Potencial Alelopático de Panicum maximum JACQ sobre a Germinação de Sementes de Espécies Nativas

Documentos relacionados
ALELOPATIA DE FOLHAS DE CATINGUEIRA (Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz) EM SEMENTES E PLÂNTULAS DE ALFACE (Lactuca sativa)

Efeito alelopático do extrato aquoso de folha e de fruto de leucena (Leucaena leucocephala Wit)...

FOR-106-ATIVIDADE POTENCIALMENTE ALELOPÃTICA EM PLANTAS DE ACAPU (Vouacapoua americana Aublet) I - EFEITOS DE EXTRATOS AQUOSOS DA CASCA

Potencial alelopático do feijão de porco (canavalia ensiformes) no desenvolvimento de alface (Lactuca sativa L.) sob diversas concentrações

Efeito alelopático de extratos aquosos de Setaria italica L. sobre a germinação de sementes de soja e nabo forrageiro

Efeito do estresse hídrico e térmico na germinação e crescimento de plântulas de cenoura

EFEITO ALELOPÁTICO DO EXTRATO AQUOSO DE Eucalyptus citriodora NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Lactuca sativa

Efeitos do extrato aquoso de Helianthus annuus e Avena strigosa, sobre a germinação de Brachiaria decumbens

Pró-Reitoria Acadêmica. Escola de Exatas, Arquitetura e Meio Ambiente. Trabalho de Conclusão de Curso

¹Universidade Federal do Ceará - Depto. de Fitotecnia - C.P. 6012, CEP , Fortaleza-CE.

EXTRATO ALELOPÁTICO DE RAIZ DE CRAMBE SOBRE SEMENTES DE MILHO

Kelly Barbosa Lamego 1*, Jéssica da Silva 2

Extrato de Repolho fermentado na germinação e no desenvolvimento de plantas de picão preto

POTENCIAL ALELOPÁTICO DA MUCUNA-PRETA SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ALFACE E PICÃO PRETO 1

Potencial alelopático do óleo essencial de plantas medicinais sobre sementes e plântulas de picão-preto

EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATO DE VINAGREIRA (Hibiscus sabdariffa) NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE QUIABO (ABELMOSCHUS ESCULENTUS) Apresentação: Pôster

EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATO DE Eucalyptus citriodora NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE TOMATE (Lycopersicum esculentum M.)

EFEITO ALELOPÁTICO DE Artocarpus Heterophyllus NA GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO DE Lactuca Sativa L.

EFEITO ALELOPÁTICO DE Solanum americanum Mill, Solanaceae SOBRE A GERMINAÇÃO E O CRESCIMENTO INICIAL DE ALFACE (Lactuca sativa L.

Alelopatia de extrato seco de xanana (Turnera ulmifolia L.) na germinação de sementes e desenvolvimento de plântulas de feijão.

POTENCIAL ALELOPÁTICO DO EXTRATO AQUOSO DA POLPA DO FRUTO DO JATOBÁ

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ALELOPÁTICO DO ADUBO VERDE (CROTALARIA SPECTABILIS) NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE TOMATE (LYCOPERSICON ESCULENTUM MILL)

Alelopatia de bambu (Dendrocalamus giganteus MU RO)

EFEITO ALELOPÁTICO DE FOLHAS DE Azadirachta indica A. Juss EM SEMENTES DE Moringa oleifera Lam

AÇÃO BIOERBICIDA DE EUCALIPTO SOBRE PLANTAS DANINHAS PRESENTES EM HORTICULTURAS

VERIFICAÇÃO DA ATIVIDADE ALELOPÁTICA E CITOTÓXICA DA CARQUEJA (Baccharis sp.)

Potencial alelopático de Bidens pilosa L. na germinação e no desenvolvimento de espécies cultivadas

Desenvolvimeto inicial de plântulas de pepino (Cucumis sativus L.) submetidos a diferentes doses de extrado de (Styzolobium atterrimum)

POTENCIAL ALELOPÁTICO DE Merostachys multiramea HACKEL SOBRE A GERMINAÇÃO DE Araucaria angustifolia (BERT.) KUNTZE

EFEITO ALELOPÁTICO DE Eugenia pyriformis CAMBESS, E Eugenia involucrata DC. SOBRE A GERMINAÇÃO DE Lactuca sativa L. (ALFACE).

