DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI, DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

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Transcrição:

DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI, DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA E DO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. A Carta Constitucional de 5/10/1988: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVIII é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;... LV aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; O Código Penal pátrio: Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-

se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O Código de Processo Penal brasileiro: CAPÍTULO VIII ACUSADO DA INSANIDADE MENTAL DO Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. Art. 150. Para o efeito do exame, o acusado, se estiver preso, será internado em manicômio judiciário, onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os peritos, em estabelecimento adequado que o juiz designar. 1o O exame não durará mais de 45 (quarenta e cinco) dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de maior prazo. Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador. Art. 411. O juiz absolverá desde logo o réu, quando se convencer da existência de circunstância que exclua o crime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, 1o, do Código Penal), recorrendo, de ofício, da sua decisão. Este recurso terá efeito suspensivo e será sempre para o Tribunal de Apelação.

A absolvição sumária tem sido, há mais de um século, a resposta do Estado-juiz para o inimputável, no sistema penal/processual brasileiro, conforme é exemplificado no seguinte decisum: ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. AGENTE PORTADOR DE EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA. INIMPUTABILIDADE. A absolvição sumária proferida pelo MM. Juiz a quo, com base no art. 26, caput, do CP, deve ser mantida, eis que, segundo o exame de sanidade mental, o acusado era, ao tempo do fato, portador de embriaguez patológica, psicose alcoólica que equivale ao alcoolismo crônico e que provoca acesso furioso, atos de violência e ataques violentos, em virtude da qual era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato que cometeu {TJ-AC - Ac. unân. 1269 julg. em 4-8-2000 - Ap. Crim. e Rec. 'ex officio' 00.000897-4-Sena Madureira - Rel. Des. Arquilau Melo - Adv.: Gilberto Jorge Ferreira da Silva; in ADCOAS 8187492}. Assim, a equação, a solução jurídica, em caso de inimputabilidade era sempre a mesma: 1º dúvida sobre a integridade mental do acusado; 2º ordem judicial para realização do exame de sanidade mental; 3º constatada a insanidade, nos termos do artigo 26, caput; 4º absolvição sumária. Impende destacar, contudo, que a doutrina mais recente, apoiada em julgado do Supremo Tribunal Federal defende que a absolvição sumária imprópria, fundada na inimputabilidade do réu, é decisão que cerceia a ampla defesa. Da lição de Fernando Capez, em sua obra intitulada Curso de Processo Penal, Editora Saraiva, 1997, pág. 516, colhe-se o seguinte ensinamento: Entendemos que a absolvição sumária do acusado, em razão da sua inimputabilidade, devidamente comprovada em incidente de insanidade mental, é decisão ofensiva ao devido processo legal, posto que cerceia a ampla defesa do réu, erigida, em especial, à dignidade de princípio conformado do Tribunal do Júri (CF, art. 5.º, XXXVIII, a), porquanto o obsta de levar ao Juiz natural da causa, que é o

corpo de jurados, a tese, v. g., de excludente de ilicitude, subtraindo-lhe a oportunidade de ver-se absolvido plenamente, livrando-se de qualquer medida restritiva ou privativa de direitos. Esse, também, o entendimento de Ricardo Luiz da Costa Tjader: estabelecida constitucionalmente a plenitude de defesa, não é mais possível se admitir que não tenha tal réu o direito a ser julgado de forma mais efetiva, a mesma dos réus imputáveis, buscando conseguir sua absolvição completa (p. ex., por não ser o autor do fato ou por ter agido ao abrigo de alguma excludente legal), que o livraria da aplicação obrigatória da medida de segurança, posto que esta somente é adequada a quem tenha praticado fato previsto como crime (Alberto Silva Franco et alii, CP e sua Interpretação Jurisprudencial, 2.ª ed., RT, São Paulo, pág. 289). Assim, O RUMO A SER AGORA ADOTADO É O DE PRONUNCIAR O RÉU, MESMO SENDO INIMPUTÁVEL, PARA QUE ELE SEJA ENTÃO JULGADO PELO CORPO DE JURADOS QUE EXAMINARÁ SUAS TESES DEFENSIVAS DE MÉRITO E, SOMENTE SE NÃO AS ACATAR, É QUE SERÁ LEVADA EM CONSIDERAÇÃO SUA CONDIÇÃO DE INIMPUTÁVEL, COM A ABSOLVIÇÃO POR ESTE MOTIVO e então, e só neste momento após ter tido a oportunidade de ser absolvido lhe seria aplicada medida de segurança (O Júri Segundo as Normas da Constituição Federal de 1988, Ajuris, n.º 20, págs. 246-7; negritos e destaques são inovados). No mesmo sentido manifestou-se o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Agravo de Instrumento 159.303-2/040, da lavra do Min. Celso de Mello, ocasião em que se considerou cerceada a defesa do acusado, que ficou impedida de defender, em plenário, a tese de legítima defesa, e, por conseguinte, de obter a absolvição plena. Todavia, se, compulsando-se os autos, verificar-se (exempli gratia) que o próprio réu diz não se lembrar de nada, evidencia-se que tal afirmação não laborará em seu favor, em eventual sustentação de tese de legítima defesa, uma vez que totalmente divorciada do acervo probatório. Assim, verificada a inimputabilidade do acusado, não deve ele ser submetido

a julgamento pelo júri, não estando aventada a hipótese de absolvição plena pelo Conselho de Sentença, ante eventual reconhecimento de excludente de legítima defesa. É como penso. Fortaleza, 10 de março de 2005. José Inácio de Freitas Filho {Advogado OAB/CE 13.376}