Impacto fiscal. Depois de quase dois anos de longos debates entre empresas,

Documentos relacionados
Abril Comunicações S.A.

ARQUIVO ATUALIZADO ATÉ 31/12/2012. Capítulo XIV - Lucro Arbitrado 2013

Sumário da Comparação das Práticas Contábeis Adotadas no Brasil com as Normas Internacionais de Contabilidade - IFRS

Bardella S.A. Indústrias Mecânicas

Zurich Minas Brasil Seguros S.A. (nova denominação da Companhia de Seguros Minas Brasil) Demonstrações financeiras consolidadas em 31 de dezembro de

Votorantim Cimentos S.A. (Controladora e consolidado) Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2011 e relatório dos auditores independentes

Demonstrações Financeiras. Alpargatas S.A. 31 de dezembro de 2013 com Relatório dos Auditores Independentes

Salus Infraestrutura Portuária S.A.

ARQUIVO ATUALIZADO ATÉ 31/12/2012 Capitulo IX - Resultados não operacionais 2013

LUCRO REAL X LUCRO PRESUMIDO ANÁLISE DA MELHOR OPÇÃO PARA REDUZIR A CARGA TRIBUTÁRIA DE UMA PRESTADORA DE SERVIÇO NA ÁREA HOSPITALAR

Comparações entre Práticas Contábeis

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 01 (R1) Redução ao Valor Recuperável de Ativos

Diário da República, 1.ª série N.º de janeiro de

Demonstrações Financeiras Atento Brasil S.A.

3 REGULAMENTO DE LISTAGEM DO NOVO MERCADO 9 SEÇÃO IV - CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA COMPANHIA 9 SEÇÃO V - CONSELHO FISCAL DA COMPANHIA

Demonstrações Financeiras Sá Cavalcante Participações S.A.

Princípios Contábeis Geralmente Aceitos nos EUA (US GAAP) em US$

Central Geradora Eólica Colônia S.A. Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2013 e relatório dos auditores independentes

REDECARD S.A. CNPJ: / NIRE: RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO. Senhores Acionistas

5. Esta Norma aplica-se a todas as entidades do setor público, exceto as Empresas Estatais não dependentes.

IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS JURÍDICAS pag. 1 LUCRO REAL

ALEXANDRE ASSAF NETO FINANÇAS CORPORATIVAS E VALOR MANUAL DO MESTRE. EXERCÍCIOS PROPOSTOS CORRESPONDE À 4 a EDIÇÃO DO LIVRO-TEXTO

ArcelorMittal Brasil S.A. CNPJ/MF nº /

Perguntas e Respostas do esocial

4. Empresas estatais estão definidas na NBC TSP 1 Apresentação das Demonstrações Contábeis.

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

Lei nº /2004. Um Marco para o Mercado Imobiliário

Formulário de Referência MARCOPOLO SA Versão : Declaração e Identificação dos responsáveis 1

Demonstrações Financeiras Exercícios findos em RECRUSUL S/A. Companhia Aberta

Aula Nº 7 Adoção pela Primeira Vez das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros IFRS

Transcrição:

KPMG Business Magazine 30 TRIBUTOS Jupiterimages Stock photo/w101 Moeda funcional O artigo 58 da MP estabelece que as empresas que usam alguma moeda estrangeira para fins contábeis e demonstrações financeiras devem pagar os impostos em real. O texto da MP, a princípio, traz uma neutralidade tributária, mas na prática não existe jeito de fazer isso sem uma contabilidade paralela, que é tudo que os empresários queriam evitar, comenta Alcântara. Segundo o sócio da KPMG, a dupla contabilidade vai gerar mais custos e encargos dos contribuintes, por isso o caso ainda deve ser rediscutido. Impacto fiscal Medida Provisória 627 traz disposições que alteram a apuração do lucro das empresas. Veja as principais mudanças Depois de quase dois anos de longos debates entre empresas, tributaristas e a Receita Federal, o Governo publicou, em novembro de 2013, a Medida Provisória 627 no Diário Oficial da União. Entre outras disposições, a MP revoga o Regime Tributário de Transição (RTT), que tinha o objetivo de garantir a neutralidade fiscal das normas contábeis publicadas em 2007, que convergiram a contabilidade brasileira para os princípios internacionais conhecidos como IFRS do inglês, International Financial Reporting Standards. As mudanças mais significativas na MP, que ao todo traz cem artigos, estão relacionadas com ágio pago na aquisição de empresas, alteração do conceito de receita bruta e tributação de dividendos e juros sobre o capital próprio, tributação de lucros auferidos no exterior por multinacionais brasileiras e empresas que adotam como base de sua contabilidade uma moeda estrangeira. 33