AVALIAÇÃO DE EXTRATOS VEGETAIS NA GERMINAÇÃO E SANIDADE DE SEMENTES ALFACE

25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

RESPOSTA DE DUAS POPULAÇÕES DE Rottboellia exaltata A HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ-EMERGÊNCIA

EFEITO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Phaseolus vulgaris L.

INFLUÊNCIA DO EXTRATO AQUOSO DAS FOLHAS DE MORINGA (Moringa oleifera Lam.) NA GERMINAÇÃO DE AROEIRA-DO-SERTÃO (Myracrodruon urundeuva Fr. All.).

Avaliação de extratos das espécies Helianthus annuus, Brachiaria brizantha e Sorghum bicolor com potencial alelopático para uso como herbicida natural

TÍTULO: EFEITO ALELOPÁTICO DE EUCALYPTUS UROGRANDIS H13 NA GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DA SOJA

EFEITO DE DIFERENTES MÉTODOS DE QUEBRA DA DORMÊNCIA EM SEMENTES DE AVENA SATIVA L.

Bióloga, Mestre em Engenharia Agrícola, Doutoranda em Engenharia Agrícola, FEAGRI - UNICAMP 2

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE AGRONOMIA ISSN:

Allelopathic Potential of Solutions of Soils Cultivated with Brachiaria brizantha: Effects on Some Pasture Grass and Weeds Seeds

Efeito alelopático de extratos aquosos de Senecio brasiliensis (Spreng) Less sobre a germinação e o desenvolvimento de plântulas

OS EFEITOS ALELOPÁTICOS DO EXTRATO DE PATA DE VACA (Bauhinia forticata BENTH) EM SEMENTES DE SOJA (Glycine max MERR)

Efeito Alelopático da Parte Aérea de Espécies de Adubos Verdes na Geminação de Sementes de Cenoura.

Causas de GL IVE TMG PGER IVE TMG PGER

Óleos essenciais de Alecrim pimenta e Capim citronela na germinação de sementes de beterraba (Early Wonder)

Palavras-chave: enraizamento, Cyperus rotundus, Zea mays

Alelopatia de espécies forrageiras na germinação e no crescimento da soja

Potencial alelopático de extratos de Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e calopogônio (Calopogonium mcunoides) na germinação de Alface

Germinação de Sementes de Milho, com Diferentes Níveis de Vigor, em Resposta à Diferentes Temperaturas

Germinação de sementes e desenvolvimento inicial de plântulas de pepino em diferentes tipos de substratos.

Potencial alelopático de Bidens pilosa L. na germinação e no desenvolvimento de espécies cultivadas

E N F L O Ecologia e Nutrição Florestal

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

O lado bom de uma samambaia vilã. Carina Hayakawa Pereira*; Rosana Marta Kolb

EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATOS AQUOSOS DE CRAMBE (Crambe abyssinica) SOBRE O DESENVOLVIMENTO INICIAL DE PICÃO- PRETO (Bidens pilosa).

EFEITO DE RESÍDUOS VEGETAIS DE SOJA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DE CRAMBE VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL 1

Apresentação: Pôster

Efeito alelopático de extrato aquoso de folhas de Azadirachta indica A. Juss. em alface, soja, milho, feijão e picão-preto

Bióloga, Dr., Professora-Adjunta do Curso de Ciências Biológicas Unioeste Campus Cascavel, PR. 3

CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA DA ALFACE SUBMETIDA A DIFERENTES TIPOS DE COBERTURA DO SOLO COM PLANTAS NATIVAS DA CAATINGA COM EFEITO ALELOPÁTICO

Uso de fertilizante na semente do trigo

Efeito alelopático de óleo essencial de plantas medicinais sobre sementes e plântulas de pimentão

Potencial alelopático de cultivos de cobertura vegetal no desenvolvimento de plântulas de milho

INFLUÊNCIA DE EXTRATOS DE FOLHAS E FRUTOS DE

SELETIVIDADE DO SORGO SACARINO A HERBICIDAS E O TRATAMENTO DE SEMENTES COM O BIOATIVADOR THIAMETHOXAM

Potencial da Schinus terebinthifolius Raddi na recuperação de áreas degradadas: interações aleloquímicas

ISSN: Fernando Muller¹, Edward Seabra Júnior², Daniel Marcos Dal Pozzo², Reginaldo Ferreira Santos¹, Lucas da Silveira¹

EFEITO DA DECOMPOSIÇÃO DE FOLHAS SECAS DE Mimosa caesalpiniifolia Benth., SOBRE A EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Amburana cearensis A.C. Smith.

