PROJECTO DE LEI N.º 170/X. Revisão da Lei da Nacionalidade. Exposição de motivos

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Transcrição:

PROJECTO DE LEI N.º 170/X Revisão da Lei da Nacionalidade Exposição de motivos Não se pode hoje ignorar que Portugal está a transformar-se num país de imigração, o que obriga naturalmente a repensar as soluções legais em vigor em matéria de nacionalidade. A integração efectiva dos imigrantes exige a introdução de alterações na Lei da Nacionalidade que valorizem o critério do ius soli. Nesse sentido, a presente iniciativa propõe a atribuição ope legis da nacionalidade portuguesa aos indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros, se pelo menos um dos progenitores também aqui tiver nascido e aqui resida legalmente há, pelo menos, um ano. Trata-se de adoptar, ainda que com ajustamentos, uma solução que já tem consagração expressa noutras ordens jurídicas, nomeadamente em Espanha e em França. Considerou-se, no entanto, que não bastava que o duplo nascimento em Portugal de um dos pais e dos filhos para a atribuição da nacionalidade portuguesa à terceira geração de imigrantes. É que tais nascimentos sempre poderiam ser ocasionais e não é razoável que, nesses casos, possam automaticamente ser atributivos da nacionalidade portuguesa. Daí que este projecto de lei preveja a cumulação do critério do nascimento com o da residência legal de um dos pais em Portugal há, pelo menos, um ano. Optou-se por um prazo mínimo de um ano, porque se atendeu que só este permite vislumbrar um projecto de vida em Portugal, tendo em conta, desde logo, o tempo gestacional do filho a quem depois será atribuída a nacionalidade portuguesa. 1

Tendo em conta que Portugal mantém hoje relações privilegiadas não só com os países de língua oficial portuguesa, mas também com os Estados-membros da União Europeia, equipara-se os cidadãos europeus aos cidadãos lusófonos, aplicando-se-lhes o mesmo regime jurídico, o qual sofre, no entanto, algumas inovações. Esta iniciativa legislativa inova ao atribuir a nacionalidade portuguesa por mero efeito da lei aos descendentes, nascidos em território português, de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa e de cidadãos nacionais de Estados-membros da União Europeia, quando estes residam legal e habitualmente em Portugal até seis anos antes do nascimento. Considerou-se que a residência dos pais por um período de tempo relativamente longo seis anos (mais dois anos sobre o prazo para a aquisição da nacionalidade por efeito da residência) legitima a atribuição automática da nacionalidade portuguesa aos filhos nascidos em Portugal. É que se assim não for, em face da exigência legal de declaração de vontade, continuará a suceder que muitos descendentes de cidadãos lusófonos e de cidadãos europeus, há muito radicados em Portugal e que aqui tencionam manter-se, não adquirem a nacionalidade portuguesa de origem por falta de diligência dos seus progenitores. Por outro lado, o presente projecto de lei inova ao reduzir de seis para quatro anos o tempo de residência legal e habitual dos cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa, para a atribuição da nacionalidade portuguesa, por efeito da vontade, aos filhos nascidos em Portugal. E inova também ao prever idêntico regime para os filhos de cidadãos nacionais de Estados-membros da União Europeia nascidos em território português. Quanto aos filhos de cidadãos nacionais de outros países nascidos em Portugal, mantém-se o princípio de obtenção de nacionalidade por efeito da vontade, reduzindo, contudo, de dez para seis o tempo de residência legal e habitual dos pais em Portugal. Apesar de Portugal estar a tornar-se num país de imigrantes, a verdade é que não deixa de ser, também e continuadamente, um país de muitos milhares de emigrantes. 2

