AULA 04 OBRIGAÇÕES DE FAZER e OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER. 1. DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER 1.1. DEFINIÇÃO A obrigação de fazer (obligatio faciendi) abrange o serviço humano em geral, seja material ou imaterial, a realização de obras e artefatos, ou a prestação de fatos que tenham utilidade para o credor. A prestação consiste, assim, em atos ou serviços a serem executados pelo devedor. 1.2. ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO DE FAZER 1.2.1. Infungível \ Imaterial \ Personalíssima A infungibilidade pode decorrer, também, da própria natureza da prestação, ou seja, das qualidades profissionais, artísticas ou intelectuais do contratado. Se determinado pintor, de talento e renome, comprometer-se a pintar um quadro, ou famoso cirurgião plástico assumir obrigação de natureza estética, por exemplo, não poderão se fazer substituir por outrem, mesmo inexistindo cláusula expressa nesse sentido. Podendo a convenção se explícita (cláusula expressa) ou tácita (qualidade pessoal). Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.
1.2.2. Fungível \ Material \ Impessoal Quando não há tal exigência expressa, nem se trata de ato ou serviço cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor, ou dos usos e costumes locais, podendo ser realizado por terceiro. 1.3. INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER Toda a obrigação deve ser cumprida, com base no Princípio da Obrigatoriedade dos contratos na regra Pacta Sunt Servanda dos romanos. Cumprida normalmente, a obrigação extinguese. Não cumprida espontaneamente, acarreta a responsabilidade do devedor. 1.3.1. Não Havendo Culpa Pelo sistema do Código Civil, não havendo culpa do devedor, tanto na hipótese de a prestação ter-se tornado impossível como na de recusa de cumprimento, fica afastada a responsabilidade do obrigado, conforme Art. 248, primeira parte. Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolverse-a a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 1.3.2. Havendo Culpa a) Obrigação Fungível Em caso inadimplência por de culpa do devedor, seja a obrigação fungível, seja infungível, será sempre possível ao credor optar pela conversão da obrigação em perdas e danos, conforme Art. 248, segunda parte.
Entretanto, o credor pode optar pela execução específica, requerendo que ela seja executada por terceiro, à custa do devedor (pelo juiz ou em caso de urgência mesmo sem autorização judicial). Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. b) Obrigação Infungível Quando a obrigação é infungível, não há como compelir o devedor, de forma direta, a satisfazê-la. Assim, cabe a parte solicitar as perdas e danos (mas poderá solicitar no contrato a fixação de uma multa diária que incide enquanto durar o atraso no cumprimento da obrigação). 1.4. REGRAS GERAIS PARA EFICÁCIA DA EXECUÇÃO: a fixação de multa, força policial, dentre outras Art. 461 C.P.C.: Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento: 1º - A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. 2º - A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa.
3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. 4º - O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento. 5º - Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. 6º - O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. 2. DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER 2.1. DEFINIÇÃO A obrigação de não fazer, ou negativa, impõe ao devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse obrigado. Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
Ex.: o adquirente que se obriga a não construir, no terreno adquirido, prédio além de certa altura Ex.: A cabeleireira celebra com um shopping um contrato em que se obriga a não abrir outro salão de beleza no mesmo bairro. 2.2. ESPÉCIES (quanto a origem) a) Legal: decorre da lei (Ex.: barulho de vizinhos, servidões de calçadas, etc.) b) Judicial: decorre de decisão judicial (Ex.: juiz determina que ex-marido não se aproxime da ex-esposa, pois ele espancava ela) c) Convencional: decorre de acordo entre as partes (Ex. O prestador de serviço acordou que não iria quebrar nenhuma parede do quarto, mas acabou quebrando) 2.3. INADIMPLEMENTO a) Sem Culpa do Devedor Assim como no caso da obrigação de fazer, aqui também resolve-se a obrigação, retornandose ao statu quo ante. Ademais, fica o devedor obrigado a devolver o que haja recebido para que o ato não se realize. b) Com Culpa do Devedor Se praticar ato em que se obrigou a não praticar, torna-se inadimplente, podendo o credor exigir, com base no art. 251 do Código Civil, as perdas e danos e o desfazimento do que foi realizado.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. Vale ressaltar que a mora, nas obrigações de não fazer, é presumida pelo descumprimento do dever de abstenção, com isso, independe de qualquer intimação para falar que deveria deixar de cumprir. Há casos em que o credor só pode solicitar as Perdas e Danos, como na hipótese de alguém divulgar um segredo industrial que prometera não revelar. Feita a divulgação, não há como pretender a restituição das partes ao statu quo ante.
QUESTÕES PARA REVISÃO QUESTÃO 01: O direito obrigacional estabelece uma das seguintes alternativas como correta (justifique e fundamente): A) nas obrigações de não fazer, sua extinção vincula-se ao dolo do obrigado, cuja abstenção se comprometeu a realizar; B) a principal modalidade de adimplemento obrigacional é o pagamento, que importa na exoneração que o credor realiza em face do devedor, mas não quanto aos terceiros obrigados; C) Independente de culpa, nas obrigações de fazer e não fazer, sempre haverá as perdas e danos; D) dentre as modalidades das obrigações, as obrigações de dar, que por sua vez se subdividem em dar coisa certa e coisa incerta. QUESTÃO 02: Em caso do inadimplemento da obrigação de fazer, assinale a alternativa correta (justifique e fundamente): A) O credor não poderá solicitar ao juiz que terceiro execute. B) O credor não poderá solicitar a execução mais perdas e danos. C) O credor poderá solicitar que o devedor seja obrigado a cumprir utilizando-se de força física. D) O credor poderá, ele mesmo, executar o serviço e solicitar perdas e danos.