AS GRAVURAS RUPESTRES DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO RIACHO DO CHAVES, MUNICÍPIO DE JUCURUTU, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

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Transcrição:

AS GRAVURAS RUPESTRES DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO RIACHO DO CHAVES, MUNICÍPIO DE JUCURUTU, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL Valdeci dos SANTOS JÚNIOR 1 Helano Francisco de Miranda CARLOS 2 Daline Lima de OLIVEIRA 3 Simão Pedro Ferreira GONZAGA 4 1 Docente do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), coordenador do Laboratório de Arqueologia o Homem Potiguar (LAHP-UERN), contato: valdecisantosjr@hotmail.com 2 Docente da prefeitura municipal do Natal-RN, contato: helano_fmc@yahoo.com.br 3 Graduanda do programa de graduação em arqueologia da Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), contato: daline.bs@hotmail.com 4 Graduando em História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, simaopyerry@hotmail.com 14

AS GRAVURAS RUPESTRES DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO RIACHO DO CHAVES, MUNICÍPIO DE JUCURUTU, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL. RESUMO As pesquisas sobre as técnicas de execução e temáticas apresentadas nas gravuras rupestres aplicadas em oito sítios arqueológicos localizados no Riacho do Chaves, município de Jucurutu, Estado do Rio Grande do Norte, indicam a hipótese de uma autoria vinculada a uma mesma identidade gráfica. Nesses espaços simbólicos foi possível segregar duas técnicas de execução (raspagens e picoteamento) dos grafismos existentes, além de recorrências temáticas, que evidencia um domínio da prática gráfica por grupos pretéritos em suportes marmorizados próximos a bacia hidrográfica e Rio Piranhas/Assu. O estudo geomorfológico do entorno desse conjunto de sítios indica também a possível utilização de depósitos naturais de água nas proximidades dessas criações simbólicas como estratégias de sobrevivência adotadas por esses grupos pré-históricos. PALAVRAS-CHAVES: Identidade gráfica, técnicas de execução, gravuras rupestres. ABSTRACT Research on the implementation and thematic techniques presented in petroglyphs applied in eight archaeological sites located in the Keys Creek, the city of Jucurutu, State of Rio Grande do Norte, indicate the possibility of a linked authorship to the same graphic identity. These symbolic spaces was possible to segregate two execution techniques (scrapings and pecking) of existing graphics, as well as thematic recurrences, which shows a field of graphic practice of past tenses groups marbled supports near river basin and Rio Piranhas / Assu. The geomorphological study surrounding this set of sites also indicates the possible use of natural water deposits near these symbolic creations as survival strategies adopted by these prehistoric groups. KEYWORDS: Graphic Identity, execution techniques, rock carvings. 15

INTRODUÇÃO A pesquisa arqueológica no Estado do Rio Grande do Norte vem tendo, nas últimas décadas, um direcionamento expressivo de estudos relacionados à arte rupestre envolvendo técnicas de execução utilizadas em gravuras. Esses registros gráficos, elaborados através dessas técnicas e existentes nos suportes rochosos nas várias regiões do Estado Potiguar, evidenciam os indícios de ocupações pré-históricas temporárias ou permanentes nessas áreas culturais. Uma dessas áreas possui um conjunto de oito sítios arqueológicos com arte rupestre com registros gravados, localizado as margens do Riacho do Chaves, na jurisdição geográfica do município de Jucurutu, pertencente à Microrregião do Vale do Açu (figura 01). Figura 01 Mapa da localização da área da pesquisa Sítios arqueológicos do Riacho do Chaves Município de Jucurutu RN. Fonte Daniel KiM, 2015. Nesses sítios arqueológicos com gravuras rupestres, intitulados Riacho do Chaves 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8, foi possível observar uma variedade de incisões representando os grafismos simbólicos nos suportes marmorizados. A princípio, a análise visual dessas criações simbólicas permite supor traços variados de profundidades e dimensões permitindo inferir também técnicas diferenciadas de execução (CARLOS, 2015). O conjunto de sítios arqueológicos estava inserido num mesmo contexto ambiental. Segundo Martin (1999) este indicativo torna-se necessário quando o objetivo é praticar a 16