KPMG Business Magazine 30 TRIBUTOS Stock photo/george Doyle Stock photo/eric Isselée Stock photo/everste Stock photo/stockbyte 34 Conceito de receita bruta Em decorrência das mudanças contábeis realizadas pela MP, a legislação fiscal fez uma adaptação no conceito de receita bruta e receita líquida. Com relação ao PIS e à Cofins das instituições financeiras, por exemplo, havia uma grande discussão sobre qual era a base de cálculo desses dois tributos aplicável para bancos, seguradoras e atividades equiparadas. Celso Alcântara explica que o artigo 12 da MP deixa claro que no novo conceito de receita bruta é preciso considerar também as receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurídica. Outro item que muda com o novo conceito de receita bruta é a equiparação entre ato por regime cumulativo e não cumulativo na base de cálculo. Antes, a base de cálculo para o regime cumulativo era o conceito de faturamento, mas, com a edição da MP, a base de cálculo é a receita bruta para os dois sistemas de apuração, explica Alcântara. Para ele, essas alterações poderão acarretar aumento da carga tributária. Benefício fiscal do ágio A Receita Federal manteve o benefício do ágio, mas trouxe uma série de controles que devem afetar o valor passível de aproveitamento fiscal em aquisições, como a alteração na metodologia de apuração do valor da diferença. A Receita Federal passa a considerar somente a diferença do valor pago em relação ao patrimônio líquido da empresa, além da mais valia de ativos e passivos. Ainda nesse sentido, a Receita está praticamente inibindo a dedução fiscal no que diz respeito ao ágio relacionado a operações com partes dependentes, diz Celso Alcântara, sócio de tributos da KPMG Brasil. Dessa forma, não haverá mais benefício fiscal para o investimento em uma empresa que faz parte do grupo, como também quando qualquer aquisição de investimento estiver relacionada à substituição de ações ou cotas de participação societária, completa. Ao investidor que compra uma empresa, passa a ser obrigatória a realização de um laudo de avaliação por um perito independente para comprovar o valor pago. O laudo deve ser registrado na Receita Federal ou protocolado em cartório até o 13 mês após a aquisição. 2014 Empresas podem optar pela aplicação do novo regime Dividendos A aplicação da MP vai ser opcional em 2014 e mandatória a partir de 2015. Segundo Marcus Vinícius Gonçalves, sócio da área de tributos da KPMG no Brasil, cada empresa precisa avaliar se vale ou não a pena optar pela MP já este ano. A aplicação imediata da MP pode trazer impacto negativo direto sobre algumas questões, como um menor valor do benefício fiscal do ágio, afirma. Por outro lado, o sócio diz que o empresário que optar por não aplicar a MP em 2014 pode perder alguns incentivos, como, por exemplo, a isenção sobre a tributação de parte dos dividendos. A Medida determina que as empresas que optarem pela aplicação do novo regime já este ano poderão se beneficiar do artigo que prevê a isenção dos dividendos ou lucros distribuídos desde 2008 a dezembro de 2013, na parcela que exceder ao chamado lucro fiscal. Aquelas empresas que optarem pela adoção antecipada das normas da MP estarão isentas. Já as que não optarem, poderão atrair uma contingência, conforme as disposições da Instrução Normativa 1397, que determina a tributação da parcela de dividendos ou lucros excedentes, a que o fisco chama de lucro fiscal, ou seja, aquele calculado com base nas disposições da contabilidade antiga, pontua Marcos Matsunaga, sócio da Ferraz de Camargo, Azevedo e Matsunaga Advogados Associados.

Stock photo/taeya18 Lucros no exterior A norma fiscal atual prevê que, quando a empresa brasileira fecha seu balanço no exterior, não importa se por meio de uma companhia coligada ou controlada, presume-se que o lucro esteja automaticamente disponibilizado para ser tributado no Brasil. De acordo com Gonçalves, há uma discussão das empresas junto à Receita e no judiciário sobre a legalidade de se presumir que o lucro é passível de distribuição e tributável só porque foi apurado em balanço, sem que tenha sido distribuído efetivamente. A questão é mais crítica no caso das empresas coligadas, em que um investidor não tem o poder de decidir quando o lucro será distribuído, diz. A MP trouxe uma série de artigos tratando desse tema com o objetivo de eliminar algumas dessas discussões. No caso de uma empresa controlada, por exemplo, o lucro continua sendo presumido e distribuído no Brasil ao final de cada período. Já em uma coligada, em que a empresa brasileira não tem o controle e o poder da decisão, a empresa pode diferir a tributação desse lucro. Ao fechar o balanço e apurar um lucro, não há obrigatoriedade de distribuição integral imediata, diz Gonçalves. A MP determina que, depois do primeiro ano após o fechamento do balanço, a empresa tribute no mínimo 25% do lucro apurado e que o remanescente deva ser tributado conforme a distribuição do lucro da coligada em um período máximo de cinco anos. Se no quinto ano a empresa não tivesse distribuído o lucro, seja tributado. Para Marcus Vinícius esse foi um avanço, já que hoje se tributa 100% do lucro. Ainda assim podemos ter uma situação na qual impomos uma tributação num lucro ainda não distribuído, porque, se ao final de oito anos a empresa não tiver distribuído aquele lucro, a lei vai dizer que o lucro será automaticamente tributado no Brasil. KPMG Business Magazine 30 TRIBUTOS A alteração da MP com relação ao lucro das empresas no exterior tem como principal viés a questão da competitividade das empresas brasileiras no mercado global. Os empresários reclamam que as regras tributárias nacionais podem minar a competitividade fora do País. A partir do momento em que se tributa todo o lucro que uma empresa brasileira fez no exterior por intermédio de uma subsidiária aqui no Brasil, significa que de partida a empresa já paga 34% de imposto de renda e contribuição total sobre esse lucro, e concorre com empresas globais que no mesmo mercado pagam 20%, explica Marienne Coutinho, sócia de tributos Internacionais da KPMG no Brasil. Outra ação estabelecida pela MP, considerada como vantajosa para especialistas, está relacionada à compensação do prejuízo gerado por uma empresa coligada ou controlada no exterior com o lucro de uma outra empresa que também seja controlada pela mesma companhia brasileira. A regra atual estabelece que só é possível compensar o lucro ou prejuízo da própria subsidiária. De acordo com Marcus Vinícius, essa compensação poderá ser feita até 2017. A princípio é um teste. A Receita quer mensurar o resultado dessa medida, explica. Stock photo/offstocker 35