Autoconsumo Fotovoltaico: Em Portugal na Europa e no Mundo. António Joyce - Antonio.Joyce@lneg.pt Congresso Nacional de Autoconsumo Fotovoltaico 10 Outubro 2015 NERSANT Torres Novas
O que é o Autoconsumo? A situação do Autoconsumo em Portugal. Autoconsumo na Europa e no Mundo.
O que é o Autoconsumo? A forte redução do custo dos sistemas Fotovoltaicos trouxe o custo da eletricidade produzida por estes sistemas para valores próximos quer da paridade com a rede (Grid Parity), quer mesmo, em alguns casos, de verdadeira competitividade com os custos de produção de eletricidade por meios ditos convencionais. Este fato levou a repensar os mecanismos de suporte a estes sistemas e a uma progressiva substituição do mecanismo mais utilizado, nomeadamente na Europa, as Feed in Tariffs (FiT) por outros esquemas. O Autoconsumo (Self Comsumption), em que o objetivo é a produção de eletricidade para satisfazer o consumo próprio (prosumers) é um desses esquemas. Reforça o posicionamento do Consumidor no processo. Tem a vantagem de potenciar medidas de Eficiência Energética. Permite reduzir as perdas na rede elétrica.
O sistema idealmente deverá produzir toda a energia necessária ao consumo. O eventual excesso de energia produzida em relação à energia consumida a nível instantâneo ou numa escala de tempo determinada pode ser injetado na rede. A forma como esta energia excedentária é remunerada pode assumir diferentes modalidades entre as quais: Tarifa bonificada (incentivo a uma determinada tecnologia) Tarifa variável com as horas do dia (cheio ou vazio). Tarifa reduzida (desincentiva o excesso de produção) Netmetering (balanço entre energia produzida e consumida) Netbilling (equilibra as contas de compra e venda de energia) Daqui resultam diferentes tipos de legislação de Autoconsumo. Na Europa não existe uniformidade neste tipo de legislação.
A variabilidade associada às Energias Renováveis, a diversidade de perfis de consumo e os esquemas tarifários de compra e venda da energia elétrica exigem: Dimensionamento criterioso do sistema. Ligação à rede elétrica e/ou armazenamento de energia elétrica. Esquemas de gestão flexíveis. O objetivo é otimizar os benefícios para o consumidor, quer em termos energéticos quer em ganhos económicos. Os benefícios económicos avaliam-se pela comparação entre o LCOE (Levelized Cost of Electricity) ou seja o custo da energia produzida ao longo do tempo de vida do sistema e o custo da energia que é substituída no mesmo período. Tendo em conta os diferentes perfis de consumo existem dois setores distintos de utilização: o setor Residencial e o setor Comercial.
Setor residencial Fonte: Victron Energy Fonte: SMA Produção PV (5 kwp) e consumo de uma casa com 4 pessoas num dia de Verão. Sistemas de pequena dimensão (ex: PV com 5 kwp). Perfis de consumo variáveis. Alguma capacidade para adaptar os perfis de consumo ao perfil de produção.
No setor Residencial existe um potencial significativo para melhorar o desempenho de sistemas de Autoconsumo nomeadamente a taxa de auto consumo: Medidas de eficiência energética. Alteração dos perfis de consumo para melhor adequação aos perfis de produção de renováveis (por exemplo o caso do Solar Fotovoltaico). Utilização de armazenamento de energia (elétrica e térmica). Integração com o veículo elétrico.
Setor Comercial Grandes Centros Comerciais, Retail Parks e Indústria com possibilidade de sistemas de autoconsumo de grande dimensão (ex: sistemas PV de 1MWp). Perfis aproximadamente constantes. Taxas de autoconsumo muito variáveis ao longo do ano. Fonte: SunEdison report Fonte: SMA
A situação do Autoconsumo em Portugal DL 153/2014 considera: Unidades de Produção para Auto Consumo (UPAC) obriga a um dimensionamento criterioso da instalação de acordo com os perfis de consumo. Potencia medidas de eficiência energética. Renováveis e Não Renováveis. Venda à rede eléctrica de eventuais excedentes é feita a um preço de 90% do custo de mercado grossista. Preço muito mais baixo do que o custo da energia eléctrica ao próprio consumidor o que penaliza a rentabilidade de um sistema. Unidades de Pequena Produção (até 250 kw - UPP) enquadra os anteriores regimes de micro e mini produção. Só Renováveis. Venda da totalidade da energia produzida à RESP obriga a que seja consumida no local da instalação pelo menos metade da energia produzida, o que não potencia medidas de eficiência energética. Remuneração é feita com uma tarifa atribuída com base num modelo de licitação que tem uma tarifa de referência que depende da categoria do sistema: Categoria I sistema só para venda de electricidade; Categoria II sistema associado à existência de veículos eléctricos; Categoria III sistema associado à instalação de colectores solares térmicos.