ATIVIDADE ALELOPÁTICA DE EXTRATOS DO FRUTO DE Piper aduncum L. NA GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL DE CEBOLA

Óleos Essenciais de Capim Citronela e de Alecrim Pimenta na Germinação de Sementes de Emilia sonchifolia, (L.) D.C.

Universidade Federal do Ceará Campus Cariri 3 o Encontro Universitário da UFC no Cariri Juazeiro do Norte-CE, 26 a 28 de Outubro de 2011

Efeitos alelopáticos de Brachiaria brizantha cv. Marandu sobre a germinação de espécies daninhas.

Avaliação do desenvolvimento inicial de milho crioulo cultivados na região do Cariri Cearense através de teste de germinação

Influência da Adubação Orgânica e com NPK, em Solo de Resíduo de Mineração, na Germinação de Sementes de Amendoim.

POTENCIAÇÃO ALELOPÁTICA FERREIRA, DE EXTRATOS M. C. et al. VEGETAIS NA GERMINAÇÃO E NO CRESCIMENTO INICIAL DE PICÃO-PRETO E ALFACE

ATIVIDADE FITOTÓXICA DE EXTRATOS ETANÓLICOS DE FOLHAS DE

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

Óleos essenciais de capim citronela e de alecrim pimenta na germinação de sementes de Chloris barbata, Sw.

Ação de Extratos Aquoso e Etanólico de Espécies de Espécies Vegetais na Germinação de Sementes de Commelina benghalensis L..

Diferentes Temperaturas E Substratos Para Germinação De Sementes De Mimosa caesalpiniifolia Benth

Qualidade fisiológica de sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. em função de diferentes períodos de armazenamento

Efeitos alelopáticos do extrato aquoso de Helianthus annuus e Avena strigosa, sobre a qualidade de sementes de Bidens Pilosa

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE MELANCIA EM DIFERENTES TEMPERATURAS 1. INTRODUÇÃO

GERMINAÇÃO DE Genipa americana L. (RUBIACEAE) APÓS DIFERENTES PERÍODOS DE SUBMERSÃO EM ÁGUA

Efeito alelopático do extrato aquoso de folhas de girassol sobre a germinação de soja e picão-preto

LONGEVIDADE DE SEMENTES DE Crotalaria juncea L. e Crotalaria spectabilis Roth EM CONDIÇÕES NATURAIS DE ARMAZENAMENTO

- Pesquisa de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM, RS. 2

EFEITO DO RESÍDUO EXAURIDO DO CULTIVO DE COGUMELOS SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Eucalyptus dunnii

INFLUÊNCIA DE PLANTAS ALELOPÁTICAS USADAS COMO COBERTURA MORTA DO SOLO SOBRE PLANTAS DANINHAS DE

Marque a opção do tipo de trabalho que está inscrevendo: (x) Resumo ( ) Relato de Caso

Efeito Alelopático do Extrato Aquoso de Folhas e Caule de Girassol (Helianthus annuus L.) Sobre a Germinação de Sorgo

Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014

Efeitos alelopáticos do extrato aquoso de folhas de Cedro Australiano (Toona ciliata var. australis) na germinação de sementes de alface

ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DO ÓLEO DE Carapa guianensis EM SEMENTES DE Bauhinia variegata

GONÇALVES, A.L.Z 1.; TONET, A.P 1.; STOFELL, A.V.S. 2

PALAVRAS-CHAVE: Homeopatia, alelopatia, bioensaio, Foeniculum vulgare, Cyperus rotundus.

EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATOS AQUOSOS DE Schinus terebinthifolia Raddi SOBRE GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DE Lafoesia pacari

TESTE DE GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE SANSÃO-DO-CAMPO (Mimosa caesalpiniaefolia Benth. FABACEAE-MIMOSOIDEAE) 1

Interferência do extrato vegetal de mangueira na cultura do crambe

Transcrição:

Floresta e Ambiente 2011 abr./jun.; 18(2):198-203 doi 10.4322/floram.2011.038 ISSN 1415-0980 (impresso) ISSN 2179-8087 (online) Artigo de Pesquisa Potencial Alelopático de Panicum maximum JACQ sobre a Germinação de Sementes de Espécies Nativas Danielle Medina Rosa 1, Andréa Maria Teixeira Fortes 2, Márcia Maria Mauli 1, Denise Sommer Marques 3, Denise Palma 1 1 Laboratório de Análises de Sementes e Plantas, Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE 2 Laboratório de Fisiologia Vegetal, Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE 3 Universidade Estadual Paulista UNESP RESUMO Neste trabalho testou-se o efeito do extrato de capim colonião (Panicum maximum) sobre a germinação de sementes de alface, canafístula e angico. Os extratos foram elaborados na proporção de 200 g de parte aérea fresca e 100 g de parte aérea seca para cada litro de água destilada, resultando no extrato bruto (100%), sendo diluído para as concentrações de 20, 40, 60 e 80%. O extrato de capim colonião prejudicou a germinação de sementes de alface, porém, nas sementes de espécies nativas estudadas, o único efeito observado foi estimulatório. Dessa forma, o efeito exercido sobre as espécies nativas na Estrada do Colono do Parque Nacional do Iguaçu não deve ser alelopático, atribuindo-se a outros efeitos, como competição. Palavras-chave: alelopatia, Peltophorum dubium (Spreng.) Taub, Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam. ABSTRACT Allelophatic Potential of Panicum maximum JACQ on Native Species Seed Germination This study tested the effect of the extract of Panicum maximum on lettuce, Peltophorum dubium (Spreng.) Taub and Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam. Extracts were prepared of 200 g of fresh aerial parts and 100 g of dry aerial parts for each liter of distilled water resulting in the gross extract (100%) diluted for the remainder concentrations 20, 40, 60 and 80%. The extract of Panicum maximum spoiled lettuce seed germination, however, the only effect on the native species studied was. Hence, the effect exerted on native species in this area cannot be allelopathyc incriminating other effects such as competition. Keywords: allelopathy, Peltophorum dubium (Spreng.) Taub, Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam.

Floresta e Ambiente 2011; 18(2):198-203 Potencial Alelopático de Panicum maximum JACQ... 199 1. INTRODUÇÃO O Parque Nacional do Iguaçu abrange um dos poucos remanescentes florestais de Floresta Atlântica, por isso foi tombado pela Unesco como patrimônio natural da humanidade (Instituto..., 2006). A Estrada do Colono, construída cortando o parque, colocou em risco este título, pois causou vários danos ao ambiente florestal (Ambientebrasil, 2006). Devido a isso a estrada foi fechada por pressão de ambientalistas. Mesmo com o fechamento da Estrada do Colono, ainda há sequelas. A vegetação secundária encontra dificuldade de regeneração. Um dos diversos fatores responsáveis pela inibição da sucessão ecológica é a invasão do local por espécies vegetais exóticas. Espécies exóticas são aquelas que ocorrem fora de seu limite natural e são potencialmente invasoras quando se adaptam ao ambiente ocupando o espaço de espécies nativas, resultando em grande proliferação (Ziller, 2000; Espíndola et al., 2005). Gramíneas africanas são espécies invasoras em potencial, grandes responsáveis por contaminações biológicas. Entre elas está o capim colonião (Panicum maximum Jacq.), espécie altamente infestante e principal invasora da área da Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu, que age impedindo a reestruturação ambiental (Carvalho & Jacobison, 2005; Espíndola et al., 2005 ). Um dos fatores responsável pela dominância de uma espécie no ambiente, a alelopatia, pode ser que seja exercida pelo capim sobre as espécies nativas do banco de sementes da Estrada do Colono. A alelopatia é a interferência de uma espécie sobre outra, a qual pode ser estimulante ou inibidora; baseia-se na liberação de compostos químicos, provenientes de metabolismo secundário, que agem isoladamente ou em conjunto (Rice, 1977; Taiz & Zeiger, 2009; Raven et al., 2007). Com o avanço da química, o estudo de substâncias aleloquímicas de espécies vegetais pode resultar no isolamento do princípio ativo (Ferreira & Borguetti, 2004). Estes compostos revelam-se como herbicidas naturais, os quais estariam livres dos efeitos prejudiciais causados pelos herbicidas sintéticos (Yunes & Calixto, 2001). Ou mesmo a utilização do extrato como agrotóxico, dependendo do grau de fitotoxidade. Dessa forma, para verificar a influência do capim colonião (Panicum maximum Jacq.) foi testado seu extrato sobre sementes de alface e, posteriormente, sobre a germinação de duas espécies nativas, a canafístula (Peltophorum dubium (Spreng.) Taub) e o angico (Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam). 2. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Fisiologia Vegetal da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus de Cascavel, no período de abril a outubro de 2006. As sementes de canafístula e angico foram doadas pela Fundação para Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNDETEC) e Refúgio Biológico Itaipu, respectivamente. Para identificar a potencialidade alelopática do capim colonião, foi testado extrato de folhas frescas e secas da espécie, sobre sementes de alface, que é uma espécie utilizada como bioindicadora por sua sensibilidade a aleloquímicos. O extrato de folhas mais influente foi escolhido e foi também testada a influência sobre sementes de espécies nativas de floresta semidecídua (característica da região da Estrada do Colono), a canafístula e o angico. O extrato bruto foi obtido a partir da trituração de 200 g de folhas frescas ou 100 g de folhas secas (secagem em ambiente natural) com 1 L de água destilada (extrato a 100%) e, a partir deste, foram feitas diluições nas concentrações de 0, 20, 40, 60, 80%. Após a confecção do extrato foi determinado seu ph. Para sementes de alface, foram testados extratos de folhas frescas e secas e para sementes de espécies nativas, apenas extratos de folhas frescas. O experimento foi realizado em duas etapas. Na primeira, avaliaram-se os efeitos do extrato de capim colonião sobre a germinação de alface, em que foi verificada a presença de aleloquímicos no capim colonião. Na segunda etapa, o extrato aquoso de capim colonião foi testado sobre as espécies nativas canafístula e angico. Os ensaios ficaram acondicionados em câmara de germinação, com temperatura a 25 C + 2 C e

