VPS-5719 BASES INSTRUMENTAIS EM EPIDEMIOLOGIA MOLECULAR DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS GIARDIA



Documentos relacionados
Projeto Genoma e Proteoma

Seminário de Genética BG Principal Resumo Professores Componentes Bibliografia Links

Ancestralidade Materna polimorfismos matrilínea DNA Mitocondrial (mtdna).

PUCRS CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Genética I AULA PRÁTICA APLICAÇÕES DAS TÉCNICAS DE PCR E ELETROFORESE DE DNA


Histórico da Classificação Biológica

PROTOZOÁRIOS PARASITAS INTESTINAIS

Imunodeficiência Comum Variável: Manifestações gastrintestinais a. Giardia lamblia

Entendendo a herança genética. Capítulo 5 CSA 2015

O DNA é formado por pedaços capazes de serem convertidos em algumas características. Esses pedaços são

objetivos Complexidade dos genomas II AULA Pré-requisitos

[VERMINOSES]

> ESTUDO DO RNA. (C) O ácido nucléico I é DNA e o II, RNA. (D) O ácido nucléico I é RNA e o II, DNA. (E) I é exclusivo dos seres procariontes.

Entendendo a herança genética (capítulo 5) Ana Paula Souto 2012

Analise filogenética baseada em alinhamento de domínios

Genética I: Mendel, Mitose e Meiose

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE GIARDIA SPP. POR DIFERENTES MÉTODOS COPROLÓGICOS

Criado e Desenvolvido por: RONNIELLE CABRAL ROLIM Todos os direitos são reservados

Entendendo a herança genética (capítulo 5) Ana Paula Souto 2012

MEDICINA VETERINÁRIA. Disciplina: Genética Animal. Prof a.: D rd. Mariana de F. Gardingo Diniz

Atividade extra. Questão 1. Questão 2. Ciências da Natureza e suas Tecnologias Biologia. A diversidade biológica é o fruto da variação genética.

Primeira Lei de Mendel e Heredograma

Hoje estudaremos a bioquímica dos ácidos nucléicos. Acompanhe!

Papilomavírus Humano HPV

Rota de Aprendizagem 2015/16 5.º Ano

BIOLOGIA IACI BELO. Como duas espécies distintas podem evoluir para formas idênticas?

Replicação Quais as funções do DNA?

Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada Disciplina de Mineração de Dados

BIOTECNOLOGIA. 2. Conceito de clonagem molecular

Exercícios de Evidências da Evolução

Resposta: Interbits SuperPro Web

EXERCÍCIOS DE CIÊNCIAS (7 ANO)

Complexo principal de histocompatibilidade

de Giardia lamblia e de Entamoeba spp.

Os animais. Eliseu Tonegawa mora com a família - a. nova

PlanetaBio Resolução de Vestibulares UFRJ ª fase

Bioinformática Aula 01

O Primeiro Programa em Visual Studio.net

Jornal de Piracicaba, Piracicaba/SP, em 4 de Junho de 1993, página 22. Animais de companhia: O verme do coração do cão

Núcleo Celular. Biomedicina primeiro semestre de 2012 Profa. Luciana Fontanari Krause

Bioinformática. Trabalho prático enunciado complementar. Notas complementares ao 1º enunciado

Organização do Material Genético nos Procariontes e Eucariontes

BIOLOGIA MOLECULAR. Prof. Dr. José Luis da C. Silva

CONTROLE DO METABOLISMO GENES

Genética Humana. Prof. João Ronaldo Tavares de Vasconcellos Neto

Portuguese Summary. Resumo

Reino Protista. São Eucariontes. Formado por Protozoários e algas unicelulares. São Unicelulares. Protozoário Ameba. Protozoário Paramécio

STATGEN Plataforma web para análise de dados genéticos.

PlanetaBio Resolução de Vestibulares UFRJ

O fluxo da informação é unidirecional

ANÁLISE GENÔMICA, MAPEAMENTO E ANÁLISE DE QTLs

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

ÁCIDOS NUCLEÍCOS RIBOSSOMO E SÍNTESE PROTEÍCA

Painéis Do Organismo ao Genoma

Princípios moleculares dos processos fisiológicos

ACESSO VESTIBULAR QUESTÕES DE PROCESSAMENTO DE RNA OU SPLICING 01. (MAMA ) PÁGINAS OCULTAS NO LIVRO DA VIDA

CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA. Reprodução, Acasalamento, Manutenção e Algumas considerações...