arqueologia de áreas, linha de pesquisa comumente aplicada no Nordeste que busca um entendimento sistemático do meio ambiente, visto como variante adaptativa dentro do contexto arqueológico. A partir desses pressupostos iniciais, a pesquisa levantou alguns questionamentos: quais técnicas de execução foram adotadas nos suportes para elaborações dos registros simbólicos? Havia uma recorrência dessas técnicas entre os sítios? Seria possível segregar uma identidade gráfica 5 a partir desse conjunto de sítios arqueológicos? 1. OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO RIACHO DO CHAVES No município de Jucurutu - RN, especificamente, foram identificados espacialmente até o presente momento (2016), um total de quinze sítios arqueológicos com arte rupestre. Todos eles estão situados às margens de cursos de água, entre os quais, os sítios localizados nas margens do Riacho do Chaves, já na divisa com o município de Assu-RN (figura 02). 5 A identidade gráfica é constituída por um conjunto de características que permitem atribuir um conjunto de grafismos a uma determinada autoria social. Essas características constituem padrões de apresentação gráfica que correspondem a certas características culturais. O conjunto e recorrência desses padrões de apresentação gráfica observados numa área arqueológica pode caracterizar a identidade gráfica do acervo rupestre contido no espaço geográfico dessa área (PESSIS, 2002; 1993). 17

Figura 02 - Mapa do município de Jucurutu-RN com detalhes da inserção dos sítios arqueológicos identificados até 2015. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2015); Mapa elaborado por Getúlio Moura (2014). O Riacho do Chaves desemboca no Rio Piranhas/Assu que está situado a 1.500m na direção Sul do sítio arqueológico Riacho do Chaves VII e possui vários outros afloramentos marmorizados em sua margem. A geomorfologia da área compreende a inserção de afloramentos marmorizados, um relevo com cotas altimétricas médias de 120m intercaladas por elevações (serrotes e serras) que chegam a 320m, e cotas mínimas de 50m nas proximidades do rio Piranhas/Assu. A vegetação é típica da caatinga xerófila com árvores exógenas intrusivas como a algaroba nos leitos dos riachos e em suas margens. Os solos predominantemente são areno-argilosos e a pluviosidade gira em torno de 500 mm/ano. Os mármores e as formações ferríferas da FormaçãoJurucutu, junto com a tendência calcíticaquartzítica dos paragnaisses, indicam um ambiente de deposição marinho raso. Alguns níveis de quartzitos e metaconglomerados basais podem representar depósitos continentais (CPRM, 2006). Os sítios arqueológicos do Riacho do Chaves estão inseridos justamente nesses afloramentos marmorizados da Formação Jucurutu (figura 3). Figura 03 - Imagem da distribuição dos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves I a VIII no contexto geoambiental Fonte: Google Earth (adaptado), 2016. Nos afloramentos marmorizados ao longo das margens e do leito do Riacho do Chaves, podem ser observadas a presença de nove lugares com a existência de registros rupestres, 18