200 Rosa DM, Fortes AMT, Mauli MM, Marques DS, Palma D Floresta e Ambiente 2011; 18(2):198-203 fotoperíodo de 12 horas. As sementes de alface foram dispostas em placas de Petri, com três folhas de papel filtro usadas como substrato. As sementes de canafístula e de angico foram dispostas em papel germitest, sobre duas folhas e com uma folha por cima, em forma de rolo. Ambos os substratos foram previamente autoclavados a 121 C por 20 minutos. Os substratos foram umedecidos com o respectivo extrato 2,5 vezes o peso do papel. As avaliações foram realizadas diariamente durante sete dias, considerando-se como semente germinada aquela que apresentou radícula com aproximadamente 2 mm de comprimento (Hadas, 1976). Além disso, foi medido comprimento de radícula das plântulas no final do experimento. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC), com quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (teste F), utilizando-se a transformação arco seno da raiz quadrada da porcentagem, sendo as médias comparadas com o teste Tukey a 5% de probabilidade (Pimentel Gomes, 1990). Além disso, foram utilizadas observações quanto ao tempo médio de germinação calculado segundo Edmond & Drapalla (1958) e a velocidade média de germinação calculada de acordo com Labouriau (1983). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O valor de ph para o extrato aquoso de capim colonião foi de 6,07 para o extrato fresco e 6,52 para extrato seco. A medida encontrada para os valores de ph dos extratos está próxima da neutralidade, fato este que demonstra que este parâmetro provavelmente não interferiu no processo de germinação. Visto que informações disponíveis mostram que tanto a germinação como o desenvolvimento de plantas são afetados negativamente apenas em condições em que o meio ou é extremamente ácido ou extremamente alcalino (Souza Filho et al., 1997). Segundo Ferreira & Borguetti (2004), o controle do ph e da concentração dos extratos é fundamental, pois pode haver neles substâncias como açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos, os quais influem na concentração iônica e são osmoticamente ativos. Dessa forma, valores de ph próximos da neutralidade como encontrados neste trabalho, não devem interferir no processo de germinação. A semente de alface é considerada bioindicadora da fitoxidade do extrato, podendo assim dar indicações importantes sobre o potencial alelopático. Segundo Ferreira e Aquila (2000), é uma das espécies mais sensíveis aos metabólitos secundários e por isso muito usada em biotestes em laboratório. Além disso, a resposta ao extrato é rápida devido ao seu baixo tempo de germinação. O comprimento de raiz foi alterado: para a concentração de 20%, foi reduzido pela metade, sendo maior o efeito quanto mais concentrado o extrato (Tabela 1). Isso indica interferência de capim colonião no desenvolvimento de alface. De acordo com Jacobi & Ferreira (1991), a inibição do desenvolvimento, sob o ponto de vista ecológico, é forma de seleção que elimina a descendência. Tabela 1. Efeito dos extratos de Panicum maximum Jacq. fresco e seco sobre a porcentagem de germinação (PG%), tempo médio de germinação (TMG), velocidade média de germinação (VMG) e comprimento de radícula (CR) sobre sementes de Lactuca sativa. Table 1. Effect of the extracts of Panicum maximum Jacq. fresh and dry on the percentage germination (PG%) average time of germination (ATG), average speed of germination (ASG) and radicle length (RL) on seeds of Lactuca sativa. (%) Extrato fresco Extrato seco PG% TMG VMG CR(cm) PG% TMG VMG CR(cm) Testemunha 94 a 1,37 b 0,72 a 3,37 a 94 a 1,37 c 0,72 a 3,37 a 20 77 b 1,54 b 0,64 a 1,78 b 85 a 1,51 c 0,65 a 3,26 a 40 74 b 2,04 b 0,49 b 0,64 c 83 a 1,62 bc 0,61 a 2,84 abc 60 72 b 2,72 a 0,37 bc 0,34 cd 85 a 2,07 b 0,48 b 2,85 ab 80 38 c 3,11 a 0,32 c 0,23 cd 85 a 2,07 b 0,48 b 2,23 bc 100 0 d - - - 65 a 2,57 a 0,38 b 1,98 c Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Floresta e Ambiente 2011; 18(2):198-203 Potencial Alelopático de Panicum maximum JACQ... 201 Tempo e velocidade médios foram afetados com o extrato fresco, comprovando a afirmação de Ferreira & Borguetti (2004) de que a alelopatia influencia primeiramente na germinação, porém o crescimento da plântula é mais sensível aos aleloquímicos, podendo afetar a velocidade e o tempo de germinação, ou mesmo, causar raízes necrosadas ou plântulas anormais. A alelopatia pode fazer com que uma espécie diminua a velocidade de germinação de outras e, se o desenvolvimento das outras espécies é prejudicado, a espécie favorecida pode estabelecer sua prole, evitando a pressão de competição. Conforme Ferreira & Borguetti (2004), mesmo germinando, muitas vezes a plântula não consegue vencer as interferências e se instalar. Na concentração de 100% de extrato fresco, a germinação foi inibida completamente; algumas sementes neste tratamento desenvolveram parte aérea, porém, como se segue o critério de Hadas (1976), não se considerou germinação e sim plântulas anormais. Nas sementes de alface submetidas ao extrato fresco de capim colonião (Tabela 1), todos os parâmetros avaliados sofreram interferência em relação à testemunha, o que caracteriza possível efeito alelopático. Neste trabalho, o extrato seco (Tabela 1) não apresentou diferença significativa para a porcentagem de germinação, porém, as sementes expostas às concentrações de 60, 80 e 100% obtiveram menor velocidade de germinação e, consequentemente, levaram mais tempo para germinar. Se o desenvolvimento das outras espécies é prejudicado, a espécie favorecida pode estabelecer sua prole, evitando a pressão de competição. O comprimento de raiz diminuiu conforme o aumento da concentração de extrato. Kissmann (1997) afirma que as plantas de Panicum maximum liberam compostos com ação alelopática e que o extrato aquoso de folhas secas contém ácido o-hidroxifenilacético e podem acumular grande quantidade de glucosídeos cianogênicos nas inflorescências, com efeito tóxico muito rápido. Tendo em vista que a aplicação do extrato aquoso fresco de capim colonião sobre sementes de alface apresentou efeito mais pronunciado, o que indica provável presença de aleloquímicos, este foi aplicado sobre as espécies nativas. A aplicação do extrato de capim colonião sobre as sementes de canafístula e angico não afetou os fatores avaliados, o único efeito encontrado foi o estimulatório para canafístula. Observa-se que no comprimento da radícula de canafístula (Tabela 2) a testemunha apresentou o valor de 2,03 cm e as sementes submetidas aos extratos, em todas as concentrações, passaram de 5,5 cm, o que pode indicar influência positiva do capim colonião sobre o desenvolvimento da espécie. O comprimento de raiz de angico não foi afetado (Tabela 3). Estes resultados confirmam a definição de alelopatia, que diz que os efeitos podem ser benéficos ou prejudiciais. Os parâmetros de porcentagem, tempo médio e velocidade média de germinação não foram afetados em relação à testemunha, tanto para sementes de canafístula como para de angico, não apresentando diferença estatística entre os tratamentos (Tabelas 2 e 3). Scherer et al. (2005) estudaram o efeito de folhas e frutos de leucena sobre a germinação de canafístula, constataram que o extrato de folhas interferiu na porcentagem de germinação e comprimento de raiz na concentração de 100%. O extrato do fruto mostrou maior potencial inibidor para sementes de canafístula. Assim, mesmo o capim colonião sendo uma espécie também exótica, os resultados obtidos no presente trabalho, apresentaram-se positivos sobre a germinação de canafístula, diferente dos resultados alcançados pelos autores acima, demonstrando que a resposta é diferente aos aleloquímicos de diferentes espécies. De acordo com Goetze & Thomé (2004), os processos utilizados para demonstrar que determinados extratos têm efeitos alelopáticos, não prova mais do que a existência de aleloquímicos no material vegetal, não podendo inferir que em condições de campo elas se manifestem, demonstrando a necessidade de estudos mais aprofundados. Lembrando que, no ambiente, o efeito pode se mostrar de diferente intensidade aos de testes de laboratório. Tendo em vista o efeito observado dos extratos aquosos de material fresco e seco de capim colonião sobre sementes de canafístula e angico, admite-se