17/10/2012. Bases Instrumentais de bioinformática aplicada à Epidemiologia Molecular das doenças transmissíveis. Fábio Gregori. O que é?

Ácidos nucléicos. São polímeros compostos por nucleotídeos. Açúcar - pentose. Grupo fosfato. Nucleotídeo. Base nitrogenada

1. NÍVEL CONVENCIONAL DE MÁQUINA

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA VIDA SISTEMÁTICA

AULA 1 ORGANIZAÇÃO CELULAR DOS SERES VIVOS

(baseado em 1 avaliações)

Prováveis causas para agressividade canina e os ataques de cães nas Cidades Brasileiras

Capítulo 4 - Roteamento e Roteadores

Digestão extra-celular

- Ácido ribonucléico (ARN ou RNA): participa do processo de síntese de proteínas.

Várias classificações já foram propostas. Adotaremos a classificação proposta por Whittaker e adotada pelo naturalista sueco Lineu ( ).

1 DEFERIDO 1 INDEFERIDO São Luís, 29 de fevereiro de 2008

I CURSO DE MANEJO IMEDIATO DE ANIMAIS SILVESTRES EM ATIVIDADES FISCALIZATÓRIAS CONCEITOS

IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA PROTECÇÃO DOS PRODUTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES

Universidade Federal de Pelotas Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel Programa de Pós-Graduação em Agronomia CENTRO DE GENOMICA E FITOMELHORAMENTO

Factor Analysis (FACAN) Abrir o arquivo ven_car.sav. Clique Extraction. Utilizar as 10 variáveis a partir de Vehicle Type.

COLÉGIO XIX DE MARÇO excelência em educação

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 64 EVOLUÇÃO DO HOMEM

VIROLOGIA HUMANA. Professor: Bruno Aleixo Venturi

20o. Prêmio Expressão de Ecologia

Dia da Propriedade Industrial. Patentes de Genes. Vanessa Fatal Examinadora de Patentes. Universidade de Évora

MEDICINA VETERINÁRIA. Disciplina: Genética Animal. Prof a.: Drd. Mariana de F. G. Diniz

O que são domínios protéicos

Como controlar a mastite por Prototheca spp.?

Epigenética e Memória Celular

BIOLOGIA. (cada questão vale até cinco pontos) Questão 01

DNA A molécula da vida. Prof. Biel Série: 9º ano

ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS. Prof. Emerson

Mosquitos invasores Vigilância e Investigação do Potencial Impacto em Saúde Pública. Factores de emergência - Invasões

EPIDEMIOLOGIA. CONCEITOS EPIDÊMICOS Professor Esp. André Luís Souza Stella

INSTITUTO OSWALDO CRUZ. Mestrado em Biologia Parasitária

Principais parasitas em cães e gatos:

Os primeiros indícios de que o DNA era o material hereditário surgiram de experiências realizadas com bactérias, sendo estas indicações estendidas

CURSOS Agronomia, Ciências Habilitação em Biologia, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia e Zootecnia

Bioinformática. Licenciaturas em Biologia, Bioquímica, Biotecnologia, Ciências Biomédicas, Engenharia Biológica. João Varela

História do pensamento evolutivo

Equipe de Biologia. Biologia

3 Classificação Resumo do algoritmo proposto

INTRODUÇÃO À VIROLOGIA MORFOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO VIRAL. Larissa dos Santos Professora Auxiliar de Virologia larissa.ss@gmail.com

Microscópio de Robert Hooke Cortes de cortiça. A lente possibilitava um aumento de 200 vezes

Arquitetura de Rede de Computadores

Prevenção e conscientização é a solução. Ciências e Biologia

Transcrição:

VPS-5719 BASES INSTRUMENTAIS EM EPIDEMIOLOGIA MOLECULAR DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS GIARDIA

GIARDIA Bruno Alonso Miotto João Luciana Luana Mayra Rocca Samantha Valadas

Introdução

Introdução Parasita intestinal de animais e homem de distribuição cosmopolita É uma das causas mais comuns de diarréia por protozoários no mundo, tanto em regiões tropicais como em temperadas Ocorre de forma endêmica (geralmente pela ingestão de água) e esporádica A prevalência de giardíase humana é de 2 a 7% na Europa e América do Norte 40% em países em desenvolvimento (200 milhões de casos sintomáticos na Ásia, África e Am. Latina) Com incidência de 500.000 casos por ano

