desta solicitude pastoral da Igreja consiste na recomendação feita aos Párocos para que não se dispensem facilmente de presidir aos funerais dos seus paroquianos (can. 531,5º). Porém, nas circunstâncias do tempo presente, dada a escassez de clero e a elevada taxa de envelhecimento da população, em algumas paróquias, torna-se praticamente impossível que o Pároco presida a todos os funerais, nomeadamente, quando é longa a distância que separa a igreja do cemitério. Nesses casos, recomenda-se que, na medida do possível, a presidência seja confiada a outro sacerdote ou a um diácono. E é o que acontece em muitas paróquias do meio urbano, com elevado número de funerais. Tendo em conta as dificuldades em garantir a presidência de todos os funerais por um ministro ordenado, as normas do Ritual das Exéquias (1970) previam a possibilidade de um leigo acompanhar o cortejo fúnebre até ao cemitério e, posteriormente, a Instrução sobre a colaboração dos fiéis leigos no ministério dos sacerdotes (1997) alarga essa possibilidade ao afirmar que «os fiéis não ordenados podem dirigir as exéquias eclesiásticas nos casos de verdadeira falta de um ministro ordenado, observando as respectivas normas litúrgicas». Este é um dos casos em que se aplica o que está previsto no nº 23 da Exortação Apostólica Christifideles Laici: «os Pastores podem confiar aos fiéis leigos certos ofícios e funções que não exijam o carácter da Ordem». Na Diocese de Lisboa, em 1995, alguns fiéis leigos foram autorizados, a título experimental, a acompanhar os funerais ao cemitério, depois de um ministro ordenado ter presidido na igreja ou na capela mortuária à celebração da missa ou à celebração da Palavra. Após estes anos de experiência, positivamente avaliada, tanto pelos Párocos, que, coadjuvados desta forma no seu ministério, se puderam dedicar com mais empenho às inadiáveis actividades da evangelização, da catequese e da pastoral litúrgica e caritativa, como pelos fiéis, que têm aceitado pacificamente e até com agrado a intervenção dos leigos no acompanhamento dos funerais, parece ter chegado o momento oportuno para estabelecer normas mais concretas sobre os ministros extraordinários das exéquias, tendo em conta a sua escolha, a sua formação inicial e permanente, a sua creditação e nomeação, o modo de intervir na celebração e a duração do mandato. Assim, tudo devidamente ponderado quanto à celebração de exéquias fúnebres orientadas por ministros extraordinários, havemos por bem decretar que nas paróquias onde o número de funerais e a escassez de ministros ordenados o justifiquem, a pedido dos Párocos, alguns leigos possam vir a ser nomeados ministros extraordinários das exéquias, devendo ter-se em conta as normas seguintes: 1. compete ao Pároco escolher os candidatos e apresentá-los ao Patriarca para iniciarem o processo de formação que culminará na nomeação. Sejam escolhidos cristãos com boa reputação, de exemplar comportamento, prestígio pessoal e vida cristã íntegra que, tendo em conta a fisionomia própria de cada comunidade, se preveja serão bem aceites no exercício dessas funções; 2. além da indispensável maturidade humana, os ministros extraordinários das exéquias deverão ser pessoas dotadas de boa formação cristã, teológica, moral e litúrgica, tanto a nível básico como a nível específico, em conformidade com os critérios definidos pelo Sector da Formação e pelo Departamento de Liturgia, em paralelo com a formação inicial e com a formação permanente proporcionada aos Ministros Extraordinários da Comunhão e aos Orientadores de Celebrações Dominicais na ausência de Presbítero;

3. após a adequada formação e a apresentação de requerimento, abonado pelo Pároco, e acompanhado de uma fotografia actualizada, a nomeação do ministro extraordinário das exéquias é feita pelo Patriarca de Lisboa, por um período de cinco anos, e certificada pela passagem de um cartão de identificação, a ser entregue pelo Pároco, no decorrer de uma celebração litúrgica, explicando aos fiéis os motivos de ordem pastoral que justificam esta atribuição de funções, cujo exercício fica sempre dependente do mandato explícito do Pároco próprio; 4. o mandato cessa, ordinariamente, no fim do período previsto e, extraordinariamente, a pedido do Pároco ou a pedido do próprio, com conhecimento do Pároco. O mandato dos que, presentemente, estão no exercício de funções cessa com a entrada em vigor deste Decreto; 5. no início do ano em que se completa o mandato de cinco anos, o Pároco, depois de ouvir o Conselho Pastoral, decidirá da continuação ou não do ministro extraordinário das exéquias no desempenho de funções. Se a decisão for positiva, o interessado deverá participar num curso de formação permanente e actualização e requerer ao Patriarca de Lisboa a renovação do mandato, acompanhada do parecer do Pároco e de uma fotografia actualizada; 6. aqueles cujo mandato cessa por força deste Decreto, se desejam continuar no exercício das mesmas funções, devem, no período de tempo que medeia entre a data da sua assinatura e a entrada em vigor, apresentar ao Patriarca de Lisboa requerimento, abonado pelo Pároco e acompanhado de uma fotografia actualizada; 7. os ministros extraordinários das exéquias fúnebres deverão apresentar-se revestidos de túnica branca. Sendo religiosos, poderão apresentar-se de hábito; 8. na celebração das exéquias fúnebres, os ministros extraordinários usem a nova versão do Ritual das Exéquias, já pronta e a publicar dentro em breve, sigam as adaptações apropriadas a cada caso e respeitem escrupulosamente as normas aí previstas. A intervenção dos ministros extraordinários nas exéquias pode dar-se segundo dois modelos. No primeiro modelo, tal como se tem vindo a fazer, o ministro extraordinário participa na Missa ou na Celebração da Palavra, presidida por um ministro ordenado, e, de seguida, acompanha o cortejo fúnebre até ao cemitério, onde faz a última encomendação, usando os formulários próprios para a sua condição, tal como se prevê no Ritual. No segundo modelo, só permitido na ausência de um ministro ordenado, o ministro extraordinário pode orientar também a Celebração da Palavra, na capela mortuária ou na igreja, e acompanhar o cortejo fúnebre ao cemitério, guiando-se pelas normas do Ritual e pelas orientações explícitas do pároco; 9. os emolumentos são devidos à paróquia (can. 531). Por isso, as agências funerárias deverão entender-se directamente com a paróquia e nunca com o ministro extraordinário das exéquias. Este decreto entra em vigor sessenta dias após a data da sua assinatura. Lisboa, 18 de Fevereiro de 2004, memória de São Teotónio. + José, Cardeal Patriarca