202 Rosa DM, Fortes AMT, Mauli MM, Marques DS, Palma D Floresta e Ambiente 2011; 18(2):198-203 Tabela 2. Porcentagem de germinação (PG%), tempo médio de germinação (TMG), velocidade média de germinação (VMG) e comprimento da radícula (CR) de Peltophorum dubium submetido a concentrações do extrato de Panicum maximum. Table 2. Percentage germination (PG%), average time of germination (ATG), average speed of germination (ASG) and radicle length (RL) from Peltophorum dubium subjected to concentrations of extract of Panicum maximum. Tratamento (%) PG% TMG VMG CR (cm) Testemunha 83 a 2,60 a 0,38 a 2,03 b 20 83 a 2,67 a 0,37 a 6,46 a 40 83 a 2,76 a 0,36 a 5,73 a 60 80 a 2,64 a 0,37 a 6,22 a 80 87 a 2,82 a 0,35 a 5,74 a 100 85 a 2,91 a 0,34 a 5,73 a Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Tabela 3. Efeito dos extratos de Panicum maximum Jacq. fresco sobre a porcentagem de germinação (PG%), tempo médio de germinação (TMG), velocidade média de germinação (VMG) e comprimento de radícula (CR) sobre sementes de Parapiptadenia rigida. Table 3. Effect of the extracts of Panicum maximum Jacq. fresh on the percentage germination (PG%), average time germination (ATG), average speed of germination (ASG) and radicle length (RL) on seeds of Parapiptadenia rigida. Tratamento (%) PG % TMG VMG CR(cm) Testemunha 68 a 3,02 a 0,33 a 3,35 a 20 67 a 2,57 a 0,38 a 3,99 a 40 67 a 2,43 a 0,41 a 3,34 a 60 57 a 2,44 a 0,40 a 2,84 a 80 72 a 2,74 a 0,36 a 3,39 a 100 66 a 2,68 a 0,37 a 3,15 a Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. que o capim colonião não causou efeito negativo sobre as espécies estudadas. Esse fato demonstra que, provavelmente, a interferência que o capim colonião tem na Estrada do Colono sobre essas espécies não deve ser devido à presença e liberação de aleloquímicos, pode-se dever a outros fatores como competição por recursos naturais. Lembrando que as informações científicas sobre a alelopatia do gênero Panicum são escassas, fica demonstrada a necessidade de estudos a respeito. 4. CONCLUSÕES Nas condições em que foram realizados os experimentos, o capim colonião apresentou interferência alelopática sobre sementes de alface, causando efeito inibitório; porém não foi observada a mesma resposta nas sementes de espécies nativas canafístula e angico, visto que o único efeito significativo observado foi estimulatório. STATUS DA SUBMISSÃO Recebido: 16/03/2010 Aceito: 17/06/2011 Resumo publicado online: 25/06/2011 Artigo completo publicado: 30/06/2011 AUTOR(ES) PARA CORRESPONDÊNCIA Danielle Medina Rosa Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, Rua Odontologia, 820, CEP 85819-220, Cascavel, PR, Brasil e-mail: danimrosa@yahoo.com.br Andréa Maria Teixeira Fortes Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, Rua Universitária, 2069, CEP 85819-110, Cascavel, PR, Brasil e-mail: amtfortes@unioeste.br