predominantemente gravados, sendo que apenas um sítio arqueológico (Pedra Ferrada do Chaves) não possui suporte rochoso marmorizado. As primeiras descrições arqueológicas sobre esses lugares com registros rupestres no Riacho do Chaves constam do Relatório Privado de Impacto Ambiental para atividades da Empresa MHAG Serviços e Mineração S/A (em poder do IPHAN-RN) realizado em Abril de 2007 pelo arqueólogo Walner Barros Spencer: As rochas nas margens do riacho estão repletas de gravuras, cuja cor esbranquiçada marcas da abrasão - contrasta com o azulado-escuro da rocha calcária. As gravuras diferem na profundidade de suas incisões, algumas são mais profundas, até 05 cm, e outras com uma raspagem rasa da superfície. (SPENCER, 2007, p.14). A partir desses dados preliminares, o arqueólogo Valdeci dos Santos Júnior percorreu todo o Riacho do Chaves e localizou suportes com registros gravados a partir de 2009, num total de nove sítios arqueológicos que são descritos sinteticamente a seguir: 1. SÍTIO ARQUEOLÓGICO PEDRA FERRADA DO CHAVES Este é o único sítio que não está situado no afloramento marmorizado, estando localizado em suporte rochoso (com variação intemperizada de granitoide) com tonalidade vermelha-escura (figura 04), ferruginosa, no leito do Riacho do Chaves, com 10 metros de comprimento por 1,5 metros de altura, em média, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas apresentam grafismos reconhecíveis 6 com antropomorfos 7 e zoomorfos 8 (com várias representações lagatiformes) e grafismos não reconhecíveis 9 (figuras 05 e 06). 6 O grafismo reconhecível é uma representação gráfica que permite um reconhecimento cognitivo, relacionado com nosso mundo sensível, tais como, uma figura humana, de um animal, um outro elemento da natureza (vegetais) ou de um objeto cultural. Nota do autor. 7 Representações gráficas assemelhadas morfologicamente com figuras humanas. Nota do autor. 8 Representações gráficas assemelhadas morfologicamente com figuras de animais. Nota do autor. 9 O grafismo não reconhecível não permite um reconhecimento cognitivo correlacionado com nosso mundo sensível. Nota do autor. 19

Figura 04 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Pedra Ferrada do Chaves Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2011). Figura 05 - Grafismos com técnicas de execuçãoatravés de raspagens e picotagem Sítio arqueológico Pedra Ferrada do Chaves Município de Jucurutu-RN. Fonte: SANTOS JÚNIOR, 2011. Figura 06 - Grafismos com representações zoomorfas e antropomorfas Sítio arqueológico Pedra Ferrada do Chaves Município de Jucurutu-RN. Fonte: SANTOS JÚNIOR, 2011. 2. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 1 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza, as margens do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 05 setores do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas apresentam uma predominância de grafismos reconhecíveis com antropomorfos e zoomorfos (representações lagatiformes). (figuras 07 a 11). 20

Figura 07 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 1 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 08: Setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 1 com grafismos com as técnicas de raspagens e picotagem. Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 09: Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 1 com representações antropomorfas e zoomorfas Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 10: Representação zoomorfa no sítio arqueológico Riacho do Chaves 1 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 11: Representação reconhecível do sítio arqueológico Riacho do Chaves 1 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) 3. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 2 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza (figura 12), as margens de um dos tributários do Riacho do Chaves. O local funciona com uma espécie de reservatório natural de água acumulada pelo período chuvoso. Possui gravuras espalhadas em doze setores diferentes do afloramento, com as técnicas da raspagem e da picotagem e as 21

temáticas apresentam uma predominância de grafismos reconhecíveis com antropomorfos e zoomorfos (com representações lagatiformes e de aves), com variadas dimensões (figuras 13 a 16). Figura 12 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 2 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS Figura 13 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 2 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS Figura 14 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 2 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS Figura 15 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 2 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS Figura 16 Grafismo reconhecível do sítio arqueológico Riacho do Chaves 2 Município de Jucurutu. Fonte: SANTOS 22

4. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 3 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza, as margens do Riacho do Chaves (figura 17). O local também funciona com uma espécie de reservatório natural de água após o período chuvoso. Possui gravuras espalhadas em 07 setores diferentes do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas apresentam grafismos reconhecíveis com antropomorfos e zoomorfos (representações lagatiformes e de aves), com variadas dimensões (figuras 18 a 21) associados com grafismos não reconhecíveis. Figura 17 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 3. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 18 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 3. Fonte: SANTOS Figura 19 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 3. Fonte: SANTOS 23

Figura 20 Representação zoormorfa (ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 3. Fonte: SANTOS Figura 21 Representação zoomorfa (Ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 3. Fonte: SANTOS 5. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 4 O sítio também está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza (figura 22), as margens de um dos tributários do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 03 setores diferentes do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas apresentam grafismos reconhecíveis com antropomorfos e zoomorfos (representações de aves), com variadas dimensões. Figura 22 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) 24