Ora, a realidade dos emigrantes exige que ponderemos a sua situação face à actual lei da nacionalidade. Existem inúmeros cidadãos descendentes de portugueses que se vêem privados ao acesso à nacionalidade portuguesa pelos simples facto de os seus progenitores directos nunca terem solicitado a atribuição da nacionalidade portuguesa. Por esse motivo, há inúmeros netos de cidadãos portugueses com inequívocas ligações à comunidade portuguesa, com laços sanguíneos indubitavelmente portugueses, que estão impedidos de aceder à nacionalidade portuguesa. Para obstar a esta situação, a presente iniciativa estende a atribuição da nacionalidade portuguesa aos netos de portugueses nascidos no estrangeiro. Em termos de aperfeiçoamento da técnica legislativa, a presente iniciativa procede à distinção clara das situações de nacionalidade originária por efeito da lei das que são por efeito da vontade, bem como distingue as situações de aquisição da nacionalidade por efeito da residência das que são por naturalização. Esta última distinção surge, aliás, por referência ao direito comparado. É que a actual lei da nacionalidade não separa a aquisição da nacionalidade por naturalização das situações de aquisição da nacionalidade por residência, quando se trata de realidades absolutamente diferentes: naquele caso, trata-se de um acto fortemente marcado por uma discricionariedade de natureza política, enquanto que neste caso, o que se trata é de reconhecer um direito o direito à nacionalidade em virtude da residência em território nacional. Por isso é que, neste caso o Governo tem de conceder a nacionalidade, ao passo que naquele o Governo pode, ou não, concedê-la. O presente projecto de lei altera, também, alguns dos requisitos para a concessão da nacionalidade portuguesa aos estrangeiros que residam em Portugal. Desde logo, prevê-se que a residência em território português seja legal e habitual há, pelo menos, três, quatro ou seis anos, consoante se trate, respectivamente, de apátridas, 3

cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou nacionais de Estadomembro da União Europeia, ou de cidadãos de outros países. Por outro lado, elimina-se o requisito da comprovação da existência de uma ligação efectiva à comunidade nacional, que tantas dificuldades práticas tem criado, já que a residência e o conhecimento da língua parecem ser suficientes para demonstrar a consistência dos laços com a comunidade nacional. Concretiza-se, ainda, os actuais requisitos da idoneidade cívica, que se passa a traduzir na não condenação pela prática de crime punível com pena da prisão de máximo superior a três anos, segundo a lei portuguesa; e da capacidade para assegurar a sua subsistência, considerando agora que o estrangeiro tem de dispor de um rendimento anual não inferior a doze vezes o salário mínimo nacional ou da pensão mínima do regime da segurança social. Com estas disposições põe-se um fim à indesejável discricionariedade administrativa na apreciação dos pedidos, que actualmente vigora O projecto de lei que agora se apresenta permite ainda a aquisição da nacionalidade portuguesa aos indivíduos nascidos em território português e que aqui tiverem residido habitualmente pelo menos nos últimos seis anos da sua menoridade, quando atinjam a idade de dezoito anos. É uma solução que se inspira no direito francês e italiano, e que tem em vista resolver a situação da segunda geração de imigrantes. Quanto à naturalização, reserva-se a situações de indivíduos que se encontrem em situações particulares, fora dos quadros em que a nacionalidade corresponde a um verdadeiro direito fundamental. A naturalização passa a ser uma prerrogativa concedida pelo Primeiro-Ministro, sob proposta do Ministro da Administração Interna, independentemente do preenchimento dos requisitos legais aplicáveis à aquisição da nacionalidade por parte da generalidade dos estrangeiros residentes em território português. Trata-se de um instituto que surge como residual e com a vertente de acentuar a responsabilização política, ao seu mais alto nível. 4

A presente iniciativa procede ainda à reforma do instituto da oposição à aquisição da nacionalidade, cujo problema fundamental reside na regra que obriga os requerentes a fazer prova de que possuem uma ligação efectiva à comunidade nacional. Daí que passe antes a constituir fundamento da oposição a inexistência de qualquer ligação efectiva à comunidade nacional, cuja prova caberá ao Ministério Público. Precisa-se também que o exercício de funções públicas só constitui fundamento de oposição quando se trate de funções públicas sem carácter eminentemente técnico, seguindo-se a terminologia constitucional empregue no artigo 15º n.º 2 da CRP. Passando a utilizar o critério de residência legal e habitual, ao invés do conceito flutuante de título válido da autorização de residência (este varia consoante é alterado o regime de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros em território nacional e já o foi cinco vezes em dez anos), a presente iniciativa define que a residência é legal quando os estrangeiros se encontram com a sua situação regularizada perante as autoridades portuguesas; e que é habitual quando os estrangeiros permanecerem em Portugal por um período superior a seis meses em cada ano civil. Importante inovação introduzida pelo presente projecto de lei é a aplicação do contencioso administrativo ao contencioso da nacionalidade, que se justifica não só por forma a assegurar uma melhoria no acesso à justiça, devido à extensa e moderna rede dos Tribunais Administrativos e Fiscais, mas também e sobretudo porque se trata de litígios que não deixam de emergir de relações jurídico-administrativas. Procede-se, por último, à eliminação das referências aos territórios sob administração portuguesa, dada a transferência de soberania relativamente a Macau e a independência de Timor. Assim, nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis, os Deputados abaixo assinados, do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata, apresentam o seguinte projecto de lei: 5