2015 Atividade de Produção de Energia elétrica (DL 153/2014 de 20 de Outubro, Tarifas) UPP Unidades de Pequena produção, Potência de ligação até 250 kw que utilizam Recursos Renováveis como fonte primária de Energia. (Prevê a licitação por oferta de descontos à tarifa de referência) Período de 15 anos, Tarifa? < Tar. Ref / kwh UPAC Unidades de Produção para Autoconsumo, até 1 MW, podem celebrar contratos para venda da energia não consumida à rede Período de 10 anos, renováveis de 5 em 5 Tarifa, OMIE m x 0,90 ~ (0,035 a 0,054) / kwh Têm de pagar uma compensação mensal à rede em função da potência instalada pelo período de 10 anos OMIE m - Média aritmética do preço de fecho no Operador do Mercado Ibérico de Energia para Portugal (mercado diário) no mês m
Nos primeiros seis meses de Autoconsumo em Portugal os resultados são os seguintes. (SERUP - Sistema Eletrónico de Registo de Unidades de Produção) A esmagadora maioria dos sistemas registados são Fotovoltaicos. Estão registados um total de 21.8 MW dos quais 13.9 MW são UPACs e 7.9 MW são UPPs (antiga micro e minigeração). Não foi possível obter dados sobre a totalidade de instalações já efetuadas. MÊS UPAC [kw] UPAC-MCP [kw] UPP-CAT I [kw] UPP-CAT II [kw] UPP-CAT III [kw] Totais [kw] mar-15 1478 83 1592 1419 510 5082 abr-15 751 100 239 475 78 1642 mai-15 744 184 5 198 390 1521 jun-15 3027 226 27 674 90 4043 jul-15 1150 637 50 294 318 2449 ago-15 4991 518 100 500 963 7072 Total 12141 1746 2013 3560 2349 21810 UPAC- Unidades de Produção para Auto Consumo. MCP Mera Comunicação Prévia. UPP Unidades de Pequena Produção.
Autoconsumo na Europa e no Mundo Integrado na estratégia da designada Energy Union, proposta pela Comissão Europeia em Fevereiro de 2015, encontra-se o objetivo de colocar os consumidores no centro da transição de um mercado fortemente suportado para um mercado energético único e competitivo. Eficiência Energética Forte impacto das questões Ambientais. Europa liderando as Renováveis Apoio ao Consumidor através de : Mais informação para ajudar Consumidores a poupar dinheiro e energia. Dar aos Consumidores maiores escolhas para a sua participação nos mercados energéticos. Proteger os Consumidores
Existem, algumas barreiras ou incertezas na implementação do Autoconsumo a nível global (na Europa e no Mundo). Inexistência de um marco legal ou legislação complexa. Custo da eletricidade muito baixo em alguns países. Sistemas de Renováveis não competitivos em alguns países. Taxas de desconto (remuneração do dinheiro) elevadas. Alguns exemplos: Espanha: aplicação de um modelo que implica o pagamento de uma taxa por utilização de um recurso Renovável como o Sol. Itália: Legislação de Autoconsumo complexa com um teto de 200 kw para instalações do tipo netmetering. Reino Unido: Tarifas diferentes para a eletricidade consumida dão origem a que o Autoconsumo tenha níveis diferentes de interesse económico para os consumidores.
Fonte: CREARA analysis Autoconsumo no Setor Residencial: posicionamento de alguns países.
Fonte: CREARA analysis Autoconsumo no Setor Comercial: posicionamento de alguns países.
Conclusões Autoconsumo é uma ideia muito interessante que se tem vindo a desenvolver um pouco por todo o Mundo. Potencia medidas de Eficiência Energética. Legislação e apoios muito distintos (até na Europa). Várias tecnologias das Renováveis podem ser utilizadas mas Fotovoltaico é nitidamente dominante devido ao grande decréscimo de custos e possibilidade de LCOEs baixos. Portugal arrancou com a legislação de Autoconsumo há cerca de 1 ano mas neste momento tem pouco mais de 6 meses de implementação. Resultados parecem ser animadores permitindo antever uma retoma do mercado do Fotovoltaico. Número interessante de players neste setor. Alguma presença nos media. Autoconsumo coloca desafios importantes à área tecnológica como, por exemplo, o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia, de gestão e de integração de Autoconsumo com o carregamento de veículos elétricos.
Bibliografia DL- 153/2014 de 20 de Outubro e Portarias n.º 14/2015, n.º 15/2015 e n.º 60-E/2015 Despacho n. 3/SERUP/DGEG/2015 da Direção Geral de Energia e Geologia de 3 de março de 2015. (www.dgeg.pt) RESPOSTAS A PERGUNTAS FREQUENTES, SERUP, (www.dgeg.pt). Dados do SERUP no portal da DGEG (Março, Abril, Maio, Junho, Julho e Agosto de 2015) Projeto PVGRID - www.pvgrid.eu/national-updates/spain.html PV GRID PARITY MONITOR (Residential and Commercial sectors); CREARA Energy Experts, Fevereiro 2015. ENABLING THE EUROPEAN CONSUMER TO GENERATE POWER FOR SELF-CONSUMPTION report prepared to SunEdison by Jochen Hauff and Dennis Rendschmidt from A.T. Kearney Berlin (2011)
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