Figura 23 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS Figura 24 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS Figura 25 Representação zoormorfa (ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS Figura 26 Representação zoomorfa (Ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS 6. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 5 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza (figura 27), no leito do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 04 setores diferentes do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas apresentam predominância de grafismos não reconhecíveis, com variadas dimensões (figuras 28 a 31). Figura 27 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 5. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) 25

Figura 28 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 5. Fonte: SANTOS Figura 29 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 5. Fonte: SANTOS Figura 30 Técnica da raspagem e da picotagem do sítio arqueológico Riacho do Chaves 5. Fonte: SANTOS Figura 31 Grafismos não reconhecíveis do sítio arqueológico Riacho do Chaves 5. Fonte: SANTOS 7. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 6 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza (figura 32), as margens do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 12 setores diferentes do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem. As temáticas também apresentam grafismos reconhecíveis com antropomorfos e zoomorfos, com variadas dimensões (figuras 33 a 36). 26

Figura 32 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 6. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 33 Representação zoomorfa do sítio arqueológico Riacho do Chaves 6. Fonte: SANTOS Figura 34 Um Setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 6. Fonte: SANTOS Figura 35 Representação antropomorfa do sítio arqueológico Riacho do Chaves 6. Fonte: SANTOS Figura 36 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 6. Fonte: SANTOS 8. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 7 O sítio está localizado em suporte rochoso marmorizado com tonalidade cinza (figura 37), as margens de um dos tributários do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 03 setores diferentes do afloramento, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da 27

picotagem. As temáticas apresentam grafismos reconhecíveis com zoomorfos (representações de aves), com variadas dimensões. Figura 37 Contexto geoambiental do sítio arqueológico Riacho do Chaves 7. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 38 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 7. Fonte: SANTOS Figura 39 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 7. Fonte: SANTOS Figura 40 Representação zoormorfa (lagartiforme) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 7. Fonte: SANTOS Figura 41 Representação zoomorfa (ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 7. Fonte: SANTOS 28

9. SÍTIO ARQUEOLÓGICO RIACHO DO CHAVES 8 O sítio está localizado em três suportes rochosos marmorizados contíguos com tonalidade cinza (figura 42), as margens de um dos tributários do Riacho do Chaves. Possui gravuras espalhadas em 17 setores diferentes dos afloramentos, apresentando gravuras com as técnicas da raspagem e da picotagem, além de uma única representação pintada. As temáticas apresentam expressivo número de grafismos reconhecíveis com representações morfológicas e dimensões variadas de antropomorfos e zoomorfos. Figura 42 Contexto geoambiental de um dos afloramentos marmorizados do sítio arqueológico Riacho do Chaves 8. Fonte: SANTOS JÚNIOR (2010) Figura 43 Visão de um dos setores do sítio arqueológico Riacho do Chaves 8. Fonte: SANTOS Figura 44 Outro setor do sítio arqueológico Riacho do Chaves 8. Fonte: SANTOS 29

Figura 45 Representação antropomorfa do sítio arqueológico Riacho do Chaves 8. Fonte: SANTOS Figura 46 Representação zoomorfa (Ave) do sítio arqueológico Riacho do Chaves 4. Fonte: SANTOS 2. AS TÉCNICAS DE EXECUÇÃO UTILIZADAS Foi possível observar através de análises visuais em campo e de detalhes do acervo fotográfico em laboratório que foram bastante utilizadas nos registros rupestres dos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves duas técnicas de execução: a raspagem e a picotagem. Os grafismos apresentam as técnicas de forma individual ou em conjunto, ou seja, há grafismos em que foi efetuada somente a técnica da raspagem, há grafismos que foi efetuada somente a técnica da picotagem, assim como há grafismos em que as duas técnicas foram executadas para a composição final da criação simbólica. O sítio arqueológico do Riacho do Chaves II é onde se pode observar a maior presença da técnica da picotagem, enquanto no sítio arqueológico do Chaves V a predominância foi pela técnica da raspagem. As ranhuras e a composição estrutural irregular dos suportes rochosos (afloramentos de calcários marmorizados) talvez tenha sido o fator fundamental para a escolhas dessas técnicas pelos autores pretéritos que se adaptam melhor a suportes dessa tipologia, inviabilizando, por exemplo, em parte, a utilização da técnica do polimento ou as variações da raspagem com polimento e da picotagem com polimento. O único suporte rochoso que difere dos demais é o do sítio arqueológico da Pedra Ferrada do Chaves que possui uma estrutura geológica diferente (tipo de granitoide com infiltrações ferruginosas) dos demais sítios que eram predominantemente calcários marmorizados. É possível que nesse sítio específico tenha sido utilizada, em alguns grafismos, a técnica conjunta da raspagem com posterior polimento antrópico ou mesmo natural decorrente da ação direta das águas durante os períodos invernosos. 30

