HERANÇA JACENTE Daiane Carvalho Pinheiro 1 Herança jacente considera-se se inexistem herdeiros ou se estes são desconhecidos, ou se os conhecidos recusam a aceitar a sucessão 2 (art. 1.819 CC). Também se considera vacante a herança, quando a ela renunciam todos os chamados a suceder (Cód. Civil, art. 1.823). 3 Quando ocorre a herança jacente, existem bens sem dono, e surge a necessidade de sua arrecadação para evitar que desapareçam, ou sejam tomados ilicitamente. 4 Tem-se, pois, como razoável considerar-se jacente a herança, num período transitório, enquanto não se apresentarem herdeiros legítimos. 5 Os bens serão resguardados para se, posteriormente, aparecer um sucessor. LEGITIMIDADE DE PARTE - Passiva - Ação de reconhecimento "post mortem" de união estável cumulada com pedido de adjudicação de bem - Falecimento do titular do bem, que não deixou herdeiros - Admissão no pólo passivo da Municipalidade - Admissibilidade - Hipótese que envolve herança jacente - Artigo 1.619 do Código Civil de 1916 - Companheira a que se reconhece a condição de co-herdeira - Recursos não providos. (Apelação Cível n. 174.029-4/2-00 - Mauá - 1ª Câmara de Direito Privado - Relator: Erbetta Filho - 24.01.06 - V.U. - Voto n. 7.086) 1 Advogada em Porto Alegre/RS; Especialista em Gestão pela UFRGS, Egressa da Fundação Escola da Magistratura do Trabalho/RS, Pesquisadora de Núcleo de Pesquisas(CNPQ) Novas Técnicas sob coordenação do Professor José Maria Rosa Tesheiner, Pesquisadora de Núcleo de Pesquisas(CNPQ) Estado e Sindicalismo sob coordenação do Professor Gilberto Stürmer. 2 Theodoro Júnior, Humberto, Curso de Direito Processual Civil- Procedimentos Especiais, 38ª ed., RJ, Forense, 2007, Vol. III, p.416 3 ( http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2003/daherancajacente.htm) 4 Wambier, Luiz Rodrigues, Coord., Curso Avançado de Processo Civil-Processo cautelar e Procedimentos Especiais, 8ª ed., SP, RT, Vol. 3, p.285 5 (http://www.gontijo-familia.adv.br/tex183.htm)
contas de sua gestão 6. Enquanto isso, os bens ficarão sob a égide de um curador que prestará EMENTA: SUCESSÕES. HERANÇA JACENTE. ARBITRAMENTO DA VERBA HONORÁRIA DO CURADOR. Considerando-se a natureza do encargo, o grau de complexidade, o tempo e o zelo dispensados no exercício do encargo até a extinção do processo de arrecadação de bens de herança jacente, é desarrazoado fixar-se a verba honorária do curador em percentual sobre o valor total dos bens deixados pelo de cujus. Honorários arbitrados em R$ 500,00 (quinhentos reais). APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70014736490, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 07/06/2006) Os bens são arrecadados, na forma dos artigos. 1.145 e seguintes do CPC e entregues a um curador que, por efeito da investidura judicial, adquire poderes de administrador (CPC, art. 1.144), cabendo-lhe, v.g., cobrar do locatário os aluguéis relativos a imóvel arrecadado. 7 Os bens serão arrecadados pelo juiz da comarca em que tiver domicílio o falecido. 8 O Ministério Público e a Fazenda Pública serão intimados da arrecadação, art. 1.145, 2º. O curador será nomeado pelo juiz. Acaso aquele não seja intimado até a data também designada pelo juízo para a arrecadação dos bens, ou não aceitar o encargo, os bens ficarão a encargo de um depositário provisório. 9 A competência é exclusiva da Justiça Estadual. E é do juiz a competência para a abertura do procedimento da arrecadação da herança jacente. 10 6 art. 1.144 7 ( http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2003/daherancajacente.htm) 8 art.1142nos casos em que a lei civil considere jacente a herança, o juiz, em cuja comarca tiver domicílio o falecido, procederá sem perda de tempo à arrecadação de todos os seus bens. 9 Art. 1145, 2º