Artigo 1º Os artigos 1º, 6º, 7º, 9º, 10º, 15º, 18º, 21º 25º, e 32º da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto, Decreto-Lei n.º 322- A/2001, de 14 de Dezembro, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 194/2003, de 23 de Agosto, e pela Lei Orgânica n.º 1/2004, de 15 de Janeiro, passam a ter a seguinte redacção: «Artigo 1º ( ) 1 São portugueses de origem por mero efeito da lei: a) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos no território português; b) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos no estrangeiro se o progenitor aí se encontrar ao serviço do Estado Português; c) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de cidadãos nacionais de Estado-membro da União Europeia que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, seis anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado; d) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros, se, pelo menos, um dos progenitores também aqui tiver nascido e aqui resida legalmente há, pelo menos, um ano; e) Os indivíduos nascidos em território português quando não possuam outra nacionalidade. 2 São portugueses de origem por efeito da vontade: a) Os indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos, um ascendente de nacionalidade portuguesa até ao 2º grau na linha directa e que não tenha perdido essa nacionalidade, se declararem que querem ser portugueses ou inscreverem o nascimento no registo civil português; b) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de cidadãos nacionais de Estado-membro da União Europeia que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, quatro anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado, se declararem que querem ser portugueses; 6

c) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, seis anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado, se declararem que querem ser portugueses. 3 Presumem-se nascidos em território português, salvo prova em contrário, os recémnascidos que aqui tenham sido expostos. Artigo 6º Aquisição por efeito da residência 1 O Governo concede a nacionalidade portuguesa, por efeito da residência, aos estrangeiros que satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos: a) Sejam maiores ou emancipados face à lei portuguesa; b) Conheçam suficientemente a língua portuguesa; c) Não tenham sido condenados pela prática de crime punível com pena de prisão de máximo superior a três anos, segundo a lei portuguesa; d) Possuam capacidade para reger a sua pessoa; e) Disponham, consoante a sua situação, de um rendimento anual não inferior a doze vezes o salário mínimo nacional ou da pensão mínima do regime geral da segurança social; f) Residam legal e habitualmente em território português há, pelo menos, três, quatro ou seis anos, consoante se trate, respectivamente, de apátridas, de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de Estado-membro da União Europeia, ou de cidadãos de outros países. 2 Os indivíduos nascidos em território português adquirem a nacionalidade portuguesa ao atingir a idade de dezoito anos se, pelo menos nos últimos seis anos da sua menoridade, tiverem residido habitualmente em Portugal. 3 A concessão e o reconhecimento da cidadania portuguesa são da competência do Ministro da Administração Interna, a requerimento do interessado. Artigo 7º Aquisição por naturalização 1 Pode ser concedida a nacionalidade portuguesa, por naturalização, com dispensa total ou parcial do preenchimento dos requisitos constantes do artigo anterior, aos indivíduos que satisfaçam uma das seguintes condições: a) Tenham nascido em território português; 7

b) Tenham tido a nacionalidade portuguesa; c) Sejam havidos como descendentes de portugueses; d) Sejam membros de comunidades de ascendência portuguesa; e) Tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado português; f) Tenham adquirido uma posição de destaque na comunidade nacional pela sua actividade humanitária, cientifica, artística, cultural ou desportiva. 2 A naturalização é concedida por decreto do Primeiro-Ministro, sob proposta do Ministro da Administração Interna, a requerimento do interessado. Artigo 9º ( ) ( ) a) A inexistência de qualquer ligação efectiva à comunidade nacional; b) ( ); c) O exercício de funções públicas sem carácter eminentemente técnico ou a prestação de serviço militar não obrigatório a Estado estrangeiro. Artigo 10º ( ) 1 A oposição é deduzida pelo Ministério Público no prazo de um ano, a contar da data do facto de que dependa a aquisição da nacionalidade, em processo a instaurar nos termos do artigo 25º. 2 ( ). Artigo 15º Residência legal e habitual 1 Entende-se que residem legalmente em território português os indivíduos que aqui se encontram, com a sua situação regularizada perante as autoridades portuguesas, ao abrigo de qualquer um dos vistos, autorizações ou títulos previstos no regime de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros e no regime do direito de asilo. 8