De uma forma sintética pode ser estabelecido o seguinte quadro de técnicas de execução das gravuras rupestres dos sítios arqueológicos existentes no Riacho do Chaves conforme tabela 01 abaixo: Sítio arqueológico Técnicas de execução identificadas Técnica predominante Pedra Ferrada do Chaves Raspagem, picotagem e picotagem com Raspagem polimento Riacho do Chaves 1 Raspagem e picotagem Picotagem Riacho do Chaves 2 Raspagem e picotagem Picotagem Riacho do Chaves 3 Raspagem e picotagem Picotagem Riacho do Chaves 4 Raspagem e picotagem Raspagem Riacho do Chaves 5 Raspagem e picotagem Raspagem Riacho do Chaves 6 Raspagem e picotagem Picotagem Riacho do Chaves 7 Raspagem e picotagem Picotagem Riacho do Chaves 8 Raspagem e picotagem Picotagem Tabela 01 Técnicas de execução identificadas nos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves Município de Jucurutu - RN Os resultados indicam que todos os sítios arqueológicos existentes no leito, nas margens e/ou nos tributários do Riacho do Chaves possuem registros rupestres elaborados com as técnicas de raspagem e picotagem, independentemente da autoria cronológica. A técnica da picotagem aparece de forma predominante em 6 (seis) dos sítios arqueológicos evidenciando o uso de percutores em atividades contundentes diretamente no suporte rochoso para elaboração das formas dos grafismos. Essa prática é visualmente observada na diversidade de cúpules que preenchem os grafismos de composição ou de forma isolada. O arqueólogo Valdeci Santos intitulou esse estilo 10 de ponto-a-ponto na apresentação do trabalho Dize-me como gravas e eu te direi quem és: o estilo ponto-a-ponto das gravuras rupestres do Riacho do Chaves, município de Jucurutu-RN no Congresso Nacional da SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira) realizado em Florianópois, em 2010 (SANTOS JÚNIOR, 2010). A técnica da raspagem aparece de forma predominante em três sítios arqueológicos, notadamente em setores do suporte rochoso que permitem a fricção do percutor de maneira deslizante, sem os obstáculos naturais (ranhuras irregulares e feições pontiagudas) dos afloramentos marmorizados que dificultam o movimento uniforme. A técnica do polimento só foi perceptível em raros grafismos do sítio arqueológico Pedra Ferrada do Chaves, mesmo assim 31

não é possível assegurar com certeza absoluta, haja vista a possiblidade desse polimento ter sido efetuado de forma natural pelo impacto constante das águas decorrentes do período invernoso. Como o sítio está localizado praticamente no leito do riacho essa hipótese não pode ser descartada. 3. AS REPRESENTAÇÕES TEMÁTICAS A análise dos painéis gráficos dos sítios arqueológicos existentes no Riacho do Chaves permite extrair algumas inferências preliminares: a) O sítio arqueológico Pedra Ferrada do Chaves provavelmente foi elaborado por grupo pretérito específico, ou seja, em termos de dimensão temática e dimensão cenográfica dos grafismos, não possui as mesmas características e recorrências dos demais sítios intitulados Riacho do Chaves 1 a 8; b) Os sítios Riacho do Chaves 1 a 8 possuem similaridades gráficas recorrentes e específicas em todas as dimensões de análise (técnica, temática e cenográfica) do fenômeno gráfico; c) O alto índice de representações reconhecíveis referentes a antropomorfos e zoomorfos difere da maioria dos sítios arqueológicos do Rio Grande do Norte com gravuras, onde normalmente é comum a predominância de grafismos não reconhecíveis na elaboração dos registros; d) Além das representações da fauna (notadamente aves e representações lagartiformes) foi possível distinguir a formação de cenas entre os registros gravados (aspecto relativamente raro nos registros gravados), inclusive com possíveis cenas ritualísticas envolvendo as representações antropomorfas; Diante disso, o arqueólogo Valdeci Santos (2010) elaborou um perfil gráfico preliminar dessas recorrências que permite levantar a hipótese de uma identidade gráfica específica em relação aos oito sítios intitulados Riacho do Chaves 1 a 8 conforme o quadro 01 seguinte: 32