Giardia Os organismos do gênero Giardia: Protozoários flagelados Pertencentes ao Filo Sarcomastigophora, Classe Zoomastigophora e a Ordem Diplomonadida Considerado o principal grupo de parasitas da Família Hexamitidae

Histórico Giardia foi inicialmente descoberta por Van Leeuwenhoek em 1681. 1859 descrito por Wilhelm Duszan Lambl Protozoário nas fezes diarréicas de uma criança e o nomeou de Cercomonas intestinalis 1875 foi observado em coelho por Davaine, onde recebeu o nome de Hexamita duodenalis 1882 o gênero Giardia foi estabelecido Kunstler observou o flagelado no intestino de girinos e denominou Giardia agilis

Morfologia Três tipos morfológicos descritos Giardia agilis Giardia muris Giardia duodenalis Todas 2 núcleos e 8 flagelos

Morfologia Mais duas espécies foram adicionadas (1990) devido as observações de caracteres morfológicos e em 1998, a Giardia microti

Morfologia G. agilis G. muris G. duodenalis

Morfologia Mais três espécies foram adicionadas devido as observações de caracteres morfológicos Em 1987, a Giardia psittaci; Em 1990, a Giardia ardeae; Em 1998, a Giardia microti

Formas

Ciclo Infecção no hospedeiro iniciada quando o cisto é transmitido pela via fecal oral Diretamente - indivíduos infectados Indiretamente - alimento ou água contaminados No ambiente somente os cistos sobrevivem

Taxonomia

Taxonomia A taxonomia da G. duodenalis é um tema controverso, pois esta espécie vem sendo considerada como um complexo de espécies. Isolados de G. duodenalis de diversos hospedeiros não possuem variações em sua morfologia, mas podem ser diferenciados, por meio de ferramentas moleculares, em sete agrupamentos genéticos distintos, denominados de assemblages (classificadas de A a G).

Assemblages A maioria dos estudos tem sido realizada através da análise dos seguintes genes: Subunidade ribossômica menor (SSU rrna); Beta-giardina (bg), Glutamato desidrogenase (gdh); Fator de elongação 1-_ (ef1_); Triose fosfato isomerase (tpi); GLORF-C4 (orfc4); Região espaçadora do rrna ribossômico. Até o momento, apenas os assemblages A e B têm sido detectados em humanos e em outros mamíferos, sendo considerados potencialmente zoonóticos.

Assemblage As assemblages A e B fora nomeados por Mayrhofer (1995), que incluem todos os isolados humanos. Correspondem, respectivamente, aos grupos I + II e III + IV de Andrews (1998), Karanis e Ey (1998), e genótipos poloneses e belgas de Homan (1992). Grupos 1 + 2 e grupo 3 de Nash e Keister (1985). A G. duodenalis derivada de animais possuem um espectro genético similar. Porém, apesar de alguns isolados parecerem similares ou idênticos ao genótipo humano, alguns possuem genótipos únicos, que aparentemente parecem ser específicos ao hospedeiro. O assemblage A é um agrupamento cujos isolados podem ser divididos em três diferentes sub-linhagens, denominados sub-assemblages: AI: abrangendo um conjunto de amostras provenientes de humanos e animais; AII: consistindo predominantemente de isolados de origem humana; AIII: recentemente reportado apenas em animais.

Assemblages O assemblage B compreende principalmente os subassemblages BIII e BIV, abrangendo isolados de origem humana e de origem animal. Os demais assemblages (C a G) parecem estar confinados a hospedeiros específicos. A assemblage encontrada em cães, gatos, ratos, ratazanas e rato-almiscarado, são bastante distintas das assemblages A e B. Em contraste, a assemblage encontrada em ungulados domésticos e gatos são próximas, comparadas com os outros isolados dos assemblages.