2 Entende-se que residem habitualmente em território português os indivíduos que, em regra, aqui permaneçam em cada ano civil por período superior a seis meses, seguidos ou interpolados. Artigo 18º ( ) 1 ( ) a) ( ); b) ( ); c) Dos actos de concessão ou reconhecimento da nacionalidade; d) Dos decretos de naturalização. 2 ( ). Artigo 21º ( ) 1 A nacionalidade portuguesa originária de indivíduos nascidos em território português prova-se pelo assento de nascimento. 2 ( ). Artigo 25º Legislação aplicável Ao contencioso da nacionalidade é aplicável, nos termos gerais, o Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais e o Código de Processo nos Tribunais Administrativos. Artigo 32º ( ) À decisão sobre a perda ou manutenção da nacionalidade nos casos de naturalização directa ou indirectamente imposta por Estado estrangeiro a residentes no seu território é aplicável o disposto no artigo 25º.» 9

Artigo 2º A epígrafe da Secção III do Capítulo II do Título I da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, passa a ter a seguinte redacção: «Secção III Aquisição da nacionalidade por efeito da residência e por naturalização». Artigo 3º O artigo 13º da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, revogado pelo artigo 3º da Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto, passa a integrar o Capítulo VI do Título I daquela lei, com a seguinte redacção: «Artigo 13º Declarações de vontade As declarações de vontade para fins de atribuição, aquisição e perda da nacionalidade são apresentadas pelas pessoas a quem respeitam, sendo capazes, ou pelos seus representantes legais, sendo incapazes.» Artigo 4º 1 São revogados os artigos 26º, 36º e 39º da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, bem como o artigo 2º da Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto. 2 É eliminada a expressão ou sob administração portuguesa constante do n.º 1 do artigo 37º e do n.º 1 do artigo 38º da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro. Artigo 5º A presente lei será regulamentada no prazo de 90 dias após a data da sua publicação. Artigo 6º É republicada e renumerada em anexo a Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto, Decreto-Lei n.º 322- A/2001, de 14 de Dezembro, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 194/2003, de 23 de Agosto, pela Lei Orgânica n.º 1/2004, de 15 de Janeiro, e pela presente lei. Palácio de São Bento, 6 de Outubro de 2005 Os Deputados do PSD, 10

ANEXO LEI DA NACIONALIDADE TÍTULO I Atribuição da nacionalidade CAPÍTULO I Atribuição da nacionalidade Artigo 1. Nacionalidade originária 1 São portugueses de origem por mero efeito da lei: a) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos no território português; b) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos no estrangeiro se o progenitor aí se encontrar ao serviço do Estado Português; c) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de cidadãos nacionais de Estado-membro da União Europeia que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, seis anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado; d) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros, se, pelo menos, um dos progenitores também aqui tiver nascido e aqui resida legalmente há, pelo menos, um ano; e) Os indivíduos nascidos em território português quando não possuam outra nacionalidade. 2 São portugueses de origem por efeito da vontade: a) Os indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos, um ascendente de nacionalidade portuguesa até ao 2º grau na linha directa e que não tenha perdido essa nacionalidade, se declararem que querem ser portugueses ou inscreverem o nascimento no registo civil português; b) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de cidadãos nacionais de Estado-membro da União Europeia que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, 11

quatro anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado, se declararem que querem ser portugueses; c) Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros que aqui residam legal e habitualmente há, pelo menos, seis anos e não estiverem ao serviço do respectivo Estado, se declararem que querem ser portugueses. 3 Presumem-se nascidos em território português, salvo prova em contrário, os recémnascidos que aqui tenham sido expostos. CAPÍTULO II Aquisição da nacionalidade SECÇÃO I Aquisição da nacionalidade por efeito da vontade Artigo 2. Aquisição por filhos menores ou incapazes Os filhos menores ou incapazes de pai ou mãe que adquira a nacionalidade portuguesa podem também adquiri-la, mediante declaração. Artigo 3. Aquisição em caso de casamento 1 - O estrangeiro casado há mais de três anos com nacional português pode adquirir a nacionalidade portuguesa mediante declaração feita na constância do matrimónio. 2 - A declaração de nulidade ou anulação do casamento não prejudica a nacionalidade adquirida pelo cônjuge que o contraiu de boa fé. Artigo 4. Declaração após aquisição de capacidade Os que hajam perdido a nacionalidade portuguesa por efeito de declaração prestada durante a sua incapacidade podem adquiri-la, quando capazes, mediante declaração. 12