precatória. 15 EMENTA: HERANÇA JACENTE. APELAÇÃO. AJG. O próprio juiz, acompanhado do escrivão e do curador já nomeado, comparecerá à residência do falecido(ou ao local onde estiverem os bens, ainda que não seja a residência), mandará arrolar os bens 11 e descreve-los em auto circunstanciado. 12 SUCESSÃO - Herança jacente - Delegação ao escrivão diretor das atribuições para arrolamento e arrecadação dos bens - Cabimento - Desnecessidade do comparecimento pessoal do juiz - Recurso não provido - JTJ 274/435 Durante a diligencia, o juiz buscará colher informações sobre o falecido, o paradeiro dos herdeiros e a existência de outros bens, inquirindo as pessoas que encontrar(moradores da casa e vizinhos), e mandando tudo consta em auto de inquirição e informação(art. 1.150). 13 Tendo notícia de sucessor ou testamenteiro em lugar certo, promover-se-à a sua citação pessoal, sem prejuízo do edital(art. 1.152, 1º). 14 Existindo bens em outra comarca, serão arrecadados mediante carta INTERESSE E LEGITIMIDADE DO COMPANHEIRO DA DE CUJUS. NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO DE ÓBITO DE PESSOA ESTRANGEIRA QUE DEIXA BENS. ANULAÇÃO DA SENTENÇA. 1. Tendo o companheiro da falecida postulado o benefício da gratuidade e sendo pobre, cabível o deferimento da assistência judiciária. 2. O fato de ter sido indeferida a habilitação do companheiro como herdeiro, pois a lei vigente no momento da abertura da sucessão não lhe conferia tal capacidade sucessória, não exclui o seu interesse econômico no feito, tendo legitimidade para recorrer e aponta falha processual. 3. É imprescindível a 10 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 416 11 art. 1.145 12 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 285 13 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286 14 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 417 15 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286
comunicação do óbito de estrangeiro, com bens e inexistência de herdeiros, à autoridade consular. Inteligência do art. 1.152, 2º, do CPC. Prefaciais rejeitadas. Sentença desconstituída. Recurso conhecido e provido. (Apelação Cível Nº 70009038548, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 15/12/2004) Encerrada a arrecadação, será expedido edital, publicado três vezes, com intervalo de trinta dias para cada um, no órgão oficial e em jornal de grande circulação na comarca, fixando o prazo de seis meses para que os sucessores venham habilitar-se. Além do edital, será citado qualquer sucessor, cujo paradeiro seja conhecido. 16 Havendo a apresentação de algum sucessor e sendo comprovada essa condição, ocorrerá a conversão da arrecadação em inventário. 17 Antes, porém, de deliberar sobre a pretensão dos bens, o juiz ouvirá o curador, os eventuais interessados já presentes no processo, o órgão do Ministério Público e o representante da Fazenda Pública(art. 1.151). 18 Durante a administração, o curador pode, com autorização do juiz, pagar os credores e alienar bens deterioráveis, ou de conservação difícil ou dispendiosa, desde que não haja outra forma de pagar a dívida. 19 Após as manifestações, se reconhecer a qualidade de herdeiro, cônjuge ou testamenteiro, converterá o processo em inventário (CPC, art. 1.153), colocando fim à herança jacente. Facilmente se conclui que a jacência é apenas uma fase do processo 20 As hipóteses de cabimento da venda judicial dos bens da herança jacente acham-se enumeradas no art 1.155. 21 Em todas as hipóteses de falta da recurso da herança, a venda não será efetivada se a Fazenda Pública ou algum habilitando adiantara importância para as despesas(art.1.155, ún). 22 16 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286 17 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286 18 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 418 19 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286 20 ( http://www.nelpa.com.br/editoras/nelpa/cap%c3%adtulo_7ps.pdf) 21 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 417