Floresta e Ambiente 2011; 18(2):198-203 Potencial Alelopático de Panicum maximum JACQ... 203 REFERÊNCIAS Ambientebrasil. Estrada do Colono. 2006. [cited 2006 jul. 4]. Available from: http://www.ambientebrasil. com.br/composer.php3?base=./natural/index. html&conteudo=./natural/artigos/ecolono.html. Carvalho FA, Jacobison TKB. Invasão de plantas daninhas no Brasil - uma abordagem ecológica. In: Anais do Simpósio brasileiro sobre espécies exóticas invasoras; 2005; Brasília. Brasília: MMA; 2005. [cited 2006 jun. 29]. Available from: www.mma.gov.br/ invasoras/capa/doc/painéis.pdf. Edmond JB, Drapalla WJ. The effects of temperature, sana and soil, and acetone on germination oj okra seed. Proceedings of the American society for horticuticultural Science 1958; 71:428-443. Espíndola MB, Bechara CB, Bazzo MS, Reis A. Recuperação ambiental e contaminação biológica: aspectos ecológicos e legais. Biotemas 2005; 18(1):27 38. Ferreira A, Aquila MA. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal 2000; 12(edição especial):175-204. Ferreira AG, Borguetti F. Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Ed. Artmed; 2004. 222 p. Goetze M, Thomé GCH. Efeito alelopático de extratos de Nicotiana tabacum e Eucalyptus grandis sobre a germinação de três espécies de hortaliças. Revista Brasileira de Agrociência 2004; 10(1):43-50. Hadas A. Water update germination of leguminous seeds under changing external water potential in osmotic solution. Journal of Experimental Botany 1976; 27. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. Parque Nacional do Iguaçu. [cited 2006 jul. 4]. Available from: http://www. ibama.gov.br/parna_iguaçu. Jacobi US, Ferreira AG. Efeitos alelopáticos de Mimosa bimunocrata (DC) OK sobre espécies cultivadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira 1991; 26(7):935-943. Kissmann KG. Plantas infestantes e nocivas. 2rd ed. São Paulo: Basf; 1997. 649 p. Labouriau LG. A germinação de sementes. Washington: Organização dos Estados Americanos; 1983. Pimentel Gomes F. Curso de estatística experimental. São Paulo: Nobel; 1990. Raven P, Evert RF, Eichhorn SE. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2007. Rice EL. Some roles of allelopathic compounds in plant communities. Biochemical Systematics and Ecology 1977; 201-206. Scherer LM, Zucareli V, Zucareli CA, Fortes AMT. Efeito alelopático do extrato aquoso de folha e de fruto de leucena (Leucaena leucocephala Wit) sobre a germinação e crescimento de raiz de canafístula (Peltophorum dubium Spreng.). Semina: Ciências Agrárias 2005; 26(2):153-158. Souza Filho APS, Rodrigues LR, Rodrigues TJ. Efeitos do potencial alelopático de três leguminosas forrageiras sobre três invasoras de pastagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira 1997; 32(2):165-170. Taiz L, Zeiger E. Fisiologia vegetal. 3rd ed. Porto Alegre: Editora Artmed; 2009. 819 p. Yunes RA, Calixto JB. Plantas medicinais sob a ótica da moderna química medicinal. Chapecó: Argos; 2001. Ziller SR. Plantas exóticas invasoras: a ameaça da contaminação biológica. Revista Ciência Hoje 2000; 30(178).