SECÇÃO II Aquisição da nacionalidade pela adopção Artigo 5. Aquisição por adopção plena O adoptado plenamente por nacional português adquire a nacionalidade portuguesa. SECÇÃO III Aquisição da nacionalidade por efeito da residência e por naturalização Artigo 6. Aquisição por efeito da residência 1 O Governo concede a nacionalidade portuguesa, por efeito da residência, aos estrangeiros que satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos: a) Sejam maiores ou emancipados face à lei portuguesa; b) Conheçam suficientemente a língua portuguesa; c) Não tenham sido condenados pela prática de crime punível com pena de prisão de máximo superior a três anos, segundo a lei portuguesa; d) Possuam capacidade para reger a sua pessoa; e) Disponham, consoante a sua situação, de um rendimento anual não inferior a doze vezes o salário mínimo nacional ou da pensão mínima do regime geral da segurança social; f) Residam legal e habitualmente em território português há, pelo menos, três, quatro ou seis anos, consoante se trate, respectivamente, de apátridas, de cidadãos nacionais de países de língua oficial portuguesa ou de Estado-membro da União Europeia, ou de cidadãos de outros países. 2 Os indivíduos nascidos em território português adquirem a nacionalidade portuguesa ao atingir a idade de dezoito anos se, pelo menos nos últimos seis anos da sua menoridade, tiverem residido habitualmente em Portugal. 3 A concessão e o reconhecimento da cidadania portuguesa são da competência do Ministro da Administração Interna, a requerimento do interessado. 13

Artigo 7º Aquisição por naturalização 1 Pode ser concedida a nacionalidade portuguesa, por naturalização, com dispensa total ou parcial do preenchimento dos requisitos constantes do artigo anterior, aos indivíduos que satisfaçam uma das seguintes condições: a) Tenham nascido em território português; b) Tenham tido a nacionalidade portuguesa; c) Sejam havidos como descendentes de portugueses; d) Sejam membros de comunidades de ascendência portuguesa; e) Tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado português; f) Tenham adquirido uma posição de destaque na comunidade nacional pela sua actividade humanitária, cientifica, artística, cultural ou desportiva. 2 A naturalização é concedida por decreto do Primeiro-Ministro, sob proposta do Ministro da Administração Interna, a requerimento do interessado. CAPÍTULO III Perda da nacionalidade Artigo 8. Declaração relativa à perda da nacionalidade Perdem a nacionalidade portuguesa os que, sendo nacionais de outro Estado, declarem que não querem ser portugueses. CAPÍTULO IV Oposição à aquisição da nacionalidade por efeito da vontade ou da adopção Artigo 9. Fundamentos Constituem fundamento de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa: a) Inexistência de qualquer ligação efectiva à comunidade nacional; 14

b) A prática de crime punível com pena de prisão de máximo superior a três anos, segundo a lei portuguesa; c) O exercício de funções públicas sem carácter eminentemente técnico ou a prestação de serviço militar não obrigatório a Estado estrangeiro. Artigo 10. Processo 1 A oposição é deduzida pelo Ministério Público no prazo de um ano, a contar da data do facto de que dependa a aquisição da nacionalidade, em processo a instaurar nos termos do artigo 24º. 2 - É obrigatória para todas as autoridades a participação ao Ministério Público dos factos a que se refere o artigo anterior. CAPÍTULO V Efeitos da atribuição, aquisição e perda da nacionalidade Artigo 11. Efeitos da atribuição A atribuição da nacionalidade portuguesa produz efeitos desde o nascimento, sem prejuízo da validade das relações jurídicas anteriormente estabelecidas com base em outra nacionalidade. Artigo 12. Efeitos das alterações de nacionalidade Os efeitos das alterações de nacionalidade só se produzem a partir da data do registo dos actos ou factos de que dependem. Artigo 13º Declarações de vontade As declarações de vontade para fins de atribuição, aquisição e perda da nacionalidade são apresentadas pelas pessoas a quem respeitam, sendo capazes, ou pelos seus representantes legais, sendo incapazes. 15

