Mário de Sá-Carneiro

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André Cabral Carina Goulart Poetas do século XX Mário de Sá-Carneiro Débora Melo Joana Costa

Quando eu morrer batam em latas, Rompam aos saltos e aos pinotes - Façam estalar no ar chicotes, Chamem palhaços e acrobatas. Que o meu caixão vá sobre um burro Ajaezado à andaluza: Que a um morto nada se recusa, E eu quero por força ir de burro... Mário de Sá-Carneiro

O sujeito poético começa por formular um desejo: quando morrer, quer que todos ajam como se se tratasse de uma festa e que o levem a enterrar num burro enfeitado à maneira andaluza. Este desejo contraria o que é natural acontecer quando alguém morre, visto que, nessa situação, as pessoas mostram tristeza e sofrimento e, normalmente, o caixão não vai em cima de um burro. O desejo do sujeito lírico é insólito, pois o ambiente descrito no poema não se aproxima a um ambiente comum de um funeral.

O sujeito poético parece tratar-se de uma pessoa excêntrica, até caprichosa e determinada, pois ele queria ser diferente e não abdica da sua ideia. O seu estado de espírito afigura-se exaltado, quase febril. O ambiente descrito é alegre, festivo e descontraído, pois ele desejava que no seu funeral estivessem presentes palhaços e acrobatas e que as pessoas andassem aos saltos e aos pinotes. As sensações que o poema sugere são sobretudo auditivas, o barulho do bater das latas e dos chicotes no ar e visuais, as cores dos palhaços e dos acrobatas.

A imagem que se segue seria uma ilustração adequada ao poema, porque um caixão com uma pessoa dentro e em cima de um burro, teria o mesmo efeito que a carroça, isto é, era cómico, capaz de suscitar o riso.

No primeiro plano, a pintura representa uma figura calva, numa ponte, que parece apavorada: as mãos colocadas de ambos os lados da cara, os olhos arregalados e a boca aberta, da qual parece, efetivamente, soltar-se um grito, associados às cores frias utilizadas para a retratar, evidenciam uma grande angústia e um terror enorme, capazes de levar esta misteriosa personagem à ação que dá títlo à pintura: O Grito. Mais ao fundo, na ponte veem-se duas outras personagens, distantes e indefinidas, aparentemente alheias ao sofrimento de quem grita. Por baixo da ponte passa um rio, pintado também em cores frias, que toca, ao fundo, num céu que podemos associar ao pôr do sol, uma vez que nele predominam as cores quentes (vermelhos e laranjas). É de salientar que a figura que grita e os elementos associados à natureza estão pintados como se fossem ondas, metaforicamente, parece que as ondas sonoras do grito tomam conta destes elementos. Pelo contrário, as figuras humanas distantes e aquilo que não é natural na paisagem, isto é, a ponte, são pintadas com linhas retas, o que pode simbolizar a indiferença destes elementos à dor e angústia vividos pela personagem central.

Como o quadro, também, o poema de Mário de Sá- Carneiro remete para o medo, pelo facto de todo o sentimento de festa poder estar relacionado com o medo da morte. Deste modo, as duas personagens, o sujeito liríco do poema de Sá-Carneiro e a personagem central de O Grito, podem estar a sentir o mesmo, embora manifestem reações diferentes face a esse sentimento.

Biobibliografia de Mário de Sá-Carneiro Nome: Mário de Sá-Carneiro Nacionalidade: Portuguesa Naturalidade: Lisboa Nascimento: 19 de Maio de 1890 Morte: Paris, 26 de Abril de 1916 Atividades artísticas/literárias: Escritor português. Atividades profissionais: Em 1914, publicou A Confissão de Lúcio (novela) e Dispersão (poesia). Em 1915 publicou Orpheu, em julho desse ano, saiu Orpheu 2. Habilitações académicas: Em 1900, entrou no liceu do Carmo, começando, então, a escrever poesia. Em 1905 redigiu e imprimiu O Chinó. Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1911. Foi para Paris, com o objectivo de estudar Direito na Sorbonne. Obras: Amizade (1912); Princípio (1912); Memórias de Paris (1913); A Confissão de Lúcio (1913); Dispersão (1914); Céu em Fogo (1915); Orpheu; Portugal Futurista; Indícios de Oiro (1937) http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=m%c3%a1rio%20de%20s%c3%a1- Carneiro