Dimensões dos grafismos: intervalo entre 10 a 100 cm Suporte rochoso: marmorizado Técnicas de execução: picotagem e raspagens Possíveis cenas de rituais Contexto geoambiental: formações rochosas as margens de riachos/depósitos de água Alternância no preenchimento dos espaços internos dos grafismos Delimitação espacial Predominância de motivos reconhecíveis Alternância no preenchimento morfológico dos grafismos reconhecíveis Quadro 01 Perfil gráfico preliminar dos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves Município de Jucurutu TN. Fonte: VALDECI SANTOS (2010) 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados da pesquisa permitiram responder parcialmente aos questionamentos apontados na introdução que nortearam essa pesquisa. Foi possível identificar três técnicas de execução na elaboração das gravuras dos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves: duas de forma predominante (raspagem e picotagem) e uma de forma intrusiva (polimento). Quanto ao segundo questionamento, a observação da recorrência dessas técnicas permitiu concluir que a técnica da picotagem foi a mais utilizada. Quanto ao terceiro questionamento sobre a identidade gráfica específica quanto a autoria, os dados preliminares coletados apontam que sim, mas será necessário um aprofundamento da pesquisa com relação as dimensões temática e cenográfica para uma melhor consistência argumentativa na defesa dessa hipótese. O que se pode observar com razoável grau de segurança é que, pelo menos visualmente, o estilo gráfico recorrente adotado nesse conjunto de oito sítios induz a pensar num único grupo pretérito que seria os autores dessas criações simbólicas. A utilização dos cursos d água do Riacho do Chaves e seus tributários, assim como dos depósitos naturais que se acumulam no seu leito e em suas margens, permanecendo por mais 33

tempo e adentrando até no período mais seco, permitiram a ocupação desses espaços para expressar um pouco do simbolismo social de seus autores, estabelecendo assim, um elo de ligação entre o passado e o presente através desse sistema de comunicação utilizado nessa préescrita. REFERÊNCIAS CARLOS, Helano Francisco de Miranda. As técnicas de execução das gravuras rupestres dos sítios arqueológicos do Riacho do Chaves, município de Jucurutu, Estado do Rio Grande do Norte. Monografia de conclusão do curso de especialização em arqueologia do Nordeste Brasileiro, UFRN, 2015. 65p. CPRM. Geologia e recursos minerais do Rio Grande do Norte. Programa Geologia do Brasil, 2006. MARTIN, Gabriela. Pré-história do Nordeste do Brasil. 4. ed. Recife:UFPE,1999. PESSIS, Anne-Marie. Registros rupestres, perfil gráfico e grupo social. Clio Série Arqueológica. N.9. Recife: UFPE, 1993. Do estudo das gravuras rupestres pré-históricas no Nordeste do Brasil. Clio Série Arqueológica. N.15. Recife: UFPE, 2002. SANTOS JÚNIOR, Valdeci. Dize-me como gravas e te direi quem és: o estilo ponto-a-ponto das gravuras rupestres do Riacho do Chaves, Município de Jucurutu-RN. Anais do Congresso Nacional da SAB, Florianópolis-SC, 2010. SPENCER, Walner Barros. Diagnóstico e Levantamento de Patrimônio Arqueológico - Mina do Bonito, Jucurutu RN. Relatório da Empresa Florescer Projetos e Consultoria Ambiental para o IPHAN- RN, 2007. 34