CAPÍTULO VI Disposições gerais Artigo 14. Efeitos do estabelecimento da filiação Só a filiação estabelecida durante a menoridade produz efeitos relativamente à nacionalidade. Artigo 15. Residência legal e habitual 1 Entende-se que residem legalmente em território português os indivíduos que aqui se encontram, com a sua situação regularizada perante as autoridades portuguesas, ao abrigo de qualquer um dos vistos, autorizações ou títulos previstos no regime de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros e no regime do direito de asilo. 2 Entende-se que residem habitualmente em território português os indivíduos que, em regra, aqui permaneçam em cada ano civil por período superior a seis meses, seguidos ou interpolados. TÍTULO II Registo, prova e contencioso da nacionalidade CAPÍTULO I Registo central da nacionalidade Artigo 16. Registo central da nacionalidade As declarações de que dependem a atribuição, a aquisição ou a perda da nacionalidade portuguesa devem constar do registo central da nacionalidade, a cargo da Conservatória dos Registos Centrais. 16

Artigo 17. Declarações perante os agentes diplomáticos ou consulares As declarações de nacionalidade podem ser prestadas perante os agentes diplomáticos ou consulares portugueses e, neste caso, são registadas oficiosamente em face dos necessários documentos comprovativos, a enviar para o efeito à Conservatória dos Registos Centrais. Artigo 18. Actos sujeitos a registo obrigatório 1 - É obrigatório o registo: a) Das declarações para atribuição da nacionalidade; a) Das declarações para aquisição ou perda da nacionalidade; b) Dos actos de concessão ou reconhecimento da nacionalidade; c) Dos decretos de naturalização. 2 - O registo dos actos a que se refere o número anterior é feito a requerimento dos interessados. Artigo 19. Averbamento ao assento de nascimento O registo do acto que importe atribuição, aquisição ou perda da nacionalidade é sempre averbado ao assento de nascimento do interessado. CAPÍTULO II Prova da nacionalidade Artigo 20. Prova da nacionalidade originária 1 A nacionalidade portuguesa originária de indivíduos nascidos em território português prova-se pelo assento de nascimento. 2 - A nacionalidade portuguesa originária de indivíduos nascidos no estrangeiro provase, consoante os casos, pelo registo da declaração de que depende a atribuição ou pelas 17

menções constantes do assento de nascimento lavrado por inscrição no registo civil português. Artigo 21. Prova da aquisição e da perda da nacionalidade 1 - A aquisição e a perda da nacionalidade provam-se pelos respectivos registos ou pelos consequentes averbamentos exarados à margem do assento de nascimento. 2 - À prova da aquisição da nacionalidade por adopção é aplicável o n. 1 do artigo anterior. Artigo 22. Pareceres do conservador dos Registos Centrais Ao conservador dos Registos Centrais compete emitir parecer sobre quaisquer questões de nacionalidade, designadamente sobre as que lhe devem ser submetidas pelos agentes consulares em caso de dúvida sobre a nacionalidade portuguesa do impetrante de matrícula consular. Artigo 23. Certificados de nacionalidade 1 - Independentemente da existência do registo, podem ser passados pelo conservador dos Registos Centrais, a requerimento do interessado, certificados de nacionalidade portuguesa. 2 - A força probatória do certificado pode ser ilidida por qualquer meio sempre que não exista registo da nacionalidade do respectivo titular. CAPÍTULO III Contencioso da nacionalidade 18

Artigo 24. Legislação aplicável Ao contencioso da nacionalidade é aplicável, nos termos gerais, o Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais e o Código de Processo nos Tribunais Administrativos. TÍTULO III Conflitos de leis sobre a nacionalidade Artigo 25. Conflitos de nacionalidade portuguesa e estrangeira Se alguém tiver duas ou mais nacionalidades e uma delas for portuguesa, só esta releva face à lei portuguesa. Artigo 26. Conflitos de nacionalidades estrangeiras Nos conflitos positivos de duas ou mais nacionalidades estrangeiras releva apenas a nacionalidade do Estado em cujo território o plurinacional tenha a sua residência habitual ou, na falta desta, a do Estado com o qual mantenha uma vinculação mais estreita. TÍTULO IV Disposições transitórias e finais Artigo 27. Aquisição da nacionalidade por adoptados Os adoptados plenamente por nacional português, antes da entrada em vigor da presente lei, podem adquirir a nacionalidade portuguesa mediante declaração. Artigo 28. Aquisição da nacionalidade por mulher casada com estrangeiro 1 - A mulher que, nos termos da Lei n.º 2098, de 29 de Julho de 1959, e legislação precedente, tenha perdido a nacionalidade portuguesa por efeito do casamento pode 19