Após um ano, contado da primeira publicação, se nenhum herdeiro houver se habilitado, a herança será declarada vacante(art. 1.157). Os bens serão entregues à União, ao Município, ou ao Distrito Federal, e, após cinco anos da abertura da sucessão, se incorporarão ao patrimônio desses entes(art. 1.822, caput, do CC) 23 CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA. DESPACHO SANEADOR. AFASTAMENTO DE QUESTÕES ALUSIVAS À ILEGITIMIDADE ATIVA DA USP, USUCAPIÃO E VÍCIO DE EDITAL CITATÓRIO. ARESTO ESTADUAL. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. LEGITIMIDADE RECONHECIDA. AÇÃO MOVIDA APÓS A DECLARAÇÃO DE VACÂNCIA DA HERANÇA. RECONHECIMENTO DE POSSÍVEL NULIDADE PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRESCRIÇÃO. CC, ART. 177. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO NÃO OCORRIDO. BOA-FÉ E JUSTO TÍTULO AFASTADOS. SÚMULA N. 7-STJ. I. Legitimidade ativa ad causam da USP reconhecida em face do ajuizamento da ação ulteriormente à declaração de vacância da herança. II. Até a declaração de vacância a favor do Estado, corre o prazo para que o imóvel possa ser usucapido pelo particular que o detém. III. Caso, entretanto, em que recaindo a controvérsia sobre a nulidade da escritura baseada em procuração falsa, correto o despacho saneador que afastou o reconhecimento, por ora, de usucapião ordinário, entendendo como de possível aplicação à espécie o lapso prescricional vintenário do art. 177 do Código Civil revogado, pelo que incabível, neste momento, a extinção do processo. IV. Nulidade editalícia que recai no reexame de prova, vedado pela Súmula n. 7 do STJ. 22 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 418 23 Wambier, Luiz Rodrigues, op. cit., p. 286
V. Recurso especial não conhecido.(resp 1706666, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, 4ª T STJ, Pub. Em 13/03/2006) AÇÃO DE USUCAPIÃO - DECLARAÇÃO DE HERANÇA JACENTE - SUCESSÃO - LEGITIMIDADE - PEDIDO JULGADO PROCEDENTE - SENTENÇA MANTIDA ""Ao ente público não se aplica o princípio da saisine. Segundo entendimento firmado pela Segunda Seção, a declaração de vacância é o momento em que o domínio dos bens jacentes se transfere ao patrimônio público. Ocorrida a declaração de vacância após a vigência da Lei nº 8.409/90, legitimidade cabe ao Município para recolher os bens jacentes"" (STJ - Resp. nº 164.196/RJ - Rel. Min. Barros Monteiro).( 1.0024.02.652813-3/001(1), REl ALVIM SOARES, TJMG, Pub. Em 07/12/2006). SUCESSÃO - Herança jacente - Transmissão do domínio dos bens jacentes ao patrimônio público - Momento - Declaração de vacância, mesmo tratando-se de domínio resolúvel condicionado ao decurso de prazo de cinco anos - Reconhecimento - Hipótese de exceção ao Princípio de saisine - Recurso improvido (Apelação sem Revisão n. 1.011.281-0/4 - São Paulo - 35ª Câmara de Direito Privado - Relator: Clóvis Castelo - 05.03.07 - V. U. - Voto n. 10.791) USUCAPIÃO Herança jacente USP O Estado não adquire a propriedade dos bens que integram a herança jacente, até que seja declarada a vacância, de modo que nesse interregno, estão sujeitos a usucapião O requerido comprovou a prescrição aquisitiva Ação rescisória improcedente - (Ação Rescisória n. 376.073-4/5-00 São Paulo - 4º Grupo de Direito Privado - Relator: Ribeiro da Silva 22.11.06 - V.U. - Voto n.11.085)
Depois do trânsito em julgado da sentença que proclamou vagos os bens arrecadados, só por ação direta(isto é, por procedimento contencioso)tais pretensões são deduzíveis em juízo(art. 1.158). 24 A regra sobre a sucessão hereditária em favor do Poder Público sofreu alteração em relação ao CC de 1916, por força da L.8049/90. 25 Os bens que compõem esse tipo de herança são incorporados ao patrimônio do Município ou do Distrito Federal, art. 1.822. 26 PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CIVIL. HERANÇA JACENTE. Preferência do Município à sucessão, ainda que o óbito do de cujus tenha ocorrido anteriormente à Lei nº 8.049, de 1990. Ressalva do ponto de vista pessoal do relator(ag Rg no Resp 540314/ RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, 3º T STJ, Pub. em 01/10/2007, p.269) 24 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 419 25 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 419 26 Theodoro Júnior, Humberto, op. cit., p. 419