Assemblages

Assemblage Em 2009, Franzen, descobriu que o genoma parcial da cepa WB (assemblage A) e cepa GS (assemblage B) possuem 77% de identidade em nucleotídeos e 78% em aminoácidos em regiões de codificadoras de proteínas. Uma análise comparativa identificou 28 genes codificadores de proteínas únicos na cepa GS e 3 na cepa WB, e as proteínas variáveis de superfície (VSP) destes isolados são completamente diferentes. As diferenças genômicas entre WB e GS podem explicar algumas diferenças biológicas observadas e sugere que as assemblages A e B podem ser duas espécies distintas. Também foram encontradas diferenças entre diversas proteínas, de isolados dos assemblages A e B, que representam diferenças fenotípicas entre assemblages infectantes para humanos, que sugerem que a taxonomia deve ser revisada.

Assemblage O sequenciamento de isolados de Giardia de primatas não-humanos revelaram a presença de novo polimorfismo para os assemblages A e B, em 3 locis examinados (tpi, gdh, bg). A maioria dos isolados do assemblage B não pôde ser agrupada em sub-assemblages, particularmente com o gene tpi. Os isolados apenas são alocados em grupos específicos quando o polimorfismo dos 3 locis são combinados. Foi observada uma mistura entre os genótipos, o que torna a genotipagem de multi-locus mais complexa e difícil.

Filogenia

Filogenia Este estudo foi realizado para examinar as estruturas genéticas e filogenia de G. duodenalis. Neste estudo é descrito uma análise de multi-locus de isolados de G. duodenalis que incluem isolados representativos de cada assemblage. Eletroforese de allozyme foi utilizada para a comparação. Esta técnica permite detecção de mutações em locis múltiplos e é mais sensível para diferenças genômicas recém-adquiridas.

Filogenia Neste estudo a Roger s distance foi calculada a partir de dados de allozyme dos isolados e utilizada para a análise filogenética por Neighbour Joining e UPGMA. Os isolados formaram clusters distintos, que foram separados por longos ramos. Os isolados de G. muris não eram idênticos entre eles, porém as diferenças foram pequenas comparadas com o ramo total de G. muris. Eles providenciaram indicação de diversidade que existe entre os membros desta espécie. Os isolados de G. duodenalis formaram uma hierarquia de grandes e pequenos clusters. Sete grandes clusters foram evidentes e concordantes com dados já publicados. Isolados dos assemblages A e B são provenientes de uma variedade de hospedeiros que sugerem que estes isolados podem ser zoonóticos. Porém, dentros destes assemblages nenhum dos isolados, tanto de humanos quanto de animais, eram idênticos.

Referências Andrea V. Scorza, Lora R. Ballweber, Sahatchai Tangtrongsup, Carla Panuska, Michael R. Lappin. Comparisons of mammalian Giardia duodenalis assemblages based on the -giardin, glutamate dehydrogenase and triose phosphate isomerase genes. Veterinary Parasitology 189 (2012) 182 188. Andrew Thompson, R.C.. The zoonotic significance and molecular epidemiology of Giardia and giardiasis. Veterinary Parasitology 126 (2004) 15 35 Judit Plutzera, Jerry Ongerthb, Panagiotis Karanisc. Giardia taxonomy, phylogeny and epidemiology: Facts and open questions. International Journal of Hygiene and Environmental Health 213 (2010) 321 333 Marianne Lebbad, Jens G. Mattsson, Bodil Christensson, Bitte Ljungströmd, Annette Backhans, Jan O. Andersson f, Staffan G. Svärd. From mouse to moose: Multilocus genotyping of Giardia isolates from various animal species. Veterinary Parasitology 168 (2010) 231 239. Marquardt W.C, Demaree R.S, Grieve R.B, Parasitology & Vector Biology, second edition, Academic Press, 2000, USA. Olson B.E, Olson M.E and Wallis P.M, Giardia the cosmopolitan parasite, CABI Publishing, 2002, UK. Paul T. Monis1, Ross H. Andrews2, Graham Mayrhofer, Peter L. Ey. Genetic diversity within the morphological species Giardia intestinalis and its relationship to host origin. Infection, Genetics and Evolution 3 (2003) 29 38 Sílvio L.P. Souza, Solange M. Gennari, Leonardo J. Richtzenhain, Hilda F.J. Pena, Mikaela R. Funada, Adriana Cortez, Fábio Gregori, Rodrigo M. Soares. Molecular identification of Giardia duodenalis isolates from humans, dogs, cats and cattle from the state of São Paulo, Brazil, by sequence analysis of fragments of glutamate dehydrogenase (gdh) coding gene. Veterinary Parasitology 149 (2007) 258 264.