readquiri-la mediante declaração, não sendo, neste caso, aplicável o disposto nos artigos 9.º e 10.º. 2 - Sem prejuízo da validade das relações jurídicas anteriormente estabelecidas com base em outra nacionalidade, a aquisição da nacionalidade portuguesa nos termos previstos no número anterior produz efeitos desde a data do casamento. Artigo 29. Aquisição voluntária anterior de nacionalidade estrangeira 1 - Quem, nos termos da Lei n.º 2098, de 29 de Julho de 1959, e legislação precedente, perdeu a nacionalidade portuguesa por efeito da aquisição voluntária de nacionalidade estrangeira, adquire-a: a) Desde que não tenha sido lavrado o registo definitivo da perda da nacionalidade, excepto se declarar que não quer adquirir a nacionalidade portuguesa; b) Mediante declaração, quando tenha sido lavrado o registo definitivo da perda da nacionalidade. 2 - Nos casos referidos no número anterior não se aplica o disposto nos artigos 9.º e 10.º. 3 - Sem prejuízo da validade das relações jurídicas anteriormente estabelecidas com base em outra nacionalidade, a aquisição da nacionalidade portuguesa nos termos previstos no n.º 1 produz efeitos desde a data da aquisição da nacionalidade estrangeira. Artigo 30. Naturalização imposta por Estado estrangeiro À decisão sobre a perda ou manutenção da nacionalidade nos casos de naturalização directa ou indirectamente imposta por Estado estrangeiro a residentes no seu território é aplicável o disposto no artigo 24º. Artigo 31. Registo das alterações de nacionalidade O registo das alterações de nacionalidade por efeito de casamento ou por aquisição voluntária de nacionalidade estrangeira em conformidade com a lei anterior é lavrado oficiosamente ou a requerimento dos interessados, sendo obrigatório para fins de identificação. 20

Artigo 32. Actos cujo registo não era obrigatório pela lei anterior 1 - A aquisição e a perda da nacionalidade que resultem de actos cujo registo não era obrigatório no domínio da lei anterior continuam a provar-se pelo registo ou pelos documentos comprovativos dos actos de que dependem. 2 - Para fins de identificação, a prova destes actos é feita pelo respectivo registo ou consequentes averbamentos ao assento de nascimento. Artigo 33. Produção de efeitos dos actos anteriormente não sujeitos a registo 1 - Os efeitos das alterações de nacionalidade dependentes de actos ou factos não obrigatoriamente sujeitos a registo no domínio da lei anterior são havidos como produzidos desde a data da verificação dos actos ou factos que as determinaram. 2 - Exceptua-se do disposto no número anterior a perda da nacionalidade fundada na aquisição voluntária de nacionalidade estrangeira, a qual continua a só produzir efeitos para com terceiros, no domínio das relações de direito privado, desde que seja levada ao registo e a partir da data em que este se realize. Artigo 34. Assentos de nascimento de filhos apenas de não portugueses 1 - Nos assentos de nascimentos ocorridos em território português, após a entrada em vigor deste diploma, de filhos apenas de não portugueses mencionar-se-á, como elemento de identificação do registando, a nacionalidade estrangeira dos progenitores ou seu desconhecimento. 2 - Sempre que possível, os declarantes devem apresentar documento comprovativo da menção que deva ser feita nos termos do número anterior, em ordem a demonstrar que nenhum dos progenitores é de nacionalidade portuguesa. Artigo 35. Assentos de nascimento de portugueses ou adoptantes portugueses posteriormente ao registo de nascimento de estrangeiros 1 - Quando for estabelecida filiação posteriormente ao registo do nascimento de estrangeiro nascido em território português ou for decretada a sua adopção, da decisão judicial ou acto que as tiver estabelecido ou decretado e da sua comunicação para 21

averbamento ao assento de nascimento constará a menção da nacionalidade dos progenitores ou adoptantes portugueses. 2 - A menção a que se refere o número anterior constará igualmente, como elemento de identificação do registado, do averbamento de estabelecimento de filiação ou de adopção a exarar à margem do assento de nascimento. Artigo 36.º Disposição revogatória É revogada a Lei n.º 2098, de 29 de Julho de 1959. 22